sábado, 11 de março de 2023

RELENDO "INTRODUÇÕES" AO PENSAMENTO KANTIANO (II)


Pausa, relendo, estudando!

E, agora uma nova e breve "Introdução" para descansar.

Aproveitando o tempo, retornando aos poucos ao trabalho, numa pausa nas leituras principais; aplicando-me na releitura de uma “Introdução” à filosofia kantiana, acrescentei mais este recém lançado, 2023: Introdução o pensamento de Kant.  Juntei às demais que adicionei abaixo na bibliografia.

“A série “Introdução aos grandes filósofos” se propõe apresentar os autores clássicos do pensamento filosófico de um modo tecnicamente confiável mas ao mesmo tempo didático, de forma que possa ser usada tanto para estudos acadêmicos dirigidos quanto por leitores autodidatas. Com esse objetivo, as obras seguem o procedimento de construir passo a passo os problemas do filósofo em questão, além de utilizarem recursos gráficos que auxiliam na compreensão do conteúdo.”

Da editora:

Nas palavras do autor, “o livro que aqui se apresenta pretende ser um curso de introdução ao pensamento de Immanuel Kant na sua dimensão epistemológica e ética. Ele está dirigido primariamente a estudantes de filosofia, porém, pode ser também de utilidade para um mero entusiasta da filosofia ou alguém que deseje ampliar sua cultura geral”. Mário Ariel González Porta continua: “Para o leitor que já tinha contato com Kant, o curso cumprirá outra função, reordenando seu saber e, sobretudo, colocando os acentos adequados, acrescentando informações decisivas e aprofundando a compreensão. Seja num caso, seja no outro, o livro se propõe a cumprir uma função essencialmente didática, pretendendo apresentar certa autonomia e ser compreensível por si mesmo”. Trata-se pois de um livro singular e de certa forma imprescindível ao conhecimento do grande filósofo Immanuel Kant.

______.

Para saber mais sobre Kant:

“300 Jahre Immanuel Kant – der Bau beginnt”:

Link do Evento:https://blog.ol-lg.de/300-jahre-immanuel-kant-der-bau-beginnt/?fbclid=IwAR1Y-r-3RzSTuaWbuOE7-72BLWrZbuz5dg-mMol-XMHJmrLdQQaf0SU7HgM

"Anlass und Projektidee

Immanuel Kant (1724-1804), der wichtigste deutsche Aufklärer und berühmteste Ostpreuße, ist eine Zentralfigur der europäischen Moderne. In Vorbereitung des Jubiläumsjahres zum 300. Geburtstag von Immanuel Kant in 2024 – #Kant2024 – entsteht das erste Kant-Museum Deutschlands – als ein Anbau und eigene Abteilung des Ostpreußischen Landesmuseums in Lüneburg. Der Bund unterstützt den Neubau und die Ausstellung mit 5,6 Millionen Euro aus dem Etat für Kultur und Medien. Weitere Mittel in Höhe von 2,4 Millionen Euro stellt das Land Niedersachsen bereit. Ein viergeschossiger Bau mit Depot, zwei Geschossen Dauerausstellung (zusammen etwa 400 qm) und einem “Kant-Forum” für Diskussionen, Tagungen, Gruppenbegegnungen und vielem mehr würdigt dann den vielleicht wichtigsten Denker aus Deutschland. Die Hansestadt Lüneburg wird damit zur “Kant-Stadt”!"

______.

"Ocasião e ideia de projeto

Immanuel Kant (1724-1804), o mais importante iluminista alemão e o mais famoso prussiano oriental, é uma figura central do modernismo europeu. Em preparação para o aniversário do 300º aniversário de Immanuel Kant em 2024 - #Kant2024 - o primeiro Museu Kant na Alemanha está sendo construído - como uma extensão e departamento separado do Museu do Estado da Prússia Oriental em Lüneburg. O governo federal apoia o novo edifício e a exposição com 5,6 milhões de euros do orçamento para cultura e comunicação social. O estado da Baixa Saxônia está fornecendo fundos adicionais de 2,4 milhões de euros. Um prédio de quatro andares com depósito, dois andares de exposição permanente (ao todo cerca de 400 metros quadrados) e um "Fórum Kant" para discussões, conferências, reuniões de grupo e muito mais homenageia aquele que é talvez o mais importante pensador da Alemanha. A cidade hanseática de Lüneburg torna-se assim uma “cidade kantiana”!"

