terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

REFLEXÃO MATINAL CLVIII: AS PAIXÕES E A PERFECTIBILIDADE (II)

(IMAGEM: "Pinterest")

Por ser de muita importância nas reflexões aqui, mais uma vez, revisito velho e recorrente tema: “As paixões”. Tenho escrito aqui vários pequenos textos sobre autores que, em grande medida, tomam uma postura dos que acreditam que as paixões, são bem próximas do que se denomina doença e propõem a “cura das paixões”, outros propondo uma “moderação das paixões”, como os estoicos e outros citados abaixo. Mas, aqui não se trata mais de suprimi-las, nem mesmo de contê-las, moderando-as. “Para Hume, a contraparte da dessacralização do mundo é, justamente, aquele “culto das paixões” que ensina a conviver em sociedade e a usufruir do prazer a que a natureza humana está predisposta.”  

Para mim:

“O virtuoso, [ao invés de refrear as paixões], age corretamente, mas em harmonia com suas paixões, porque ele as dominou de uma vez por todas. Não só aprendeu a agir de modo conveniente, mas a sentir o páthos adequado” (LEBRUN, 1987, p. 20).

Ademais,

“As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado, e que se torna perigoso quando passa a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la, e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos ou para outrem. LE, Q. 908”

_______.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de Almeida. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

______. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. O único argumento possível para uma demonstração da existência de Deus. Lisboa: INCM, 2004.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. (“As virtudes e os vícios” - Q. 893-912)

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

LONG, A. A. Epictetus: a stoic and socratic guide to life. New York: Oxford University Press. 2007.

LUTZ, C. Musonius Rufus: the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.

ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive Psychotherapy. Londres  : Karnac Books, 2010.

______. Pense como um imperador. Trad. Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020.

______. How to think Like a roman emperor: the stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019.

RUSSEL, Bertrand. A conquista da felicidade. Rio de Jamneiro, RJ: Nova Fornteira, 2015.

SELLARS, J. The Art of Living: The Stoics on the Nature and Function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.

SCHLEIERMACHER, F. D. E. Introdução aos Diálogos de Platão. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2018.

SCHELLE, Karl Gottlob. A arte de passear. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

SOLNIT, Rebecca. Wanderlust: a history of walking. Penguim books, 2001.

SCHNEEWIND, Jeromé. Obligation and virtue: an overwien of Kant's moral philosophy. The Cambridge Companio to Kant. United Kingdom. Cambridge University Press, 1992.

______. Aristotle, Kant and the stoics: rethinnking happiness and duty. Cambridge University Press; Edição: Reprint, 1998.

______. A invenção da autonomia: uma história da filosofia moral moderna. São Leopoldo: Unisinos, 2001. 

THOUREAU, Henry David. Andar a pé: um ritual interior de sabedoria e liberdade. Loures: Editora Alma dos livros, 2021.

REFFLEXÃO MATINAL CLVII: SOBRE "DILEMAS", LEIS NATURAIS E A VERDADEIRA FELICIDADE

Terminadas as tarefas na oficina, com o "criticismo", fui reler algumas páginas "existencialistas" do Rollo May; os caps. XII-XV de "Leis naturais ... "

Desafios decorrem dessas leituras sempre que as retomo. Mas, recomenda Sanson, perante as Leis:

"Paciência! Tornai-vos bons, e chegareis lá [...]. A curiosidade, que é o estimulante do homem pensante, vos conduz tranquilamente até a morte, reservando-vos a satisfação de todas as vossas curiosidades passadas, presentes e futuras. Tentai, então, morrer bem para saber muito(Sanson. C. I. Cap. II, 2ª Parte, item 13)

Ademais,

“De todas as coisas que podemos conceber neste mundo ou mesmo, de uma maneira geral, fora dele, não há nenhuma que possa ser considerada como boa sem restrição, salvo uma boa vontade. O entendimento, o espírito, o juízo e os outros talentos do espírito, seja qual for o nome que lhes dermos, a coragem, a decisão, a perseverança nos propósitos, como qualidades do temperamento, são, indubitavelmente, sob muitos aspectos, coisas boas e desejáveis; contudo, também podem chegar a ser extrordinriamente más e daninhas se a vontade que há-de usar destes bens naturais, e cuja constituição se chama por isso carácter, não é uma boa vontade. O mesmo se pode dizer dos dons da fortuna. O poder, a riqueza, a consideração, a própria saúde e tudo o que constitui o bem-estar e contentamento com a própria sorte, numa palavra, tudo o que se denomina felicidade, geram uma confiança que muitas vezes se torna arrogância, se não existir uma boa vontade que modere a influência que a felicidade pode exercer sobre a sensibilidade e que corrija o princípio da nossa atividade, tornando-o útil ao bem geral; acrescentemos que num espectador imparcial e dotado de razão, testemunha da felicidade ininterrupta de uma pessoa que não ostente o menor traço de uma vontade pura e boa, nunca encontrará nesse espetáculo uma satisfação verdadeira, de tal modo a boa vontade parece ser a condição indispensável sem a qual não somos dignos de ser felizes. 

