domingo, 5 de março de 2023

REFLEXÃO VESPERTINA CLII: A FORÇA DA RAZÃO

 

(IMAGEM: "Pinterest")

ESTUDANDO

Relendo alguns textos... Pausa na Oficina

Nas palavras de Immanuel Kant, em sua Informação sobre a orientação de suas preleções no semestre de inverno de 1765- 1766, em se tratando de Filosofia, não se trata, pois, de aprender pensamentos, mas sim aprender a pensar [“nicht Gedanken, sondern denken lernen”]. (Nachricht, AA, II, 306, grifos meus).

Na Crítica da Razão Pura (B 865) ele afirma: “quanto ao que respeita à razão, apenas se pode, no máximo, aprender a filosofar. [...] Até então não se pode aprender nenhuma filosofia; pois onde está ela? Quem a possui? Por que caracteres se pode conhecer? Pode-se apenas aprender a filosofar, isto é, a exercer o talento da razão na aplicação dos seus princípios gerais em certas tentativas que se apresentam, mas sempre com a reserva do direito que a razão tem de procurar esses próprios princípios nas suas fontes e confirma-los ou rejeitá-los.” (B 866)

...

Enquanto preparo um texto estoico para publicação em breve, terminando o texto principal e desenho os capítulos de pequeno livrinho sobre “cura das paixões”; apatheia” e “ataraxia”. Esbocei hoje um texto em que estou analisando a “Docta Ignontia”; “Conhece-te a si mesmo” que será um pequeno artigo a ser direcionado a uma prestigiada revista acadêmica.

Mas, antes de tudo registrei aqui alguns fragmentos sobre “Razão” “entendimento”, dispersos em várias obras citadas e algumas da bibliografia, em grande ou pequena medida, tratando destes elementos que, certamente, vou retomar mais à frente e “sistematizar”. 

 “Porque a verdade ou a aparência não estão no objeto, na medida em que é intuído, mas no juízo sobre ele, na medida em que é pensado. Pode-se pois dizer que os sentidos não erram, não porque o seu juízo seja sempre certo, mas porque não ajuízam de modo algum. Eis porque só no juízo, ou seja, na relação do objeto com o nosso entendimento, se encontram tanto a verdade como o erro e, portanto, também a aparência, enquanto induz a este último. Num conhecimento, que concorde totalmente com as leis do entendimento, não há erro. Numa representação dos sentidos (porque não contém qualquer juízo) também não há erro. Nenhuma força da natureza pode, por si, afastar-se das suas próprias leis. KANT, Immanuel. A 293, 1994)

Ora, "Seria infalível, se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livre-arbítrio. (2013a)”

Quanto ao seu uso como como profilaxia, segundo Caio Musônius Rufus - Filósofo estóico do primeiro século da “era cristã”. Nascido em Volsínios, na Etrúria. Viveu entre 25 d.C. - 95 d.C.):

"Devemos viver como médicos, tratando a nós mesmos com a razão, contra os males de não usá-la".

Isso, tomado como caminho a ser seguido, estaria em consonância com a busca estóica de tranquilidade da alma, fundamentada na razão

Sêneca, neste sentido, no "De tranquillitate animi"; 14:2, escreve: 

"Vtique animus ab omnibus externis in se reuocandus est: sibi confidat, se gaudeat, sua suspiciat, recedat quantum potest ab alienis et se sibi adplicet, damna non sentiat, etiam aduersa benigne interpretetur". 

"Seja como for, a alma deve recolher‐se em si mesma, deixando todas as coisas externas: que ela confie em si, se alegre consigo, estime o que é seu, se aparte o quanto pode do que é alheio, e se dedique a si mesma; que ela não sinta as perdas e interprete com benevolência até mesmo as coisas adversas".

 Acrescento, tomando como um texto inspirado para hoje.

"O que deve guiar o verdadeiro amante da verdade é um amor desinteressado, por esse objetivo venerado; é a vontade enérgica e constante de jamais parar, e separar rigorosamente do joio a boa semente.

Quanto mais o homem se possui e quanto mais é calmo e nobre, melhor saberá discernir os caminhos que o conduzirão à verdade. Quanto mais ele é leviano, presunçoso ou apaixonado, tanto mais corromperá com seu hálito impuro os frutos que colherá na árvore da vida." (Revue. nov. 1863)

E, ainda bastante oportuno, diante das evidências, retomo este trecho: 

"Certa vez Musonius doou mil sestércios a um charlatão que se pavoneava de ser filósofo. Quando inúmeras pessoas vieram a Musonius alegando que aquele era um homem inútil e perverso, incapaz de qualquer bem, Musonius sorriu gentilmente e respondeu: 

'Então o que ele merece é dinheiro'."  

Portanto, não só defender a razão, mas não perder tempo, e caminhar, pois: 

"Não é papel do filósofo multiplicar argumentos e demonstrações. Se um argumento claro e consistente não basta, o problema está no ouvinte. Ao multiplicar as demonstrações para quem se nega a aceitar o claro e sonoro perde-se grande tempo, e se reconhece um tipo de teimosia que não deveria ser reconhecido". 

E, para encerrar essa coletânea de pequeno texto para reflexão do dia: “[...] e se o hábito diz não, a razão diz sim." Revue, 1864)

______.

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