Estudando sempre, mantendo o foco de sempre, acrescentando novos textos às leituras sobre o período “pré-crítico” kantiano, destaco aqui hoje, numa pausa, esta obra: “Ter ou ser? Uma introdução ao pensamento humanista”
Cheguei a esta obra assim que terminei mais uma releitura dos textos básicos da pesquisa sobre Idealismo alemão na trilha da filosofia clássica alemã e à medida que estou sempre retomando e mantendo um certo vínculo temático que sempre mantenho presente nas minhas leituras.
E, infelizmente, vivemos num mundo cada vez mais focado em proposições “presentistas”, com enfoque em coisas “materiais”.
Retomo antiga reflexão, para mim, por mim... Acabei me deparando novamente com o que me é comum e pretendo seguir na tentativa de mudanças ainda mais um pouquinho.
Pois:
"É realmente curioso ver o materialismo falar incessantemente da necessidade de elevar a dignidade do homem, quando se esforça para reduzi-lo a um pedaço de carne que apodrece e desaparece sem deixar qualquer vestígio; de reivindicar para si a liberdade como um direito natural, quando o transforma num mecanismo, marchando como um boneco, sem responsabilidade por seus atos. (Revue. março de 1869)"
E, nisso, considero muito pertinente algumas proposições dos antigos filósofos, e os tenho estudado com frequência. O dito abaixo, em certa medida justifica isso, para mim, claro:
"Os filósofos gregos antigos, como Epicuro, Zenão, Sócrates, etc, permaneceram mais fiéis à verdadeira ideia de filosofia do que muitos nos tempos modernos. ‘Quando é que tu vais, por fim, começar a viver virtuosamente?’, dizia Platão a um ancião que lhe contava que assistia a lições sobre a virtude. Não se trata de incessantemente especular, é preciso também, de uma vez por todas, pensar na aplicação. Mas hoje considera-se um sonhador aquele que vive em conformidade com o que ensina”[1]
Portanto, dessa abordagem que estou novamente retomando aqui, como ponto de partida para pensar sobre a busca incessante das Virtudes; da “cura das paixões” (numa perspectiva também estóica), aproveitei a manhã para estas anotações reforçando o projeto.
Nada conseguimos, nesta difícil tarefa de enfrentarmo-nos sem esforços “hercúleos”. Benjamin Franklin, por exemplo, reconheceu isso ao dizer que:
“Tho' I never arrived at the perfection I had been so ambitious of obtaining, but fell far short of it, yet I was, by the endeavour, a better and a happier man than I otherwise should have been if I had not attempted it.”
“Eu nunca cheguei à perfeição a que eu tinha sido tão ambicioso de obter; fiquei muito aquém disso, mesmo assim eu fui, pelo esforço, um homem melhor e mais feliz do que eu deveria ter sido se não tivesse tentado"
Outro neste sentido, bastante citado quando o “conhecimento de si mesmo” é estudado é Sócrates. Destacou-se, sempre, nos diálogos platônicos a importância da Alma, da Verdade, da Virtudes, etc.
E, é bastante conhecido que Sócrates caminhou pelas ruas de Atenas tentando persuadir outros cidadãos e até mesmo estrangeiros de que o fundamental é sempre o esforço em se melhorarem as almas. Pois, para ele, a alma é a parte mais preciosa (ηηκηώηεξνλ) – (Críton, 48a); tinha como principal objetivo defender a importância da alma e que esta, vale mais do que o corpo. Fica evidente que a busca da virtude, para Sócrates, está amplamente relacionada com a felicidade. Alcançar virtude é ser feliz.
No Fédon, Sócrates expõe a Símias porque se deve estar atento e priorizar, nesta vida, a virtude (ἀξεηῆο) e a prudência (θξνλήζεσο): diz ele que a recompensa é bela (θαιὸλ γὰξ ηὸ ἆζινλ), e é grande a esperança (ἡ ἐιπὶο κεγάιε)! (Fédon, 114c).
Pois, se é assim que queremos pensar, necessário reconhecermos que ...
“Os homens que de alguma forma, cuidam de sua alma (κέιεη ηῆο ἑαπηῶλ ςπρῆο) e não vivem com o pensamento fito no corpo (ζώκαηη πιάηηνληεο δῶζη), quando dizem adeus a todo este tipo de prazeres (εἰδόζηλ) é para seguir um trilho bem diverso daqueles que não sabem aonde vão dar: pois, convictos como estão de que nada devem fazer, que seja contrário à filosofia (ζνθίᾳ πξάηηεηλ) e à libertação purificadora (ηῇ θηινἐθείλεο ιύζεη) que neles opera, é na sua direção que se voltam, seguindo espontaneamente na via por onde ela os conduz (ὑθεγεῖηαη) – (Fédon, 82d).”
Encerro esta pequena “reflexão matinal” ainda reforçando o destaque a esta nova edição deste que foi um dos livros que li ainda na adolescência, de Erich Fromm; “Ter ou ser?” Um livro que foi marcante quando li e vou reler em breve.
Sempre retorno a este assunto aqui no Blog:
...
Esta nova edição do livro, reforço, traz uma discussão muito interessante e é “uma crítica profunda ao materialismo em favor de uma vida com significado
"Numa cultura em que o objetivo supremo é ter – e ter cada vez mais – e em que se pode falar que alguém 'vale um milhão de dólares', como pode haver escolha entre ter e ser? Pelo contrário, parece mesmo que a própria essência do ser é o ter; que se alguém não tem nada, não é nada."
Com o surgimento da era industrial, a sociedade se viu diante de uma perspectiva de progresso ilimitado, com promessas de domínio da natureza e abundância material, além da garantia de liberdade pessoal. A conquista de tanta riqueza e conforto deveria resultar em felicidade irrestrita para todas as pessoas.
Hoje sabemos que essa realidade não chegou para todos: a prosperidade econômica está concentrada nas nações ricas, a desigualdade social aumenta cada vez mais e viramos peças na máquina burocrática, influenciados pelo governo, pela indústria e pelos meios de comunicação de massa por eles manipulados.
Diante desse cenário, ao explorar a dicotomia entre o modo do ter e o modo do ser, o psicanalista alemão Erich Fromm, um dos maiores expoentes do movimento psicanalista do século 20, nos leva a refletir sobre os fundamentos da existência humana e nos incita a repensar nossas prioridades e a nos reconectar com nossa essência mais profunda.
Fromm faz uma original investigação das complexidades da natureza humana, questionando os valores que orientam nossa vida e as motivações por trás das escolhas individuais e coletivas.”
“Sobre o Autor
ERICH FROMM (1900-1980) foi um renomado psicanalista, filósofo e sociólogo alemão, radicado americano. Ficou mundialmente conhecido por sua abordagem humanista e suas múltiplas contribuições à compreensão da natureza humana e da sociedade. Em seus trabalhos, explorou temas que vão da psicologia individual à análise crítica das estruturas sociais, tendo, entre seus títulos mais conhecidos, A arte de amar, O medo da liberdade, O coração do homem, A linguagem esquecida e Análise do homem.” (Fonte: amazon.com.br e página da editora https://www.planetadelivros.com.br/livro-ter-ou-ser/393108)
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[1] KANT, Immanuel. Vorlesung über die philosophische Encyclopädie. In: Kant gesalmmelte Schriften, XXIX, Berlin, Akademie, 1980, pp. 8 e 12).
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