Reli, hoje, um conjunto de poemas que li, ainda bem jovem.
Publicados pela primeira vez em 1966, li em 1982. Em cada um deles, é notório perceber as convicções do autor; embora não sejam iguais as minhas (um dia coincidiram, em certa medida; não mais), são de uma sonoridade e sentido de existência tocantes, imprescindíveis!
Destes, destaco dois aqui:
"DIZ TU POR MIM, SILÊNCIO
Não era hoje um dia de palavras,
Intenções de poemas ou discursos,
Nem qualquer dos caminhos era nosso.
A definir-nos bastava um acto só,
E já que nas palavras me não salvo,
Diz tu por mim, silêncio, o que não posso."
. ' .
"DEMISSÃO
Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo demais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes."
______.
(SARAMAGO, José. In: "Os poemas possíveis". 3. ed., Lisboa: Editorial Caminho, 1981).
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