Blog criado para breves reflexões sobre: Filosofia, Metafísica; Ética, Bioética (Relações entre ciência, tecnologia e impactos éticos), Deontologia (Kant). Filosofia clássica alemã: herança kantiana. Ciência x Religião. Espiritualidade e saúde. “Problema mente-corpo" (Frontiers of the mind-brain). Memória. Subjetividade. História e Filosofia da Psicologia e da Biologia. Ênfase no estudo das obras de Immanuel Kant, Hegel, Epicteto, Kierkegaard, Schleiermacher, Jaspers; Habermas.
sábado, 30 de setembro de 2017
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
ESSÊNCIA E EXISTÊNCIA: UMA REFLEXÃO
Imagem: (wpnatue) “Autumn Grass Phtography peaceful great walk amazing park ...”
_______________________________.
MARQUINHOS
“Recolhe-te a estas
coisas mais tranquilas, mais seguras, melhores! [...] elevar-se às coisas
sagradas e sublimes para conhecer qual é a substância de deus, seu prazer, sua
condição, sua forma, que destino guarda a tua alma, que lugar a Natureza nos
destina após nos separarmos do corpo [...].” (SÊNECA. Sobre a brevidade da vida,
XIX, 1).
Tenho estudado bastante e
publicado aqui, alguns temas de teor filosófico diverso, nos quais me exercito.
São diversos entre si, mas preservam uma linha tênue de relação: “ética”,
“bioética”, “filosofia da religião”, o “problema mente-corpo” e o “estoicismo”.
Na verdade, publico-os aqui somente para manter salvos os textos e retomá-los
num futuro com fins de correção e sistematização.
Um dia desses, no
entanto, sem sair da temática apontada e que tem sido constante, publiquei aqui
uma frase, como tenho feito, exercitando como já disse, a redação. Ainda que
fosse só um exercício despretensioso na direção do aperfeiçoamento da escrita, a
frase, bem curta e sem muito "ineditismo" reforçava uma postura
contrária que mantenho e quem me conhece sabe do que digo. A frase, a que me
refiro e sustento serenamente, não com argumentos complexos, que aliás me
agradam, mas por mera posição pessoal foi essa: "A essência não só precede à
existência como ainda sobreviverá a ela." (MARQUINHOS, 2017)
A ela acrescento uma
frase de Epictetus e avanço numa breve reflexão:
"Proteja o bem que
existe em você em tudo o que você fizer, e no que diz respeito a todo o resto,
receba o que lhe for dado enquanto puder fazer uso sensato. Se não puder, não
terá sorte, estará propenso a falhar, perturbado e limitado." (Epictetus)
Para a típica forma de
pensar e filosofar dos estoicos haveria, em nós, algo que se preserva em certa
medida na execução do pensamento lógico universal, e dessa forma estaria
garantida uma coerência e um equilíbrio que auxiliariam na tarefa de cada ser
humano no exercício prático e constante de tornar-se a cada dia uma pessoa
melhor; uma boa pessoa que segundo o que diz Epictetus, por haver uma essência esta deve ser preservada em nós como uma centelha interior que não pode se extinguir.
As nossas ações, no
entanto, devem ser pensadas e direcionadas de certa forma ao bem comum sob pena
de ela, para nós perder força e nos enfraquecer nos juízos que nos sejam
pedidos acerca de decisões e sobre uma ou outra necessidade de tomar como certo
ou verdadeiros atos do nosso cotidiano. Não havendo tal possibilidade de se
estabelecer limites, haveria sim se os que, ultrapassando essas barreiras
avançassem na ação que prejudicasse a outrem ou a si mesmos. Enfim, Epictetus,
recomenda que não percamos essa nossa essência; que façamos o que é certo, o nosso
dever.
E, também o imperador e
filósofo Marco Aurélio teria escrito em suas Meditações: “Se não é certo, não faça.
Se não é verdade, não diga”.
Interessa ressaltar aqui
que mesmo sendo um imperador ele fazia esse tipo de ponderação; preservando-se
distante dos comuns dos homens de seu tempo e assegurando a proteção da sua essência,
similar ao pensamento de Epictetus, ressalte-se; nunca agindo sem estar certo
nem faltando com a verdade.
