segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

REFLEXÃO MATINAL CXLVII: AINDA SOBRE O PROBLEMA DA RELAÇÃO "CORPO E ALMA"

 

"A essência não só precede à existência como ainda sobreviverá a ela." (MARQUINHOS, 2017)

"A writer who says that there are no truths, or that all truth is 'merely relative,' is asking you not to believe him. So don't." (Roger Scruton, In: 𝑀𝑜𝑑𝑒𝑟𝑛 𝑃𝑖𝑙𝑜𝑠𝑜𝑝𝑦: 𝐴𝑛 𝐼𝑛𝑡𝑟𝑜𝑑𝑢𝑐𝑡𝑖𝑜𝑛 𝑎𝑛𝑑 𝑆𝑢𝑟𝑣𝑒𝑦)

Bem isso, mesmo!

"Um escritor que diz que não há verdades, ou que verdades são relativas, está pedindo que não se acredite nele! Então, não acredite!(Roger Scruton. In:Modern philosophy: an introdution and survey”. (Meu esforço de tradução)

. ' .

Numa pausa nos trabalhos, tendo voltado às leituras da pesquisa; enquanto acompanho palestra de um amigo, redigi um resumo das primeiras páginas que reli dessas obras, de Descartes e Platão.

A primeira releitura, trata-se do Tratado do Homem (Traité de l’Homme), de René Descartes, publicado pela primeira vez, em 1662, em latim, através de tradução feita por Florent Shuyl, que era doutor em filosofia pela universidade de Utrecht e doutor em medicina pela escola de Leyde. Dois anos mais tarde, em 1664, Claude Clerselier, que era advogado no Parlamento em Paris e filósofo cartesiano, publicou o texto francês.

O tema de Descartes é o corpo material naquilo que se refere a noções de fisiologia, funções e movimentos de órgãos físicos, que ele explica por mecanismos que ele criou por dedução, certamente a partir das dissecações de animais das quais participou.

"[..] a fim de que se note que o corpo, tomado em geral, é uma substância, razão pela qual também ele não perece de modo algum; mas que o corpo humano, na medida em que difere dos outros corpos, não é formado e composto senão de certa configuração de membros e outros acidentes semelhantes; e a alma humana, ao contrário não é assim composta de quaisquer acidentes, mas é uma pura substância (...) é, no entanto, sempre a mesma alma; ao passo que o corpo humano não mais é o mesmo pelo simples fato de se encontrar mudada a figura de alguma de suas partes. Donde se segue que o corpo humano pode facilmente perecer, mas que o espírito ou a alma do homem [...] é imortal por sua natureza (DESCARTES, 1649/1983, p. 80)"*.

Logo no início diz Descartes, diz:

Esses homens [descritos em seu Tratado] serão compostos, como nós, de uma alma e de um corpo. É necessário que eu vos descreva, primeiramente, o corpo à parte, depois a alma também separadamente, e, enfim, que eu vos mostre como essas duas naturezas (natures) devem estar juntas e unidas para compor os homens que nos assemelham. (DESCARTES, 2009, p. 249)

Portanto, Descartes fala, no início da obra, não da separação (distinção) do corpo e alma, mas sim, ao contrário, de sua união (relação) para comporem o ser humano.

No texto de L’Homme o filósofo escreve apenas sobre o corpo. Em outras obras Principia Philosophiae e em Passions de l’âme é que falará da alma e da necessidade “de estarem juntas e unidas”, como aparece acima.

Aqui, portanto, o que pretendo desenvolver, posteriormente, é o que pude ler em seu livro L'Homme, a maneira com que Descartes explica; como e por que essa união pode ser pensada e em seguida "As paixões da alma" e demais obras anotadas ao final.

A novidade de Descartes é que é a explicação para os movimentos daquilo que não era visível ao anatomista, de como funcionam os órgãos e demais partes do corpo, inclusive as muito pequenas, pode ser notada no que ele diz abaixo, por exemplo:

“Para aquelas que, por causa de sua pequenez, são invisíveis, eu poderei fazer com que as conheçais mais facilmente e mais claramente, falando dos movimentos que delas dependem; de modo que aqui é suficiente que eu explique sequencialmente esses movimentos, e que eu vos diga, do mesmo modo, quais são aquelas de nossas funções que eles representam. (DESCARTES, 2009, p. 253)”.

Portanto, com isso, aproveitando o tempo; em seguida reli o Fédon de Platão e alguns de seus comentadores sobre o tema da "finitude" em Filosofia; passando, nesse caso, por Montaigne, Descartes, Kant, Kierkegaard, Heidegger, antes retomar as leituras principais.

Destaco da segunda releitura da manhã:

No Fédon, Sócrates expõe a Símias porque se deve estar atento e priorizar, nesta vida, a virtude (ἀξεηῆο) e a prudência (θξνλήζεσο): diz ele que a recompensa é bela (θαιὸλ γὰξ ηὸ ἆζινλ), e é grande a esperança (ἡ ἐιπὶο κεγάιε)! (Fédon, 114c). Pois...

Os homens que de alguma forma, cuidam de sua alma (κέιεη ηῆο ἑαπηῶλ ςπρῆο) e não vivem com o pensamento fito no corpo (ζώκαηη πιάηηνληεο δῶζη), quando dizem adeus a todo este tipo de prazeres (εἰδόζηλ) é para seguir um trilho bem diverso daqueles que não sabem aonde vão dar: pois, convictos como estão de que nada devem fazer, que seja contrário à filosofia (θηινζνθίᾳ πξάηηεηλ) e à libertação purificadora (ηῇ ἐθείλεο ιύζεη) que neles opera, é na sua direção que se voltam, seguindo espontaneamente na via por onde ela os conduz (ὑθεγεῖηαη) – (Fédon, 82d).”

Bastante conhecido que Sócrates caminhou pelas ruas de Atenas tentando persuadir outros cidadãos e até mesmo estrangeiros de que o fundamental é sempre o esforço em se melhorarem as almas. Pois, para ele, a alma é a parte mais preciosa (ηηκηώηεξνλ) – (Críton, 48a); tinha como principal objetivo defender a importância da “alma” e que esta, vale mais do que o “corpo”. Fica evidente que a busca da virtude, para Sócrates, está amplamente relacionada com a felicidade.

Alcançar virtude é ser feliz.

Nas duas obras encontro elementos para aprofundamentos das reflexões diárias sobre os temas em destaque. Por exemplo: a relação/distinção corpo e alma, as paixões da alma, as virtudes, a finitude e temas correlatos. Grandes autores e obras.

______.

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