Ainda bastante atual,
esse texto foi postado aqui em 06.09.2015 pelo amigo e professor Humberto
Schubert Coelho. Apareceu como "lembrança do Facebook"; publico
novamente:
______.
"Incapazes
de fazer frente aos valores, ao conhecimento e ao trabalho paciente de tantas
gerações, fracassando fragorosamente diante do melhor, do correto e do
verdadeiro, eis que a sombra da humanidade acovardada veste o manto da
indiferença e do relativismo, do venenoso cinismo dos indolentes e inúteis que
têm como única satisfação destruir e diminuir o que em outras mãos frutifica;
se reveste, em sua vergonha e baixa autoestima, do sarcasmo mais barato e
generalizado, que já virou vício, dos ataques militantes e hipócritas contra a
hipocrisia, das racionalizações e desculpas convenientes sobre a futilidade de
qualquer esforço, e até da injustiça ou fanatismo de todas as causas, exceto a
de não se ter nenhuma. Doença derradeira da espécie humana, cuidadosamente
gestada nas universidades e círculos literários, artísticos e científicos, onde
o esforço deu lugar a uma política cujo único objetivo é preservar as vaidades.
Doença que é pacientemente alimentada pelas mídias, políticos e pelo comércio,
sempre com fins manipuladores mal disfarçados.
Como
o nada de “A história sem fim”, tudo devora, desesperando-nos dos esforços de
reação, pois em nenhum lugar se apresenta o vilão a ser confrontado, o talismã
a ser quebrado. Anônimo, vazio por natureza, tragando a tudo e a todos no seu
niilismo inconsequente, tendo no patrimônio civilizacional seu alvo
rancorosamente perseguido, esse monstro informe e nefasto já derrubou
incontáveis trabalhadores do progresso e manutenção do que é humano na
humanidade. Tudo putrefaz, e assume facilmente as formas radicalizadas dos que
querem na angústia um adversário tangível, mas acabam por também se render à
amargura, seja em silêncio, seja engrossando as falanges que pregam a ausência
de sentido.
É
um momento horrível, meus amigos, eu o sei. Mas se a consciência coletiva
caminhou o bastante para criar um mal invisível e onipresente para além das
formas, rostos, nomes e lugares, é que ultrapassamos já o primitivismo mais
elementar da luta física, ingressando no mundo abstrato do espírito, onde os
combates são igualmente de vida ou morte, mas os combatentes são, enfim, as
ideias, sentimentos, esperanças, projetos, sonhos, memórias...
Se
o desafio é tremendo, inconcebível e desesperador, é também convite que ressoa
nos gongos das consciências até os confins do mundo. Desbaratados e desarmados
diante do novo mal transmudado em indiferença, podemos ainda reforçar novas
armas para o resgate e reconstrução dos nossos valores.
Essa
é a hora extrema da história humana, onde, em crise de idade, precisa escolher
novos rumos, mas o relativismo surge pela primeira vez de forma dominante,
apontando para a escolha indecente, inumana e irracional de abandono da busca
pelo sentido da vida. É a hora máxima em que todo resto de fé e esperança
valerão mil vezes o que teriam valido às claras e sob um céu limpo. É a hora em
que todo aquele que faz o que é certo em anonimato, e apenas porque o certo é o
certo, fará estremecer as fibras do planeta. É hora de reunirmos a coragem para
dizer que o amor, a verdade, a justiça, o bem e a beleza objetivos, sim,
existem, não importa que consequências isso possa trazer para nossas vidas
policiadas pelos niilistas e relativistas que histericamente nos queiram
achincalhar.
E
é hora de bater a poeira dos pessimismos, da depressão, dos receios e angústias
com que nos contaminaram, esses que odiosos do progresso e do bem conseguiram
incutir em nós uma desconfiança doentia que nos faz enrubescer diante do que há
de melhor em nós.
Venceremos,
meus amados heróis de um reino da consciência, pois os que ouvirão essas
palavras sem riso são ainda muitos, e recuperaremos as nossas forças
repetidamente, infindavelmente, abastecidos por uma fonte inesgotável, uma que
reside em todos nós, inclusive nos que a olvidam ou abominam.
Não
nos acomodemos a essa vida e mundo horríveis que ajudamos a construir, senão
positivamente, ao menos pelo nosso desforço, preguiça e desânimo. O que está em
jogo não é apenas nossa dignidade, mas a felicidade mesma, o que não nos deixa
alternativa sã além da iniciativa. Piedade para com os que desprezam todas as
palavras e gestos capazes de elevar o homem acima dos animais. São os maiores
sofredores, os mais lamentáveis miseráveis, carentes de tudo, mesmo quando
cobertos pelas joias e glórias do mundo. Seja a nossa a bandeira de todos, para
que os que querem dividir os homens em seitas, partidos e igrejas não encontrem
em nós ressonância para os seus desvarios.
Mas
que seja também a bandeira de convicções firmes, equilibradas, razoáveis e
justas, para que se finque profundamente nas almas sequiosas de alguma coisa,
qualquer coisa."
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