quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

PAZ E LIBERDADE INTERIORES: REFLEXÃO MATINAL XVII



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(Imagem: Pinterest)

“Passeia sozinho, conversa contigo mesmo”

(EPICTETUS, Diatribes, III, 14, 1) 

Diferente de uma visão que se defende comumente, a imagem do filósofo ou mesmo do "intelectual" como a de uma pessoa amarga e destituída de esperanças; chega o momento de se reformar as reflexões e otimizar o pensamento. Sempre atento, ressalte-se, a não cair em raciocínios vazios ou “piegas”, como dizem alguns sobre os que não são ou deixaram de ser amargos. Entre estes, os que defendem ainda que estudar, ler, refletir conduzem a uma postura existencial, de onde não veem solução para o mundo ou possibilidade de uma vida de tranquilidade e profundas reflexões. Consideram tal postura como mais comum a quem "pensa". Trata-se aqui, para mim, abandonar a ideia de que "pensar dói". A bem da verdade, não é mesmo tarefa fácil, mas não justifica nem deve fundamentar um pessimismo perante a vida.

Destaco aqui, a importância que a Filosofia, como defendida por Epictetus, embora os estoicos se dedicassem à prática não a defendiam como único caminho a ser seguido pelo filósofo. Já havia sim, à época uma crítica à maneira de se filosofar. 

A mim, o destaque tornou-se fundamental para compreender, em certa medida, que a crítica ainda é valida para hoje, como se vê na exposição no vídeo em anexo. O que me leva a pensar nessa questão é a constatação de que há ainda hoje tipos como os criticados pelos estoicos; os que lêem algumas coisas e se veem como "filósofos". Daí começar por esse texto abaixo, onde Epictetus aponta que: 

“[52.1] O primeiro e mais necessário tópico da filosofia é o da aplicação dos princípios, por exemplo: “Não sustentar falsidades”. O segundo é o das demonstrações, por exemplo: “Por que é preciso não sustentar falsidades?” O terceiro é o que é próprio para confirmar e articular os anteriores, por exemplo: “Por que isso é uma demonstração? O que é uma demonstração? O que é uma consequência? O que é uma contradição? O que é o verdadeiro? O que é o falso?” 

Ora, à época de Epictetus, um dos filósofos estoicos que tenho estudado nas pausas da pesquisa, não se entendia, principalmente na “escola filosófica” a que era filiado, como tarefa do ato de filosofar somente a criação de novos sistemas; pelo contrário, entendia-se o filósofo como alguém que, ligado a uma “escola filosófica”, faz uma “opção existencial”, faz uma escolha, opta um "modo de vida", toma um caminho espiritual de transformação que consiste, principalmente, na prática de "Theoremata (pensados aqui, a partir das considerações do prof. Aldo Dinucci, como “princípios”). O filósofo, portanto, nessa perspectiva, é um praticante de Sabedoria cujo objetivo principal é uma conversão a um "modo de ser e viver" que resulte em liberdade interiorserenidade e em paz que se distancie do modo em que vivia antes. Assim:

...O ato filosófico não se situa somente na ordem do conhecimento, mas na ordem de “si” e do “ser”: é um progresso que nos faz ser mais, que nos torna melhores. É uma conversão que revoluciona a vida toda, que muda o ser daquele que a realiza. Ela faz passar de um estado de vida inautêntico, obscurecido pela inconsciência, atormentada pela inquietação, para um estado de vida autêntico, no qual o homem atinge a consciência de si, a visão exata do mundo, a paz e a liberdade interiores... (BREHIÈR, 1950)

Ou seja: fundamental aqui foi refletir sobre o ato filosófico e de que maneira pode ser, verdadeiramente, uma conversão que revolucione e favoreça uma melhor compreensão do mundo e da vida. É, portanto, neste sentido que se pode compreender como "princípios" (Theoremata) que se baseiam na antiga Sabedoria do Pórtico, e como textos de autores como Epictetus podem ainda ser usados como ferramentas a darem fundamento a um novo “modo de vida” que se escolheu a partir de prática estoica na aplicação destes "Theoremata".

______.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

BRÉHIER, Émile. Prefácio a A. VIRIEUX-REYMOND, La logique et l’ épistemologie des stoïciens, Chambery Editions, 1950).

BREHIER, E. Crysippe et l` ancient stoicisme. Paris: Archives Contemporaines Editions, 2006) - Collection: Editions des Ar, 2006)

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.


EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.


...
Vídeo sobre a questão dos "Theoremata" na obra Epictetus:

https://www.youtube.com/watch?v=QrT3vYlU7Rg



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