______.

BECKENKAMP, Joãosinho. Introdução à filosofia crítica de Kant. Editora UFMG,  2017.

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

FERRY, Luc. Kant: uma leitura das três "Críticas". 3. ed. Rio de Janeiro: Difel, 2009.

GUYER, PAUL. The Cambridge companion to Kant. Cambrridge University Press, UK, 1992.

HÖFFE, Otfriede. Immanuel Kant. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

______. Immanuel Kant. München: C. H. Beck, 2004.

______. Kant: crítica da razão pura: os fundamentos da filosofia moderna. São Paulo: Edições Loyola, 2013.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1994.

______. Crítica da razão prática. Edição bilíngüe.Tradução Valerio Rohden. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

____. Crítica da faculdade do juízo. Trad.Valerio Rohden e António Marques. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993.

______. Dissertação de 1770. De mundi sensibilis atque inteligibilis forma et principio. Akademie-Ausgabe. Trad. Acerca da forma e dos princípios do mundo sensível e inteligível. Trad., apres. e notas de L. R. dos Santos. Lisboa: Imprensa Casa da Moeda. FCSH da Universidade de Lisboa, 1985.

______. Prolegômenos a qualquer metafísica futura que possa apresentar-se como ciência. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Estação Liberdade, 2014)

______. Prolegômenos a toda metafísica futura. Lisboa: Edições 70, 1982

PORTA, Mário Ariel González. O pensamento de Immanuel Kant. Academia Monergista, 2023.

WATKINS, Eric. Kant and the sciences. Oxford University Press, 2001.

 

domingo, 5 de março de 2023

REFLEXÃO VESPERTINA CLII: A FORÇA DA RAZÃO

 

(IMAGEM: "Pinterest")

ESTUDANDO

Relendo alguns textos... Pausa na Oficina

Nas palavras de Immanuel Kant, em sua Informação sobre a orientação de suas preleções no semestre de inverno de 1765- 1766, em se tratando de Filosofia, não se trata, pois, de aprender pensamentos, mas sim aprender a pensar [“nicht Gedanken, sondern denken lernen”]. (Nachricht, AA, II, 306, grifos meus).

Na Crítica da Razão Pura (B 865) ele afirma: “quanto ao que respeita à razão, apenas se pode, no máximo, aprender a filosofar. [...] Até então não se pode aprender nenhuma filosofia; pois onde está ela? Quem a possui? Por que caracteres se pode conhecer? Pode-se apenas aprender a filosofar, isto é, a exercer o talento da razão na aplicação dos seus princípios gerais em certas tentativas que se apresentam, mas sempre com a reserva do direito que a razão tem de procurar esses próprios princípios nas suas fontes e confirma-los ou rejeitá-los.” (B 866)

...

Enquanto preparo um texto estoico para publicação em breve, terminando o texto principal e desenho os capítulos de pequeno livrinho sobre “cura das paixões”; apatheia” e “ataraxia”. Esbocei hoje um texto em que estou analisando a “Docta Ignontia”; “Conhece-te a si mesmo” que será um pequeno artigo a ser direcionado a uma prestigiada revista acadêmica.

Mas, antes de tudo registrei aqui alguns fragmentos sobre “Razão” “entendimento”, dispersos em várias obras citadas e algumas da bibliografia, em grande ou pequena medida, tratando destes elementos que, certamente, vou retomar mais à frente e “sistematizar”. 

 “Porque a verdade ou a aparência não estão no objeto, na medida em que é intuído, mas no juízo sobre ele, na medida em que é pensado. Pode-se pois dizer que os sentidos não erram, não porque o seu juízo seja sempre certo, mas porque não ajuízam de modo algum. Eis porque só no juízo, ou seja, na relação do objeto com o nosso entendimento, se encontram tanto a verdade como o erro e, portanto, também a aparência, enquanto induz a este último. Num conhecimento, que concorde totalmente com as leis do entendimento, não há erro. Numa representação dos sentidos (porque não contém qualquer juízo) também não há erro. Nenhuma força da natureza pode, por si, afastar-se das suas próprias leis. KANT, Immanuel. A 293, 1994)

Ora, "Seria infalível, se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livre-arbítrio. (2013a)”

Quanto ao seu uso como como profilaxia, segundo Caio Musônius Rufus - Filósofo estóico do primeiro século da “era cristã”. Nascido em Volsínios, na Etrúria. Viveu entre 25 d.C. - 95 d.C.):

"Devemos viver como médicos, tratando a nós mesmos com a razão, contra os males de não usá-la".

