Iniciada a leitura. Dando prosseguimento às reflexões sobre essa relação entre Estoicismo e a TCC, como já escrevi aqui nessa página e tenho refletido em textos anteriores, sempre retornando à ideia de Pierre Hadot e Epicteto, para mais uma vez acrescentar reflexões sobre esta “relação”. Anotando as "técnicas” da TCC, a partir, por exemplo, das propostas de Ronald Robertson que é um defensor e estuda esta relação.
Quanto a essa obra que estou iniciando e acrescentando aqui, trata-se de obra “Completamente atualizada, com capítulos revisados e inclusão de novos tópicos, acompanha a evolução das pesquisas em psicoterapias cognitivo-comportamentais, apresentando, de forma didática e ilustrativa, as discussões e propostas mais atuais em tratamento psicoterápico e psicofarmacológico.”
"[...]
Visão geral histórica das
teorias e das terapias cognitivo-comportamentais
Mudança de paradigma
Na década de 1960,
teorias psicanalíticas dominavam de forma absoluta a psicologia clínica e a
psiquiatria. Na teoria psicanalítica, a psicopatologia da depressão era
atribuída, entre outras hipóteses, à
raiva introjetada do objeto
perdido, a emoções negativas relacionadas a vivências traumáticas reais. No
entanto, a partir da década de 1970 se desencadeou nos Estados Unidos um movimento
de questionamento nos meios científicos quanto à eficácia da abordagem psicanalítica
para os transtornos mentais. Algumas das teorias cognitivo-comportamentais atuais
surgiram nesse período. A Terapia
Racional Emotiva, desenvolvida por Albert Ellis (1962),
estabeleceu a visão de que construções
cognitivas, como pensamentos
irracionais e negativos,
seriam a base dos
transtornos psicológicos. Bandura (1969 -1971), com sua teoria da
aprendizagem social, estabeleceu o processo cognitivo como um elemento
fundamental na aquisição e na regulação do comportamento. Outras teorias
comportamentais importantes com
ênfase no processo cognitivo surgiram, como a de Meichenbaum (1973) com o
Treino de Inoculação ao Estresse; a de D’Zurilla e
Goldfried (1971) com
o Treino em Solução
de Problemas; a
de Mahoney (1974) com a Modificação
Cognitiva do Comportamento; representando
um meio de o
ser humano construir
sua capacidade de aprendizado
serviram como base para o fortalecimento da terapia cognitiva.
Construção do modelo de
reestruturação cognitiva de Beck.
Foi no período entre 1959 e 1979 que Aaron Beck, psicanalista de formação, professor e pesquisador da Universidade da Filadélfia, nos Estados Unidos, juntamente com seus colaboradores, desenvolveu e sistematizou o modelo da Terapia Cognitiva. Como psicanalista e pesquisador, a intenção inicial de Beck foi estudar qual seria o processo psicológico central envolvido nas depressões. Sua hipótese inicial foi de que a “raiva internalizada” seria o processo psicológico central dos transtornos depressivos, e elegeu os sonhos como objeto de estudo para validar essa ideia. Investigou, inicialmente, o conteúdo dos sonhos de pacientes deprimidos e não deprimidos, não encontrando uma diferença significativa em conteúdos hostis ou agressivos entre os dois grupos (1959).Sua hipótese alternativa foi, então, a de uma necessidade de sofrer ou um masoquismo, e elaborou um segundo estudo, quantificando o conteúdo masoquista dos 20 primeiros sonhos de pacientes deprimidos (n = 18) e não deprimidos (n = 12), encontrando uma diferença significativa na quantidade de temas masoquistas nos sonhos de pacientes deprimidos comparados com os de não deprimidos (1959).Ele realizou a seguir um estudo maior que confirmou o resultado anterior: uma maior quantidade de conteúdo masoquista nos sonhos do grupo de pacientes deprimidos quando comparado ao grupo dos não deprimidos. Além disso, encontrou também um paralelo entre o conteúdo masoquista dos sonhos de pacientes deprimidos e seu comportamento em estado de alerta; isso o levou ao questionamento de que “a necessidade de sofrer” poderia ser encontrada, além de nos sonhos, em outros fenômenos cognitivos nos indivíduos depressivos quando acordados. A manipulação experimental desses pacientes levou Beck e seus colaboradores a abandonar a hipótese de necessidade de sofrer – o masoquismo – como o principal elemento psicológico na depressão. A conclusão final desses estudos foi de que “certos padrões cognitivos poderiam ser responsáveis pela tendência do paciente a fazer julgamentos com um viés negativo de si mesmo, de seu ambiente e do futuro que, embora menos proeminentes no período fora do episódio depressivo, se ativariam facilmente durante os períodos de depressão” (Beck, 1967). Beck passou a utilizar esses achados em sua prática, apontando para seus pacientes deprimidos em atendimento suas distorções cognitivas negativas e a relação destas com o estado depressivo deles. Para sua surpresa, provocá-los no aqui e agora a perceber este viés negativo de pensamento resultou em uma significativa melhora no humor e no comportamento desses indivíduos. A sistematização final dessas observações e intervenções foi publicada por Beck e colaboradores no livro Terapia Cognitiva da Depressão (1979). (RANGÉ, 2011. pp. 20-21)
[...]"
(Somente os Grifos e Destaques meus)
Para saber mais sobre esse livro que estou começando a ler:
https://loja.grupoa.com.br/psicoterapias-cognitivo-comportamentais-p989747
______.
BARLOW, David H; DURAND, Mark; HOFMANN, Stefan G. Psicopatologia: uma abordagem integrada. 3. ed. Boston: Cengage Learning, 2021.
BECK, Aaron T; Alford, Brad A. O poder integrador da terapia cognitiva. Porto
Alegra, RS: Artmed, 2000.
BECK,
Judith S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto
Alegre, RS, 2997.
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Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Milton Moulin. São
Paulo: Companhia de bolso, 2007.
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e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão:
EdiUFS, 2008.
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