sábado, 11 de junho de 2022

REFLEXÃO MATINAL CXXVIII - KANT E O ESTOICISMO: MAIS ESTUDOS

 


Encontrei, estudando sobre o "Bem Supremo", uma discreta relação entre a filosofia moral kantiana e a ética estoica antiga. Em Cícero (um "platônico", com interesse em estoicismo), é possível essa aproximação. Assim, a partir da Crítica da razão prática de Immanuel Kant e Sobre os fins (De finibus bonorum et malorum) de Cícero, ainda estou estudando essa aproximação. Immanuel Kant, é sabido, critica a associação entre virtude e felicidade e, fez uma reformulação do conceito de “bem supremo”. 

Portanto, desafio posto; ainda estou trabalhando no tema, desde 10 de novembro de 2019.

Hoje, continuando com essa reflexão matinal, vejo que, na visão de Cicero, a Natureza é “o mais belo dos governos”, e no "De finibus bonorum et malorum":

“Aquele que quer viver de acordo com a natureza deve partir da visão de conjunto do mundo e da providência. Não é possível emitir juízos verdadeiros sobre os bens e os males sem conhecer todo o sistema da natureza e da vida dos deuses, nem saber se a natureza humana está ou não de acordo com a natureza universal. E, não se pode  ver, sem a física, que importância (e ela é imensa) tem as antigas máximas dos sábios: ‘Obedece às circunstâncias’, ‘Segue Deus’, ‘Conhece-te a ti mesmo’, ‘Nada em excesso’, etc. Somente o conhecimento dessa ciência pode nos ensinar o que pode a natureza na prática da justiça, na conservação de nossas amizades e de nossos apegos [...]”

2. "De finibus bonorum et malorum", de Marcus Tullius Cicero, foram escritos em 45 aC. BC e é considerado um dos mais extensos trabalhos filosóficos de Cícero.

Em três diálogos, são apresentadas diferentes abordagens da filosofia grega sobre o propósito e o significado da vida.

É tema fundamental da obra de Cícero, o Bem e o mal; nesse sentido passo pela reflexão sobre uma "Teodicéia kantiana", além disso, a obra reflete amplamente sobre "Os objetivos da ação humana". (trad. Julius von Kirchmann 1802-1884) de 1874.

Passando a Kant. 

3. Diz o prof. Valério Rohden:

“Não era de admirar, pois, que Kant encontrasse em um livro como o De finibus, de Cícero, uma inspiração ininterrupta para sua reflexão moral. Por isso, para avançarmos e diferenciarmos a concepção kantiana do sumo bem da sua concepção ética estoica, leiamos antes o grande louvor feito a ela na Religião nos limites da simples razão":

 

Encerrando com uma citação que tenho retomado há algum tempo nessa caminhada por esses textos e estudos:

E, dirá ainda Kant, sobre os "Antigos"

“Esses filósofos tomaram o seu princípio moral universal da dignidade da natureza humana, da liberdade (como independência do poder das inclinações); um princípio melhor e mais nobre tampouco teriam podido pôr como fundamento. Eles desse modo hauriram a lei moral imediatamente da razão, unicamente legisladora e ordenante por meio dela; e assim objetivamente, no que concerne à regra, e também subjetivamente, no que concerne ao motivo, se atribuímos ao homem uma vontade não corrompida, de sem mais assumir essa lei em suas máximas, estava tudo indicado de modo totalmente correto” (KANT, 1977, vol. 8, p. 709-710; A 62-63, B 68-69).

PS: Acrescentando hoje, 02 de abril de 2023, uma tese que li e estou aproveitando para os estudos sobre o tema. Tese apresentada por Vanessa Brun Bicalho, orientada pelo prof. Luciano Carlos Utteich, à Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus de Toledo (Cf. Referência biliográfica abaixo)

Link: Um texto do professor Valério Rohden: 

https://revistas.ufpr.br/doispontos/article/viewFile/1967/1633

_____.

ANTOGNAZZA, Maria Rosa. The Oxford Handbook of Leibniz. Oxford University Press, 2018.

BICALHO, Vanessa Brun. Ciência e sabedoria de vida na filosofia transcendental de Kant à luz do estoicismo. Tese de Doutorado (Campus de Toledo). Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, 2021,

BUTLER, J; CLARKE, S; HUTCHESON, F; MANDEVILLE, B; SHAFTESBURY, L; WOLLASTON, W. Filosofia moral britânica: Textos do Século XVIII. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2014.

CÍCERO, M.T. 1988. De finibus bonorum et malorum / Über die Ziele des menschlichen Handelns. Edição e tradução: Olof Gigon. München/Zürich: Ártemis.

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

GRAPOTTE, Sophie (Org.); LEQUAN, Mai; RUFFING, Margit. Kant et les sciences: un dialogue philosophique avec la pluralité des savoirs. Paris: Vrin, 2011.

______; PRUNE-BRETINNET. Tinca, (dir.). Kant et Wolff: héritages et ruptures. Paris: Vrin, 2011.

______. RUFFING, Margit; TERRA, Ricardo.(dir.).  Kant - la raison pratique: concepts et héritages. Paris: Vrin, 2015.

KANT, I. Crítica da razão prática. Edição bilíngüe. Tradução Valerio Rohden. São Paulo: Martins Fontes. 2003.

______. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

_______. Crítica da razão pura. Tradução Valerio Rohden e Udo Moosburguer. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural 1983.

______. A religião nos limites da simples razão. Edições 70, Lisboa, 1992.

_______. Reflexionen zur Moralphilosophie, In: KANT, Immanuel. Kants Werke, Ed. Königlich Preussischen Akademie der Wissenschaften, Berlin, Georg Reimer, <Akademie Text-Ausgabe, Berlin,Walter de Gruyter & Co.>, vol. XIX, 1902.

_______. Dissertação de 1770. Trad. Leonel R. Santos. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda 1985.

_______. Crítica da faculdade do juízo. Trad.Valerio Rohden e António Marques. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993.

_______. Werkausgabe (ed.Wilhelm Weischedel). Frankfurt am Main: Suhrkamp, vol 8 (Die Metaphysik der Sitten). 1977.

______. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

______. Lições de metafísica. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2021.

______. Réflexions métaphysiques (1780-1789). Introduction, traduction et notes par Sophie Grapotte, Docteur de l’Université de Bourgogne, membre du « Groupe de travail sur la philosophie allemande du XVIIIe siècle » (CERPHI). Paris: Vrin, 2011.

 ______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Investigação sobre a clareza dos princípios da teologia e da moral. Lisboa: Imprensa Casa da Moeda, 2007.

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LEIBNIZ. G. W. Novos ensaios sobre o entendimento humano. Lisboa: Edições Colibri, 1993.

______. Ensaios de teodicéia. São Paulo: Estação Liberdade, 2013.

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RATEAU, Paul, author. Leibniz on the problem of evil. New York: Oxford University Press, 2019.

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THEIS, Robert (dir.). Théologie et religion. Paris: Vrin, 2013.

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