Stephen Jay Gould defende em seu livro “Pilares do tempo: ciência e
religião na plenitude da vida” a ideia de que ciência e religião pertencem
a diferentes enfoques de verdade, os MNI: magistérios
não-interferentes.
Li, em 2002, reli nos últimos dias.
Segundo Gould, a mera
observação do que se dá com eventos naturais é insuficiente para uma moral, uma
ética, observando os fenômenos por eles mesmos. Mas entrariam numa outra área,
outro MNI: magistério não interferente.
Um magistério que se ocupasse dessas
questões já existiria antes da ciência, e trataria das questões sobre moral,
valor e sentido da vida
Caberia portanto, na compreensão de Gould à áreas como a filosofia, a história, a literatura, entre outras, essa tarefa. E, à estas acrescentou a religião, presente nas sociedades humanas desde tempos imemoriais.
Nesse sentido, a obra de Gould reflete, basicamente sobre a tendência em se discutir esse tema a partir de uma dicotomia “ou isto/ou aquilo”, e adota-se os extremos, quase nunca o "meio termo" aristotélico.
Ora: com tão complexas questões em
jogo, ele admite que ciência e religião oferecem
respostas diversas.
Enfim, Gould, de família judia, recorre
às histórias de vida de Charles Darwin e Thomas H.
Huxley para, coerentemente, defender o princípio de não-interferência.
Mostra que, em momento algum, apesar de intensa dor, confundira ciência e religião.
Esse o ponto fundamental no seu livro:
a questão da pertinências das duas áreas no debate científico.
Lembro-me ainda das manhãs de domingo,
onde da banca de jornais trazia o jornal e num caderno especial (mais!), podia-se ler o debate entre Dawkins e Gould (bons
tempos).
E, com esse livro Gould, logo na abertura também trouxe a história do cético São Tomé,
apresentou-me a obra de Thomas Burnet que, à época, eu não conhecia; fala de Galileu Galilei x Maffeo Barberini (papa Urbano
VIII), apontando para a própria questão da encíclica papal Fides et
Ratio, publicada por João Paulo II.
Uma obra que me agradou tanto à época que precisei revisitá-la agora, visto que
os meus interesses não mudaram.
______.
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