(...) A boa vontade não é boa pelo que produz e realiza, nem por facilitar o alcance de um fim que nos proponhamos, mas apenas pelo querer mesmo; isto quer dizer que ela é boa em si e que, considerada em si mesma, deve ser tida em preço infinitamente mais elevado que tudo quanto possa realizar-se por seu intermédio em proveito de alguma inclinação, ou mesmo, se se quiser, do conjunto de todas as inclinações (Fundamentação da metafísica dos costumes)."

______.

BAUMGATEN, Alexander Gottlieb; KANT Immanuel. Baumgarten's elements of first practical philosophy: a critical translation with Kant's reflections on moral philosophy. Bloomsbury Academic; Reprint edição, 2021.

COELHO, Humberto Schubert. O pensamento crítico: história e método. Juiz de Fora, MG: Editora UFJF, 2022.

CUNHA, Bruno. A Gênese da Ética de Kant: o desenvolvimento moral pré-crítico em sua relação com a teodiceia. São Paulo: LiberArs, 2017.

______; FELDHAUS, Charles. Estudo IntrodutórioIn: KANT, Immanuel. Lições de Ética. São Paulo: Unesp, 2018.

______. Estudo Introdutório. In: KANT, Immanuel. Lições sobre a Doutrina Filosófica da Religião. Petrópolis: Vozes/São Fransciso, 2019.

______. Estudo Introdutório. In: KANT, Immanuel. Lições de Metafísica. Petrópolis: Vozes/São Francisco, 2021.

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

EPICURO. Carta sobre a felicidade: a Meneceu. São Paulo: Ed. Unesp, 1999.

FERRY, Luc. La vie heureuse: sagesses anciennes et spiritualité laïque. Paris: Editions L’Observatoire, 2022

______. A vida feliz: sabedorias antigas e espiritualidade laica. Petrópolis, RJ: Vozes Nobilis, 2023.

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.

______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flávio Fontenelle Loque, Loraine Oliveira. São Paulo: É Realizações, Coleção Filosofia Atual, 2014.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

KANT, Immanuel. Gesammelte Schriften. Vol. I-XXIX. Berlim: Reimer (DeGruyter) 1910-1983.

______. Lições de Ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Feldhaus. São Paulo: Unesp, 2018.

______. Lições sobre a Doutrina Filosófica da Religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis: Vozes/ São Francisco, 2019.

______.Lições de Metafísica. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis: Vozes/São Francisco, 2021.

______. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? traduzido por Saulo de Freitas Araujo. In: Estudos Kantianos, Marília, v. 8, n. 2, p. 179-189, Jul./Dez., 2020.

______. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Investigação sobre a clareza dos princípios da teologia e da moral. Lisboa: Imprensa Casa da Moeda, 2007.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica) Trad. Guillon Ribeiro. Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 907-912: "paixões"; 893-906: “virtudes . “vícios” e 920-933: "felicidade").

KIEKEGAARD, S. A. O desespero humano: doença até a morte. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

______. O desespero humano: São Paulo: Ed. UNESP, 2010.

______. Do desespero silencioso ao elogio do amor desinteressado. (Org. Alvaro Valls). Escritos, 2004.

______. As obras do amor. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

______. O conceito de angústia. 3. ed. Trad. Alvaro Valls. Petrópolis, RJ, Vozes, 2015.

LEBRUN, Gérard. O conceito de paixão. In: NOVAES, Adauto (org.). Os sentidos da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

LESSING, Gotthold Ephraim. Educação do gênero humano. Bragança Paulista, SP: Ed. Comenius, 2019.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. São Paulo: Ed. Círculo do livro, 1992.

______. (Org.). Psicologia existencial. Rio de Janeiro: Globo, 1980.

______. A descoberta do ser. São Paulo: Rocco, 1988.

______. O homem à procura de si mesmo. São Paulo: Ed. Círculo do livro, 1992.

______. Psicologia do dilema humano. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

MASSI, C. D. As leis naturais e a verdadeira felicidade. Curitiba: Kardec Books, 2020.

OLIVEIRA, Roni Ederson Krause de. O dever de amar segundo Kant e Kierkegaard. In: Controvérsia, São Leopoldo, v. 14, n. 2, p. 25-39, mai.-ago. 2018.

PONTE, Carlos Roger Sales da; SOUSA, Hudsson Lima de. Reflexões críticas acerca da psicologia existencial de Rollo May. Rev. abordagem gestalt.,  Goiânia ,  v. 17, n. 1, p. 47-58, jun.  2011 .   Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672011000100008&lng=pt&nrm=iso>.acessos em  17  ago.  2019. Último acesso: 26 de janeiro de 2022.

PRICE, A. W. Conflito mental. Campinas, SP: Ed. Papirus, 1998.

______. Mental conflict. London: Ed. Routledge, 1995.

RANGÉ, Bernard. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: Um Diálogo com a Psiquiatria. 2. ed. Porto Alegre: Grupo A - Selo: Artmed, RS, 2011.

ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive Psychotherapy. Londres  :Karnac Books, 2010.

______. Pense como um imperador. Trad. Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020.

______. How to think Like a roman emperor: the stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019.

SELLARS, J. The Art of Living: The Stoics on the Nature and Function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.

SÊNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

______. Edificar-se para a morte: das cartas morais a Lucílio. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.

____. Sobre a clemência. Introdução, tradução e notas de Ingeborg Braren. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

______. Lucio Aneu. Vida Feliz. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

TEMPOS DE ESTUDOS E PESQUISA: "KANT´S REFORM OF METAPHYSICS: THE CRITIQUE OF PURE REASON RECONSIDERED" (II)

Numa segunda-feira, 2 de novembro de 2020, antes de uma breve e forçada interrupção na intensidade dos estudos essa obra “Kant´s reform of metaphysics: the Critique of pure reason reconsidered” era só um projeto de leitura. Agora, já inseri nos estudos, inclusive há algum tempo, um vídeo e um podcast de uma entrevista, com transcrição, com a própria autora Karin de Boer

Em certa medida, uma discussão com muitos pontos em comum com a minha pesquisa atual. Daí, inseri-lo, desde já, na lista de leituras futuras. Enquanto isso, vou revendo o "Seminário Leuven", Bélgica para o lançamento da obra. Link abaixo, no final.

“Os debates acadêmicos sobre a Crítica da razão pura foram amplamente moldados por questões epistemológicas. Desafiando essa tendência prevalecente, a Reforma da Metafísica de Kant é o primeiro estudo do tamanho de um livro a interpretar a Crítica de Kant em vista de seus esforços para transformar a metafísica altamente influente de Christian Wolff em uma ciência. Karin de Boer situa a obra central de Kant no contexto da filosofia alemã do século XVIII, traça o desenvolvimento da concepção de crítica de Kant e oferece análises novas e aprofundadas das partes principais da Crítica da Razão Pura, incluindo a Dedução Transcendental, a Capítulo do Esquematismo, o Apêndice para a Analítica Transcendental e a Arquitetônica. O livro não apenas traz a coerência do projeto de Kant, mas também reconstrói o esboço do "sistema da razão pura" para o qual a Crítica deveria abrir o caminho, mas que nunca viu a luz.”

...

Scholarly debates on the Critique of Pure Reason have largely been shaped by epistemological questions. Challenging this prevailing trend, Kant's Reform of Metaphysics is the first book-length study to interpret Kant's Critique in view of his efforts to turn Christian Wolff's highly influential metaphysics into a science. Karin de Boer situates Kant's pivotal work in the context of eighteenth-century German philosophy, traces the development of Kant's conception of critique, and offers fresh and in-depth analyses of key parts of the Critique of Pure Reason, including the Transcendental Deduction, the Schematism Chapter, the Appendix to the Transcendental Analytic, and the Architectonic. The book not only brings out the coherence of Kant's project, but also reconstructs the outline of the 'system of pure reason' for which the Critique was to pave the way, but that never saw the light.

(somente os Grifos e destaques são meus)

Link de um seminário para lançamento da obra da Profa. Karin de Boer:

https://www.youtube.com/watch?v=1-eTH_ZHOzE&feature=share&fbclid=IwAR0S1JO8WP0f2VqGcnr_lqcjudpQdQzWHcej9wXm5EEOiJ9XqpEYPKE80H4

Acresentando hoje, 25.12.2023 a Resenha crítica de Corey W. Dyck:

https://www.academia.edu/67610970/Review_of_Karin_de_Boer_Kant_s_Reform_of_Metaphysics_Cambridge_Cambridge_University_Press_2020

Link para a gravação e transcrição da Entrevista de 02de janeiro 2023, da profa. Karin de Boer sobre o seu livro "Kant's reform of Metaphysics: the Critique of pure reason reconsidered"https://philosophypodcasts.org/karin-de-boer-kants-reform-of-metaphysics?fbclid=IwAR2uMlRixjW_YXghNFyj0a5e-Z253FEoXRXkf7obXIC37ByxSxWw8R0qIL8

______.

AMERIKS, Karl. The Cambridge Companion to German Idealism. Cambridge University Press; 2. ed., 2017.

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

DE BOER, Karin. Kant's reform of metaphysics: the Critique of pure reason Reconsidered. Cambridge University Press, 2020.

DICK, Corey. Early Modern German Philosophy (1690-1750). OUP. Oxford University Press, 2010.

KANT, Immanuel. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

______. A religião nos limites da simples razão. Edições 70, Lisboa, 1992.

KANTERIAN. Edward. Kant, God and Metaphysics: the secret thorn. Routledge, 2017.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

ALGUNS ESBOÇOS, TEMAS E AUTORES

(IMAGEM: "Pinterest")

Há aqui, mesmo com tanta diversidade teórica e diferentes cosmovisões. alguns temas sobre os quais sempre me debrucei, estudando alguns mais de perto e alguns de maneira geral, os princípios básicos.

Os temas e autores a que tenho me dedicado são, basicamente: 
  1. Filosofia, Ética e Bioética (Relações entre ciência, tecnologia e os impactos éticos), Deontologia (Immanuel Kant), Filosofia clássica alemã. Herança Kantiana: https://www.sociedadekant.org/membros/
  2. Ciência X Religião (Espiritualidade e saúde). Subjetividade X Natureza. O "problema mente-corpo" (Frontiers of the mind-brain). Memória. Psicopatologia (Jaspers). 
  3. Tanatologia, Postulado da imortalidade da alma (Kant), Cuidados paliativos e Filosofia (nas obras de Koenig, Kardec, Estoicismo)
  4. Ênfase no estudo das obras de Immanuel Kant, Dieter Henrich, J. Habermas, Hans Jonas, F. D. Schleiermacher.
  5. E, também, sempre em relação aos interesses principais, enumerados acima: G. W. F. Hegel, M. Heidegger, Carl Gustav Jung; Viktor E. Frankl; S. A. Kierkegaard; Karl Jaspers; William James.
  6. Estoicismo: membro do GT Epicteto e Marginália filosófica - Anpof - https://www.anpof.org.br/gt/gt-epicteto-e-marginalia-filosofica), Sêneca, Marco Aurélio).
  7. Machado de Assis. Literatura.
  8. História e Filosofia da Biologia (H. Bergson).
  9. História e Filosofia da Psicologia; PBE História e filosofia das ciências; História e Existencialismo (Kierkegaard; Jaspers; Rollo May) e Fenomenologia (Husserl).