É certo que ao ler este
brevíssimo texto, alguém irá esbravejar sobre a questão da liberdade e da
possibilidade de podermos fazer o que quisermos das nossas ações e vivermos
cada um a sua própria vida do jeito e forma que achar melhor. O problema é
atingirmos ou prejudicarmos alguém. Também alertando para o fato de que ao
preservarmos aquela essência estaremos mantendo a nossa própria
individualidade de forma que não se apague. Reafirma Marco Aurélio: "Meu
único medo é fazer algo contrário à natureza humana ; a coisa errada, do jeito
errado, ou no momento errado." (Meditações. 7.20)
Uma reflexão que, com
certeza, vou retomar, corrigir e aprofundar.
______.
Entre as que tenho usado
para melhor refletir e tentar fundamentar minhas leituras.
1. AQUINO, Tomas. O ente
e a essência. Petrópolis- RJ: Editora Vozes, 2013.
“Marco entre as várias
obras do autor, o livro adota posições que decidem, em grande parte, o destino
do pensamento ao qual dá forma - o ente, o ser, a substância em suas divisões e
em sua individuação, o acidente e as relações de tudo isto com as intenções
lógicas. Uma obra de juventude, decisiva na medida em que torna transparente as
diretrizes gerais da metafísica.”
2. GILSON, Étienne. O ser e a essência. São Paulo: Editora
Paulus, 2016.
“Foi com a publicação de
O ser e a essência (1948) que Gilson verdadeiramente irrompeu no debate
filosófico contemporâneo, constrangendo muitos [...] a admitir que esta
pequena palavra, ser , que certa tradição idealista havia tentado inutilmente
banir do vocabulário filosófico, abrigava, talvez, se não o destino do
Ocidente , ao menos o lugar de uma de suas mais antigas e constantes querelas.
Muitos se convenceram, ao ler Gilson, de que São Tomás teria ocupado nesse
debate um lugar no mínimo original e importante, o qual não poderia mais ser
ignorado, ainda mais – e sobretudo – ao se querer tomar partido na polêmica que
então o existencialismo conduzia contra o suposto essencialismo de toda a
tradição. Em suma, independentemente de suas virtudes próprias, este livro,
desta vez reconhecido imediatamente como um livro de um filósofo, ainda que
também seja um livro de historiador, teve, ao mesmo tempo, o mérito e a sorte
de vir em boa hora, de responder à expectativa difusa de um público filosófico
que acabava de descobrir, [...] a importância e – poder-se-ia dizer – a
atualidade persistente da questão- o que é o ser?”
3. HADOT, Pierre. A
filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I.
Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.
“Em uma série de entrevistas
com Arnold I. Davidson e Jeannie Carlier, Pierre Hadot revela as chaves de seu
itinerário de vida e de seu pensamento filosófico. Com base em suas reflexões
sobre a filosofia antiga, Hadot descobre uma maneira de filosofar segundo a
qual fazer filosofia não consiste em resolver problemas abstratos, mas em
melhorar nossa forma de viver. O gênero da entrevista permite ao leitor
penetrar de forma amena no pensamento de Hadot."
4. ______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flavio Fontenelle Loque e Loraine
Oliveira. Prefácio de Davidson, Arnold. São Paulo: É Realizações, 2014.
“Nos ensaios reunidos
neste volume, o filósofo e historiador da filosofia Pierre Hadot traça o
panorama histórico da noção de “exercício espiritual” e traz novamente à cena
filosófica o debate acerca do estatuto da filosofia e da figura do filósofo.
Com ele, voltamos a pensar o quanto a filosofia deixou de ser uma “atividade”,
uma prática, para se tornar, cada vez mais, um “discurso”. Hadot propõe, ao
contrário, um resgate da filosofia como “maneira de viver”.
5. RICOUER, Paul. Ser, essência e substância em Platão e Aristóteles. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
“Este Curso interpreta
com rigor o sentido das três palavras do título - 'ser', 'essência' e
'substância' - os conceitos fundamentais da metafísica ocidental. Como Platão e
depois Aristóteles pensam tais conceitos? Que sentido lhes dão? Juntamente com
o interesse intrínseco do comentário, muito profundo e muito apoiado nos
textos, destacam-se as conexões e inversões que Ricceur estabelece dentro das
duas filosofias e entre elas. Ele também põe em relevo evoluções surpreendentes
- um segundo Platão criticou um primeiro Platão (o das Ideias) e um segundo
Aristóteles criticou Platão, simplificando-o e mesmo caricaturando-o.”
