domingo, 31 de dezembro de 2017

REFLEXÃO MATINAL VI



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(IMAGEM: "Lago Wanaka" - Nova Zelândia)

A corrupção da natureza humana

"O ser humano nasce com uma inclinação na direção da virtude."


( Musonius Rufus)

É bastante comum encontrarmos reflexões sobre a “natureza humana” na obra dos Estoicos, aliás, tema fundamental para eles. O mesmo Musonius Rufus teria dito que Todos nós fomos feitos pela natureza, de forma que possamos viver livre de erros e de forma nobre, não que um possa e outro não possa, todos podemos.”
Também não é difícil encontrar, atualmente, opositores ensandecidos, desequilibrados, a insistirem na negação de que se possa nascer com inclinação para as virtudes. Preferem defender que possa haver no homem uma natureza corrupta em si mesma do que admitir que, na verdade, haveria a possibilidade de que uma certa “natureza humana” pudesse ter se corrompido; que se tenha tomado direções equivocadas e desviado da meta, a qual como diz Musonius Rufus: “todos podemos” chegar. A filosofia seria uma ferramenta para retorno à nossa verdadeira “natureza humana”.
O que se aprenderá com a filosofia, no modo defendido aqui é que ela pode sim revelar-nos uma "essência" em nós. O erro será uma constante mesmo na vida de quem persista em agir corretamente, daí não se poder ratificar que há uma natureza corrompida; pelo contrário, o que haveria é que, no exercício cotidiano a ocorrência dos erros e dos desvios de rota sempre se apresentam.
Isso, exigirá sempre, uma profunda e repetida reflexão, por parecer apontar na direção de uma solução distante e quase impossível. Os Estoicos, defendem que qualquer um pode reverter um mau comportamento, reparar os erros e se reorientar na direção no caminho das Virtudes dedicando-se ao estudo regular, constante e disciplinado da filosofia. Para eles a prática das virtudes começa por aí e prossegue-se aprendendo a separar o que é bom (virtude) do que é mau (vícios).
A meta, portanto: aprendermos a admitir que há coisas às quais podemos impor nosso controle e há coisas que fogem da nossa alçada e é pífio o poder de termos controle sobre elas. O que a proposta dos Estóicos sugere é que se exercite as ações em consonância com as que fogem ao nosso domínio, que estariam, talvez, no domínio das leis naturais. A Filosofia é tomada, portanto, como prática diária na correção dos erros e na compreensão e aceitação das próprias limitações.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

REFLEXÃO MATINAL (V)

Capa

DAVIS, P. J. aSeneca: Thyestes. Companions to Greek and Roman Tragedy. Bloomsbury Academic (Universidade de Michigan), 2003.


À maneira estóica, essa foi a meditação matinal de hoje...

"A morte paira sobre mim, pesada, eu, que fui conhecido excessivamente bem por todos, mas que morro estranho a mim mesmo." ( Sêneca em Thyestes)

Muitos somos os que de alguma forma procuramos preservar nosso conjunto de valores e sustentar princípios para orientarmo-nos no mundo.

À medida em me aprofundo na leitura atenta dos estóicos percebo a preocupação deles com a filosofia na prática.  Ao agirmos, assim o fazemos fundamentados nos valores e princípios que acreditamos?

Perceptível que a Filosofia para eles é uma forma “um método" para ação, não para falar, como já defendia Sêneca. As nossas ações ratificam, endossam a Verdade contida nas nossas premissas básicas?

Se, por repetidas vezes nos deparamos agindo em oposição àquelas premissas, temos um trabalho de reeducação a implementar. Educarmo-nos; a nós mesmos... Rever as nossas crenças e o quanto elas destoam ou se harmonizam com as nossa ações.

Devemos opor, para nossa reflexão e corrigenda, o feito e o pensado, de forma que essa conjunção possa guiar nossa Vida prática, cotidiana.

Por trás de tamanho projeto estaria o “conhece-te a ti mesmo”, bastante conhecido e atribuído a Sócrates.

Mas somente enfrenta-se como desafio fazendo-o ponto de partida quem se obriga admitir essa necessidade. Ora, ou fazemos ou perdemos... outra vez, colocando a culpa em algo estranho e exterior a nós.