O que também, na maioria das vezes me chamou à atenção nestes anos, sempre em relação ao que está anotado acima:

  1. A obra de Karl Jaspers (Psicopatologia e Existencialismo).
  2. A obra de Viktor Frankl.
  3. A obra de William James.
  4. A obra Aaron Beck. (BCT-TCC)
  5. A obra de Rollo May.
  6. A obra de Richard Feynmann.
  7. A Filosofia Clássica Alemã entre Kant e Hegel.
  8. O Idealismo alemão 
  9. O Romantismo alemão.
  10. A História e Filosofia das ciências.
  11. O tema "Memória".
  12. A relação mente-corpo. Filosofia e Psicologia.
  13. A Saúde e a "espiritualidade".
  14. Tanatologia, Cuidados paliativos ("Hospice") nas obras de (H. Koenig; W. James; Epicteto; A. Kardec; Jankélévitch; Kierkegaard)
  15. Estoicismo de Epicteto, Marco Aurélio e Sêneca. 
  16. A Ética e a Bioética.

portanto, as obras aqui elencadas me trouxeram questões muito relevantes, donde sempre dou início a reflexões e alguns são esboços que passam a ser pretensões de publicações futuras. Alguns já bem adiantados e com bom formato para tal empreendimento.

 ______.

domingo, 19 de fevereiro de 2023

TEMPO DE ESTUDOS: "LIÇÕES SOBRE A DOUTRINA FILOSÓFICA DA RELIGIÃO"

Como tem sido uma constante, mantendo o foco das leituras atuais, a que tenho me dedicado, aqui acrescento outra obra que acabei de reler.

"[...] longe da posição de Kant está a visão secularista que trata a religião com desprezo, considerando-a como nada mais que uma relíquia do passado ou um deplorável refúgio para os ignorantes e supersticiosos" (A. W., 2009)

Prosseguindo os trabalhos com mais uma releitura,  na "tônica dominante" das leituras de hoje.

Encerrando a segunda leitura atenta das “Lições sobre a doutrina filosófica da religião”, outra obra fundamental para o trabalho em andamento. 

O manuscrito estudantil das Lições sobre a doutrina filosófica da religião, ministradas muito provavelmente no semestre de inverno de 1783/1784, foi publicado pela primeira vez em 1817 por Karl Heinrich Ludwig Pölitz. Kant ministrou essas Lições tendo como base escritos metafísicos e teológicos que tinham sido publicados por influentes filósofos alemães de sua época. Mas, em suas Lições, Kant não apenas faz referência à posição desses filósofos. Ao contrário, ele também os comenta e os critica, fornecendo importantes indicações de sua perspectiva filosófica sobre problemas que estão localizados na interface entre teologia, religião, metafísica e filosofia moral. O leitor desses manuscritos adquire uma impressão bastante favorável do alto nível em que Kant e seus contemporâneos refletiram, por exemplo, sobre as, segundo ele, três possíveis provas especulativas da existência de Deus. As Lições sobre a doutrina filosófica da religião são indubitavelmente uma importante fonte para a nossa compreensão da filosofia crítica de Kant.

______.

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

DICK, Corey. Early Modern German Philosophy (1690-1750). OUP. Oxford University Press, 2010.

KANT, Immanuel. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

______. Die Religion Innerhalb Der Grenzen Der Bloße Vernunft. Walter de Gruyter, 2010. (Editado por Ottfried Höffe)

______. Die Religion innerhalb der Grenzen der bloßen Vernunft. W. de Gruyter, 1968.

______. A religião nos limites da simples razão. Edições 70, Lisboa, 1992. 

______. Vorlesung über die philosophische Encyclopädie. In: Kant gesalmmelte Schriften, XXIX, Berlin, Akademie, 1980, pp. 8 e 12).

______. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Tradução e estudo de Vinicius de Figueiredo. São Paulo: Editora Clandestina, 2018.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. (Trad. Vinícius Figueiredo). Campinas, SP: Ed. Papirus, 1993.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Lisboa: Edições 70, 2012.

KANTERIAN. Edward. Kant, God and Metaphysics: the secret thorn. Routledge, 2017.

WOOD, Allen.  Kant’s Moral Religion. Ithaca/London: Cornell University Press, 1970.

SOBRE CORPO E ALMA: REFLEXÕES SOBRE ANTIGO PROBLEMA DA FILOSOFIA

 


Mais uma vez, como sempre, meu interesse em ler obras como essa, em certa medida, está relacionada à questão da relação mente-corpo, maior motivo por inclui-lo entre as leituras, claro, nos intervalos da pesquisa. Interessa-me essa temática e esse autor. Pela maneira peculiar com que Viktor E. Frankl (1905 – 1997), investigou a questão do "sentido", em outras obras dele que já li, ultrapassando em grande medida, uma mera especulação, já vale a inserção desta para leitura. 

