segunda-feira, 30 de maio de 2022

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA L: QUAL A RELAÇÃO ENTRE UM "CHÁ DE GENGIBRE", O TEXTO "OMELETE DE AMORAS" E A MEMÓRIA?

(IMAGEM: "Casa e Jardim - Globo")
 

Fugindo (por alguns minutos) das preocupações com textos e pesquisa; lendo alguns artigos aqui, somente para agregar um pouquinho mais de informações sobre um tema ao qual dedico muito tempo, desde antes da “graduação; pós-graduação; informações acadêmicas em geral, mas com muito maior relevância. Tanta que tem me dado base para uma existência plena de sentidos, apesar de tantos percalços, necessidades e solavancos contra a saúde física.

Assim, como estudar os temas relacionados à Memória me agradam e tem me trazido grandes satisfações, difícil negar que às vezes que ela nos pega desprevenidos e nos leva ao seu “divã” e, nos apresenta fatos rememoráveis distantes que esquecemos, ficaram longe num passado bem recente ou mais distante mesmo.

Digo isso enquanto na preparação de um rememorável chá de gengibre com canela, que por sinal além de saboroso mexeu, agora, com a Memória.

E, isso me remeteu ainda uma outra Memória:

Há muitos anos, ainda à época de graduação, tive primeiro contato com este texto. Independente do contexto e do motivo para o qual o texto constava na bibliografia do curso, o certo é que o texto marcou-me bastante, pelo fato de desde essa época ter interesse e discutir um tema que ainda interessa-me demais: a Memória

...

Leia-se o Texto, escrito por Walter Benjamin, portanto:

"OMELETE DE AMORAS

Esta velha história, conto-a àqueles que agora gostariam de experimentar figos ou Falerno, o borscht ou uma comida camponesa de Capri
Era uma vez um rei que chamava de seu todo poder e todos os tesouros da Terra, mas, apesar disso, não se sentia feliz e se tornava mais melancólico de ano a ano. Então, um dia, mandou chamar seu cozinheiro particular e lhe disse: 

- Por muito tempo tens trabalhado para mim com fidelidade e me tens servido à mesa os pratos mais esplêndidos, e tenho por ti afeição. Porém, desejo agora uma última prova de teu talento. 

Deves me fazer uma omelete de amoras tal qual saboreei há cinquenta anos, em minha mais tenra infância. Naquela época meu pai travava guerra contra seu perverso vizinho a oriente. Este acabou vencendo e tivemos de fugir. E fugimos, pois, noite e dia, meu pai e eu, até chegarmos a uma floresta escura. Nela vagamos e estávamos quase a morrer de fome e fadiga, quando, por fim, topamos com uma choupana. Aí morava uma vovozinha, que amigavelmente nos convidou a descansar, tendo ela própria, porém, ido se ocupar do fogão, e não muito tempo depois estava à nossa frente a omelete de amoras. Mal tinha levado à boca o primeiro bocado, senti-me maravilhosamente consolado, e uma nova esperança entrou em meu coração. Naqueles dias eu era muito criança e por muito tempo não tornei a pensar no benefício daquela comida deliciosa.

Quando mais tarde mandei procurá-la por todo o reino, não se achou nem a velha nem qualquer outra pessoa que soubesse preparar a omelete de amoras. Se cumprires agora este meu último desejo, farei de ti meu genro e herdeiro de meu reino. Mas, se não me contentares, então deverás morrer. – Então o cozinheiro disse: - Majestade, podeis chamar logo o carrasco. Pois, na verdade, conheço o segredo da omelete de amoras e todos os ingredientes, desde o trivial agrião até o nobre tomilho. Sem dúvida, conheço o verso que se deve recitar ao bater dos ovos e sei que o batedor feito de madeira de buxo deve ser sempre girado para a direita de modo que não nos tire, por fim, a recompensa de todo o esforço. Contudo, ó rei, terei de morrer. Pois, apesar disso, minha omelete não vos agradará ao paladar. Pois como haveria eu de temperá-la com tudo aquilo que, naquela época, nela desfrutastes: o perigo da batalha e a vigilância do perseguido, o calor do fogo e a doçura do descanso, o presente exótico e o futuro obscuro. – Assim falou o cozinheiro. O rei, porém, calou um momento e não muito tempo depois deve tê-lo destituído de seu serviço, rico e carregado de presentes."

______.

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