Infelizmente! Não é psiquiatra, não é psicólogo nem mesmo filosofa um pouquinho. Fala bastante! Mas entregam-lhe cegamente a vida. Não tenho dúvidas: isso é temeroso!
Esperar
o quê, de um mundo paupérrimo que valoriza a gloríola e os que
sonham com aplausos de incautos? Que louva aparência e pouco se importa
com o Ser. Pior, esforçam-se em negar qualquer essência!
Isso
sempre me remete ao Encheiridion, e as outras referencias de sempre, por aqui. Estudando.
E, fugindo dos aplausos,
da gloríola, aproximando-me no que é possível as leituras diárias às ideias
mais presentes e dominantes da “Weltanschauung” que adotei ainda muito
jovem e prosseguindo durante os
dias, todos os dias, a meta a que tenho me
dedicado a empreender, esforçando-me numa disciplina interior (esforço
constante) a alcançar o objetivo para quem se dedique a superar seus
próprios conflitos.
Nesse
sentido, portanto, recuperado, em meio aos afazeres que se seguirão, pensando
na reflexão matinal de hoje, reli, mais uma vez, uma referência de Epicteto a
um certo “exercício”, típico da escola dos pitagóricos, em conformidade
com o que Pierre Hadot chamou
de “exercícios espirituais”, que também
já registrei aqui, a partir da releitura de um artigo e de uma apresentação do
prof. Aldo Dinucci, num "Colóquio sobre Epicteto", em que
discute essa expressão, que deve entendida como “O primeiro e mais
necessário tópico da filosofia: a "[...] aplicação dos
princípios [...]" (Encheirídion. LII:1-2).
Sempre
retornando por caminhos antes percorridos, e por ser tarefa ainda a realizar,
prossigo com mais uma reflexão. Partindo do Encherídion, temos
que:
“[52.1] Ὁ πρῶτος
καὶ ἀναγκαιότατος τόπος ἐστὶν ἐν φιλοσοφίᾳ ὁ τῆς χρήσεως τῶν δογμάτων, οἷον τὸ
μὴ ψεύδεσθαι· ὁ δεύτερος ὁ τῶν ἀποδείξεων, οἷον πόθεν ὅτι οὐ δεῖ ψεύδεσθαι· τρίτος
ὁ αὐτῶν τούτων βεβαιωτικὸς καὶ διαρθρωτικός, οἷον πόθεν ὅτι τοῦτο ἀπόδειξις; τί
γάρ ἐστιν ἀπόδειξις, τί ἀκολουθία, τί μάχη, τί ἀληθές, τί ψεῦδος; [52.2]
οὐκοῦν ὁ μὲν τρίτος τόπος ἀναγκαῖος διὰ τὸν δεύτερον, ὁ δὲ δεύτερος διὰ τὸν πρῶτον·
ὁ δὲ ἀναγκαιότατος καὶ ὅπου ἀναπαύεσθαι δεῖ, ὁ πρῶτος. ἡμεῖς δὲ ἔμπαλιν ποιοῦμεν·
ἐν γὰρ τῷ τρίτῳ τόπῳ διατρίβομεν καὶ περὶ ἐκεῖνόν ἐστιν ἡμῖν ἡ πᾶσα σπουδή· τοῦ
δὲ πρώτου παντελῶς ἀμελοῦμεν. τοιγαροῦν ψευδόμεθα μέν, πῶς δὲ ἀποδείκνυται ὅτι
οὐ δεῖ ψεύδεσθαι, πρόχειρον ἔχομεν.”
“[52.1] O primeiro
e mais necessário tópico da filosofia é o da aplicação dos princípios, por
exemplo: “Não sustentar falsidades”. O segundo é o das demonstrações, por
exemplo: “Por que é preciso não sustentar falsidades?” O terceiro é o que é
próprio para confirmar e articular os anteriores, por exemplo: “Por que isso é
uma demonstração? O que é uma demonstração? O que é uma consequência? O que é
uma contradição? O que é o verdadeiro? O que é o falso?” [52.2]
Portanto, o terceiro tópico é necessário em razão do segundo; e o segundo, em
razão do primeiro – mas o primeiro é o mais necessário e onde é preciso se
demorar. Porém, fazemos o contrário: pois no terceiro despendemos nosso tempo,
e todo o nosso esforço é em relação a ele, mas do primeiro descuidamos por
completo. Eis aí porque, por um lado, sustentamos falsidades e, por outro,
temos à mão como se demonstra que não é apropriado sustentar falsidades.”
(Os Grifos e os Destaques são meus)
Esta foi, portanto, a reflexão matinal antes da retomada e intensificação do estudos cotidianos.
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