terça-feira, 11 de janeiro de 2022

REFLEXÃO MATINAL CVIII: BOÉCIO. OU PARA QUE SERVE A FILOSOFIA? (II)


“Se esses soberbos se virem despojados de seu esplendor vazio deixarão aparecer, esses senhores, as correntes que os prendem e que eles trazem dentro de si…”  

“[...] à Filosofia não é lícito deixar caminhando sozinho um discípulo seu”

Hoje, como tem sido disciplinadamente, um instante da manhã é dedicado às reflexões, mesmo saindo saindo um pouquinho dos referenciais básicos de sempre, passo em revista os pensamentos e ações, e corrigendas são planejadas. Tendo aprendido esses “exercícios” com as leituras de Thich Nhat Hahn e os Estóicos, e hoje, abri uma exceção nas leituras estudadas com esse intuito. 

Reabri, bem cedinho, a obra A consolação da filosofia, com o título original: "De phisolophiae consolatione"; releitura há muito planejada. Decisão bem acertada e o resultado da leitura foi um ganho enorme! Muito aprendizado!

“Escrita na prisão por um condenado à morte, essa obra latina do século VI não deve nada, ou deve muito pouco, às circunstâncias “trágicas” de sua composição. Trata-se de uma obra-prima da literatura e do pensamento europeu; ela se basta, e teria o mesmo valor se ignorássemos tudo a respeito daquele que a concebeu entre duas sessões de tortura, à espera de uma execução. Mas, dado que essa obra-prima não é anônima, nada perde por ter um autor e ser situada em suas circunstâncias, torna-se também, assim, o testemunho da grandeza à qual um homem pode elevar-se pelo pensamento em face da tirania e da morte.”

Ademais:

“O que Boécio nos ensina, com tanta autoridade hoje como no século VI, é que a única cultura fértil, oral ou escrita, é a que trazemos intimamente em nós, são os textos clássicos inesgotáveis inseminados na memória e cujas palavras tornam-se fontes vivas, à prova da tristeza, do sofrimento, da morte. O resto, de fato, é 'literatura'” (p. 17.)

Basicamente, na obra, Boécio trata da questão da verdadeira felicidade. Uma profunda reflexão em tonalidades platônicas.

Portanto, Boécio em seu livro “A consolação da filosofia” (por exemplo, no Livro IV), reflete sobre a infelicidade do homem. Defende que a injustiça que atinge o homem é ilusória e se entende  dessa forma, devido à sua limitada capacidade para um olhar mais ampliado sobre a existência. A entrega aos prazeres efêmeros faz com que o homem opte pelo vício e fuja da virtude que, ao contrário do que crê, lança-o num processo destrutivo que o aprisiona a uma perspectiva limitada da existência. A única rota possível para ampliar a concepção existencial capaz de desviá-lo de equívocos é o caminho de busca das Virtudes, única via na direção da verdadeira liberdade. As virtudes elevam o homem acima do nível rasteiro do comum da humanidade, afasta-o da animalidade. Reconhecer a própria natureza que torna o homem, efetivamente humano, em “essência”.

Acrescentei, algumas reflexões a partir de obras que tenho estudado e anotado aqui no Blog, com elementos de psicologia. Isto na medida em que os temas de certa forma se entrelacem ou sirvam para análise de conceitos e aprofundamentos.


______.

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