Ademais, é possível extrair de sua posição uma boa reflexão filosófica. Parte do problema expresso pelo “sentimento de vazio de sentido” que leva as pessoas a procurar o psicólogo e o psiquiatra; um “vazio existencial” e a “depressão”, há muito discutidas nas áreas de saúde, apresentam-se cada vez mais como “doenças do século XXI”; ponto alto da investigação de Frankl em seus livros. O fato de o homem, na maioria das vezes, não saber o que quer deveria, segundo ele, servir para que tal ignorância a respeito de tal "sentido" fosse substituída por uma profunda reflexão sobre a Vida.

Ou seja, a discussão “terapêutica” de Frankl coloca o problema da “busca de sentido” como um tema de fundamental interesse humano, não somente como reflexão que aumente o sentido da existência mas como algo segundo o qual seria impossível viver sem. Buscar sentido em Viver constitui, portanto, para Frankl, a questão existencial primeira.

_______.

FRANKL, Viktor. Psicoterapia e sentido da vida. 7. ed. São Paulo: Quadrante Editora, 2019.

______. O Sofrimento Humano: Fundamentos antropológicos da psicoterapia. Trad. Bocarro, Karleno e Bittencourt, Renato. Prefácio, Marino, Heloísa Reis. São Paulo: É Realizações, 2019.

______. Yes to Life: in spite of everything. Beacon Press, 2020.

______. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Aparecida, SP: Ideias e letras, 2005.

______. The doctor and the soul: from psycotherapy to logotherapy. New york: Bantam Books, 1955.

______. Psycotherapy and existencialism: selected papers on logotherapy. New York: Simon and Schuster, 1970

______. Angst und Zwang. Acta  Psychotherapeutica, I, 1953, pp. 111-120.

______. Der Psichotherapie in der Praxis. Vienna: Deuticke, 1947.

 

______.

BIBLIOGRAFIA E SUGESTÕES DE LEITURA

 

BECK, Aaron T; Alford, Brad A. O poder integrador da terapia cognitiva. Porto Alegra, RS: Artmed, 2000.

BECK, Judith S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre, RS, 2997.

CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Milton Moulin. São Paulo: Companhia de bolso, 2007.

COELHO, Humberto Schubert. O pensamento crítico: história e método. Juiz de Fora, MG: Editora UFJF, 2022.

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.

______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flávio Fontenelle Loque, Loraine Oliveira. São Paulo: É Realizações, Coleção Filosofia Atual, 2014.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

______. Silêncio: o poder da quietude em um mundo barulhento. Rio de Janeiro, RJ: Harper Collins, 2018.

HUIZINGA, Johan. Nas sombras do amanhã: um diagnóstico da enfermidade espiritual de nosso tempo . - Trad. Sérgio Marinho, Goiânia-GO: Editora Caminhos, 2017.

INWOOD, Brad. Reading Seneca: stoic philosophy at Rome. Oxford, Reino Unido: Clarendon Press, 2005.

IRVINE, William B. A Guide to the Good Life: the ancient art of Stoic joy. New York: Oxford University Press, 2009.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica) Trad. Guillon Ribeiro. Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 907-912: "paixões"; 893-906: “virtudes . “vícios” e 920-933: "felicidade").

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

LEBRUN, Gérard. O conceito de paixãoIn: NOVAES, Adauto (org.). Os sentidos da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

LUTZ, C. Musonius Rufus: the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 194

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

MASSI, C. D. As leis naturais e a verdadeira felicidade. Curitiba: Kardec Books, 2020.

RANGÉ, Bernard. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: Um Diálogo com a Psiquiatria. 2. ed. Porto Alegre: Grupo A - Selo: Artmed, RS, 2011.

ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive Psychotherapy. Londres  :Karnac Books, 2010.

______. Pense como um imperador. Trad. Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020.

______. How to think Like a roman emperor: the stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019.

SELLARS, J. The Art of Living: The Stoics on the Nature and Function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.

SÊNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

______. Edificar-se para a morte: das cartas morais a Lucílio. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.

____. Sobre a clemência. Introdução, tradução e notas de Ingeborg Braren. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

____. Sobre a ira. Sobre a tranquilidade da alma. Tradução, introdução e notas de José Eduardo S. Lohner. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2014.

____. Tragedies I: Hercules, Trojan women, Phoeniciam women, Medea, Phaedra. Tradução de J. G. Fitch. Cambridge, EUA: Harvard University Press, 2002.  https://www.loebclassics.com/.

____. Tragedies II: Oedipus, Agamemnon, Thyestes, Hercules on Oeta, Octavia. Tradução de J. G. Fitch. Cambridge, EUA: Harvard University Press, 2004.  https://www.loebclassics.com/.

____. Moral Essays. Tradução de John W. Basore. Cambridge, EUA: Harvard University Press, 1985.  https://www.loebclassics.com/.

______. Sobre a brevidade da vida. Porto Alegre, RS: L&PM, 2007.

VEILLARD, Christelle. Le souffle de la raison: le défi des stoïciens. Plon, 2023.

