(Imagem: Pinterest Wallpaper)
“De todas as coisas que podemos
conceber neste mundo ou mesmo, de uma maneira geral, fora dele, não há nenhuma
que possa ser considerada como boa sem restrição, salvo uma boa vontade. O
entendimento, o espírito, o juízo e os outros talentos do espírito, seja
qual for o nome que lhes dermos, a coragem, a decisão, a perseverança nos
propósitos, como qualidades do temperamento, são, indubitavelmente, sob
muitos aspectos, coisas boas e desejáveis; contudo, também podem chegar a ser
extrordinriamente más e daninhas se a vontade que há-de usar destes bens
naturais, e cuja constituição se chama por isso carácter, não é uma boa
vontade. O mesmo se pode dizer dos dons da fortuna. O poder, a riqueza, a
consideração, a própria saúde e tudo o que constitui o bem-estar e
contentamento com a própria sorte, numa palavra, tudo o que se
denomina felicidade, geram uma confiança que muitas vezes se torna
arrogância, se não existir uma boa vontade que modere a influência que a
felicidade pode exercer sobre a sensibilidade e que corrija o princípio da
nossa atividade, tornando-o útil ao bem geral; acrescentemos que num espectador
imparcial e dotado de razão, testemunha da felicidade ininterrupta de uma
pessoa que não ostente o menor traço de uma vontade pura e boa, nunca encontrará
nesse espetáculo uma satisfação verdadeira, de tal modo a boa vontade parece
ser a condição indispensável sem a qual não somos dignos de ser felizes.
(...) A boa vontade não é boa pelo que produz e realiza,
nem por facilitar o alcance de um fim que nos proponhamos, mas apenas pelo
querer mesmo; isto quer dizer que ela é boa em si e que, considerada em si
mesma, deve ser tida em preço infinitamente mais elevado que tudo quanto possa
realizar-se por seu intermédio em proveito de alguma inclinação, ou mesmo, se
se quiser, do conjunto de todas as inclinações”.
______.
KANT, Immanuel. In: Fundamentação da Metafísica dos Costumes.
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