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Há
pouco, estudando a obra de Poincaré, "Ensaios fundamentais" e "O
valor da ciência", especificamente, para relaxar, lembrei-me de uma
reflexão de sua autoria, que já publiquei aqui outrora:
"O
livro une o passado ao presente, ressuscita os séculos; desperta a voz de
nossos antepassados, proporcionando-nos viver em sua companhia e conversar com
eles. Ao mesmo tempo, o livro registra os progressos realizados, propaga ideias
fecundas, estimula as imaginações criadoras; é o mensageiro da ciência e arauto
das boas letras; abre-nos a porta do desconhecido" (Henri Poincaré).
Limitado, por uma série de fatores, ciente de que preciso reler muita coisa que já li há algum tempo, dei-me essa incumbência.
A bem da verdade, um segundo motivo é o de que se
produz muito e o muito que aparece, sobre ciências, não me encanta nem me interessa.
Daí a
necessidade premente de revisitar os clássicos, e os grandes textos e autores que mais me chamaram a
atenção quando os li; sempre mantenho a temática a que me dedico há anos e está descrita no que escrevo aqui.
O enfoque é sempre o mesmo.
Alguns há, que já li mais de uma vez, mas sempre retorno com prazer.
Faz-me bem demais tal disposição!
_____.
“Ainda em vida, Henri
Poincaré foi considerado por Bertrand Russell, seu contemporâneo, como 'a
maior figura produzida pela França nos tempos modernos'. Não havia exagero
nisso, mas apenas reconhecimento de que estava ali um dos raros universalistas
da história de ciência, talvez mesmo o último deles. Matemático por formação e
vocação, Poincaré manejava com gênio, como Gauss o fizera, todos os ramos de
sua disciplina, em forma pura ou aplicada. Engenheiro, astrônomo e físico,
esteve entre os melhores de sua época. Humanista, filósofo e poliglota,
destacou-se como um estilista da sua língua, expondo suas ideias com tal
brilho, elegância e clareza que terminou acolhido na Academia Francesa.
Data do início do século sua preocupação específica com a divulgação da ciência, da qual resultou uma série de quatro livros de ensaios, logo traduzidos para todas as línguas e hoje alçados à condição de clássicos. Sobre sua importância, basta lembrar o que Abraham Pais, biógrafo de Einstein, escreveu: 'Antes de formular a teoria da relatividade, Einstein e seus amigos [da Akademie Olympia] fizeram muito mais do que passar os olhos pelos escritos de Poincaré. Solovine nos deixou uma lista detalhada dos livros que os membros da Akademie leram em conjunto. Destes, destacou um, e apenas um, 'A ciência e a hipótese', com o seguinte comentário: 'Poincaré nos impressionou profundamente e nos deixou sem respiração durante semanas e semanas'.
'O valor da ciência' desdobra e aperfeiçoa as ideias fundamentais esboçadas em 'A ciência e a hipótese'. Na primeira parte do livro, Poincaré discute a psicologia da invenção matemática, ressaltando a necessária interação da análise lógica e da intuição. Depois, num de seus ensaios precursores da teoria da relatividade, discute que convenções estão presentes na medida do tempo, demonstrando que não há simultaneidade absoluta. Passa em seguida para a noção de espaço, introduzindo o conceito de corte, questionando a tridimensionalidade e imaginando a possibilidade de uma quarta dimensão.
O quadro das ciências físicas ocupa a segunda parte do livro. Poincaré estuda o benefício recíproco da análise e da física e, em seguida, num capítulo dedicado à astronomia, dá uma imagem poderosa, encantadora e otimista de toda a ciência. Depois, em três ensaios concatenados, enfoca a física matemática, sua história, sua crise e seu futuro. Brilha então, com toda a força, o gênio visionário do autor. Ele chama atenção para as modificações trazidas por Lorentz, então recentes, nos conceitos de duração, distância e massa; antecipa que o estudo das raias dos espectros de emissão (efeito Zeeman) traria enormes surpresas teóricas; finalmente, anuncia duas inovações radicais, a seu ver necessárias: a substituição de diferenciais por leis estatísticas e o advento de uma nova mecânica, na qual, 'crescendo a inércia com a velocidade, a velocidade da luz se tornará um limite intransponível'."
São textos que me tiraram o fôlego quando os li, principalmente porque estamos lendo sobre a invenção do programa da nova física do século XX. (César Benjamin. Ed. Contraponto).”
(grifos e destaques meus)
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