 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

REFLEXÃO MATINAL CLVI: “PASSOS PARA MODIFICAR OS DESEJOS” NO ESTOICISMO E NA TCC (III)

(IMAGEM: "Pinterest")

Enquanto faço mais uma pequena pausa na oficino dos planejamentos.

Foi essa, novamente, sublimando a dores intensas e elevando "[...] a resignação ao nível das provas" (ESE, cap. VI, item 6), a "meditação matinal" de hoje. 

Para começar, segundo Sellars, a partir de Epictetus, por exemplo, descreve a filosofia da seguinte maneira: 

A filosofia não promete obter qualquer coisa exterior para o homem, pois se o fizesse ela estaria admitindo algo que se encontra fora de seu material apropriado (hules). Pois assim como a madeira é o material (hule) do carpinteiro, e o bronze o do estatuário, também a própria vida de cada indivíduo (ho bios autou hekastou) é o material da arte de viver (tes peri bion technes). (EPICTETUS, D. 1.15.2, apud SELLARS, 2003, p. 56)”

"Tornar-se um estudante de filosofia na antiguidade não significava meramente aprender uma série de argumentos complexos ou o engajamento no debate intelectual. Antes, envolvia o engajamento em um processo de transformar o caráter (ethos) e a alma (psique), uma transformação que por sua vez transformaria o modo de vida (bios) do indivíduo." (SELLARS, 2003, p. 23)

Ainda segundo Sellars, Epictetus, por exemplo, descreve a filosofia da seguinte maneira: 

A filosofia não promete obter qualquer coisa exterior para o homem, pois se o fizesse ela estaria admitindo algo que se encontra fora de seu material apropriado (hules). Pois assim como a madeira é o material (hule) do carpinteiro, e o bronze o do estatuário, também a própria vida de cada indivíduo (ho bios autou hekastou) é o material da arte de viver (tes peri bion technes). (EPICTETUS, Discursos 1.15.2, apud SELLARS, 2003, p. 56)

Então, em meio a tanta confusão, momentos de profunda tristeza, donde sempre nos recuperamos e nos colocamos a pensar no hábito a que tantos se deixam seduzir (eu mesmo me deixei levar noutro tempo): do pessimismo, por um lado e do extremo esforço em "mudar o mundo" por outro lado.

Ora, na empreitada a que me dedico há algum tempo, é fundamental esquecer pessimismos e o desejo de mudar o que nos é externo, que está fora do nosso alcance. Como tenho postado aqui, e pratico: "medito andando" e decidi, há alguns anos, aprofundar sistematicamente uma intensa busca por "eustatheia" (tranquilidade) e "euthymia" (crença em si). É projeto em andamento “há séculos” que às vezes por descuido, foi interrompido. Mas, retomando sigo o conselho sugerido pelos estoicos; mais especificamente Sêneca, Epictetus e Marco Aurélio; entre os que vou acrescentando à medida que sigo nos estudos sobre o tema!

Ao prokopton:

“Então, almejando coisas de tamanha importância, lembra que é preciso que não te empenhes de modo comedido, mas que abandones completamente algumas coisas e, por ora, deixes outras para depois. Mas se quiseres aquelas coisas e também ter cargos e ser rico, talvez não obtenhas estas duas últimas, por também buscar as primeiras, e absolutamente não atingirás aquelas coisas por meio das quais unicamente resultam a liberdade e a felicidade (EPICTETOEncheiridion. I,4).”

Par as meditações de hoje, tomei como base parte da obra Meditações“, do imperador Marco Aurélio; Livro IV : 24. Escritas em 167 d.C., Marco Aurélio (121-180), em 12 livros com máximas direcionadas a reflexões sobre o autoconhecimento; sobre crescimento pessoal, acrescentando excerto de EpictetoPierre Hadot, Donald Rbertson.

“‘Ocupa-te com pouco’, diz alguém, ‘se queres ter bom ânimo’ Mas não seria melhor se ocupar das coisas necessárias e das quantas coisas que a razão do animal político por  natureza escolhe? Pois assim não se obtém contentamento apenas a partir do ocupar-se belamente, mas também a partir do ocupar-se com pouco. Pois, sendo a maior parte do que falamos e do que nos ocupamos desnecessária, se alguém a eliminar, terá mais tempo livre e será mais tranquilo. Por essa razão, também é preciso, quanto a cada coisa, indagar -se: isso é necessário ou não? É preciso que ajas para eliminar não apenas o que é desnecessário, como também as representações desnecessárias. Pois assim não te dedicarás a inutilidades que decorrem de tais representações. (2023)"

E, ainda na esteira dos chamados “exercícios espirituais”, propostos por Hadot (2001), ligados ao que encontramos, em certa medida, com cuidado, na obra dos estoicos e de Epicteto: do “exercício da consciência de si", como um “exercício da atenção” a si mesmo. Em “Diatribes. Livro IV. XII), o capítulo inteiro é sobre a atenção (prosoché- περί προσοχῆς).

Foi neste sentido, minha “reflexão matinal” de hoje, que só anotei agora aqui no Blog. retomo ideias de um outro texto, que escrevi aqui no Blog. A anterior foi sobre a prosoché: uma “prática que silencia o ruído que existe dentro de nós”. Tantas "coisas podem nos distrair" Não são poucas as vezes em que nos deixamos arrastar pelo que já aconteceu num remoto passado ou por algo que não aconteceu ainda e, às vezes ne acontecerá. Prendemo-nos às "velhas memórias e experiências”.

