terça-feira, 3 de janeiro de 2023

REFLEXÃO MATINAL CXLVIII: AINDA SOBRE O PROBLEMA DA RELAÇÃO "CORPO E ALMA" E “OS AVANÇOS DA CIÊNCIA”


Ontem, numa pausa nos trabalhos, recuperado e em condições bem estáveis, tendo voltado às leituras da pesquisa; enquanto acompanhava palestra de um amigo, redigi um resumo das primeiras páginas que reli das obras, de Descartes e Platão.

Mais uma vez, estudando o de sempre, relendo Machado de Assis, como sempre faço nos recessos, reli um conto de Tchékhov: “A enfermaria nº 6”. E, ainda, na linha das recomendações de Ítalo Calvino, em seu “Porque ler os clássicos”, foi essa, a leitura da manhã de hoje! Excelente! E, nos últimos dias reli e seguirei relendo alguns deles, sem me descuidar, claro, na medida das forças, prosseguindo a pesquisa principal, mas recorrendo a essas obras de conteúdos profundos, que o interesse perturbado dos dias atuais, as torna tão pouco buscadas. 

São muito bons textos. Brevíssimos em quantidade, profundos em qualidade e reflexão filosófica.

E, acabei de descobrir duas obras mencionadas abaixo e colocadas aqui para leitura nos próximos dias:

A primeira, de Marin e Amaral (2019): “Os avanços da ciência podem acabar com a filosofia”; a segunda, de Hawking e Mlodnov: “The Grand Design”.

Quanto à primeira:

“Neste pequeno livro, os autores introduzem a noção de “unificação conceitual” como chave de leitura para os desafios da ciência no cenário contemporâneo e para uma compreensão mais aprofundada da relação entre pensamento científico e filosófico. De acordo com os autores, estaríamos às portas de uma gigantesca síntese conceitual a ser promovida pela ciência entre os conceitos de Mente e Corpo (Matéria), o que deve nos levar a reflexões sobre a condição humana e nossas concepções gerais de natureza e cultura e também deve nos levar a repensar as bases filosóficas, metafísicas, epistemológicas e metodológicas da nossa produção científica. A tese defendida por Marin e Amaral é que a ciência moderna tende a direcionar o conjunto de suas produções teóricas no sentido de promover gigantescos processos de sínteses conceituais, que parecem irremediavelmente destinados a entrar em choque com a cultura/visão de mundo existente na época em que eles são propostos. De acordo com o modo como os autores recontam a história da ciência moderna, dos primeiros dias, com a revolução copernicana, até o presente momento, passamos por dois grandes choques entre o discurso teórico dos cientistas e a cultura/visão de mundo estabelecida: a unificação conceitual newtoniana e a darwiniana. A primeira grande unificação conceitual promovida pela ciência moderna foi operada por Isaac Newton no século XVII através da teoria da gravitação universal, que postulou as leis físicas que permitiram uma abordagem unificada entre Céu e Terra; a segunda grande unificação foi aquela operada por Charles Darwin, dois séculos mais tarde, através da teoria da evolução das espécies por seleção natural, abordagem teórica que promoveu uma síntese entre os conceitos de vida humana e vida não-humana ao considerar que ambos os tipos de vida possuem a mesma base biológica. A base desta terceira unificação, i.e., aquela que apresenta a visão neurocientífica da unidade corpo-mente, vem sendo pacientemente construída, nas últimas décadas, com sólido apoio em dados empíricos fornecidos pelos avanços das ciências biológicas e comportamentais. Para analisar o impacto da terceira unificação na cultura/visão de mundo contemporânea bem como sua relação com questões filosóficas antigas e profundas, os autores lançam mão ao longo do livro da metáfora da “trava cartesiana”. Ainda no alvorecer da modernidade filosófica, Descartes instalou uma espécie de trava de segurança no mecanicismo que se consistia na ideia de que toda a natureza pode e deve ser explicada recorrendo-se a causas mecânicas, exceto a alma humana, uma vez que esta é livre. O choque e as previsíveis reações ao que os autores denominam de terceira grande unificação conceitual residem no fato de que a ciência contemporânea adentrou a caixa craniana humana e está, definitivamente, diante da trava cartesiana. E pretende desmontá-la. Neste conturbado cenário contemporâneo, o pensamento científico deverá se voltar para seus fundamentos filosóficos. Este é o convite dos autores. Um convite a pensar os desafios da ciência no século XXI a partir da relação entre a produção teórica científica e o pensamento filosófico.”

No que se refere à segunda:

Link para o Site da amazon:

https://www.amazon.com.br/Grand-Design-English-Stephen-Hawking-ebook/dp/B003TXSF5C/ref=sr_1_2?crid=21O30FNIEG5LH&keywords=the+grand+design&qid=1672755000&s=books&sprefix=%2Cstripbooks%2C597&sr=1-2

(Só os Grifos e Destaques são meus)

______.

DESCARTES, R. Oeuvres. Org. C. Adam e P. Tannery. Paris: Vrin, 1996. 11v. [indicadas no texto como Ad & Tan]

_______. Descartes: oeuvres et lettres. Org. André Bidoux. Paris: 
Gallimard, 1953. (Pléiade).

______. Discursos do Método; Meditações; Objeções e Respostas; As Paixões da Alma; Cartas. (Introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gerard Lebrun; Trad. de J. Guinsberg), Bento Prado J. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Pensadores).

______. O mundo (ou Tratado da luz) e O Homem. Apêndices, tradução e notas: César Augusto Battisti, Marisa Carneiro de Oliveira Franco Donatelli. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009.

DICTIONNAIRE Philosophique - édition Garnier Frères (1878). Disponível em: https://fr.wikisource.org/wiki/Wikisource:Index_des_auteurs.

DIXON, Thomas. Science and Religion: a very short introduction. Ouxford University Press, 2008.

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GUEROULT, M. Descartes selon l’ordre des raisons. Paris: Aubier-Montaigne, 1955. 2v.

HARRISON, Peter. The Territories of Science and Religion. University of Chicago Press, 2015.

______. (Org.) Ciência e religião. São Paulo: Ideias e Letras, 2014.

HAWKING, Stephen; MLODNOV, Leonard. The Grand Design. ‎New York Bantam. 2010.

LAUDAN, Larry. O progresso e deus problemas: rumo a uma teoria do crescimento científico. São Paulo: Ed. Unesp, 2012.

LINDBERG, David C; NUMBERS, Ronald. When Science and Christianity Meet. University of Chicago Press; Edição: Reprint 1, 2008.

MARIN, Ronaldo; AMARAL, Gustavo Rick. SANTAELLA, Lucia (Editor). Os avanços da ciência podem acabar com a filosofia. São Paulo: Estação das Letras e Cores. 2019.

NUMBERS, Ronald L. Galileo Goes to Jail: and other myths about science and religion. Harvard University Press, 2009.

PLATÂO. República de Platão. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2012.

________. Teeteto. Trad. Adriana Manuela Nogueira e Marcelo Boeri. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

SCRUTON, Roger. Sobre a natureza humana. Lisboa: Gradiva, 2017.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...