Retomando os estudos. Estudando hoje sobre "Ética e religião no pensamento de Kant" e retomando, ainda uma vez, "A religião nos limites da simples razão" ; relendo a "Fundamentação da metafísica dos costumes" e a "Metafísica dos costumes"
“Uma importante fonte para a investigação genética e para a compreensão geral do pensamento de Kant é o conjunto de Lições que passou a ser publicado desde os últimos anos da sua vida e depois postumamente. Estas Lições são, em sua natureza, um conjunto diverso de anotações manuscritas de estudantes tomadas diretamente da sala de aula ou apenas copiadas de outros cadernos. Elas retratam a atividade docente de Kant em sua totalidade. Em oitenta semestres, entre 1755-1796, Kant ministrou, na Universidade de Königsberg, cursos sobre temas diversos como lógica, matemática, física, geografia, ética, direito natural, teologia racional, enciclopédia filosófica e metafísica. Como estas Lições nos atestam, somos capazes de testemunhar, no contexto informal da sala de aula, a partir da atitude crítica de Kant em relação à filosofia escolástica ensinada nas universidades alemãs, o lento desenvolvimento da reflexão filosófica que se tornaria célebre em clássicos atemporais tais como a Crítica da Razão Pura e a Fundamentação da Metafísica dos Costumes, dentre outras. Isso faz das Lições uma importante fonte para a pesquisa do pensamento de Kant, seja para a investigação genética de sua filosofia, seja para a compreensão pontual de vários aspectos de sua filosofia madura.” (CUNHA, Bruno. As Lições de Metafísica de Kant. In: Revista Úrsula, nº6, jun/ago 2022).
E, aqui, na hora do primeiro cafezinho, estudando também um texto de Paul Guyer sobre o tema para elaboração de um texto para participação num evento, com uma "comunicação", ocorreu-me publicar, mais uma vez, esta passagem da Crítica da razão prática (KpV) que estou relendo agora:
"Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre nova e crescente, quanto mais freqüente e persistentemente a reflexão ocupa-se com elas; o céu estrelado acima de mim e a lei moral em mim. Não me cabe procurar e simplesmente presumir ambas como envoltas em obscuridade, ou no transcendente além de meu horizonte; vejo-as ante mim e conecto-as imediatamente com a consciência de minha existência. A primeira começa no lugar que ocupo no mundo sensorial externo e estende a conexão, em que me encontro, ao imensamente grande com mundos sobre mundos e sistemas de sistemas e, alem disso, ainda a tempos ilimitados de seu movimento periódico, seu início e duração. A segunda começa em meu si-mesmo [Selbst] invisível, em minha personalidade, e expõe-se em um mundo que tem verdadeira infinitude, mas que é acessível somente ao entendimento e com o qual (mas deste modo também ao mesmo tempo com todos aqueles mundos visíveis) reconheço-me, não como lá, em ligação meramente contingente mas em conexão universal e necessária. O primeiro espetáculo de uma inumerável quantidade de mundos como que aniquila minha importância enquanto criatura animal, que tem de devolver novamente ao planeta (um simples ponto no universo a matéria da qual ela se formara, depois que fora por um curto espaço de tempo (não se sabe como) dotada de força vital. O segundo espetáculo, ao contrário, eleva infinitamente meu valor enquanto inteligência, mediante minha personalidade, na qual a lei moral revela-me uma vida independente da animalidade e mesmo de todo o mundo sensorial, pelo menos o quanto se deixa depreender da determinação conforme a fins de minha existência por essa lei, que não está circunscrita a condições e limites dessa vida mas penetra o infinito.” (KANT, 2002. (pp. 255-256))
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Sobre a obra (em edição bilíngue):
"Nesta obra-prima da filosofia moral moderna, Kant estabelece, com vistas ao conceito de autonomia, os princípios da ação humana e critica as tentativas de fundamentação heterônima da moral. Comprova a existência da liberdade mediante o que chama de factum da razão, convertendo-a, a partir dele, em parâmetro crítico de todo o uso prático e mesmo teórico da razão.
A presente edição bilíngue (Português-Alemão) da Crítica da razão prática, diversamente da sua versão monolíngue publicada por esta editora em 2002, destaca-se pela vantagem, sem equivalente em qualquer outra língua, de fornecer o texto da primeira edição original alemã de 1788 ao lado da tradução, feita aqui diretamente sobre ela. Este auspicioso fato editorial propicia a todo leitor e estudioso o contato direto com o texto original, bem como o cotejo da tradução com uma fonte que é a principal e obrigatória referência de todas as demais edições, sobretudo alemãs, dessa segunda Crítica de Kant. Pois, como se pode verificar a partir da opinião dos especialistas, mas, sobretudo do exame de sua correspondência e inclusive de seu Handexemplar (exemplar de usos pessoal de Kant) da Crítica da razão prática, consultado pelo tradutor, Kant deteve-se na releitura e correção apenas de sua primeira edição. Ante a iminência da 4ª edição, de 1797, e instado por seu editor, propôs-lhe que reproduzisse nesta somente aquela edição original.
O texto alemão da Crítica da razão prática, aqui editado e gentilmente fornecido em microfilme pela Biblioteca da Universidade de Münster, conta ainda com a peculiaridade de ter pertencido à princesa Amalia Fürstin Von Gallitzin, ligada ao círculo de Kant. Ela possui em sua biblioteca as obras completas originais de Kant, mas apenas esse exemplar da Crítica da razão prática, que aqui se republica, teve boa sorte de sobreviver e de, através da presente edição, perpetuar-se em nosso meio."
(Só os grifos e destaques são meus)
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BICALHO, Vanessa Brun. Ciência e sabedoria de vida na filosofia transcendental de Kant à luz do estoicismo. Tese de Doutorado (Campus de Toledo). Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, 2021.
BUTLER, J; CLARKE, S; HUTCHESON, F; MANDEVILLE, B; SHAFTESBURY, L; WOLLASTON, W. Filosofia moral britânica: textos do século XVIII. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2014.
CÍCERO, M.T. 1988. De finibus bonorum et malorum / Über die Ziele des menschlichen Handelns. Edição e tradução: Olof Gigon. München/Zürich: Ártemis.
CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.
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