Nessa manhã estudando
anoto algumas reflexões para retomada e prosseguimento.
Para começar, segundo Sellars,
a partir de Epictetus, por exemplo, descreve a filosofia da seguinte
maneira:
A filosofia não promete
obter qualquer coisa exterior para o homem, pois se o fizesse ela estaria
admitindo algo que se encontra fora de seu material apropriado (hules).
Pois assim como a madeira é o material (hule) do carpinteiro, e o bronze
o do estatuário, também a própria vida de cada indivíduo (ho bios autou
hekastou) é o material da arte de viver (tes peri bion technes). (EPICTETUS, Discursos 1.15.2, apud SELLARS,
2003, p. 56)
Então, em meio a tanta
confusão, momentos de profunda tristeza, donde sempre nos recuperamos e nos
colocamos a pensar no hábito a que tantos se deixam seduzir (eu mesmo me deixei
levar noutro tempo): do pessimismo, por um lado e do extremo
esforço em "mudar o mundo" por outro lado.
Ora, sendo totalmente
outra a empreitada a qual me dedico há algum tempo, é fundamental
esquecer pessimismos e o desejo de mudar o que nos
é externo, que está fora do nosso alcance. Como tenho postado aqui, e prático: "medito
andando" e decidi, há alguns anos, aprofundar sistematicamente
uma intensa busca por "eustatheia" (tranquilidade)
e "euthymia" (crença em si). É projeto em
andamento “há séculos” que às vezes por descuido, foi interrompido. Mas,
retomando sigo o conselho sugerido pelos estoicos; mais especificamente Sêneca,
Epictetus e Marco Aurélio; entre os que vou acrescentando
à medida que sigo nos estudos sobre o tema! Acrescentados, na verdade a uma
filosofia de vida já adotada adolescência e desenvolvida dia a dia.
E, como sempre, enquanto faço mais uma
das necessárias pausas no texto principal, vou terminando a releitura de alguns
capítulos desse excelente livro de John Sellaers: “The art of
living: the stoics on the nature and function of philosophy”.
No que acrescento aqui, hoje, como “reflexão matinal”, à maneira dos estoicos, tomo como ponto de partida, um trecho de outro texto de John Sellars (SELLARS, 2016). A este, acrescento um comentário feito há algum tempo e uma série de sugestões de leituras das que tenho feito e indicado aqui[1].
"Muitos dos que estão interessados ou se têm envolvido no renascimento do estoicismo dirão que ele pode ajudar-nos a ter uma vida melhor e mais feliz. À primeira vista, é possível que isso nos leve a considerar a ressurgência do interesse pelo estoicismo como parte da “indústria da felicidade”. Aos insatisfeitos, desiludidos e deprimidos que procuraram em vão algo para alegrá-los, talvez o estoicismo seja a próxima coisa a ser tentada para ajudá-los a superar a tristeza e a recuperar a joie de vivre. Se falarmos do estoicismo como forma de terapia ou como dotado de elementos terapêuticos, decerto tal impressão pode ser transmitida: o estoicismo oferece uma terapia, mas uma terapia para tratar o quê? Parece natural supor que a resposta seja: “uma terapia para tratar a infelicidade”. Com efeito, os estoicos antigos visavam à eudaimonía, o que normalmente se traduz por “felicidade”.
O que desejo é pôr em
xeque tal visão ou, quando menos, pôr-lhe ressalvas. O estoicismo não o fará
feliz — ao menos não no sentido que a palavra “felicidade” costuma ter
quando usada na cultura da autoajuda moderna. Não se trata de pensar de uma
dada maneira a fim de garantir dentro de si um sentimento cálido, vago.”
A isso acrescento, um outro texto que li ontem à noite e está disponível em:
Li, neste texto o seguinte:
[1] Texto traduzido por Donato Ferrara. John Sellars é pesquisador no Departamento de Filosofia do King’s College de Londres e autor de obras como The art of living (2003) e Stoicism (2006), além de diversos artigos sobre filosofia antiga e renascentista. Mantém o blog “Miscellanea Stoica“, voltado para um público não exclusivamente acadêmico, e um site oficial. Publicado em 15/10/2016 em “Miscellanea Stoica”.
“Um dos
principais preconceitos sobre o sábio estóico é seu extremo ascetismo, sua
recusa de todo prazer e, em geral, sua austeridade. Sim, o estoicismo
requer ascetismo. Mas que tipo de ascetismo? E o ascetismo estóico é
o objetivo do modo de vida filosófico ou é o meio preferido pelos estóicos para
atingir esse objetivo, a saber, uma vida boa e virtuosa, que traz alegria e
felicidade na vida cotidiana, em todas as circunstâncias da vida e quaisquer
que sejam? nessas circunstâncias (seja pobreza, morte de um ente querido, perda
de propriedade, exílio ou mesmo sofrimento físico)?
Não surpreende que tal
meta exija um esforço, que se encontra na própria etimologia do termo
ascetismo: askesis, em grego, é exercício, prática ou
treino. O ascetismo é, portanto, uma preparação, que exige certo
esforço. Ser estóico não é fácil. Mas o que é esse ascetismo estóico
e até que ponto ele impede o estóico de saborear os prazeres da vida
cotidiana? Até onde vai essa ascese, e que prazer ou que alegria a ascese
estóica nos permite experimentar?”
Fonte: https://stoagallica.fr/
(Grifo e Destaques meus)
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