"A essência não só
precede à existência como ainda sobreviverá a
ela." (MARQUINHOS, 2017)
"A writer who says that there are no truths, or that all truth is 'merely relative,' is asking you not to believe him. So don't." (Roger Scruton, In: 𝑀𝑜𝑑𝑒𝑟𝑛 𝑃ℎ𝑖𝑙𝑜𝑠𝑜𝑝ℎ𝑦: 𝐴𝑛 𝐼𝑛𝑡𝑟𝑜𝑑𝑢𝑐𝑡𝑖𝑜𝑛 𝑎𝑛𝑑 𝑆𝑢𝑟𝑣𝑒𝑦)
Bem isso, mesmo!
"Um escritor que diz que não há verdades, ou que verdades são relativas, está pedindo que não se acredite nele! Então, não acredite!" (Roger Scruton. In: “Modern philosophy: an introdution and survey”. (Meu esforço de tradução)
. ' .
Numa pausa nos trabalhos,
tendo voltado às leituras da pesquisa; enquanto acompanho palestra de um amigo,
redigi um resumo das primeiras páginas que reli dessas obras, de Descartes
e Platão.
A
primeira releitura, trata-se do Tratado do Homem (Traité de
l’Homme), de René Descartes, publicado pela primeira vez, em 1662,
em latim, através de tradução feita por Florent Shuyl, que era doutor em
filosofia pela universidade de Utrecht e doutor em medicina pela escola de
Leyde. Dois anos mais tarde, em 1664, Claude Clerselier, que era advogado no
Parlamento em Paris e filósofo cartesiano, publicou o texto francês.
O
tema de Descartes é o corpo material naquilo que se
refere a noções de fisiologia, funções e movimentos de órgãos físicos, que ele
explica por mecanismos que ele criou por dedução, certamente a partir das
dissecações de animais das quais participou.
"[..] a fim de que
se note que o corpo, tomado em geral, é uma substância, razão pela qual também
ele não perece de modo algum; mas que o corpo humano, na medida em que difere
dos outros corpos, não é formado e composto senão de certa configuração de
membros e outros acidentes semelhantes; e a alma humana, ao contrário não é
assim composta de quaisquer acidentes, mas é uma pura substância (...) é, no
entanto, sempre a mesma alma; ao passo que o corpo humano não mais é o mesmo
pelo simples fato de se encontrar mudada a figura de alguma de suas partes.
Donde se segue que o corpo humano pode facilmente perecer, mas que o espírito
ou a alma do homem [...] é imortal por sua natureza (DESCARTES,
1649/1983, p. 80)"*.
Logo
no início diz Descartes, diz:
Esses
homens [descritos em seu Tratado] serão compostos, como
nós, de uma alma e de um corpo. É necessário que eu vos descreva,
primeiramente, o corpo à parte, depois a alma também separadamente, e, enfim,
que eu vos mostre como essas duas naturezas (natures) devem estar juntas
e unidas para compor os homens que nos assemelham. (DESCARTES, 2009, p.
249)
Portanto,
Descartes fala, no início da obra, não da separação (distinção) do
corpo e alma, mas sim, ao contrário, de sua união (relação)
para comporem o ser humano.
No
texto de L’Homme o filósofo escreve apenas sobre o
corpo. Em outras obras Principia Philosophiae e em Passions
de l’âme é que falará da alma e da necessidade “de estarem
juntas e unidas”, como aparece acima.
Aqui,
portanto, o que pretendo desenvolver, posteriormente, é o que pude ler em seu
livro L'Homme, a maneira com que Descartes
explica; como e por que essa união pode ser pensada e em
seguida "As paixões da alma" e demais obras anotadas
ao final.
A
novidade de Descartes é que é a explicação para os movimentos daquilo
que não era visível ao anatomista, de como funcionam os órgãos e demais partes
do corpo, inclusive as muito pequenas, pode ser notada no que ele diz abaixo,
por exemplo:
“Para
aquelas que, por causa de sua pequenez, são invisíveis, eu poderei fazer com
que as conheçais mais facilmente e mais claramente, falando dos movimentos que
delas dependem; de modo que aqui é suficiente que eu explique sequencialmente esses
movimentos, e que eu vos diga, do mesmo modo, quais são aquelas de nossas
funções que eles representam. (DESCARTES,
2009, p. 253)”.
Portanto, com isso, aproveitando
o tempo; em seguida reli o Fédon de Platão e alguns de seus
comentadores sobre o tema da "finitude" em Filosofia;
passando, nesse caso, por Montaigne, Descartes, Kant, Kierkegaard,
Heidegger, antes retomar as leituras principais.
Destaco
da segunda releitura da manhã:
No
Fédon, Sócrates expõe a Símias porque se deve estar atento e priorizar,
nesta vida, a virtude (ἀξεηῆο) e a prudência (θξνλήζεσο): diz ele
que a recompensa é bela (θαιὸλ γὰξ ηὸ ἆζινλ), e é grande a esperança (ἡ
ἐιπὶο κεγάιε)! (Fédon, 114c). Pois...
“Os
homens que de alguma forma, cuidam de sua alma (κέιεη ηῆο ἑαπηῶλ ςπρῆο)
e não vivem com o pensamento fito no corpo (ζώκαηη πιάηηνληεο δῶζη),
quando dizem adeus a todo este tipo de prazeres (εἰδόζηλ) é para seguir
um trilho bem diverso daqueles que não sabem aonde vão dar: pois, convictos
como estão de que nada devem fazer, que seja contrário à filosofia (θηινζνθίᾳ
πξάηηεηλ) e à libertação purificadora (ηῇ ἐθείλεο ιύζεη) que neles
opera, é na sua direção que se voltam, seguindo espontaneamente na via por onde
ela os conduz (ὑθεγεῖηαη) – (Fédon, 82d).”
Bastante
conhecido que Sócrates caminhou pelas ruas de Atenas tentando persuadir outros
cidadãos e até mesmo estrangeiros de que o fundamental é sempre o esforço em se
melhorarem as almas. Pois, para ele, a alma é a parte mais preciosa (ηηκηώηεξνλ)
– (Críton, 48a); tinha como principal objetivo defender a importância da
“alma” e que esta, vale mais do que o “corpo”. Fica evidente que a busca da
virtude, para Sócrates, está amplamente relacionada com a felicidade.
Alcançar
virtude é ser feliz.
Nas
duas obras encontro elementos para aprofundamentos das reflexões diárias sobre
os temas em destaque. Por exemplo: a relação/distinção corpo e alma, as
paixões da alma, as virtudes, a finitude e temas correlatos. Grandes autores e
obras.
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