Tarefa a ser iniciada...

“Para o alto e avante”

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

RECONSTRUÇÃO DE UM CONFRONTO

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O livro do prof. Oswaldo Giacoia Junior nos mostra dois projetos filosóficos em confronto. “Nietzsche X Kant: uma disputa permanente a respeito de liberdade, autonomia e dever”. 

Giacoia Junior apresenta os assuntos para o debate contemporâneo, ao tratar de temas como as normas que ditam comportamentos individuais, os limites do Estado, nossos direitos e deveres.
"Um estudo essencial para se pensar o cenário contemporâneo, marcado por uma latente crise de valores e modelos."
...
“Essa crise permanente torna não apenas atual, mas incontornável uma revisitação dos clássicos ... no caso, da herança filosófica de Kant e Nietzsche..., no que respeita àquilo que o confronto entre eles ainda pode conservar de seminal e fecundo, em termos de orientação para o pensar e agir”

Giacoia Jr. Ao encerrar Nietzsche x Kant destaca que o próprio Kant teria bons argumentos para opor-se a Nietzsche. As diferenças entre os dois projetos ultrapassa essa constatação:

É notória, portanto, ao longo da obra a “[...] impossibilidade de conciliar uma legislação filosófica de Si-Próprio - uma estilística moral de si – com uma legislação universal da razão pura prática, inteiramente formal e categórica” (GIACOIA JUNIOR, 2012, p. 277).


______.
GIACOIA JUNIOR, Owaldo. Nietzsche x Kant: uma disputa permanente a respeito de liberdade, autonomia e dever. Rio de Janeiro: Casa da palavra; São Paulo: Casa do saber, 2012.

“A MÚSICA E O INEFÁVEL”: JANKÉLÉVITCH


1. 2. 3.

Escrita por Vladimir Jankélévitch (1903-1985) “A música e o inefável”, terá sua primeira tradução para a língua portuguesa, a ser publicada em 2018 pela Editora Perspectiva, na coleção “Estudos”, obra de interesse para a filosofia da arte e, da estética musical. Já estou planejando um tempinho para essa leitura em 2018, com certeza!

"Il y a dans la musique une double complication, génératrice de problèmes métaphysiques et de problèmes moraux, et bien faite pour entretenir notre perplexité. Car la musique est à la fois expressive et inexpressive, sérieuse et frivole, profonde et superficielle ; elle a un sens et n'a pas de sens. La musique est-elle un divertissement sans portée ? ou bien est-elle un langage chiffré et comme le hiéroglyphe d'un mystère ? Ou peut-être les deux ensemble ? Mais cette équivoque essentielle a aussi un aspect moral : il y a un contraste déroutant, une ironique et scandaleuse disproportion entre la puissance incantatoire de la musique et l'inévidence foncière du beau musical."

Was ist Musik? Bedeutungslose Unterhaltung oder eine chiffrierte Sprache, die Hieroglyphe eines Mysteriums? Ist ihr Zauber Betrug oder Grundlage einer Weisheit? Das sind die tiefen Fragen, denen der bedeutende französische Philosoph Vladimir Jankélévitch in seinem musikphilosophischen Meisterwerk auf den Grund geht. Erstmals 1961 in Frankreich erschienen, ist es nun endlich in deutscher Übersetzung zu entdecken

Qual o significado da música? É possível amá-la incontestadamente ou sua natureza dúbia impossibilita sua definição a tal ponto que seus encantos recaem ao vazio Para Bachelard, como para Bergson, no que se refere à percepção psicológica do tempo e da sua duração , Jankélévitch esmiúça a construção musical e seus reflexos na percepção do ouvinte. A música é o prazer que age sobre o sistema nervoso. Não uma ciência, como querem os musicólogos e estudiosos dessa arte, mas sim um encanto que embriaga e se aloja no íntimo, uma operação irracional mais aparentada à magia que às ciências exatas.

...

“Publicada, em 1961, pela primeira vez em sua versão integral, “A música e o inefável” pode ser incluída, sem hesitação, entre tais títulos. A relevância da obra em questão se manifesta, sobretudo, em sua particular abordagem da arte sonora, fruto de um pensamento singular, no qual confluem harmoniosamente diversos vetores, como a filosofia ocidental, a literatura russa, as intuições de artistas, os relatos de místicos cristãos.” (GONTIJO, 2017)

...