Isso, tomado como caminho a ser seguido, estaria em consonância com a busca estóica de tranquilidade da alma, fundamentada na razão

Sêneca, neste sentido, no "De tranquillitate animi"; 14:2, escreve: 

"Vtique animus ab omnibus externis in se reuocandus est: sibi confidat, se gaudeat, sua suspiciat, recedat quantum potest ab alienis et se sibi adplicet, damna non sentiat, etiam aduersa benigne interpretetur". 

"Seja como for, a alma deve recolher‐se em si mesma, deixando todas as coisas externas: que ela confie em si, se alegre consigo, estime o que é seu, se aparte o quanto pode do que é alheio, e se dedique a si mesma; que ela não sinta as perdas e interprete com benevolência até mesmo as coisas adversas".

 Acrescento, tomando como um texto inspirado para hoje.

"O que deve guiar o verdadeiro amante da verdade é um amor desinteressado, por esse objetivo venerado; é a vontade enérgica e constante de jamais parar, e separar rigorosamente do joio a boa semente.

Quanto mais o homem se possui e quanto mais é calmo e nobre, melhor saberá discernir os caminhos que o conduzirão à verdade. Quanto mais ele é leviano, presunçoso ou apaixonado, tanto mais corromperá com seu hálito impuro os frutos que colherá na árvore da vida." (Revue. nov. 1863)

E, ainda bastante oportuno, diante das evidências, retomo este trecho: 

"Certa vez Musonius doou mil sestércios a um charlatão que se pavoneava de ser filósofo. Quando inúmeras pessoas vieram a Musonius alegando que aquele era um homem inútil e perverso, incapaz de qualquer bem, Musonius sorriu gentilmente e respondeu: 

'Então o que ele merece é dinheiro'."  

Portanto, não só defender a razão, mas não perder tempo, e caminhar, pois: 

"Não é papel do filósofo multiplicar argumentos e demonstrações. Se um argumento claro e consistente não basta, o problema está no ouvinte. Ao multiplicar as demonstrações para quem se nega a aceitar o claro e sonoro perde-se grande tempo, e se reconhece um tipo de teimosia que não deveria ser reconhecido". 

E, para encerrar essa coletânea de pequeno texto para reflexão do dia: “[...] e se o hábito diz não, a razão diz sim." Revue, 1864)

______.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1987 (col. Os Pensadores).

______. Ethica Nicomachea - III 9 - IV 15: As virtudes morais. Trad. Marco Zingano. São Paulo: Odysseus Editora, 2019.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

COELHO, Humberto Schubert. Genealogia do Espírito. Brasília, DF: 2012.

______. Filosofia perene: o modo espiritualista de pensar. São Paulo: Ed. Didier, 2014.

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

FOOT, Philippa. Natural goodness. Clarendon Press, 2003.

______. Moral dilemmas: and other topics in moral philosophy. Oxford University Press, 2003)

______. Virtues and Vices: and other essays in moral philosophy. OUP Oxford; Reprint, 2003). Informações sobre a a autora: https://pt.wikipedia.org/wiki/Philippa_Foot

FREUD, Sigmund. Inibição. sintoma e angústia. São Paulo: Companhia das letras, 2014.

______. Inibição, sintoma e medo. Porto Alegre, RS: L&PM, 2018.

______. Die Träumdeutung. Hamburg: Nikol, 2011.

______. Interpretação dos sonhos. Obras completas. vol 4. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

______. O mal-estar na civilização. São Paulo: Penguin/Companhia das Letras, 2011. 

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

JUNG, Carl Gustav. Civilização em transição. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas, Vol. 10/3). 

