Estudando as Cartas a Lucílio de Séneca, em que fosse possível selecionar passagens onde tratasse sobre o “diálogo interior”. Pude notar que em vários momentos na obra, é oferecida às vezes bem abertamente e outras nem tanto, uma descrição bastante interessante de elementos envolvidos nessa questão e como esses elementos interagem.
A obra do autor interessa-me há muito tempo; e foi o tema a que tenho
dedicado vários anos em leituras que me levou a ela na tentativa de elaborar um
texto sobre o que me for possível identificar e desenvolver a ideia inicial.
No trecho que cito abaixo aparece uma característica bem presente na
obra de Séneca: ao mesmo tempo em que ele está aconselhando está num claro
exercício de introspecção, num exame de consciência. Claro que, na obra, à
medida em que avança outras características de Séneca também se revelam mas
essa é bastante presente e marcante. Fundamental para a ideia de escrever este texto.
As contradições que aparecem são inúmeras, um Séneca que por vezes
parece repensar seus próprios argumentos; mas parecem ser propositalmente
“pedagógicas” essas idas e vindas, e teriam como objetivo central propiciar a
reflexão em busca de soluções e coerência no interior do próprio diálogo em
andamento. Fácil perceber, a meu ver, na citação abaixo, a característica
apontada acima, em que Séneca enquanto aconselha seu interlocutor faz, ao mesmo
tempo, um exercício de introspecção.
“Tu me’ inquis ‘mones? iam enim te ipse monuisti, iam correxisti? ideo
aliorum emendationi uacas?’ Non sum tam inprobus ut curationes aeger obeam,
sed, tamquam in eodem ualetudinario iaceam, de communi tecum malo
conloquor et remedia communico. Sic itaque me audi tamquam mecum loquar; in
secretum te meum admitto et te adhibito mecum exigo.”
“Quem és tu para me dar conselhos? Acaso já te aconselhaste a ti
próprio, já corrigiste o teu carácter, para te poderes armar em director da
consciência alheia?’ Objecção justa, a tua; eu, contudo, não sou tão descarado
que, doente eu próprio, me aplique a dar remédio aos outros! É como companheiro
de sanatório que eu falo contigo da nossa comum enfermidade e te dou parte dos
medicamentos que uso. Escuta, portanto, as minhas palavras como se estivesses
me ouvindo falar comigo mesmo; é como se eu te permitisse o acesso aos meus
segredos e discutisse comigo mesmo na tua presença.[1]”
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