domingo, 24 de setembro de 2017
REFLEXÃO MATINAL (II)
"O que
então significa ser verdadeiramente educado? É aprender a aplicar nossos
conceitos naturais às coisas certas e em concordância com a Natureza, e além
disso, separar as coisas que estão em nosso poder daquelas que
não estão." (Epictetus)
Das minhas leituras sobre estoicismo o mais notório princípio para prática de sua filosofia é
um conjunto de três “exercícios práticos”. Os objetivos estóicos estão, sempre
ajustados de forma a dar mais valor à ação do que às palavras. A maneira de
agir de cada indivíduo que pretenda ser um estóico
é priorizada devido ao fato de que verdadeiramente a ação mostra como uma
pessoa realmente é. Daí a incessante busca, realizando exercícios práticos no cotidiano
para alcançar a eustatheia (tranquilidade) e euthymia (crença
em si). Aqui, só vou mostrar o primeiro exercício que é proposto pelos estóicos como ponto de partida para
compreensão e prática de sua filosofia. São três exercícios fáceis e possíveis
de serem realizados em qualquer tempo.
Bastante interessante, para mim, e um dos temas
divulgados pelos estóicos: a reflexão
matinal. O estóico Marco Aurélio, por exemplo, em
suas Meditações como estóico, apresenta estes exercícios práticos que
consistem sempre, como foi dito, em práticas simples. Ao acordar, agradeça por que você acordou e terá
um novo dia com novas oportunidades pela frente. Segundo essa prática, o exercício se
daria dessa forma:
No momento em que despertamos de uma noite sono, agradeçamos
por ter acordado e por termos mais uma oportunidade num novo dia. Em seguida, tranquilamente
sentemo-nos e pensemos no dia a se iniciar e como pretendemos vivê-lo, sem ter aqui a
pretensão de estabelecer metas, planos.
Na verdade, o que importa aqui é pensar
a maneira como nós enfrentaremos nossos vícios e como exercitaremos nossas virtudes. Algum conceito
filosófico será exercitado e aplicado; alguma habilidade intelectual, um
idioma, um tema de uma determinada área será posto em prática? Como faremos isso
de forma efetiva? Como compor o nosso dia, que estamos inciando, de forma a incluirmos esses exercícios?
Durante o dia, com certeza, inúmeras
dificuldades aparecerão e, serão necessárias profundas reflexões sobre a forma
como reagiremos a cada um.
Enfim, tomando o texto de Epictetus utilizado aqui para essa reflexão inicial, é fundamental, já praticando o exercício estóico, reconhecermos que não podemos controlar nada além dos nossos próprios pensamentos, nossas escolhas, vícios ou virtudes; nem tudo distante disso estará sob nosso controle. O que nos acontece à nossa volta serão eventos por nós percebidos que, no entanto, podemos optar por mantermos a calma e a tranquilidade diante deles, serenamente e sem nos distanciarmos da proposta inicial que pretendemos levar a cabo.
Enfim, tomando o texto de Epictetus utilizado aqui para essa reflexão inicial, é fundamental, já praticando o exercício estóico, reconhecermos que não podemos controlar nada além dos nossos próprios pensamentos, nossas escolhas, vícios ou virtudes; nem tudo distante disso estará sob nosso controle. O que nos acontece à nossa volta serão eventos por nós percebidos que, no entanto, podemos optar por mantermos a calma e a tranquilidade diante deles, serenamente e sem nos distanciarmos da proposta inicial que pretendemos levar a cabo.
Eis o primeiro exercício...
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SUGESTÕES DE LEITURA:
1. HADOT, Pierre. A
filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I.
Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.
“Em uma série de
entrevistas com Arnold I. Davidson e Jeannie Carlier, Pierre Hadot revela as
chaves de seu itinerário de vida e de seu pensamento filosófico. Com base em
suas reflexões sobre a filosofia antiga, Hadot descobre uma maneira de
filosofar segundo a qual fazer filosofia não consiste em resolver problemas
abstratos, mas em melhorar nossa forma de viver. O gênero da entrevista permite
ao leitor penetrar de forma amena no pensamento de Hadot."
2. ______. Exercícios Espirituais e Filosofia
Antiga. Trad. Flavio
Fontenelle Loque e Loraine Oliveira. Prefácio de Davidson, Arnold. São Paulo: É
Realizações, 2014.