______. Estudos psiquiátricos. 6. ed. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas, Vol. 1)

______. Psicologia do inconsciente. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas, Vol. 7/1).

______. O eu e o inconsciente. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas, Vol. 7/2.)

______. Estudos experimentais. 6. ed. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas, Vol. 2)

______. Psicogênese das doenças mentais. 6.ed. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas, Vol. 3)

KANT, Immanuel. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime. Papirus, Campinas, 1993.

______. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Feldhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. Crítica da razão prática. Trad. Valério Rohden. São Paulo: Martins fontes, 2002.

______. Crítica da razão pura. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1994.

______. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido Antônio de Almeida. São Paulo: Discurso editorial, 2009.

______. Antropologia de um ponto de vista pragmático. Tradução Clélia Aparecida Martins. São Paulo: Iluminuras, 2006.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013a. (Q. 74a “A razão”); Q. 907-912: "paixões"; 893-906: “virtudes e vícios”e 920-933: "felicidade")

KING, C. Musonius Rufus: lectures and sayings. Create Space Independent Publishing Platform, 2011.

LEBRUN, Gérard. O conceito de paixãoIn: NOVAES, Adauto (org.). Os sentidos da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

LUTZ, C. Musonius Rufus: the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.

MACINTYRE, Alasdair. Depois da virtude: um estudo sobre teoria moral. Campinas, SP: Vide Editorial, 2021.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Livro II. 1).

MASSI, C. D. As leis naturais e a verdadeira felicidade. Curitiba: Kardec Books, 2020.

______. Espírito e matéria: diálogos filosóficos sobre as causas primeiras. Curitiba: Kardec Books, 2020.

NUSSBAUM, Martha C. A fragilidade da bondade: fortuna e ética na tragédia e na filosofia grega. São Paulo, Martins Fontes, 2009.

PLATÃO. Mênon. Trad. Maura Iglésias. Rio de Janeiro: Ed. PUC-RIO; São Paulo: Ed. Loyola, 2001.

________. República de Platão. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2012.

________. Górgias, Eutidemo, Hípias Maior e Hípias Menor. Trad. Edson Bini. Bauru, SP: EDIPRO, 2007.

________. Górgias, Protágoras. 3. ed. Trad. Carlos Alberto Nunes. Edição bilíngue; Belém, PA, 2021.

SÊNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

______. Edificar-se para a morte: das cartas morais a Lucílio. Seleção, introdução, tradução e notas de Reanata Cazarini de Freitas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.

____. Sobre a clemência. Introdução, tradução e notas de Ingeborg Braren. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013b.

____. Sobre a ira. Sobre a tranquilidade da alma. Tradução, introdução e notas de José Eduardo S. Lohner. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2014.

____. Moral Essays. Tradução de John W. Basore. Cambridge, EUA: Harvard University Press, 1985.

sábado, 4 de março de 2023

REFLEXÃO MATINAL CLIX: "EUGNOMOSYNE"

(IMAGEM: “René Magritte (1898-1967), La Clef des champs, 1936. Oil on canvas (80 x 60 cm). Museo Thyssen-Bornemisza, Madrid)

Uma pequena reflexão sobre a nobreza de sentimentos e o equilíbrio da razão num mundo com tanta disparidade sobre esse tema e muito barulhento.

A razão é igual à razão, tal como a rectidão é igual a si mesma; por conseguinte toda a virtude é igual à virtude, pois a virtude outra coisa não é senão a razão recta. Todas as virtudes são formas da razão; são formas da razão se forem todas rectas e se forem rectas são todas iguais.” (SÊNECA. 204. Carta LXVI. 32

De uma conversa breve com um amigo sobre essas questões que resolvi anotar abaixo como acréscimo às reflexões o que creio há anos seja esta uma postura do “prokoton”: a busca pelo equilíbrio.

Acrescento uma frase de Epictetus e avanço nessa brevíssima reflexão:

"Proteja o bem que existe em você em tudo o que você fizer, e no que diz respeito a todo o resto, receba o que lhe for dado enquanto puder fazer uso sensato. Se não puder, não terá sorte, estará propenso a falhar, perturbado e limitado" (Epictetus).

E, após os trabalhos de hoje, no termo "eugnomosyne" (Epicteto, D.II, 6.2), na concepção mesma que tinham os antigos "estoicos", por exemplo, como significando "nobreza de sentimentos", e me ocorreu prosseguir com o que anotei abaixo.

