Reeditando uma reflexão já realizada aqui, sobre um texto de Sêneca e um de Epicuro, trantando da "vida feliz".
Enquanto evito a “multidão”, numa breve pausa nos estudos do dia, releio Sêneca e o que coloco na biliografia para fundamentar essa brevíssima "reflexão matinal":
"Quando
se trata da felicidade, não é adequado que me respondas de acordo com o costume
da separação dos votos : 'A maioria está deste lado, então, do outro está a
parte pior'. Em se tratando de assuntos humanos, não é bom que as coisas
melhores agradem à maioria. A multidão é argumento negativo. Busquemos o
melhor, não o mais comum, aquilo que conceda uma felicidade eterna, não o que
aprova o vulgo, péssimo intérprete da verdade. Chamo vulgo tanto àqueles que
vestem a clâmide quanto aos que carregam coroas. Não olho a cor das roupas que
adornam os corpos, não confio nos olhos para conhecer o homem. Tenho um
instrumento melhor e mais confiável para discernir o verdadeiro do falso; o bem
do espírito, só o espírito o há de encontrar”. (Sêneca. In: "Vida
Feliz")
Nesse
contexto reli mais uma vez, há poucos dias, um livrinho: A Carta
sobre a felicidade, de Epicuro a Meneceu; em seguida retomei as Cartas de
Sêneca a Lucílio e por fim, A vida feliz, de Sêneca. A
estes, acrescentei releituras de comentários sobre as obras e escrevi, para
minhas retomadas futuras, em exercícios, o que anotei abaixo.
Sêneca,
em seu livro A vida feliz se opõe a Epicuro que defende
o prazer como a fonte da felicidade.
“Você
se dedica aos prazeres, eu os controlo; você se entrega ao prazer, eu o uso;
você pensa que é o bem maior, eu nem penso que seja bom: por prazer não faço
nada, você faz tudo.” (X, 3 ).
Cabendo
ressaltar que ‘Feliz’ na discussão entre estoicos e epicuristas, é o
equivalente da palavra grega eudaimonia (εὐδαιμονία),
que pode ser traduzida como “vida digna de ser vivida”, “vida boa”,
“plenitude do ser”.
Os
estoicos defendem que a única vida que vale a pena ser vivida é aquela de retidão
moral, o tipo de existência à qual olhamos no final e podemos dizer
honestamente que não nos envergonhamos; uma vida virtuosa.
Diz
Sêneca que não devemos ter a felicidade como objetivo: “não é fácil alcançar
a felicidade já que quanto mais avidamente um homem se esforça para alcançá-la
mais ele se afasta”.(I,1) a conclusão é que a solução é
ter como objetivo a virtude, a felicidade será
consequência.
Ademais:
“Quem, por outro lado, forma uma aliança, entre a virtude e o prazer,
obstrui qualquer força que uma possa possuir pela fraqueza da outra, e envia
liberdade sob o jugo, pois a liberdade só pode permanece inconquistável
enquanto não sabe nada mais valioso do que ela mesma: pois começa a precisar da
ajuda da Fortuna, o que é a mais completa escravidão: sua vida torna-se ansiosa,
cheia de suspeitas, tímida, temerosa de acidentes, esperando em agonia por
momentos críticos. Você não oferece à virtude uma base sólida e imóvel se você
a colocar sobre o que é instável: e o que pode ser tão instável quanto a
dependência do mero acaso e as vicissitudes do corpo e daquelas coisas que agem
sobre o corpo?”. (XV, 3 )
Fica
claro, portanto, uma recomendação: a de que não devemos associar
a virtude ao prazer, pois se assim o fizermos acabaremos
adentrando territórios não virtuosos, seduzidos pelo prazer
"desregrado".
____.
E,
ainda adverte Sêneca:
"Quer
saber qual é a coisa que com maior empenho deves evitar? A multidão!"
1. [...]