Mais uma vez, reforçando para releitura e constantes "exercícios": se quisermos, portanto, mudar nossos desejos”, devemos criar uma nova atmosfera interior. Como prioridade devemos encontrar um espaço de tranquilidade interior, aprendermos mais sobre nós mesmos. Isso exige de nós e inclui tentar reconhecer e compreender nossos limites.

E,

“[LII.1] O primeiro e mais necessário tópico da filosofia é o da aplicação dos princípios, por exemplo: “Não sustentar falsidades”. O segundo é o das demonstrações, por exemplo: “Por que é preciso não sustentar falsidades?” O terceiro é o que é próprio para confirmar e articular os anteriores, por exemplo: “Por que isso é uma demonstração? O que é uma demonstração? O que é uma consequência? O que é uma contradição? O que é o verdadeiro? O que é o falso?” [LII.2] Portanto, o terceiro tópico é necessário em razão do segundo; e o segundo, em razão do primeiro – mas o primeiro é o mais necessário e onde é preciso se demorar. Porém, fazemos o contrário: pois no terceiro despendemos nosso tempo, e todo o nosso esforço é em relação a ele, mas do primeiro descuidamos por completo. Eis aí porque, por um lado, sustentamos falsidades e, por outro, temos à mão como se demonstra que não é apropriado sustentar falsidades

Como já disse acima, refleti aqui mesmo, no texto anterior,  e retorno à ideia de Pierre Hadot, para mais uma vez acrescentar reflexões sobre a “relação” entre “estoicismo e TCC”, anotando as "técnicas” da TCC, a partir das propostas de Ronald Robertson:

Enfim, no início deste texto, o que eu pretendia, basicamente, era anotar algumas ideias a partir de leitura de obras de Robertson (2020, p. 145-161 – Passos para modificar os desejos”), sobre essa relação estoicismo e TCC. Acrescentei aqui, alguns pontos em que o autor discute a importância que ele vê na Terapia Cognitivo-comportamental e por que os "psicoterapeutas modernos" deveriam ocupar-se mais com filosofia, especialmente filosofia antiga? E, por que os filósofos deveriam interessar-se por psicoterapia?

Para Robertson, portanto, há vários elementos de contato entre as duas áreas, ainda que bastante distintas entre si e que sem dúvidas, nem sempre foi clara tal distinção. Considera que, ao reconsiderar a sabedoria geralmente recebida sobre a história desses assuntos intimamente relacionados, podemos aprender muito sobre filosofia e psicoterapia, inclusive sobre concepções como "auto-ajuda" e "desenvolvimento pessoal". 

Portanto, o meu interesse pela obra de Donald Robertson e demais autores que citei brevemente, está totalmente ligado a essa relação entre as duas propostas e suas técnicas, as quais tenho estudado nos escritos da TCC em geral e nos Estoicos. A reflexão, então, pela manhã foi uma retomada da questão “passos para mudar os desejos” (Robertson, 2020, p. 145-149).

Primeira anotação recomenda:

“[...] você deve avaliar cuidadosamente seus hábitos e desejos em termos gerais: quando essas atividades realmente contribuem para sua felicidade no longo prazo ou pra sua satisfação com a vida?”

E, recomenda os seguintes passos:

1.     Avalie as consequências de seus hábitos e desejos para selecionar quais mudar.

2.     Identifique sinais de alerta iniciais para que você possa cortar desejos problemáticos pela raiz.

3.     Obtenha distância cognitiva separando seus sentimentos da realidade externa.

4.     Faça outra coisa e vez de praticar o hábito.

“[...] Reflita como você pode introduzir outras fontes de sentimentos positivos e saudáveis”

1.     Planeje novas atividades que sejam coerentes com seus valores íntimos.

2.     Contemple as qualidades que você adira nas outras pessoas.

3.     Pratique a gratidão pelas coisas que você já tem na vida.

Robertson (2020, p. 149), também lembra que “[...] os estoicos gostavam de dividir as decisões em dicotomias simples.” Por exemplo, em “escolha de Hércules (p. 127-129), da mesma forma, há dois caminhos a seguir:

 

1.     O caminho do vício, ou seguir desejos excessivos e emoções irracionais.

2.     O caminho da virtude, ou exercer a autodisciplina e seguir a razão e os seus valores verdadeiros na vida.

Esforço e prática constantes na condução dos estudos para, cada vez mais internalizar a convicção que a nossa real felicidade depende de uma escolha nossa, jamais de coisas externas. Dos acontecimentos externos, quase nada está sob nosso controle, portanto, nas adversidades, devido à não disciplina em termos de prosoché. Afastamo-nos da lei natural e adotamos julgamentos bastante equivocados sobre os eventos à nossa volta.

