“Um
grande progresso foi realizado em filosofia no dia em que Berkeley estabeleceu,
contra os mechanical philosophers, que as qualidades secundárias da
matéria tinham pelo menos tanta realidade quanto as qualidades primárias. Seu
erro foi acreditar que era preciso para isso transportar a matéria para o
interior do espírito e fazer dela uma pura ideia. Certamente, Descartes colocava
a matéria demasiado longe de nós quando a confundia com a extensão geométrica.
Mas, para reaproximá-la, não havia necessidade de fazê-la coincidir com nosso
próprio espírito. Fazendo isso, Berkeley viu-se incapaz de
explicar o sucesso da física e obrigado, enquanto Descartes havia
feito das relações matemáticas entre os fenômenos sua própria essência, a
considerar a ordem matemática do universo como um puro acidente. A crítica
kantiana tornou-se então necessária para explicar a razão dessa ordem
matemática e para restituir à nossa física um fundamento sólido - o que, aliás,
ela só conseguiu ao limitar o alcance de nossos sentidos e de nosso
entendimento. A crítica kantiana, nesse ponto ao menos, não teria sido
necessária, o espírito humano, nessa direção ao menos, não teria sido levado a
limitar seu próprio alcance, a metafísica não teria sido sacrificada
à física, se a matéria tivesse sido deixada a meio caminho entre o ponto para
onde Descartes a impelia e aquele para onde Berkeley a
puxava, ou seja, enfim, lá onde o senso comum a vê. É aí que nós também procuramos
vê-la. Nosso primeiro capítulo define essa maneira de olhar a matéria; nosso
quarto capítulo tira as conseqüências disso.
Mas,
conforme anunciávamos no início, só tratamos da questão da matéria na medida em
que ela interessa ao problema abordado no segundo e terceiro capítulos deste
livro, que é o próprio objeto do presente estudo: o problema da
relação do espírito com o corpo”
...
Ainda
sobre as obras de Bergson:
“Há
tons diferentes de vida mental, e nossa vida psicológica pode se manifestar em alturas
diferentes, ora mais perto, ora mais distante da ação, conforme o grau de nossa
atenção à vida. Essa é uma das idéias diretrizes e ponto de partida de Matéria
e memória, obra em que Henri Bergson afirma a realidade do
espírito, a realidade da matéria, e procura determinar a relação entre eles
sobre um exemplo preciso, o da memória.”
Também
em outra das suas obras Henri Bergson, Prêmio Nobel de
Liberatura de 1927, A evolução criadora (1907) representou uma
ruptura com as principais correntes filosóficas do fim do século XIX. Diante da
apologia do saber científico, rigoroso, das rígidas leis do determinismo, Bergson lança
a afirmação de que a totalidade tem a mesma natureza do indivíduo, de um
movimento incessante, um impulso de liberdade criadora que transforma de forma
irrefreável a matéria. O filósofo francês discorre sobre o problema da
existência humana e assevera que a mente – energia pura, impulso vital
– é responsável por toda evolução orgânica.”
Portanto,
a partir de duas das obras de Bergson, prossigo estudando este
tema “relação mente-corpo”, sem nunca me distanciar
das leituras fundamentais, claro, com renovado interesse!
Hoje,
por exemplo, estou concluindo a leitura de um outro de seus livros que tem
capítulos que me surpreenderam. Entre estes, por exemplo, o Cap. II: “A alma
e o corpo[1]”
(Conferência feita na Société Foi ei Vie, em 28 de abril de 1912).
E,
sempre "nos limites da simples razão"... dando “[...] a
continuidade, a regularidade e o recolhimento indispensáveis (LE Introdução. VIII, p 30)” ao avanço na
compreensão do tema aqui pensado e a ser aprofundado.
Sugestão de leitura:
https://marcosfilosofiamoderna.blogspot.com/2022/07/brevissimas-reflexoes-acerca-de-um.html
(Grifos e Destaques meus)
______.
BERGSON,
Henri. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do
corpo com o espírito. Trad. Paulo Neves. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999. (Coleção tópicos)
______. Evolução
criadora. São Paulo: Editora Unesp, 2010.
______. Ensaio
sobre os dados imediatos da consciência. São Paulo: Edipro, 2020.
______. A
energia espiritual. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2021.
______. Aulas de psicologia e de metafísica. WMF Martins Fontes. 2014.
DESCARTES,
R. Oeuvres. Org. C. Adam e P. Tannery. Paris: Vrin, 1996. 11v.
[indicadas no texto como Ad & Tan]
_______. Descartes: oeuvres
et lettres. Org. André Bidoux. Paris: Gallimard, 1953. (Pléiade).
______. Discursos
do Método; Meditações; Objeções e Respostas; As Paixões da
Alma; Cartas. (Introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e
notas de Gerard Lebrun; Trad. de J. Guinsberg), Bento Prado J. 3. ed. São
Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Pensadores).
______. O
mundo (ou Tratado da luz) e O Homem. Apêndices, tradução
e notas: César Augusto Battisti, Marisa Carneiro de Oliveira Franco
Donatelli. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009.
DUPRÉ,
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Oxford University Press(UK); Reprint. 2014.
______. Everything
flows: towards a processual philosophy of biology. OUP
Oxford; Illustrated edição, 2018.
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V. Der Tod. Berlim, 2017.
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Guido A. de. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.
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seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
______. Textos
pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.
______. Crítica
da razão pura. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1994.
______. Lições
de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo:
Editora Unesp, 2018.
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Acerca da forma e dos princípios do mundo sensível e inteligível. Trad. apres.
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moderna. São Leopoldo: Unisinos, 2001.
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