"Se,
pois, para as coisas que fazemos existe um fim que desejamos por ele mesmo e
tudo o mais é desejado no interesse desse fim; e se é verdade que nem toda
coisa desejamos com vistas em outra (porque, então, o processo se repetiria ao
infinito, e inútil e vão seria o nosso desejar), evidentemente tal fim será
o Bem, ou antes, o Sumo Bem." (ARISTÓTELES)
Comecei a manhã, com os “exercícios”
de sempre, pensando e refletindo sobre a ideia de “Bem supremo”.
Entendo
o Bem supremo como a “Lei natural”:
A
isso cheguei, após ter relido algumas questões no LE, entre elas,
principalmente as 614-621, 919 e a 964.
E,
Sêneca sugere:
"Sempre
que queiras saber qual a atitude a evitar ou a assumir, regula-te pelo bem
supremo, pelo objetivo de toda a tua vida. Todas as nossas ações devem
conformar-se com o bem supremo: somente é capaz de determinar as ações
individuais o homem que possui a noção do objetivo supremo da vida"
Em Kant, pude ler em "Do ideal de sumo bem como um fundamento determinante do fim último da razão pura" (A805, 806 - B833, 834), que me motivou a escrever esse texto breve para reflexão pessoal:
"Todo
o interesse da minha razão (tanto especulativa como prática) concentra-se nas
seguintes três interrogações:
Que
posso saber?
Que
devo fazer?
Que
me é permitido esperar?"
...
O
que é o Homem?
...
A primeira questão
é simplesmente especulativa. Esgotamos (e disso me ufano) todas as respostas
possíveis e encontramos enfim aquela com a qual a razão é obrigada a
contentar-se e, mesmo quando não se ocupa do interesse prático, também tem
motivo para estar satisfeita; mas ficamos tão distanciados dos dois grandes
fins para onde está orientado todo o esforço da razão pura, como se por comodidade
tivéssemos renunciado desde o princípio a este trabalho. Se portanto, se trata
do saber, é pelo menos seguro e está bem estabelecido que, em relação a estas
duas perguntas, nunca poderemos saber algo.
A segunda interrogação
é simplesmente prática. É certo que, como tal, pode pertencer à razão pura, mas
não é transcendental, é moral, e, por conseguinte, não pode em si mesma fazer
parte da nossa crítica.
A terceira interrogação:
Se faço o que devo fazer, que me é permitido esperar? é ao mesmo tempo prática
e teórica, de tal modo que a ordem prática apenas serve de fio condutor para a
resposta à questão teórica e, quando esta se eleva, para a resposta à questão
especulativa. Com efeito, toda a esperança tende para a felicidade e
está para a ordem prática e para a lei moral, precisamente da mesma forma que o
saber e a lei natural estão para o conhecimento teórico I das coisas. A
esperança leva, por fim, à conclusão que alguma coisa é (que
determina o fim último possível), porque alguma coisa deve
acontecer; o saber, à conclusão que alguma coisa é (que age como causa
suprema) porque alguma coisa acontece.
A
felicidade é a satisfação de todas as nossas inclinações (tanto eNxtensive,
quanto à sua multiplicidade, como intensive, quanto ao grau e também protensive, quanto
à duração). Designo por lei pragmática (regra de prudência) a lei prática que
tem por motivo a felicidade; e por moral (ou lei dos costumes), se
existe alguma, a lei que não tem outro móbil que não seja indicar-nos como
podemos tornar-nos dignos da felicidade. A primeira aconselha o que se
deve fazer se queremos participar na felicidade; a segunda ordena a
maneira como nos devemos comportar para unicamente nos tornarmos dignos da
felicidade. A primeira funda-se em princípios empíricos; pois, a não ser pela
experiência, não posso saber quais são as inclinações que querem ser
satisfeitas, nem quais são as causas naturais que podem operar essa satisfação.
A segunda faz abstração de inclinações e meios naturais de as satisfazer e
considera apenas a liberdade de um ser racional em geral e as condições
necessárias pelas quais somente essa liberdade concorda, segundo princípios,
com a distribuição da felicidade e, por conseqüência, pode pelo
menos repousar em simples idéias da razão pura e ser
conhecida a priori.
Admito
que há, realmente, leis morais puras que determinam completamente a
priori o fazer e o não fazer (sem ter em conta os móbiles empíricos, isto
é, a felicidade), ou seja, o uso da liberdade de um ser racional em geral e que
estas leis comandam de uma maneira absoluta (não
meramente hipotética, com o pressuposto de outros fins empíricos) e portanto
são, a todos os títulos, absolutas. Posso pressupor esta proposição recorrendo
não só às provas dos moralistas mais esclarecidos mas ao juízo moral de todo o
homem, quando quer pensar claramente semelhante lei"
A
isso tudo, acrescentando, recentemente li, e hoje reli esse
opúsculo escrito por Hans Jonas, com pouco mais de 30 páginas, em que
discute o "mal radical" e a existência de um Ser supremo.
Basicamente, uma reflexão sobre "radicalismos".
"O conceito de
Deus após Auschwitz não é nem exterior ao pensamento geral de Hans Jonas
nem a pedra de toque que permite extrair seu significado autêntico. Ele se
apresenta, ao contrário, como um escrito que retoma os resultados anteriores do
processo de pensamento do filósofo, a fim de apresentar uma tentativa de
resposta a um problema moral muito específico, aquele do 'senti do' do mal
radical no seio de um mundo cujo valor ele compromete."
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