domingo, 30 de maio de 2021

REFLEXÃO MATINAL XC: REFLEXÕES SOBRE A VIDA (OU: FUGINDO DA CONFUSÃO)

 

(IMAGEM: "Pinterest")

“Wieviel ist aufzuleidenn” (RILKE)



“O homem procura sempre um significado para a sua vida. Ele está sempre movendo-se em busca de sentido de seu viver; em outras palavras, devemos considerar aquilo que chamo de ‘vontade de sentido’ como um interesse primário do homem [...]” (2005, p. 29) 

Hoje recordando momentos difíceis do triste início de 2014, iniciei a releitura dessa obra; lida em fins dos 90. Mais uma vez retornando à edificante releitura desse livro, acrescentando novos livros que vieram em seguida, do mesmo autor. Preenchendo a manhã com reflexões que engrandeçam a “alma”. São só apontamentos para uma “reflexão matinal”, mas de profunda reflexão, destaco aqui alguns trechos de leituras já feitas várias vezes, como o trecho seguinte: 

“A liberdade do ser humano, a qual não se lhe pode tirar, permite-lhe, até o último suspiro, configurar a sua vida de modo que tenha sentido [...] Se é que a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá”

Mais de uma vez escrevi aqui, destacando para minha aprendizagem, a maneira peculiar com que Viktor E. Frankl (1905 – 1997), investigou a questão do "sentido" ultrapassando em grande medida, uma mera especulação. Pelo contrário: é possível extrair de sua posição uma boa reflexão filosófica.

É sabido que parte do problema expresso pelo “sentimento de vazio de sentido” que leva as pessoas a procurar o psicólogo e o psiquiatra; um “vazio existencial” e a “depressão”, há muito discutidas nas áreas de saúde, apresentam-se cada vez mais como “doenças do século XXI”; ponto alto da investigação de Frankl em seu livro. O fato de o homem, na maioria das vezes, não saber o que quer deveria, segundo ele, servir para que tal ignorância a respeito de tal "sentido" fosse substituída por uma profunda reflexão sobre a Vida.

“Da confusão nascia o sentimento de falta de sentido da vida. A compensação financeira ou, dentro de certos limites, a segurança social não bastam. O homem não vive apenas de bem-estar material” (FRANKL, 2005, p. 23)

Ou seja, a discussão “terapêutica” de Frankl coloca o problema da “busca de sentido” como um tema de fundamental interesse humano, não somente como reflexão que aumente o sentido da existência mas como algo segundo o qual seria impossível viver sem. Buscar sentido em Viver constitui, portanto, para Frankl, a questão existencial primeira. Dado que é um sobrevivente de “campos de concentração” torna-se mais intenso o que ele pretende com a sua proposta: quase que num sentido kantiano de que viver é um dever. A busca pelo sentido, portanto, é imprescindível: viver bem.

Em ‘Um sentido para a vida’, Viktor Frankl retorna ao humanismo que fez de Man’s Search for Ultimate Meaning um best­seller no mundo todo. Em nossa época de falta de sentido para a vida e de despersonalização, o Dr. Frankl levantou uma voz solitária e forte contra a falta de dimensão humana na psicoterapia. Neste livro, ele refuta o ‘pseudo­humanismo’ que invadiu a psicologia popular e a psicanálise. E, pela explicitação das mais significativas características humanas, ele revigora a área com muito humanismo, ao mesmo tempo que preserva as tradições inestimáveis tanto da análise freudiana como do comportamento.”

(Grifos e destaques são meus)

______.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

BLÖSER, Claudia; STAHL, Titus (eds.). The Moral Psychology of Hope. Rowman and Littlefield, 2020. 302pp.

CARLISLE, Claire. Philosopher of the heart: the restless life of Søren Kierkegaard. Londres: Penguin, 2020.

COMTE-SPONVILLE, André. Pequeno tratado das grandes virtudes. São Paulo: Martins Fontes, 2009. 

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant: o desenvolvimento moral pré-crítico em sua relação com a teodiceia. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

FRANKL, Viktor. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Aparecida, SP: Ideias e letras, 2005.

______. Yes to life: in spite of everything. Beacon Presss, 2020.

______. Em busca de sentido. 25. ed. - São Leopoldo, RS: Sinodal; Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. O Sofrimento humano: Fundamentos antropológicos da psicoterapia. Trad. Bocarro, Karleno e Bittencourt, Renato. Prefácio, Marino, Heloísa Reis. São Paulo: É Realizações, 2019.

______. The doctor and the soul: from psycotherapy to logotherapy. New york: Bantam Books, 1955.

______. Psycotherapy and existencialism: selected papers on logotherapy. New York: Simon and Schuster, 1970.

______. Angst und Zwang. Acta  Psychotherapeutica, I, 1953, pp. 111-120.

______. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Aparecida, SP: Ideias e letras, 2005.

______. Teoria e terapia das neuroses: introdução à logoterapia e à análise existencial. São Paulo: É Realizações, 2016.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

______. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Crítica da razão pura. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1994.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 258-273 e 907-919).

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