Ontem, numa pausa nos trabalhos, recuperado e em condições bem estáveis, tendo voltado às leituras da pesquisa; enquanto acompanhava palestra de um amigo, redigi um resumo das primeiras páginas que reli das obras, de Descartes e Platão.
Mais uma vez, estudando o
de sempre, relendo Machado de Assis, como sempre faço nos recessos, reli um
conto de Tchékhov: “A enfermaria nº 6”. E, ainda, na linha das
recomendações de Ítalo Calvino, em seu “Porque ler os
clássicos”, foi essa, a leitura da manhã de hoje! Excelente! E, nos
últimos dias reli e seguirei relendo alguns deles, sem me descuidar, claro, na
medida das forças, prosseguindo a pesquisa principal, mas recorrendo a essas
obras de conteúdos profundos, que o interesse perturbado dos dias atuais, as
torna tão pouco buscadas.
São muito bons textos.
Brevíssimos em quantidade, profundos em qualidade e reflexão filosófica.
E, acabei de descobrir
duas obras mencionadas abaixo e colocadas aqui para leitura nos próximos dias:
A primeira, de
Marin e Amaral (2019): “Os avanços da ciência podem acabar com a filosofia”;
a segunda, de Hawking e
Mlodnov: “The Grand Design”.
Quanto à primeira:
“Neste pequeno livro, os
autores introduzem a noção de “unificação conceitual” como chave de
leitura para os desafios da ciência no cenário contemporâneo e para uma
compreensão mais aprofundada da relação entre pensamento científico e
filosófico. De acordo com os autores, estaríamos às portas de uma gigantesca
síntese conceitual a ser promovida pela ciência entre os conceitos de Mente
e Corpo (Matéria), o que deve nos levar a reflexões sobre a condição humana
e nossas concepções gerais de natureza e cultura e também deve nos levar a
repensar as bases filosóficas, metafísicas, epistemológicas e metodológicas da
nossa produção científica. A tese defendida por Marin e Amaral é que a ciência
moderna tende a direcionar o conjunto de suas produções teóricas no sentido de
promover gigantescos processos de sínteses conceituais, que parecem
irremediavelmente destinados a entrar em choque com a cultura/visão de mundo
existente na época em que eles são propostos. De acordo com o modo como os
autores recontam a história da ciência moderna, dos primeiros dias, com a
revolução copernicana, até o presente momento, passamos por dois grandes
choques entre o discurso teórico dos cientistas e a cultura/visão de mundo
estabelecida: a unificação conceitual newtoniana e a darwiniana. A primeira
grande unificação conceitual promovida pela ciência moderna foi operada por Isaac
Newton no século XVII através da teoria da gravitação universal, que
postulou as leis físicas que permitiram uma abordagem unificada entre Céu e
Terra; a segunda grande unificação foi aquela operada por Charles Darwin,
dois séculos mais tarde, através da teoria da evolução das espécies por seleção
natural, abordagem teórica que promoveu uma síntese entre os conceitos de vida
humana e vida não-humana ao considerar que ambos os tipos de vida possuem a
mesma base biológica. A base desta terceira unificação, i.e., aquela que
apresenta a visão neurocientífica da unidade corpo-mente, vem sendo
pacientemente construída, nas últimas décadas, com sólido apoio em dados
empíricos fornecidos pelos avanços das ciências biológicas e comportamentais.
Para analisar o impacto da terceira unificação na cultura/visão de mundo
contemporânea bem como sua relação com questões filosóficas antigas e
profundas, os autores lançam mão ao longo do livro da metáfora da “trava
cartesiana”. Ainda no alvorecer da modernidade filosófica, Descartes instalou
uma espécie de trava de segurança no mecanicismo que se consistia na ideia de
que toda a natureza pode e deve ser explicada recorrendo-se a causas mecânicas,
exceto a alma humana, uma vez que esta é livre. O choque e as previsíveis
reações ao que os autores denominam de terceira grande unificação conceitual
residem no fato de que a ciência contemporânea adentrou a caixa craniana humana
e está, definitivamente, diante da trava cartesiana. E pretende desmontá-la. Neste
conturbado cenário contemporâneo, o pensamento científico deverá se voltar para
seus fundamentos filosóficos. Este é o convite dos autores. Um convite a
pensar os desafios da ciência no século XXI a partir da relação entre a
produção teórica científica e o pensamento filosófico.”
No que se refere à segunda:
Link
para o Site da amazon:
(Só os Grifos e Destaques
são meus)
______.
DESCARTES, R. Oeuvres. Org.
C. Adam e P. Tannery. Paris: Vrin, 1996. 11v. [indicadas no texto como Ad &
Tan]
_______. Descartes: oeuvres
et lettres. Org. André Bidoux. Paris:
Gallimard, 1953. (Pléiade).
______. Discursos do Método; Meditações; Objeções e
Respostas; As Paixões da Alma; Cartas. (Introdução de
Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gerard Lebrun; Trad. de J.
Guinsberg), Bento Prado J. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os
Pensadores).
______. O mundo (ou
Tratado da luz) e O Homem. Apêndices, tradução e notas: César
Augusto Battisti, Marisa Carneiro de Oliveira Franco Donatelli. Campinas, SP:
Editora da Unicamp, 2009.
DICTIONNAIRE Philosophique -
édition Garnier Frères (1878). Disponível em: https://fr.wikisource.org/wiki/Wikisource:Index_des_auteurs.
DIXON, Thomas. Science and Religion: a very short introduction. Ouxford University Press, 2008.
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LAUDAN, Larry. O progresso e deus problemas: rumo a uma teoria do crescimento científico. São Paulo: Ed. Unesp, 2012.
LINDBERG, David C; NUMBERS, Ronald. When Science and Christianity Meet. University of Chicago Press; Edição: Reprint 1, 2008.
MARIN, Ronaldo; AMARAL,
Gustavo Rick. SANTAELLA, Lucia (Editor). Os avanços da ciência podem acabar
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NUMBERS, Ronald L. Galileo Goes to Jail: and other myths about science and religion. Harvard University Press, 2009.
PLATÂO. República
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________. Teeteto. Trad. Adriana Manuela Nogueira e Marcelo Boeri. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.
SCRUTON, Roger. Sobre a natureza humana. Lisboa:
Gradiva, 2017.
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