quinta-feira, 7 de setembro de 2023

FILOSOFIA, ESPIRITUALIDADE E EXISTÊNCIA

 

Desenvolvendo...

"Os verdadeiros mistérios não são aqueles nos quais mergulhamos cada vez mais por um aprofundamento dialético, mas os que se mantêm inteiros em sua efetividade pura" (Jankélévitc)

______.

Escrevi aqui, há algum tempo, que entre outros motivos, tive uma surpresa à época com o contato inicial com a obra de Vladimir Jankélévitch (sobre o tempo na música e na “morte”). 

A surpresa também foi perceber a novidade, para mim, na obra de Bergson (sobre o qual Jankélévitch escreveu). 

Seus textos, por apontarem na direção de questões e problemas que Sócrates e Platão, entre outros, mesmo antes deles, já tinham estudado e apresentado profundas reflexões, com as quais tenho aprendido muito. Alguns temas como a “realização da felicidade humana”, "o passado, o presente, o futuro", a "memória" a imortalidade, as relações mente-corpo, e agora, com essa nova obra sobre Henri Bergson:Bergson entre Filosofia e Espiritualidade, todos tendo por base discussões sobre o tempo.

E, isso, na obra de Henri Bergson que Jankélévitch estudou e apresentou em alguns temas nessa área. Daí o desejo permanente de rever o tema da “relação mente-corpo” na obra de Bergson.

Procuro ver, nesse sentido, que a filosofia apresenta-se como ferramenta para novos embates e revisão das respostas e proposição de novas ou as mesmas perguntas. Bergson fornece alguns elementos para novos enfrentamentos existenciais. Portanto, uma obra repleta de importante tarefa na discussão sobre a “ética e a existência”, além de “filosofia da biologia” que foi por onde chegamos à obra de Bergson.

Sobre esta nova obra sobre Henri Bergson:Este livro apresenta um resgate do aspecto espiritual da filosofia por meio da obra de Henri Bergson apresentando a intuição filosófica como um esforço que leva o intelecto ao seu limite e a intuição mística como um empenho que eleva um indivíduo além de si mesmo”.

Acrescentando, portanto, mais um fator importante entre os que me levam a ampliar o contínuo contato com a obra: a leitura que Jankélévitc fez da filosofia de Kant, e sua "associação" com as ideias de Bergson sobre o problema da noção de tempo. O que também se encontra nestas concepções bergsonianas é um retorno aos antigos para ali identificar o problema que foi herdado de uma tradição que pode ser contada desde de ParmênidesZenão e outros antigos. Duas das obras de Henri Bergson a serem estudadas juntamente, a partir disso serão “Matéria memória” e “Evolução criadora.”

No prefácio de “Matéria e memória” (pp. 3-4) lemos:

“Um grande progresso foi realizado em filosofia no dia em que Berkeley estabeleceu, contra os mechanical philosophers, que as qualidades secundárias da matéria tinham pelo menos tanta realidade quanto as qualidades primárias. Seu erro foi acreditar que era preciso para isso transportar a matéria para o interior do espírito e fazer dela uma pura ideia. Certamente, Descartes colocava a matéria demasiado longe de nós quando a confundia com a extensão geométrica. Mas, para reaproximá-la, não havia necessidade de fazê-la coincidir com nosso próprio espírito. Fazendo isso, Berkeley viu-se incapaz de explicar o sucesso da física e obrigado, enquanto Descartes havia feito das relações matemáticas entre os fenômenos sua própria essência, a considerar a ordem matemática do universo como um puro acidente. A crítica kantiana tornou-se então necessária para explicar a razão dessa ordem matemática e para restituir à nossa física um fundamento sólido - o que, aliás, ela só conseguiu ao limitar o alcance de nossos sentidos e de nosso entendimento. A crítica kantiana, nesse ponto ao menos, não teria sido necessária, o espírito humano, nessa direção ao menos, não teria sido levado a limitar seu próprio alcance, a metafísica não teria sido sacrificada à física, se a matéria tivesse sido deixada a meio caminho entre o ponto para onde Descartes a impelia e aquele para onde Berkeley a puxava, ou seja, enfim, lá onde o senso comum a vê. É aí que nós também procuramos vê-la. Nosso primeiro capítulo define essa maneira de olhar a matéria; nosso quarto capítulo tira as conseqüências disso.

Mas, conforme anunciávamos no início, só tratamos da questão da matéria na medida em que ela interessa ao problema abordado no segundo e terceiro capítulos deste livro, que é o próprio objeto do presente estudo: o problema da relação do espírito com o corpo”

Portanto, a partir de duas das obras de Bergson, prossigo estudando este tema “relação mente-corpo”, sem nunca me distanciar das leituras fundamentais, claro!

E, sempre "nos limites da simples razão"...

...

Sobre as obras de Bergson:

“Há tons diferentes de vida mental, e nossa vida psicológica pode se manifestar em alturas diferentes, ora mais perto, ora mais distante da ação, conforme o grau de nossa atenção à vida. Essa é uma das idéias diretrizes e ponto de partida de Matéria e memória, obra em que Henri Bergson afirma a realidade do espírito, a realidade da matéria, e procura determinar a relação entre eles sobre um exemplo preciso, o da memória.”

“Principal obra de Henri Bergson, Prêmio Nobel de Liberatura de 1927, A evolução criadora (1907) representou uma ruptura com as principais correntes filosóficas do fim do século XIX. Diante da apologia do saber científico, rigoroso, das rígidas leis do determinismo, Bergson lança a afirmação de que a totalidade tem a mesma natureza do indivíduo, de um movimento incessante, um impulso de liberdade criadora que transforma de forma irrefreável a matéria. O filósofo francês discorre sobre o problema da existência humana e assevera que a mente – energia pura, impulso vital – é responsável por toda evolução orgânica.”

(Grifos e Destaques meus)

______.

BERGSON, Henri, 1859-1941. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. Trad. Paulo Neves. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. (Coleção tópicos)

______. Evolução criadora. São Paulo: Editora Unesp, 2010.

______. Ensaio sobre os dados imediatos da consciência. São Paulo: Edipro, 2020.

______. A energia espiritual. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2021.

DESCARTES, R. Oeuvres. Org. C. Adam e P. Tannery. Paris: Vrin, 1996. 11v. [indicadas no texto como Ad & Tan]

_______. Descartes: oeuvres et lettres. Org. André Bidoux. Paris: Gallimard, 1953. (Pléiade).

______. Discursos do Método; Meditações; Objeções e Respostas; As Paixões da Alma; Cartas. (Introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gerard Lebrun; Trad. de J. Guinsberg), Bento Prado J. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Pensadores).

______. O mundo (ou Tratado da luz) e O Homem. Apêndices, tradução e notas: César Augusto Battisti, Marisa Carneiro de Oliveira Franco Donatelli. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009.

DUPRÉ, John. Process of life: essays in the philosophy of biology, Oxford University Press(UK); Reprint. 2014.

______. Everything flows: towards a processual philosophy of biology. OUP Oxford; Illustrated edição, 2018.

______. The metaphysics of biology. Cambridge University Press, 2021.

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KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Crítica da razão pura. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1994.

______. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. O único argumento possível para uma demonstração da existência de Deus. Lisboa: INCM, 2004.

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______. Prolegômenos a toda metafísica futura. Lisboa: Edições 70, 1982.

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ROCHAMONTE, Catarina. Bergson entre Filosofia e Espiritualidade. São Paulo Edições Loyola, 2023.

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