“Filósofo e musicólogo de ascendência russa, Vladimir Jankélévitch nasceu em 1903, em Bourges, na França. Estudou na Escola Normal Superior, em Paris, e foi influenciado pelo pensamento do filósofo Henri Bergson.

Judeu, Jankélévitch atuou na resistência antinazista durante a Segunda Guerra Mundial e foi professor de filosofia moral na Universidade Sorbonne entre 1951 e 1979. Para ele, a moral é o problema central na reflexão filosófica.

O pensador morreu na capital francesa em 1985. No Brasil, foram publicados os seus livros "Curso de Filosofia Moral" e "O Paradoxo da Moral" (ambos pela ed. WMF Martins Fontes) e "Primeiras e Últimas Páginas" (Papirus, esgotado)”

Fonte: Caderno Mais (Folha de São Paulo. São Paulo, domingo, 06 de setembro de 2009.

______.

JANKÉLÉVITCH,  Vladimir. A música e o inefável. São Paulo: Editora Perspectiva, 2018.

______. La Musique et l'ineffable. Paris: Essais,  1961.

______. Die Musik und das Unaussprechliche. Suhrkamp Verlag, 2016.





quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

A RELIGIÃO NOS LIMITES DA SIMPLES RAZÃO: PROSSEGUINDO COM OS TRABALHOS DESDE 2018

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"[...] longe da posição de Kant está a visão secularista que trata a religião com desprezo, considerando-a como nada mais que uma relíquia do passado ou um deplorável refúgio para os ignorantes e supersticiosos" (A. W., 2009)

Iniciando os trabalhos com mais uma releitura,  na "tônica dominante" das leituras para 2018. Nesta obra, já no prólogo à primeira edição sobre a religião, Immanuel Kant delimita sua investigação: 

“dos quatro tratados seguintes, para tornar manifesta a relação da religião com a natureza humana, a qual possui em parte disposições boas e em parte disposições más, eu represento a relação do bom e do mau princípio tal como de duas causas operantes por si subsistentes e que influem no homem”. Seu objetivo apresentar a relação da religião com a natureza humana. 

Importante estar atento ao uso do termo religião que pode seguir por duas linhas no texto:

a) numa, há uma tendência a toma-la num conjunto de dogmas e crenças; convencional. 

b) noutra, o texto considera o conceito como de religião de um ponto de vista subjetivo, relacionada ao “reconhecimento de todos os nossos deveres - Pflichten - como mandamentos divinos.

A religião nos limites da simples razão, considerada nesses termos, leva em conta, um certo consentimento do indivíduo à medida que considera os seus deveres como se fossem mandamentos divinos; ou seja, o objetivo é estudar a questão dos deveres à medida que cada indivíduo estaria sujeito a disposições boas e más. Kant investiga em que sentido as disposições más, tendo corrompido o indivíduo, podem ser dominadas e restituídas as disposições boas.
Kant parte, portanto, de uma relação entre religião e natureza humana relacionada a partir dos princípios bom e mau, tomados como causas que atuam na natureza humana. Daí, o texto sobre a religião ser tomado como uma investigação sobre a corrupção moral do homem. Logo nos dois primeiros livros; no terceiro e no quarto, tenta pensar em que sentido o indivíduo corrompido pode restabelecer-se moralmente. 
No fundo de toda a discussão estão os conceitos de mal radical (Radicale Böse) e de comunidade ética (ethischen gemeinen Wesens). Ora, com o conceito de mal radical, Kant discute a ruína moral humana; empregando o conceito de comunidade ética, enquanto um mecanismo de aperfeiçoamento moral, ele defende a possibilidade da esperança à medida que propõe um caminho para que daí o homem possa orientar-se por princípios morais.
______.

KANT, Immanuel. A religião nos limites da simples razão. Edições 70, Lisboa, 1992. 

______.Vorlesung über die philosophische Encyclopädie. In: Kant gesalmmelte Schriften, XXIX, Berlin, Akademie, 1980, pp. 8 e 12).

