sábado, 12 de outubro de 2019

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XIX: MEDIDAS PROFILÁTICAS

Lugares Esquecidos: Pontes lindas e esquecidas
(IMAGEM: "Pinterest")

O escritor e jurista romano Aulo Gélio, acabei de ler aqui, teria dito que:

"Se qualquer pessoa levasse duas palavras a sério e fizesse o necessário para se vigiar segundo elas, ela viveria uma vida tranquila e impecável. Essas duas palavras são: persistir e resistir."

E, nas leituras sobre Estoicismo reli, e aliás, já citei várias vezes aqui, uma conhecida "máxima" estoica que diz: "sustine et abstine", atribuída a Epicteto. As duas palavras, em português podem ser traduzidas por "suporta e abstém".

Assim, estoicaMente:

Suportemos os acontecimentos tidos, às vezes, e erroneamente, como "males" que, porventura, possam nos atingir e que não temos controle sobre eles (EPICTETO. Encheirídion I. 1-2), e abstenhamo-nos de coisas que podem nos colocar na direção desses ditos "males".

São palavras ditas por pessoas diferentes, mas que carregam o mesmo significado das que foram ditas por Aulo Gélio quando afirmou: persista e resista. Ou seja: persista durante os momentos difíceis da vida e resista aos maus impulsos.

Nos dois casos, para mim, um excelente conselho. Bastando direcionar esse conselho com princípios na direção da prática efetiva do suportar e abster.

Anéchou kai Apéchou - Suporta e Abstém-te - Sustine et Abstine

"Esse mesmo Epicteto [...] costumava dizer haver dois vícios entre todos de longe mais graves e perniciosos: a impaciência e a incontinência, quando ou não aguentamos os sofrimentos que devem ser suportados, ou não nos abstemos de coisas e desejos em relação aos quais devemos nos abster. “Assim,” diz Epicteto, “se alguém tomar a peito estas duas palavras e as velar através do governo e da observação de si mesmo, na maior parte do tempo não cometerá faltas e viverá uma vida tranquilíssima”. Estas duas palavras Epicteto dizia serem anéchou (suporta) e apéchou (abstém-te). (Aulo Gélio, Noites Áticas, XVII, XIX, 5 ss.) 


Um caminho?
Guiarmos nossas ações pelas virtudes.


Como boa medida profilática, recomenda Musonius Rufus*: 

"Devemos viver como médicos, tratando a nós mesmos com a razão, contra os males de não usá-la" 

(os grifos são meus)

______.
* (Caio Musónio Rufo - Filósofo estóico do primeiro século da “era cristã”. Nascido em Volsínios, na Etrúria. Viveu entre 25 d.C. - 95 d.C.) 

______.

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