"Refugia-te em ti próprio quanto puderes; dá-te com aqueles que te
possam tornar melhor, convive com aqueles que tu possas tornar melhores. Há que
usar de reciprocidade: enquanto se ensina aprende-se também. Por vão
desejo de tornares conhecido o teu talento não deves misturar-te com o público
a ponto de desejares fazer leituras ou participar em
debates. Aconselhar-te-ia a fazê-lo se tivesses mercadoria adequada a esta
gente; mas entre ela não há quem pudesse entender-te. É possível que casualmente
apareça um ou outro de cuja formação e educação te devas encarregar até o
elevares ao teu nível. “Mas então, em proveito de quem estudei
eu?” Não tenhas receio: se tiveres estudado em teu proveito não terás
perdido tempo.
[...]
Estes pensamentos, caro Lucílio, tens que interiorizá-los, para reprimir o
prazer oriundo do aplauso da multidão. Quando muitos te cobrirem de louvores,
verifica se ainda tens motivo de agrado ante ti próprio, já que és homem que
muitos possam entender! Os teus autênticos bens são apenas do foro íntimo."
(SÉNECA, 2014).
2. Grande representante do Estoicismo; Sêneca estava preocupado com a aplicação da filosofia à vida cotidiana. Em como podemos tirar proveito do estoicismo para nosso crescimento pessoal, para que possamos viver felizes, sem medo e pacificamente. Para que tenhamos forças em enfrentar os reveses da vida, as tristezas. Neste livro, dirigido a seu irmão, Sêneca aborda os temas abaixo:
- Quais são os conceitos básicos de felicidade?
- 'Qual é o caminho para a felicidade”
- Como usar prazer e não ser usado por ele?
- Por que devemos ignorar as críticas e buscar a virtude?
- Como aproveitar a riqueza que pode surgir em nosso caminho e não ser um escravo dela?
- Como entender a nós mesmos?
- O estoicismo oferece uma maneira para abordagem da felicidade e Sêneca aqui, é uma excelente oportunidade de reflexão.
- O autor, Chuck Chakrapani[1], apresenta os temas de maneira bem didática e bastante acessível.
(Grifos e Destaques são meus)
______.
Para sabe mais:
CHAKRAPANI, Chuck. Stoic happiness: Seneca ‘On the Happy Life’, The Stoic Gym Publications 2019. (e-Book)
DINUCCI, A.; JULIEN,
A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra,
2014.
EPICTETO. Entretiens. Livre
I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus
Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. O
Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São
Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)
______. Testemunhos
e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão:
EdiUFS, 2008.
EPICTETUS. The
Discourses of Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad.
Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.
EPICURO. Carta
sobre a felicidade: a Meneceu. São Paulo: Ed. Unesp, 1999.
ESPINOSA, Maria José
Hernández. Epicuro e Séneca: leyendo Carta a
Meneceo y La vida feliz. Publicacions de la Universitat de
València, 2009.
HADOT, Pierre. The
inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard
University Press, 2001.
HANH, Thich Nhat. Meditação
andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2000.
MAY, Rollo. O homem
à procura de si mesmo. São Paulo: Ed. Círculo do livro, 1992.
KARDEC, A. Le Livre
des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985).
(O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O
livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica).
Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 625; 907-912; 919-921 ).
LEBRUN, Gérard. O
conceito de paixão. In: NOVAES, Adauto (org.). Os
sentidos da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.
MARCO AURÉLIO. Meditações. São
Paulo: Abril Cultural, 1973.
SÉNECA, Lúcio
Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian,
2014.
______. Da
tranquilidade da alma. (precedido de "Da vida
retirada", seguido de "Da felicidade". Porto Alegre,
RS: L&PM, 2009.
______. Lucio Aneu. Vida
Feliz. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.
[1]
“If you want to be happy, don't follow the
crowd,” warns Seneca, one of the best exponents of Stoicism.Seneca was
concerned about applying Stoicism to everyday life. How to make Stoicism work
for us, so we can live happily, fearlessly, and peacefully?In this short book
addressed to his brother, Seneca addresses the problem of happiness.* What are
the basics of happiness?* What is the path to happiness?* How to use pleasure and
not be used by it?* Why should we ignore criticism and pursue virtue?* How to
enjoy wealth that comes our way and not be a slave to it?* How to understand
ourselves?Stoicism offers a way to happiness and we can have no better guide
than Seneca.In this Plain English rendition of Senecca's classic treatise on
happiness, Chuck Chakrapani makes ancient philosophy both current and
accessible for modern readers."
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