Pausa nos estudo, relendo na Crítica da razão pura: a "Consideração sobre a suma da doutrina pura da alma a partir desses paralogismos" que está em (A 381). E, enquanto isso acrescento à Bibliografia... nova tradução d'A religião nos limites da razão pura. Traduzida pelo professor Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2024.
Estudando o tema ainda
"Qual Filósofo não esteve uma vez entre, o juramento de uma pessoa sensata e convicta testemunha ocular, e a resistência interior de uma dúvida inolvidável? Deve ele negar completamente a veracidade de todos os fenômenos espirituais? O que o deve conduzir aos fundamentos de sua posição acerca deste assunto?" (KANT, 2002b)
Em sua obra Träume eines Geistesehers - “Sonhos de um vidente de espíritos" , Kant apresenta o que, geralmente, chamam de definição clássica de espírito: um "ser" imaterial, simples, dotado de razão e que pode ocupar um "ser" material (corpo) sem lhe causar a força da impenetrabilidade. É preciso compreender que Kant trata do conceito de espírito tendo por base uma crítica ao racionalismo que define o conceito de espírito sem, ao menos, comprovar ou demonstrar a sua existência.
E, diz Kant, sobre a definição tanto de espírito como um ser material:
Espírito: “Só podereis manter, portanto, o conceito de um espírito, se pensardes em seres que poderiam estar presentes mesmo em um espaço cheio de matéria, portanto seres que não possuem em si a propriedade da impenetrabilidade e que nunca constituiriam um todo sólido, estejam reunidos no número que quiser. Seres simples desta espécie serão chamados seres imateriais e, se possuírem razão, espíritos. (Träume, AA 02: 321).
Um ser material, corpo: “Mas substâncias simples, cuja composição resulta em um todo impenetrável e extenso, serão chamadas unidades materiais, e seu todo, matéria. Ou o nome de um espírito é uma palavra sem qualquer sentido ou seu significado é o indicado. (TG, AA 02: 321).”
Assim, espírito é definido como um ser imaterial, simples e dotado de razão, enquanto que o corpo é um ser material, simples, que pode ser um agregado de partes simples formando um composto. O corpo quando ligado a um ser imaterial: mente/espírito, dá-lhe vida e o corpo passa a ser , um corpo dotado de razão; mente e corpo. O grande problema que me interessa é este: mente e corpo, duas espécies diferentes podem complementar-se. Daí a reflexão que tenho feito sobre a relação mente e corpo. Antigo problema da Filosofia desde a Antiguidade que retomo a partir da Bibliografia indicada abaixo e seguirei com mais estudos que tem surgido sobre o tema.
E, aqui, na hora do cafezinho, estudando um texto de Paul Guyer, o mesmo que usei para elaboração de um texto para participação num evento e sempre consta aqui entre as referências mais lidas. Relendo a Crítica da razão pura, trechos da Crítica da razão prática e da Crítica da faculdade do juízo, para as pesquisas costumeiras, ocorreu-me publicar, mais uma vez esta passagem da Crítica da razão prática (KpV):
"Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre nova e crescente, quanto mais freqüente e persistentemente a reflexão ocupa-se com elas; o céu estrelado acima de mim e a lei moral em mim. Não me cabe procurar e simplesmente presumir ambas como envoltas em obscuridade, ou no transcendente além de meu horizonte; vejo-as ante mim e conecto-as imediatamente com a consciência de minha existência. A primeira começa no lugar que ocupo no mundo sensorial externo e estende a conexão, em que me encontro, ao imensamente grande com mundos sobre mundos e sistemas de sistemas e, alem disso, ainda a tempos ilimitados de seu movimento periódico, seu início e duração. A segunda começa em meu si-mesmo [Selbst] invisível, em minha personalidade, e expõe-se em um mundo que tem verdadeira infinitude, mas que é acessível somente ao entendimento e com o qual (mas deste modo também ao mesmo tempo com todos aqueles mundos visíveis) reconheço-me, não como lá, em ligação meramente contingente mas em conexão universal e necessária. O primeiro espetáculo de uma inumerável quantidade de mundos como que aniquila minha importância enquanto criatura animal, que tem de devolver novamente ao planeta (um simples ponto no universo a matéria da qual ela se formara, depois que fora por um curto espaço de tempo (não se sabe como) dotada de força vital. O segundo espetáculo, ao contrário, eleva infinitamente meu valor enquanto inteligência, mediante minha personalidade, na qual a lei moral revela-me uma vida independente da animalidade e mesmo de todo o mundo sensorial, pelo menos o quanto se deixa depreender da determinação conforme a fins de minha existência por essa lei, que não está circunscrita a condições e limites dessa vida mas penetra o infinito.”
Ora, prosseguindo, portanto, destaco também essa, pois vejo aqui o tão conhecido problema corpo e alma (o velho problema mente-corpo) numa clara interdependência, um dos temas principais para este blog:
“O homem tem sido criado para receber as impressões e sentimentos que o mundo deve despertar nele, por este corpo que é a parte visível de seu eu, e cuja matéria serve não somente ao espírito invisível que ocupa este corpo, de modo que ali se imprimam os primeiros conceitos dos objetos exteriores, mas é também indispensável na atividade interior da repetição, da ligação, enfim do pensamento (KANT AA 1:355)”
...
“L’homme a été crée pour recevoir les impressions et émotions que le monde doit éveiller em lui par ce corps qui est la partie visible de son être, et dont la matière sert non seulement à l’esprit invisible qui habite ce corps, pour que s’y impriment es premiers concepts des objets extérieurs, mais est aussi indispensable dans l’activité intérieure de la répétion, de la liasion, bref de la pensée”. (KANT, Vrin 1984).
E, encerro com esta, da Crítica da razão pura também: “A idéia psicológica não pode também ter outro significado que não seja o de esquema de um conceito regulador; pois ainda que só quiséssemos indagar se a alma não será em si de natureza espiritual, esta interrogação seria destituída de sentido. Com efeito, mediante tal conceito, não excluo apenas a natureza corpórea, mas toda a natureza em geral, isto é, todos os predicados de qualquer experiência possível e, por conseguinte, todas as condições para pensar um objeto para tal conceito, ou seja, tudo o que afinal me permite dizer que tal conceito tem um sentido.” (KANT, Do propósito final da dialéctica natural da razão humana, 1994)
(Grifos e Destaques meus)
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