domingo, 13 de novembro de 2022

SOBRE AS “LIÇÕES DE METAFÍSICA” DE IMMANUEL KANT (II)

 


“Uma importante fonte para a investigação genética e para a compreensão geral do pensamento de Kant é o conjunto de Lições que passou a ser publicado desde os últimos anos da sua vida e depois postumamente. Estas Lições são, em sua natureza, um conjunto diverso de anotações manuscritas de estudantes tomadas diretamente da sala de aula ou apenas copiadas de outros cadernos. Elas retratam a atividade docente de Kant em sua totalidade. Em oitenta semestres, entre 1755-1796, Kant ministrou, na Universidade de Königsberg, cursos sobre temas diversos como lógica, matemática, física, geografia, ética, direito natural, teologia racional, enciclopédia filosófica e metafísica.  Como estas Lições nos atestam, somos capazes de testemunhar, no contexto informal da sala de aula, a partir da atitude crítica de Kant em relação à filosofia escolástica ensinada nas universidades alemãs, o lento desenvolvimento da reflexão filosófica que se tornaria célebre em clássicos atemporais tais como a Crítica da Razão Pura e a Fundamentação da Metafísica dos Costumes, dentre outras. Isso faz das Lições uma importante fonte para a pesquisa do pensamento de Kant, seja para a investigação genética de sua filosofia, seja para a compreensão pontual de vários aspectos de sua filosofia madura.” (CUNHA, Bruno. As Lições de Metafísica de Kant. In: Revista Úrsula, nº6, jun/ago 2022).

Acrescento o texto em que o professor Bruno Cunha fala sobre o processo de edição e tradução do livro As Lições de Metafísica de Kant” mais recente deste filósofo vertido por ele ao português[1].

...

Com destaques especiais, claro, inclusive em relação à Psicologia racional, o período pré-crítico e, dado o percurso que iniciei há algum tempo (desde a graduação), as obras de Immanuel Kant passaram a fazer parte das minhas leituras. De grande utilidade para a minha pesquisa, em andamento; são leituras que tem trazido uma série de apontamentos fundamentais além de importante bibliografia, algumas já acrescentadas às minhas leituras e outras a serem lidas o mais breve possível.

Recentemente, o professor Bruno Cunha (UFSJ) como já postei aqui, traduziu as Lições de ética. “Trata-se das notas que foram tomadas pelos alunos a partir dos ensinamentos do professor em sala de aula. 

Apesar desse atraso na edição e na publicação das Lições de Ética, é perceptível que houve um reconhecimento progressivo da importância desses manuscritos no século XX, o que é atestado, sobretudo, nos estudos e comentários que foram desenvolvidos, a partir de então, utilizando esse material como um suplemento para a reconstrução e a compreensão do desenvolvimento do pensamento moral de Kant.” 

Publicou também seu livro “A gênese da ética kantiana” que, como diz o professor, Vinícius Figueiredo: “Bruno Cunha começa a examinar a articulação entre moralidade e o problema do mal desde o de sua aparição primeira na obra de Kant, quando, ainda na década de 1750, ele se deparou com a teodiceia leibniziana. A originalidade de sua reconstrução reside na hipótese de que a cogitação de Kant sobre esse problema foi determinante na orientação de sua inteira filosofia prática. A ruptura com a tradição leibniziano-wolffiana, entre os anos 50 e 60, a aproximação de Kant em relação aos britânicos e especialmente, a Rousseau, são rediscutidos através desse problema, em uma investigação que combina a análise dos textos publicados com a interpretação das Reflexionen e das anotações ao compêndio de filosofia prática de Baumgarten. Ao fim e ao cabo, o leitor se dá conta que a articulação entre a fundamentação da obrigação, de um lado, e a aferição de um sentido para a ação moral, de outro, foi sendo gestada logo que a solução de matiz intelectualista e teológica oferecida pelo wolffianismo se revelou insustentável. A análise aqui efetuada das Reflexionen kantianas da segunda metade dos anos 60 é decisiva para reaver todo interessante e alcance das respostas ulteriores. Bruno Cunha é especialmente feliz em assinalar a lenta conversão de uma teodiceia objetiva – ponto de vista de Leibniz e Wolff – para o que será, com a consolidação do criticismo, uma filosofia da história. É impossível não recordar aqui um célebre artigo de G. Lebrun, no qual ele chamava a atenção para o fato de que a filosofia da história opera no kantismo como uma escatologia para o homem moral”.