Treino e esforço, doravante, é necessário, na retomada da direção, de retorno à Lei. Só assim volveremos às bases mais sólidas para reformulação do nosso comportamento e,  como consequência, qualificaremos nossos hábitos. Sempre atentos e vigilantes, o prokopton sabe o que quer fazer a cada instante e, compreende o que está sob seu controle e o que não está. Viverá, assim, sua vida: tranquilamente. Neste caminho, tenhamos em mãos, palavras como as de Marco Aurélio:

“Os médicos têm sempre à mão os instrumentos e ferros para os casos imprevistos; assim tenhas tu perto os preceitos com que possas conhecer as coisas divinas e humanas e proceder em tudo, mesmo nos mínimos atos, como quem não esquece os liames mútuos destas ou daquelas” (Marco Aurélio, Meditações, III, 13).”

Dado, portanto, que o prokopton, ideia dos estoicos que já estudei aqui na página e é fundamental para a continuidade de quem está sempre a aprender, veja na filosofia dos estoicos, neste caso, uma arte de viver bem, para afastar-se dos "males", da desordem, da influência das paixões, dos desejos desequilibrados, e dos medos exagerados e injustificáveis.

A quem se pretenda dedicar a esse roteiro, fácil será perceber desde que se decida, que o homem é infeliz à medida que se empenha tresloucadamente na conquista de bens exteriores, que não pode alcançar e por fugir cegamente de “males” que são naturalmente inevitáveis. Ou seja, devemos aprender a ter autocontrole para que as coisas interiores nos façam mais bem que as exteriores que desejamos.

“As virtudes da coragem e da moderação melhoram nosso caráter e nossas vidas de modo geral quando são praticadas com sabedoria, enquanto a maioria das coisas que almejamos nos proporciona apenas prazer passageiro” (Robertson, 2020, p.148)

É esse sentido que Robertson destaca a pergunta dos terapeutas dirigidas a seus clientes: “Como estão indo as coisas em longo prazo”.

Aqui, segundo os estoicos e que refletimos essa manhã, em conjunto com ténicas de TCC, é necessário uma mudança no modo de olhar o mundo e nas ações, uma conversão: metanoia.

E, o caminho é reeducarmo-nos na busca do Bem que está ao alcance de cada um, para que, daí descubra que o que lhe sucede não é necessariamente um mal a paralisá-lo. Haverá o que lhe foge ao controle, como lemos em (Epicteto. Encherídion, I, 1). Isso é o que exige de cada um:  e por isso, o esforço, prática e “exercício” no que está sob seu controle: o interior. Esse o trabalho imediato. O que é exterior está para além do nosso controle.

Uma boa reflexão a ser feita mais vezes...

______.

BIBLIOGRAFIA E SUGESTÕES DE LEITURA

 

BECK, Aaron T; Alford, Brad A. O poder integrador da terapia cognitiva. Porto Alegra, RS: Artmed, 2000.

BECK, Judith S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre, RS, 2997.

CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. Milton Moulin. São Paulo: Companhia de bolso, 2007.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.

______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flávio Fontenelle Loque, Loraine Oliveira. São Paulo: É Realizações, Coleção Filosofia Atual, 2014.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

______. Silêncio: o poder da quietude em um mundo barulhento. Rio de Janeiro, RJ: Harper Collins, 2018.

HUIZINGA, Johan. Nas sombras do amanhã: um diagnóstico da enfermidade espiritual de nosso tempo . - Trad. Sérgio Marinho, Goiânia-GO: Editora Caminhos, 2017.

INWOOD, Brad. Reading Seneca: stoic philosophy at Rome. Oxford, Reino Unido: Clarendon Press, 2005.

IRVINE, William B. A Guide to the Good Life: the ancient art of Stoic joy. New York: Oxford University Press, 2009.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica) Trad. Guillon Ribeiro. Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 907-912: "paixões"; 893-906: “virtudes . “vícios” e 920-933: "felicidade").

LEBRUN, Gérard. O conceito de paixãoIn: NOVAES, Adauto (org.). Os sentidos da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

______. Meditações. Trad. Aldo Dinucci. São Paulo: Penguin/Companhia, 2023.

RANGÉ, Bernard. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: Um Diálogo com a Psiquiatria. 2. ed. Porto Alegre: Grupo A - Selo: Artmed, RS, 2011.

ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive Psychotherapy. Londres  :Karnac Books, 2010.

______. Pense como um imperador. Trad. Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020.

______. How to think Like a roman emperor: the stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019.

SELLARS, J. The Art of Living: The Stoics on the Nature and Function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.

SÊNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

______. Edificar-se para a morte: das cartas morais a Lucílio. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.

____. Sobre a clemência. Introdução, tradução e notas de Ingeborg Braren. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

____. Sobre a ira. Sobre a tranquilidade da alma. Tradução, introdução e notas de José Eduardo S. Lohner. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2014.

____. Tragedies I: Hercules, Trojan women, Phoeniciam women, Medea, Phaedra. Tradução de J. G. Fitch. Cambridge, EUA: Harvard University Press, 2002.  https://www.loebclassics.com/.

____. Tragedies II: Oedipus, Agamemnon, Thyestes, Hercules on Oeta, Octavia. Tradução de J. G. Fitch. Cambridge, EUA: Harvard University Press, 2004.  https://www.loebclassics.com/.

____. Moral Essays. Tradução de John W. Basore. Cambridge, EUA: Harvard University Press, 1985.  https://www.loebclassics.com/.

______. Sobre a brevidade da vida. Porto Alegre, RS: L&PM, 2007.

VEILLARD, Christelle. Le souffle de la raison: le défi des stoïciens. Plon, 2023.

O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...