A mim, como a questão do mal (bem resolvida) não tem origem no “Criador” acabou me conduzindo para alguns autores como Wolff, Baumgartem; os moralistas ingleses, Hume; Berkeley, Spinosa, Hobbes, Locke, Kant e, agora mais atentamente, retomei a releitura dessa obra de Leibniz sobre essa questão. E, a questão discutida aqui, por Leibniz que passo a analisar a partir de Sêneca também é exatamente:
"Sêneca identifica a filosofia como sabedoria devida às coisas humanas e divinas; no entanto, uma e outra em posse do homem uno e espiritual. Logo, pode dizer-se que sua filosofia possui traços prometeicos, uma vez que o homem deveria entregar a si mesmo uma luz cujo fogo já ardia no seu interior, só bastando encontrá-lo aí para conquistá-lo e dele fazer seu próprio e maior lumiar. Eis por que razão a filosofia de Sêneca foi aqui considerada como uma teodiceia — no espírito da epígrafe do estoico Marco Manílio que Leibniz entendeu por bem selecionar para os seus Ensaios de Teodiceia: “Que tem de estranho que os homens possam conhecer o mundo; têm o mundo neles mesmos, e cada um deles é, à maneira de uma imagem pequena, uma cópia de Deus?” — , mas não uma que fosse cósmica ou universal, senão interior e individual; não devida a um ser divino e absoluto, mas ao homem absoluto, ainda que mortal. O ser humano, nesse sentido, é um universo que protagoniza uma teodiceia em si, pela qual o bem que comporta deverá debelar, pelo seu saber-se, o mal que é menos que si, reconduzindo-se à sua harmonia e perfeição.”
(Grifos e Destaques são meus)
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AMARAL, Ronaldo. Sêneca: A teodiceia do universo interior. Porto Alegre, RS: Casa Letras, 2024.
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