A esses acrescentei Lições sobre a doutrina filosófica da religião, outra obra fundamental para o trabalho em andamento. 

E, hoje, acabo de saber que o professor Bruno Cunha traduziu outra importantíssima obra, para a minha pesquisa sobre a Metafísica e, particularmente as discussões sobre este tema nas obras de Immanuel Kant, tanto no período pré-crítico como em toda “herança kantianas”. A obra é Lições de metafísica. Conforme sinopse:

Que há, portanto, realmente conhecimentos a priori já é algo comprovado. Por certo, há toda uma ciência de meros conceitos puros do entendimento. Mas se levanta a pergunta: como os conhecimentos a priori são possíveis? A ciência que responde essa questão se chama Crítica da razão pura. A filosofia transcendental é a ciência de todos os nossos conhecimentos puros a priori. Normalmente é denominada ontologia. [...] As principais ciências que pertencem à metafísica são a ontologia, a cosmologia e a teologia. [...] A ontologia é uma doutrina elementar pura de todos os nossos conhecimentos a priori. Em outras palavras, ela contém a soma total de todos os conceitos puros que podemos ter a priori de coisas. A cosmologia é a consideração do mundo por meio da razão pura. O mundo consiste no mundo corpóreo ou no mundo da alma. Portanto, a cosmologia contém duas partes. A primeira poderia ser denominada a ciência da natureza corpórea e a segunda parte a ciência da natureza pensante. Há, por essa razão, uma doutrina do corpo e uma doutrina da alma. A física racional [physica rationalis] e a psicologia racional [psychologie rationalis] são ambas partes principais que pertencem à cosmologia metafísica geral. – A última ciência metafísica principal é a teologia racional.” AA XXVIII: 541- 542

Com isso, prosseguindo com os trabalhos... 

(Grifos e Destaques são meus)

______.

CUNHA, Bruno. A Gênese da Ética de Kant: o desenvolvimento moral pré-crítico em sua relação com a teodiceia. São Paulo: LiberArs, 2017.

______; FELDHAUS, Charles. Estudo Introdutório. In: KANT, Immanuel. Lições de Ética. São Paulo: Unesp, 2018.

______. Estudo Introdutório. In: KANT, Immanuel. Lições sobre a Doutrina Filosófica da Religião. Petrópolis: Vozes/São Fransciso, 2019.

______. Estudo Introdutório. In: KANT, Immanuel. Lições de Metafísica. Petrópolis: Vozes/São Francisco, 2021.

KANT, Immanuel. Gesammelte Schriften. Vol. I-XXIX. Berlim: Reimer (DeGruyter) 1910-1983.

______. Lições de Ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Feldhaus. São Paulo: Unesp, 2018.

______. Lições sobre a Doutrina Filosófica da Religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis: Vozes/ São Francisco, 2019.

______.Lições de Metafísica. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis: Vozes/São Francisco, 2021.


Mais Bibliografia sobre o tema

ANTOGNAZZA, Maria Rosa. The Oxford Handbook of Leibniz. Oxford University Press, 2018.

BUTLER, J; CLARKE, S; HUTCHESON, F; MANDEVILLE, B; SHAFTESBURY, L; WOLLASTON, W. Filosofia moral britânica: Textos do Século XVIII. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2014.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Investigação sobre a clareza dos princípios da teologia e da moral. Lisboa: Imprensa Casa da Moeda, 2007.

LEIBNIZ. G. W. Novos ensaios sobre o entendimento humano. Lisboa: Edições Colibri, 1993.

______. Ensaios de teodicéia. São Paulo: Estação Liberdade, 2013.

______; WOLFF, C; EULER, L.P; BUFFON, G.-L; LAMBERT, J. H; KANT, I. Espaço e pensamento: textos escolhidos. Organização de Márcio Suzuki (Org.). Tradução de Márcio Suzuki e Outros. São Paulo: Editora Clandestina, 2019. 286.

LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2012. 

PHILONENKO, Alexis. L'Oeuvre de Kant: la philosophie critique. Tome I. J. Vrin, 1996. (col. Bibliothèque d'histoire de la philosophie)

RATEAU, Paul. Leibniz on the Problem of Evil. Oxford University Press, 2019.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...