Tem sido comum, as minhas leituras e releituras sobre as discussões sobre a virtude; não somente, como tenho feito, extraindo excelentes reflexões dos textos dos estoicos, mas em diversos autores e em meio à sociedade, em geral, muitos dos quais acrescento várias obras.
Por exemplo,
recentemente, iniciei a leitura dessa obra, de Claudia Blöser e Titus
Stahl, com a qual tive contato através de uma resenha que li e postei
aqui. no blog.
O tema é a “esperança”, mais uma vez, e ainda que
não seja tão raro que se ouçam dizer que o mundo atual tem se tornado tão vazio
de sentido por não haver uma preocupação com essa questão, sigo refletindo sobre a
temática.
E, aqui, diante de tanta
leitura errônea da Vida, de como se deve valorizar ou o que valorizar nessa vida.
Pois, é certo que me distancio o quanto posso e devo das valorizações exageradas
do presente como o único a que se deve dedicar a vida.
Portanto, o a que tenho me
dedicado é esse distanciamento de uma visão “presentista” e propositalmente
empobrecida da vida. O que aprendo e me exercito é nesse sentido: “encarar a
vida de um ponto mais elevado”.
Ora, por sermos imperfeitos, sempre nos equivocamos, à medida que somos desafiados. E, porque a maioria teme o isolamento da próprias decisões que, certamente, o fastariam da visão de "massa", o que se faz é "seguir a maré". Daí, a meu ver, um pessimismo injustificado em relação à Vida. Não nos convençamos de que, imperfeitos, não possamos almejar o melhor. Menos ainda que o presente seja a única referência. Parece-me, tendo notado, ser de extrema urgência uma visão mais "desinteressada" da Vida.
Assim,
“Postos de lado os
defeitos e os vícios acerca dos quais ninguém se pode equivocar, qual o sinal
mais característico da imperfeição?
“O interesse pessoal.
Frequentemente, as qualidades morais são como, num objeto de cobre, a douradura
que não resiste à pedra de toque. Pode um homem possuir qualidades reais, que
levem o mundo a considerá-lo homem de bem. Mas essas qualidades, conquanto assinalem
um progresso, nem sempre suportam certas provas, e às vezes basta que se fira a
corda do interesse pessoal para que o fundo fique a descoberto. O verdadeiro
desinteresse é coisa ainda tão rara na Terra que, quando se patenteia, todos o
admiram como se fora um fenômeno.
O apego às coisas
materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se
aferra aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino.
Pelo desinteresse, ao
contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro." - (A.
K.)
Com issso, quero ressaltar uma visão mais positiva da Vida, inclusive, do conceito de "Esperança"
Aliás, "recentemente surgiu um consenso
aproximado de que a esperança tem três partes componentes principais:
- primeiro, a crença de que o resultado esperado é possível, mas não garantido;
- segundo, um desejo ou preferência por esse resultado;
- e uma terceira coisa que equivale a uma atitude "e se" em tom positivo em relação a um futuro contendo esse resultado ... (231-32)"
Em contraste com o agente
desesperado, que pode desejar X e acreditar que X é possível, mas não
garantido, o agente que espera tem uma atitude "e se" tonificada positivamente em relação à
obtenção de X. Em outras palavras, a visão contínua reflete que, em
contraste com o desespero, a esperança envolve uma orientação positiva em direção à
possibilidade daquilo que é desejado. (BLÖSER, 2020)”
______.
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