______. Observações sobre o sentimento do belo e do sublimeEnsaio sobre as doenças mentais. Tradução e estudo de Vinicius de Figueiredo. São Paulo: Editora Clandestina, 2018.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. (Trad. Vinícius Figueiredo). Campinas, SP: Ed. Papirus, 1993.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Lisboa: Edições 70, 2012.

______. Die Religion innerhalb der Grenzen der bloßen Vernunft. W. de Gruyter, 1968.

 

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Um pouco mais e Atualizando: 


quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Um "Clinâmen"...

1. 2.
... pós tensão das provas e exames... para conhecer (o que diz?) um pouco da obra desse autor, de quem li alguns textos somente à época de graduação.
1. A UNIÃO DA ALMA E DO CORPO: "Este livro transcreve o curso que MerleauPonty ofereceu em 1947-1948, na Escola Normal Superior (Paris). Para muito além do aspecto oficial de aulas preparatórias com vistas à seleção de professores no ensino público francês, o leitor tem em mãos um texto de primeira grandeza. Nele se ouve a dicção do professor que reflete com Malebranche, por exemplo, a entrada do irrefletido na cena filosófica; com Maine de Biran, o papel da dúvida na gênese da evidência; com Bergson, o começo de uma precisa delimitação da criatividade em história da filosofia. Assim, apresenta-se um pensamento orgânico sobre a união da alma e do corpo, sem descurar do campo temático cartesiano, especialmente pelo que este comporta de mítico , no sentido platônico do termo, e de histórico , em acepção bastante peculiar. Já na primeira aula, Merleau-Ponty dirá- Toda a história da filosofia é uma retomada pessoal pelo filósofo do problema que ele estuda . De modo que a objetividade da história da filosofia só se encontra no exercício da subjetividade, fórmula que anuncia questões retomadas em Elogio da filosofia (aula inaugural no Collège de France). Mas importa salientar que neste livro se ouve principalmente a voz do filósofo. Na unidade da reflexão, Merleau-Ponty pratica um estilo de interrogação singular em que o pensamento, longe de se apreender como coisa , é, em certo sentido, um ato . Se o leitor é convidado a satisfazer o seu gosto pela evidência e aprimorar o seu senso para ambiguidades fecundas, é porque, no fundo, pensar é captar os resultados dos quais não temos todas as premissas . Também para o leitor-ouvinte é preciso, portanto, fundar o pensamento possível sobre o pensamento atual, e não o inverso."
2. FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO: "Desde o início da obra o problema da percepção aparece sob uma luz diferente - Para Merleau-Ponty, o essencial é captar a percepção viva, a percepção em via de realização. Para isso, é preciso se livrar de todos os preconceitos dogmáticos que proporcionam apenas percepções fossilizadas, espécies de cadáveres de objetos."

REFLEXÃO DA MATINAL IV

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Imagem: Charles-François Daubigny (1817 - 1878) -
Imagem: Charles-François Daubigny -"LANDSCAPE WITH COWS"

Andastes ausente e não tens o hábito de frequentar os banquetes, tão frequentes, onde são servidos os manjares da maledicência... onde se diz algo de quem não estando presente também não pode defender-se? Tranquiliza-te, no entanto, pois...

"[33.9] ἐὰν τίς σοι ἀπαγγείλῃὅτι ὁδεῖνάσε κακῶς λέγει, μὴἀπολογοῦπρὸς τὰλεχθέντα, ἀλλ' ἀποκρίνου διότι ‘ἠγνόει γὰρ τὰἄλλα τὰπροσόντα μοι κακά, ἐπεὶοὐκ ἂν ταῦτα μόνα ἔλεγεν’.

[33.9] Se te disserem que alguém, maldosamente, falou coisas terríveis de ti, não te defendas das coisas ditas, mas responde que "Ele desconhece meus outros defeitos, ou não mencionaria somente esses”.

______.
(Ἐπικτήτου Ἐγχειρίδιον. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notasi; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012. 96p.)

A RELIGIÃO NOS LIMITES DA SIMPLES RAZÃO: PROSSEGUINDO COM OS TRABALHOS DESDE 2018 (IV)

  Sobre " A religião nos limites da simples razão ". Na próxima sexta-feira, 19.04.2024 , às 14h, os professores Bruno Cunha e ...