“Nos ensaios
reunidos neste volume, o filósofo e historiador da filosofia Pierre Hadot traça
o panorama histórico da noção de “exercício espiritual” e traz novamente à cena
filosófica o debate acerca do estatuto da filosofia e da figura do filósofo.
Com ele, voltamos a pensar o quanto a filosofia deixou de ser uma “atividade”,
uma prática, para se tornar, cada vez mais, um “discurso”. Hadot propõe, ao
contrário, um resgate da filosofia como “maneira de viver”.
sábado, 16 de setembro de 2017
TEETETO
(ou Da ciência)
Neste diálogo, numa conversa entre Sócrates
e o jovem discípulo do geômetra Teodoro de Cirene, Teeteto aparece numa lembrança escrita por Euclides de Megara (chefe da escola megárica) e que é
lida por um escravo com a presença de Tépsion.
Teeteto, dotado de grande astúcia, inteligência e excelente memória defende, no texto, a ideia de que
o conhecimento é a sensação. Para Sócrates, tal defesa é tratada como
se fosse a tese de Protágoras do homem-medida; a ciência dos meus sentidos,
como saber de um só, e não pode constituir-se como ciência, de igual maneira, a
ciência não é opinião.
A ciência pode ser iniciada pela
opinião verdadeira.
Haveria uma distância entre sonho
e razão ao se considerar a verdade, que marcaria uma distância entre o
que sinto e o que eu sei.
Ou seja: uma excelente reflexão platônica
sobre epiteme.
terça-feira, 12 de setembro de 2017
I CoNupes
Congresso
Internacional de Saúde e Espiritualidade -
NUPES - Juiz
de Fora.
Dias 16 e 17 de março de 2018
"Diversos especialistas de todo o país e mais um
grande nome internacional para discutirmos, de modo prático e direto, como
integrar a espiritualidade na prática clínica da medicina, psicologia,
enfermagem etc."
Presença confirmada de KENNETH PARGAMENT:
"Professor de psicologia clínica na Bowling Green State University,
já publicou mais de 250 artigos sobre religião e saúde mental [...]"
Autor de um
excelente livro que li recentemente: "Spiritually Integrated Psychotherapy: Understanding and
Addressing the Sacred." The Guilford Press (2007).
e de outro: "The Psychology of Religion and Coping: Theory, Research and Practice"
e de outro: "The Psychology of Religion and Coping: Theory, Research and Practice"
domingo, 10 de setembro de 2017
REFLEXÃO DA TARDE (I)
"Não é possível argumentar com quem negue verdades evidentes [como os céticos]. Ou o sujeito tem problemas de compreensão, ou de caráter. Seu argumento mais famoso: 'não há como saber se estou dormindo ou acordado, pois dormindo tenho a impressão de estar acordado'. Eu pergunto: 'realmente? não há diferença alguma entre essas duas sensações?' Se a resposta é 'nenhuma' não se pode mais argumentar com tal individuo. Eles sabem que estão errados, mas perderam de tal modo o senso de vergonha e o respeito próprio que é como se estivessem mortos em espírito. Seu juízo foi brutalizado, e quem os considera convictos deve também considerar forte a personalidade dos viciados, que insistem no erro".
(Epicteto)
UM GUIA PARA A VIDA?
"A liberdade não tem nada a ver com a liberdade em um sentido social ou político, a liberdade que interessa a Epicteto é inteiramente psicológica e atitudinal, é a liberdade de ser restringido ou impedido por qualquer circunstância externa ou reação emocional". (LONG)
(Epictetus - Filósofo estóico).
EU TENHO ALGUM PODER SOBRE ISSO?
"Ta eph’hêmin?"
Como já teria dito Stockdale ao ejetar-se
do avião que fora atingido e ao aproximar-se do chão: "estou saindo do
mundo da tecnologia e entrando no mundo de Epictetus".
Ou seja, controle o que é possível
controlar e deixe o resto acontecer.
