ESTUDANDO
Relendo alguns textos... Pausa na Oficina
Nas palavras de Immanuel
Kant, em sua Informação sobre a orientação de suas preleções no semestre de
inverno de 1765- 1766, em se tratando de Filosofia, não se trata, pois, de
aprender pensamentos, mas sim aprender a pensar [“nicht Gedanken, sondern
denken lernen”]. (Nachricht, AA, II, 306, grifos meus).
Na Crítica da Razão
Pura (B 865) ele afirma: “quanto ao que respeita à razão, apenas
se pode, no máximo, aprender a filosofar. [...] Até então não se pode aprender
nenhuma filosofia; pois onde está ela? Quem a possui? Por que caracteres se
pode conhecer? Pode-se apenas aprender a filosofar, isto é, a exercer o talento
da razão na aplicação dos seus princípios gerais em certas tentativas que se
apresentam, mas sempre com a reserva do direito que a razão tem de procurar
esses próprios princípios nas suas fontes e confirma-los ou rejeitá-los.” (B
866)
...
Enquanto preparo um texto estoico para
publicação em breve, terminando o texto principal e desenho os capítulos de
pequeno livrinho sobre “cura das paixões”; apatheia” e “ataraxia”.
Esbocei hoje um texto em que estou analisando a “Docta Ignontia”; o “Conhece-te
a si mesmo” que será um pequeno artigo a ser direcionado a uma
prestigiada revista acadêmica.
Mas, antes de tudo registrei aqui
alguns fragmentos sobre “Razão” e “entendimento”, dispersos
em várias obras citadas e algumas da bibliografia, em grande ou pequena medida,
tratando destes elementos que, certamente, vou retomar mais à frente e
“sistematizar”.
“Porque a verdade ou a aparência
não estão no objeto, na medida em que é intuído, mas no juízo sobre ele, na
medida em que é pensado. Pode-se pois dizer que os sentidos não erram, não
porque o seu juízo seja sempre certo, mas porque não ajuízam de modo algum. Eis
porque só no juízo, ou seja, na relação do objeto com o nosso entendimento, se
encontram tanto a verdade como o erro e, portanto, também a aparência, enquanto
induz a este último. Num conhecimento, que concorde totalmente com as leis do
entendimento, não há erro. Numa representação dos sentidos (porque não contém
qualquer juízo) também não há erro. Nenhuma força da natureza pode, por si,
afastar-se das suas próprias leis. KANT, Immanuel. A 293,
1994)
Ora, "Seria infalível, se
não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto
não raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livre-arbítrio. (2013a)”
Quanto ao seu uso como
como profilaxia, segundo Caio Musônius Rufus - Filósofo
estóico do primeiro século da “era cristã”. Nascido em Volsínios, na Etrúria.
Viveu entre 25 d.C. - 95 d.C.):
"Devemos viver como médicos,
tratando a nós mesmos com a razão, contra os males de não usá-la".
Isso, tomado como caminho a ser
seguido, estaria em consonância com a busca estóica de tranquilidade da
alma, fundamentada na razão:
Sêneca, neste sentido, no "De
tranquillitate animi"; 14:2, escreve:
"Vtique animus ab omnibus externis
in se reuocandus est: sibi confidat, se gaudeat, sua suspiciat, recedat quantum
potest ab alienis et se sibi adplicet, damna non sentiat, etiam aduersa benigne
interpretetur".
"Seja como for, a alma deve
recolher‐se em si mesma, deixando todas as coisas externas: que ela confie em
si, se alegre consigo, estime o que é seu, se aparte o quanto pode do que é
alheio, e se dedique a si mesma; que ela não sinta as perdas e interprete com
benevolência até mesmo as coisas adversas".
Acrescento, tomando como um texto
inspirado para hoje.
"O que deve guiar o verdadeiro
amante da verdade é um amor desinteressado, por esse objetivo venerado; é a
vontade enérgica e constante de jamais parar, e separar rigorosamente do joio a
boa semente.
Quanto mais o homem se possui e quanto
mais é calmo e nobre, melhor saberá discernir os caminhos que o conduzirão à
verdade. Quanto mais ele é leviano, presunçoso ou apaixonado, tanto mais
corromperá com seu hálito impuro os frutos que colherá na árvore da
vida." (Revue. nov. 1863)
E, ainda bastante oportuno, diante das
evidências, retomo este trecho:
"Certa vez Musonius doou mil
sestércios a um charlatão que se pavoneava de ser filósofo. Quando inúmeras
pessoas vieram a Musonius alegando que aquele era um homem inútil e perverso,
incapaz de qualquer bem, Musonius sorriu gentilmente e respondeu:
'Então o que ele merece é
dinheiro'."
Portanto, não só defender a razão, mas
não perder tempo, e caminhar, pois:
"Não é papel do filósofo
multiplicar argumentos e demonstrações. Se um argumento claro e consistente não
basta, o problema está no ouvinte. Ao multiplicar as demonstrações para quem se
nega a aceitar o claro e sonoro perde-se grande tempo, e se reconhece um tipo
de teimosia que não deveria ser reconhecido".
E, para encerrar essa coletânea de
pequeno texto para reflexão do dia: “[...] e se o hábito diz não, a
razão diz sim." Revue, 1864)
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