Fugindo (por alguns
minutos) das preocupações com textos e pesquisa; lendo alguns artigos aqui,
somente para agregar um pouquinho mais de informações sobre um tema ao qual
dedico muito tempo, desde antes da “graduação; pós-graduação; informações
acadêmicas em geral, mas com muito maior relevância. Tanta que tem me dado base
para uma existência plena de sentidos, apesar de tantos percalços,
necessidades e solavancos contra a saúde física.
Assim, como estudar os
temas relacionados à Memória me agradam e tem me trazido grandes
satisfações, difícil negar que às vezes que ela nos pega desprevenidos e nos leva ao
seu “divã” e, nos apresenta fatos rememoráveis distantes que esquecemos,
ficaram longe num passado bem recente ou mais distante mesmo.
Digo isso enquanto na
preparação de um rememorável chá de gengibre com canela, que por sinal
além de saboroso mexeu, agora, com a Memória.
E, isso me remeteu ainda
uma outra Memória:
Há muitos anos, ainda à
época de graduação, tive primeiro contato com este texto. Independente do
contexto e do motivo para o qual o texto constava na bibliografia do curso, o
certo é que o texto marcou-me bastante, pelo fato de desde essa época ter interesse
e discutir um tema que ainda interessa-me demais: a Memória.
...
Leia-se o Texto, escrito por Walter Benjamin, portanto:
"OMELETE DE
AMORAS
Esta
velha história, conto-a àqueles que agora gostariam de experimentar figos ou Falerno,
o borscht ou uma comida camponesa de Capri.
Era uma vez um rei que chamava de seu todo poder e todos os tesouros da Terra,
mas, apesar disso, não se sentia feliz e se tornava mais melancólico de ano a
ano. Então, um dia, mandou chamar seu cozinheiro particular e lhe disse:
- Por muito tempo tens trabalhado para mim com fidelidade e me tens servido à
mesa os pratos mais esplêndidos, e tenho por ti afeição. Porém, desejo agora
uma última prova de teu talento.
Deves
me fazer uma omelete de amoras tal qual saboreei há cinquenta anos, em minha
mais tenra infância. Naquela época meu pai travava guerra contra seu perverso
vizinho a oriente. Este acabou vencendo e tivemos de fugir. E fugimos, pois,
noite e dia, meu pai e eu, até chegarmos a uma floresta escura. Nela vagamos e
estávamos quase a morrer de fome e fadiga, quando, por fim, topamos com uma
choupana. Aí morava uma vovozinha, que amigavelmente nos convidou a descansar,
tendo ela própria, porém, ido se ocupar do fogão, e não muito tempo depois
estava à nossa frente a omelete de amoras. Mal tinha levado à boca o primeiro
bocado, senti-me maravilhosamente consolado, e uma nova esperança entrou em meu
coração. Naqueles dias eu era muito criança e por muito tempo não tornei a
pensar no benefício daquela comida deliciosa.
Quando
mais tarde mandei procurá-la por todo o reino, não se achou nem a velha nem
qualquer outra pessoa que soubesse preparar a omelete de amoras. Se cumprires
agora este meu último desejo, farei de ti meu genro e herdeiro de meu reino.
Mas, se não me contentares, então deverás morrer. – Então o cozinheiro disse: -
Majestade, podeis chamar logo o carrasco. Pois, na verdade, conheço o segredo
da omelete de amoras e todos os ingredientes, desde o trivial agrião até o
nobre tomilho. Sem dúvida, conheço o verso que se deve recitar ao bater dos
ovos e sei que o batedor feito de madeira de buxo deve ser sempre girado para a
direita de modo que não nos tire, por fim, a recompensa de todo o esforço.
Contudo, ó rei, terei de morrer. Pois, apesar disso, minha omelete não vos
agradará ao paladar. Pois como haveria eu de temperá-la com tudo aquilo que,
naquela época, nela desfrutastes: o perigo da batalha e a vigilância do
perseguido, o calor do fogo e a doçura do descanso, o presente exótico e o
futuro obscuro. – Assim falou o cozinheiro. O rei, porém, calou um momento e
não muito tempo depois deve tê-lo destituído de seu serviço, rico e carregado
de presentes."
______.
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