"Lembre-se, então, se você considerar
livre o que por natureza é servil e possuir o que não é seu para possuir, você
será algemado e miserável, culpando tanto os 'deuses' quanto as pessoas. Mas se
você considerar como seu apenas o que lhe cabe e o que pertence aos outros como
não sendo seu, então ninguém jamais terá o poder de lhe coagir ou lhe parar,
você não encontrará alguém para acusar ou culpar, não fará coisa alguma contra
sua vontade, não terá inimigos, ninguém irá lhe ferir porque nenhum mal poderá lhe
afetar." (Epictetus)
quarta-feira, 6 de setembro de 2017
RESGATE E RECONSTRUÇÃO DOS NOSSOS VALORES
Ainda bastante atual,
esse texto foi postado aqui em 06.09.2015 pelo amigo e professor Humberto
Schubert Coelho. Apareceu como "lembrança do Facebook"; publico
novamente:
______.
"Incapazes
de fazer frente aos valores, ao conhecimento e ao trabalho paciente de tantas
gerações, fracassando fragorosamente diante do melhor, do correto e do
verdadeiro, eis que a sombra da humanidade acovardada veste o manto da
indiferença e do relativismo, do venenoso cinismo dos indolentes e inúteis que
têm como única satisfação destruir e diminuir o que em outras mãos frutifica;
se reveste, em sua vergonha e baixa autoestima, do sarcasmo mais barato e
generalizado, que já virou vício, dos ataques militantes e hipócritas contra a
hipocrisia, das racionalizações e desculpas convenientes sobre a futilidade de
qualquer esforço, e até da injustiça ou fanatismo de todas as causas, exceto a
de não se ter nenhuma. Doença derradeira da espécie humana, cuidadosamente
gestada nas universidades e círculos literários, artísticos e científicos, onde
o esforço deu lugar a uma política cujo único objetivo é preservar as vaidades.
Doença que é pacientemente alimentada pelas mídias, políticos e pelo comércio,
sempre com fins manipuladores mal disfarçados.
Como
o nada de “A história sem fim”, tudo devora, desesperando-nos dos esforços de
reação, pois em nenhum lugar se apresenta o vilão a ser confrontado, o talismã
a ser quebrado. Anônimo, vazio por natureza, tragando a tudo e a todos no seu
niilismo inconsequente, tendo no patrimônio civilizacional seu alvo
rancorosamente perseguido, esse monstro informe e nefasto já derrubou
incontáveis trabalhadores do progresso e manutenção do que é humano na
humanidade. Tudo putrefaz, e assume facilmente as formas radicalizadas dos que
querem na angústia um adversário tangível, mas acabam por também se render à
amargura, seja em silêncio, seja engrossando as falanges que pregam a ausência
de sentido.
É
um momento horrível, meus amigos, eu o sei. Mas se a consciência coletiva
caminhou o bastante para criar um mal invisível e onipresente para além das
formas, rostos, nomes e lugares, é que ultrapassamos já o primitivismo mais
elementar da luta física, ingressando no mundo abstrato do espírito, onde os
combates são igualmente de vida ou morte, mas os combatentes são, enfim, as
ideias, sentimentos, esperanças, projetos, sonhos, memórias...
Se
o desafio é tremendo, inconcebível e desesperador, é também convite que ressoa
nos gongos das consciências até os confins do mundo. Desbaratados e desarmados
diante do novo mal transmudado em indiferença, podemos ainda reforçar novas
armas para o resgate e reconstrução dos nossos valores.
Essa
é a hora extrema da história humana, onde, em crise de idade, precisa escolher
novos rumos, mas o relativismo surge pela primeira vez de forma dominante,
apontando para a escolha indecente, inumana e irracional de abandono da busca
pelo sentido da vida. É a hora máxima em que todo resto de fé e esperança
valerão mil vezes o que teriam valido às claras e sob um céu limpo. É a hora em
que todo aquele que faz o que é certo em anonimato, e apenas porque o certo é o
certo, fará estremecer as fibras do planeta. É hora de reunirmos a coragem para
dizer que o amor, a verdade, a justiça, o bem e a beleza objetivos, sim,
existem, não importa que consequências isso possa trazer para nossas vidas
policiadas pelos niilistas e relativistas que histericamente nos queiram
achincalhar.
E
é hora de bater a poeira dos pessimismos, da depressão, dos receios e angústias
com que nos contaminaram, esses que odiosos do progresso e do bem conseguiram
incutir em nós uma desconfiança doentia que nos faz enrubescer diante do que há
de melhor em nós.
Venceremos,
meus amados heróis de um reino da consciência, pois os que ouvirão essas
palavras sem riso são ainda muitos, e recuperaremos as nossas forças
repetidamente, infindavelmente, abastecidos por uma fonte inesgotável, uma que
reside em todos nós, inclusive nos que a olvidam ou abominam.
