sexta-feira, 24 de março de 2017

RELAÇÃO MENTE-CORPO: PRIMEIROS APONTAMENTOS

Para Renè Descartes:



"[..] a fim de que se note que o corpo, tomado em geral, é uma substância, razão pela qual também ele não perece de modo algum; mas que o corpo humano, na medida em que difere dos outros corpos, não é formado e composto senão de certa configuração de membros e outros acidentes semelhantes; e a alma humana, ao contrário não é assim composta de quaisquer acidentes, mas é uma pura substância (...) é, no entanto, sempre a mesma alma; ao passo que o corpo humano não mais é o mesmo pelo simples fato de se encontrar mudada a figura de alguma de suas partes. Donde se segue que o corpo humano pode facilmente perecer, mas que o espírito ou a alma do homem [...] é imortal por sua natureza (DESCARTES, 1649/1983, p. 80)"*.

O texto a que dou início aqui vincula-se a um tema que já era uma das minhas motivações, antes mesmo da entrada na Graduação, quando pude ter os primeiros contatos com uma mais ampla bibliografia à época, orientado pela profa. Carmen Beatriz Milidoni (in Memoriam).
Minha perspectiva, que ainda prevalece e pretendo desenvolver aqui, é a de que Renè Descartes pode ter sido mal interpretado, por vários autores. O mote escolhido para pensar essa questão é, exatamente, a compreensão de que à medida que se aprofunda numa leitura mais sistemática da obra cartesiana, confrontando sua própria produção, pode-se notar uma leitura, de certa forma enviesada.

Daí, como ponto de partida, passarei a um exercício que considera o próprio método que Descartes usa no exame dessas ideias e toda a "visão de mundo" que o circundava.
Em seguida, após esse exame, tentar compreender as consequencias para a sua visão da medicina, dada a visão de homem que se desdobra da primeira análise. E, que o próprio Descartes discute.
Bastante significativa, e será analisado com mais rigor, o "problema da relação entre a mente e o corpo", considerando exclusivamente os seus escritos. Em que medida se deve apreender tal compreensão senão pelo exame mesmo da obra cartesiana?
Ciente de que ele, realmente, apresentou uma separação entre o corpo e a mente, considerarei o fato de que essa era uma ferramenta metodológica, de teor metafísico e que considera os elementos simples antes de examinar os elementos compostos; que examinaremos a partir da obra "As paixões da alma".
Nota-se nesse procedimento metodológico, quase que à maneira da Navalha de Ockam, o seu interesse em tentar compreender a alma e o corpo como separados entre si, para em seguida pensar sua união e todas as implicações para sua Medicina, causadas por essa junção, uma composição entre corpo e alma: O "[...] corpo humano pode facilmente perecer, [...] o espírito ou a alma do homem [...] é imortal por sua natureza" (Idem; Ibidem).

______.
*. Discursos do Método; Meditações; Objeções e Respostas; As Paixões da Alma; Cartas; introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gerard Lebrun; Trad. de J. Guinsberg, Bento Prado J. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Pensadores).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...