quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

REFLEXÃO MATINAL CLIII: “PASSOS PARA MODIFICAR OS DESEJOS” NO ESTOICISMO E NA TCC (II)


Iniciada a leitura. Dando prosseguimento às reflexões sobre essa relação entre Estoicismo e a TCC, como já escrevi aqui nessa página e tenho refletido em textos anteriores, sempre retornando à ideia de Pierre Hadot e Epicteto, para mais uma vez acrescentar reflexões sobre esta “relação”. Anotando as "técnicas” da TCC, a partir, por exemplo, das propostas de Ronald Robertson que é um defensor e estuda esta relação.

Quanto a essa obra que estou iniciando e acrescentando aqui, trata-se de obra “Completamente atualizada, com capítulos revisados e inclusão de novos tópicos, acompanha a evolução das pesquisas em psicoterapias cognitivo-comportamentais, apresentando, de forma didática e ilustrativa, as discussões e propostas mais atuais em tratamento psicoterápico e psicofarmacológico.”

"[...]

Visão geral histórica das teorias e das terapias cognitivo-comportamentais

Mudança de paradigma

Na década de 1960, teorias psicanalíticas dominavam de forma absoluta a psicologia clínica e a psiquiatria. Na teoria psicanalítica, a psicopatologia da depressão era atribuída, entre outras  hipóteses,  à  raiva  introjetada do objeto perdido, a emoções negativas relacionadas a vivências traumáticas reais. No entanto, a partir da década de 1970 se desencadeou nos Estados Unidos um movimento de questionamento nos meios científicos quanto à eficácia da abordagem psicanalítica para os transtornos mentais. Algumas das teorias cognitivo-comportamentais atuais surgiram nesse período. A Terapia  Racional  Emotiva,  desenvolvida por Albert Ellis (1962), estabeleceu a visão de  que  construções  cognitivas,  como  pensamentos  irracionais  e  negativos,  seriam  a base  dos  transtornos  psicológicos.  Bandura (1969 -1971), com sua teoria da aprendizagem social, estabeleceu o processo cognitivo como um elemento fundamental na aquisição e na regulação do comportamento. Outras  teorias  comportamentais  importantes com ênfase no processo cognitivo surgiram, como a de Meichenbaum (1973) com o Treino de Inoculação ao Estresse; a de D’Zurilla  e  Goldfried  (1971)  com  o  Treino em  Solução  de  Problemas;  a  de  Mahoney (1974)  com  a  Modificação  Cognitiva  do Comportamento;  representando  um  meio de  o  ser  humano  construir  sua  capacidade de aprendizado serviram como base para o fortalecimento da terapia cognitiva.

Construção do modelo de reestruturação cognitiva de Beck.

Foi no período entre 1959 e 1979 que Aaron Beck, psicanalista de formação, professor e pesquisador da  Universidade  da  Filadélfia, nos  Estados  Unidos,  juntamente  com  seus colaboradores,  desenvolveu  e  sistematizou o modelo da Terapia Cognitiva. Como  psicanalista  e  pesquisador,  a  intenção inicial de Beck foi estudar qual seria o processo psicológico central envolvido nas depressões. Sua hipótese inicial foi de que a “raiva internalizada” seria o processo psicológico central dos transtornos depressivos, e elegeu os sonhos como objeto de estudo para validar essa ideia. Investigou, inicialmente, o conteúdo  dos  sonhos  de  pacientes  deprimidos e não deprimidos, não encontrando uma diferença  significativa  em  conteúdos  hostis ou agressivos entre os dois grupos (1959).Sua  hipótese  alternativa  foi,  então,  a de  uma  necessidade  de  sofrer  ou  um  masoquismo,  e  elaborou  um  segundo  estudo, quantificando  o  conteúdo  masoquista  dos 20  primeiros  sonhos  de  pacientes  deprimidos  (n  =  18)  e  não  deprimidos  (n  =  12), encontrando uma diferença significativa na quantidade  de  temas  masoquistas  nos  sonhos  de  pacientes  deprimidos  comparados com os de não deprimidos (1959).Ele realizou a seguir um estudo maior que  confirmou  o  resultado  anterior:  uma maior  quantidade  de  conteúdo  masoquista nos  sonhos  do  grupo  de  pacientes  deprimidos quando comparado ao grupo dos não deprimidos. Além disso, encontrou também um paralelo entre o  conteúdo  masoquista  dos sonhos  de  pacientes  deprimidos  e  seu  comportamento em estado de alerta; isso o levou ao questionamento de que “a necessidade de sofrer” poderia ser encontrada, além de nos sonhos, em outros fenômenos cognitivos nos indivíduos depressivos quando acordados. A manipulação experimental desses  pacientes levou Beck e seus colaboradores a abandonar a hipótese de necessidade de sofrer – o masoquismo – como o principal elemento psicológico na depressão. A conclusão final desses estudos foi de que “certos padrões cognitivos poderiam ser responsáveis pela tendência do paciente  a  fazer  julgamentos  com  um  viés negativo de si mesmo, de seu ambiente e do futuro que, embora menos proeminentes no período fora do episódio depressivo, se ativariam  facilmente  durante  os  períodos  de  depressão” (Beck, 1967). Beck passou a utilizar esses achados em sua prática, apontando para seus pacientes deprimidos em atendimento suas distorções cognitivas negativas e a relação destas com o estado depressivo deles. Para sua surpresa, provocá-los  no  aqui  e  agora  a  perceber este  viés  negativo  de  pensamento  resultou em  uma  significativa  melhora  no  humor  e no comportamento desses indivíduos. A sistematização final dessas observações e intervenções foi publicada por Beck e colaboradores no livro Terapia Cognitiva da Depressão (1979). (RANGÉ, 2011. pp. 20-21)