Não
nos acomodemos a essa vida e mundo horríveis que ajudamos a construir, senão
positivamente, ao menos pelo nosso desforço, preguiça e desânimo. O que está em
jogo não é apenas nossa dignidade, mas a felicidade mesma, o que não nos deixa
alternativa sã além da iniciativa. Piedade para com os que desprezam todas as
palavras e gestos capazes de elevar o homem acima dos animais. São os maiores
sofredores, os mais lamentáveis miseráveis, carentes de tudo, mesmo quando
cobertos pelas joias e glórias do mundo. Seja a nossa a bandeira de todos, para
que os que querem dividir os homens em seitas, partidos e igrejas não encontrem
em nós ressonância para os seus desvarios.
Mas
que seja também a bandeira de convicções firmes, equilibradas, razoáveis e
justas, para que se finque profundamente nas almas sequiosas de alguma coisa,
qualquer coisa."
domingo, 3 de setembro de 2017
UM DIÁLOGO INTERIOR
Estudando as Cartas a Lucílio de Séneca, em que fosse possível selecionar passagens onde tratasse sobre o “diálogo interior”. Pude notar que em vários momentos na obra, é oferecida às vezes bem abertamente e outras nem tanto, uma descrição bastante interessante de elementos envolvidos nessa questão e como esses elementos interagem.
A obra do autor interessa-me há muito tempo; e foi o tema a que tenho
dedicado vários anos em leituras que me levou a ela na tentativa de elaborar um
texto sobre o que me for possível identificar e desenvolver a ideia inicial.
No trecho que cito abaixo aparece uma característica bem presente na
obra de Séneca: ao mesmo tempo em que ele está aconselhando está num claro
exercício de introspecção, num exame de consciência. Claro que, na obra, à
medida em que avança outras características de Séneca também se revelam mas
essa é bastante presente e marcante. Fundamental para a ideia de escrever este texto.
As contradições que aparecem são inúmeras, um Séneca que por vezes
parece repensar seus próprios argumentos; mas parecem ser propositalmente
“pedagógicas” essas idas e vindas, e teriam como objetivo central propiciar a
reflexão em busca de soluções e coerência no interior do próprio diálogo em
andamento. Fácil perceber, a meu ver, na citação abaixo, a característica
apontada acima, em que Séneca enquanto aconselha seu interlocutor faz, ao mesmo
tempo, um exercício de introspecção.
“Tu me’ inquis ‘mones? iam enim te ipse monuisti, iam correxisti? ideo
aliorum emendationi uacas?’ Non sum tam inprobus ut curationes aeger obeam,
sed, tamquam in eodem ualetudinario iaceam, de communi tecum malo
conloquor et remedia communico. Sic itaque me audi tamquam mecum loquar; in
secretum te meum admitto et te adhibito mecum exigo.”
“Quem és tu para me dar conselhos? Acaso já te aconselhaste a ti
próprio, já corrigiste o teu carácter, para te poderes armar em director da
consciência alheia?’ Objecção justa, a tua; eu, contudo, não sou tão descarado
que, doente eu próprio, me aplique a dar remédio aos outros! É como companheiro
de sanatório que eu falo contigo da nossa comum enfermidade e te dou parte dos
medicamentos que uso. Escuta, portanto, as minhas palavras como se estivesses
me ouvindo falar comigo mesmo; é como se eu te permitisse o acesso aos meus
segredos e discutisse comigo mesmo na tua presença.[1]”
sábado, 2 de setembro de 2017
sexta-feira, 1 de setembro de 2017
KANTIAN LEGACIES IN GERMAN IDEALISM
Conferência conjunta entre North American Kant Society (NAKS) e a Society for German Idealism and Romanticism (SGIR).
“A Joint Conference of the North American Kant Society and the Society for German Idealism and Romanticism
“A Joint Conference of the North American Kant Society and the Society for German Idealism and Romanticism
Hosted by the Department of Philosophy at Stanford
University
14-15 October 2017”
http://nebula.wsimg.com/64e59ac017550569f17f5887f74fceaf?AccessKeyId=ADFD9C28516D9C6780F7&disposition=0&alloworigin=1
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REFLEXÃO MATINAL CLXII: UMA INTERPRETAÇÃO KANTIANA DA MORAL CRISTÃ EM "CONFRONTO" COM ÉTICAS ANTIGASDado o percurso que iniciei há alguns anos, hoje estudando as referências básicas para as pesquisas aqui acrescentei esse artigo às obras qu...