quinta-feira, 31 de março de 2022

REFLEXÃO MATINAL CXXV: UMA BREVE REFLEXÃO "CÍNICA"

 

(IMAGEM; "Pinterest")

Pausa na oficina!

Afirma Epicteto, sobre o pensador Diógenes Laércio:

"Se quiseres que eu te mostre um homem que seja verdadeiramente livre, apresentar-te-ei Diógenes Laércio. Como ele chegou a ser livre? Destruindo em si mesmo tudo quanto o pudesse prender à escravidão; dessa forma, desligado de tudo e, completamente isolado, nada possuindo. Doava tudo o que lhe pedissem, mas estava fortemente unido aos 'deuses' e a ninguém era inferior em obediência, respeito e submissão para com a tal soberania. Eis, nesse aspecto, a sua liberdade".

De minha parte, a partir da referência a Diógenes, quero reforçar aqui: Homens... não desejeis ser unicamente detentores de diplomas, de títulos, insígnias ou patentes que te elevem nesse mundo, mas que desaparecem numa perspectiva mais ampla. Não lutes por superar humilhando seu igual em espécie. Transformem-se em homens que verdadeiramente justifiquem essa qualificação: de ser humano! Que se lute por unificar pensamento e ação no caminho da Verdade, da infinita Sabedoria e Bondade. Tudo isso para que possamos dar realidade a uma verdadeira transformação pessoal, abandonando uma postura meramente abstrata e impregnada de desejos vãos e baixeza moral, que só podem resultar em atitudes hipócritas e descabidas. (MARQUINHOS, 2016)

"Deus introduziu o ser humano como seu espectador [theatḗs, θεατής] de suas obras. E não só como espectador, mas também como exegeta de suas obras. É, por isso, vergonhoso para o ser humano começar e terminar como os irracionais: é preciso antes aí começar e terminar lá onde a natureza, em nosso caso, determinou. E ela o determinou para a contemplação [theōría, θεωρία], para a compreensão [parakoloúthēsis, παρακολούθησις] e para um modo de vida em harmonia com a natureza. Assim, cuidai para não virdes a morrer sem serdes espectadores dessas coisas. (Epicteto. Diatribes, I, 6: 19-22; trad. Aldo. Dinucci)”

A isso, acrescento uma leve digressão:

“Quando um jovem está próximo de perder a vida, ele censura os deuses porque está sendo levado fora da hora. Quando um velho não finda a vida também censura os deuses porque, já estando na hora de morrer, tem problemas. Entretanto, quando a morte se aproxima, deseja viver e manda chamar o médico e lhe roga para não dispensar o zelo e o cuidado. “Que homens espantosos”, dizia Epicteto, “que não querem viver nem morrer”. (ESTOBEU. Florilegium. IV. 53, 30. In: Viva Vox. Mnemosyne. Epicteto: testemunhos e fragmentos).

Ademais, por quê postar as coisas que lemos e relemos?

Talvez, só por nos mantermos firmes e convictos de que há coisas boas a se fazer ainda. Não é de todo ruim o mundo (conquanto seja de "provas e expiações"). A considerarmos, antes e acima de tudo um certo grau de "Praemeditatio Mallorum", podemos sim almejar coisas verdadeiramente nobres. Isso nos imuniza, em grande medida, de culpar os outros ou o Mundo por qualquer coisa que não fazemos melhor.

"Memento Vivere"

Sempre lendo e relendo, portanto!

______.

PS: O cinismo (κυνισμός, em Latim, cinicus) foi uma corrente filosófica fundada por Antístenes, discípulo de Sócrates. Era praticada pelos cínicosΚυνικοί, em latim: Cynici). Para estes filósofos cínicos, o verdadeito objetivo da vida seria buscar sempre a Virtude, em associação com a natureza. Bem próximo, nesse sentido, como defendiam os estoicos.

Surgido no séc. V a.C. tem como representante também, o filósofo Diógenes de Sinope. Entre seus princípios estão: a autarkeia, que pode ser entendida como: autossuficiência e, como os estoicos, a apatheia, atitude tomada perante as vicissitudes da Vida.

______.

ÁRIO DÍDIMO. Epitome of stoic ethics. Tradução de Arthur J. Pomeroy. Atlanta: Society of Biblical Literature, 1999.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1987 (col. Os Pensadores).

______. Ethica Nicomachea - III 9 - IV 15: As virtudes morais. Trad. Marco Zingano. São Paulo: Odysseus Editora, 2019.

COELHO, Humberto Schubert. Genealogia do Espírito. Brasília, DF: 2012.

______. Filosofia perene: o modo espiritualista de pensar. São Paulo: Ed. Didier, 2014.

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

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______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

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CÍCERO. On ends (The Finibus). Tradução de H. Rackham. Harvard: https://www.loebclassics.com, 1914.

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