[...]"

(Somente os Grifos e Destaques meus)

Para saber mais sobre esse livro que estou começando a ler:

https://loja.grupoa.com.br/psicoterapias-cognitivo-comportamentais-p989747

______.

BARLOW, David H; DURAND, Mark; HOFMANN, Stefan G. Psicopatologia: uma abordagem integrada. 3. ed. Boston: Cengage Learning, 2021.

BECK, Aaron T; Alford, Brad A. O poder integrador da terapia cognitiva. Porto Alegra, RS: Artmed, 2000.

BECK, Judith S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre, RS, 2997.

CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Milton Moulin. São Paulo: Companhia de bolso, 2007.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.

______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flávio Fontenelle Loque, Loraine Oliveira. São Paulo: É Realizações, Coleção Filosofia Atual, 2014.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

______. Silêncio: o poder da quietude em um mundo barulhento. Rio de Janeiro, RJ: Harper Collins, 2018.

HUIZINGA, Johan. Nas sombras do amanhã: um diagnóstico da enfermidade espiritual de nosso tempo . - Trad. Sérgio Marinho, Goiânia-GO: Editora Caminhos, 2017.

INWOOD, Brad. Reading Seneca: stoic philosophy at Rome. Oxford, Reino Unido: Clarendon Press, 2005.

IRVINE, William B. A Guide to the Good Life: the ancient art of Stoic joy. New York: Oxford University Press, 2009.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica) Trad. Guillon Ribeiro. Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 907-912: "paixões"; 893-906: “virtudes . “vícios” e 920-933: "felicidade").

LEBRUN, Gérard. O conceito de paixãoIn: NOVAES, Adauto (org.). Os sentidos da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

MORRISON, James. Entrevista inicial em saúde mental. Porto Alegre, RS: ARTMED, 2010.

OLIVEIRA, Sérgio Eduardo Silva de; TRENTINI, Clarissa Marceli. Avanços em psicopatologia: avaliação e diagnóstico baseados na CID-11. Porto Alegre, RS: ARTMED,  2023.

RANGÉ, Bernard. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. 2. ed. Porto Alegre: Grupo A - Selo: Artmed, RS, 2011. pp. 20-21.

ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive Psychotherapy. Londres  : Karnac Books, 2010.

______. Pense como um imperador. Trad. Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020.

______. How to think Like a roman emperor: the stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019.

SÊNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

______. Edificar-se para a morte: das cartas morais a Lucílio. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.

____. Sobre a clemência. Introdução, tradução e notas de Ingeborg Braren. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

____. Sobre a ira. Sobre a tranquilidade da alma. Tradução, introdução e notas de José Eduardo S. Lohner. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2014.

____. Tragedies I: Hercules, Trojan women, Phoeniciam women, Medea, Phaedra. Tradução de J. G. Fitch. Cambridge, EUA: Harvard University Press, 2002.  https://www.loebclassics.com/.

____. Tragedies II: Oedipus, Agamemnon, Thyestes, Hercules on Oeta, Octavia. Tradução de J. G. Fitch. Cambridge, EUA: Harvard University Press, 2004.  https://www.loebclassics.com/.

____. Moral Essays. Tradução de John W. Basore. Cambridge, EUA: Harvard University Press, 1985.  https://www.loebclassics.com/.

______. Sobre a brevidade da vida. Porto Alegre, RS: L&PM,

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