Ai dos que se propõe asserenar e buscar "eugnomosyne" em dias como os atuais! Mesmo se esse, em meio às dificuldades e limitações, coloque a busca pela paz interior na ordem do dia haverá sempre a postura dos que digam ser impossível num mundo agitado e barulhento como este. E, se adaptam!

Mas, sabe-se, por outro lado:

De fato, o que é necessário não é a abundância, mas sim a eficácia das palavras. Devemos distribuí-las como se fossem sementes; ora uma semente, ainda que minúscula, se cai em terra favorável, multiplica suas forças e alcança, de exígua que era, dimensões assaz consideráveis. O mesmo sucede com a razão. À primeira vista não parece ter grande raio de ação; mas à medida que vai agindo ganha força. As nossas palavras são breves, mas se o espírito as acolher favoravelmente, elas enrijarão e florescerão. É como te digo, a condição das nossas sentenças é semelhante à das sementes: os frutos são numerosos, as dimensões muito reduzidas! Basta apenas, como já disse, que um espírito propício as entenda e as interiorize; se assim for, em breve esse espírito estará por sua vez a produzir muitas outras, mais numerosas mesmo do que as recebidas.” (SÊNECA a Lucílio. Carta XXXVIII)

Ademais, “ser estoico, afinal, o que é?  Do mesmo modo que chamamos “fidíaca” a estátua modelada segundo a arte de Fídias, mostrai-me igualmente um ser humano enfermo e feliz, em perigo e feliz, desprestigiado e feliz. Mostrai-me. Pelos deuses! Desejo ver um estoico. (EPICTETO. D. 2.19.23-27).”

Talvez, não ser um estoico, sabido que já tenho uma “filosofia de vida” bem definida a orientar-me, como também sempre destaco aqui, mas revisitar as obras clássicas, é o desafio posto e mantido. Não dá para aceitar nem cogitar minimamente, as estapafúrdias tagarelices das propostas hodiernas.

No exercício de hoje para uso cotidiano, escolho encerrar com dois pequenos textos; um de Sêneca, outro de Aristóteles:

Queres saber qual é a coisa que com maior empenho deves evitar? A multidão! Ainda não estás em estado de frequentá-la em segurança. Eu confesso-te sem rodeios a minha própria fraqueza: nunca regresso com o mesmo caráter com que saí de casa; algo que já pusera em ordem é alterado, algo do que já conseguira eliminar, regressa!” (SÉNECA. 2014).

"A multidão mais grosseira considera que o bem e a felicidade é o prazer, e consequentemente adoram uma vida de gratificação […] Assim, parecem completamente escravizados, dado escolherem uma vida que pertence aos ruminantes. Mas têm realmente um argumento em sua defensa, dado que muitos dos poderosos […] têm a mesma convicção. (ARISTÓTELES. 1095 b; 16-23)"

São "exercícios" pessoais de reflexão. Abaixo, algumas indicações de leituras por onde tenho caminhado. Muito a aprender, corrigir e superar ainda!

Voltando aos estudos! 

(Grifos destaques são meus)

 

______.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008. 

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue). 

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008. 

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

______. Silêncio: o poder da quietude em um mundo barulhento. Rio de Janeiro, RJ: Harper Collins, 2018.

SCHELLE, Karl Gottlob. A arte de passear. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

SÊNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

______. Lucio Aneu. Vida Feliz. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.

______. Edificar-se para a morte: das cartas morais a Lucílio. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.

______. Sobre a brevidade da vida. Porto Alegre, RS: L&PM, 2007.

SOLNIT, Rebecca. Wanderlust: a history of walking. Penguim books, 2001.

THOUREAU, Henry David. Andar a pé: um ritual interior de sabedoria e liberdade. Loures: Editora Alma dos livros, 2021.

REFLEXÃO MATINAL CLXVIII: O "HEGEMONICON" COMO "PODER INTERIOR" QUE DOMINA E COMANDA AS AÇÕES

(IMAGEM: "Pinterest")   CÓLERA E  "HEGEMONICON"-  ἡγεμονικόν Voltando ao corpo ("Modê Ani"). Consciência tra...