domingo, 31 de dezembro de 2023

HISTÓRIA DA LIBERDADE RELIGIOSA: DA REFORMA AO ILUMINISMO


Esse livro; tendo sido publicado recentemente, mais ou menos há um ano, só terminei a leitura hoje!!!

Evidente que há capítulos como o 4, o 5 e 6 que me prenderam mais e vou com certeza, reler o livro e pensar nos temas ainda. Parabéns ao amigo e professor Humberto Schubert Coelho, de quem li recentemente outro texto recente e que já adicionei aos estudos aqui.

Esse que divulgo agora, segundo o próprio autor trata-se de “uma pesquisa de 12 anos que começa na universidade de Martinho Lutero termina na de Oxford, que sintetiza e tenta explicar o percurso histórico do conceito de liberdade, e como a filosofia e a teologia (também a religião popular) ajudaram a construir, em um primeiro momento, o conceito de liberdade religiosa que muitos pensam ser invenção da teoria política. De fato, a ideia de liberdades individuais, de que o sujeito pode crer, professar e declarar seu culto, tem peso capital sobre a vida política da Modernidade.”

Para conhecer mais:

Disponível em: https://www.facebook.com/humbertoschubert/videos/495557255347855 Acesso em: 08 de março de 2022.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ObvafgXJzCc. Acesso em: 31 de maio de 2022.

“A liberdade no Ocidente muitas vezes é abordada apenas sob o seu aspecto social e político, mas a fé nas suas diversas expressões, o interesse transcendente, o elemento religioso que cala fundo na alma humana, quase sempre tiveram papel central nesse tão importante debate. Caso as várias doutrinas e instituições religiosas não tivessem feito parte da nossa história, muito daquilo que pensamos e decidimos talvez nem teria sido cogitado.

Algumas das grandes oposições do imaginário moderno derivam dessa ascendência da religião sobre a cultura. Ortodoxia e heresia, ciência e religião, razão e fé, catolicismo e protestantismo, conformidade e dissidência, filosofia e teologia, fundamentalismo e secularização, dentre outras tantas tensões dialéticas, ajudaram a traçar as linhas de fronteira, bem como os debates, as definições e as tomadas de posições necessárias para a convivência, harmoniosa ou não, no mundo moderno.

Filósofos – religiosos, sem religião ou antirreligiosos – frequentemente contribuíram para o debate sobre a natureza da fé, os limites do saber teológico e o lugar da religião na sociedade. Não poucas vezes, elucubrações metafísicas, investigações éticas e teorias políticas impactaram, seja a percepção pública, seja mas próprias posições das igrejas a respeito de temas doutrinais. Teólogos ou líderes espirituais propiciaram transformações da consciência coletiva, ora atuando sobre a doutrina, ora sobre a experiência de fé da população em geral.

Embora a Reforma e o Iluminismo tenham posição de destaque nas histórias da filosofia ou da religião, nem sempre ficaram evidentes as conexões entre ambos e o debate fundamental sobre a natureza (metafísica) e sobre o lugar (ético e civil) da religião na vida dos indivíduos. É esta a lacuna que o presente estudo se propõe a preencher.

Série Ciência e Espiritualidade – Conjunto de publicações científicas sobre a espiritualidade em seus múltiplos aspectos. Objetiva divulgar trabalhos acadêmicos de qualidade e acessíveis a um público amplo.”

Muito bom, e acrescento aos meus estudos e consultas! O temas pinçados são indispensáveis aqui.

______.

ANTOGNAZZA, Maria Rosa. The Oxford Handbook of Leibniz. Oxford University Press, 2018.

BUTLER, J; CLARKE, S; HUTCHESON, F; MANDEVILLE, B; SHAFTESBURY, L; WOLLASTON, W. Filosofia moral britânica: textos do Século XVIII. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2014.

COELHO, Humberto Schubert. O pensamento crítico: história e método. Juiz de Fora, MG: Editora UFJF, 2022.

______. Filosofia perene: o modo espiritualista de pensar. São Paulo: Ed. Didier, 2014.

_______. História da liberdade religiosa: da Reforma ao Iluminismo. Petrópolis: Vozes Acadêmica; IHPV Instituto Homero Pino Vallada, 2022. (Série Ciência e Espiritualidade).

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant: o desenvolvimento moral pré-crítico em sua relação com a teodiceia. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

KANT, Immanuel. A religião nos limites da simples razão. Edições 70, Lisboa, 1992. 

______. Vorlesung über die philosophische Encyclopädie. InKant gesalmmelte Schriften, XXIX. Berlin, Akademie, 1980, pp. 8 e 12).

______. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Tradução e estudo de Vinicius de Figueiredo. São Paulo: Editora Clandestina, 2018.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. (Trad. Vinícius Figueiredo). Campinas, SP: Ed. Papirus, 1993.

______. Observações sobre o sentimento do Belo e do Sublime; Ensaio sobre as doenças mentais. Lisboa: Edições 70, 2012.

______. Die Religion innerhalb der Grenzen der bloßen Vernunft. W. de Gruyter, 1968.

LEIBNIZ. G. W. Novos ensaios sobre o entendimento humano. Lisboa: Edições Colibri, 1993.

______. Ensaios de teodicéia. São Paulo: Estação Liberdade, 2013.

______. Sistema novo da natureza e da comunicação da substância eoutros textos. Belo Horizonte, MG: Editora UFMG, 2002.

______; WOLFF, C; EULER, L.P; BUFFON, G.-L; LAMBERT, J. H; KANT, I. Espaço e pensamento: textos escolhidos. Organização de Márcio Suzuki (Org.). Tradução de Márcio Suzuki e Outros. São Paulo: Editora Clandestina, 2019. 286.

LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2012. 

WOLFF, C. Vernünftige Gedanken von Gott, der Welt und der Seele des Menschen, auch allen dingen überhaupt. In: Wolff, C. Corr (Hg.), Christian Wolff’s Gesammelte. Werke, I. Abteilung [Christian Wolff‘s Collected Works, Section I] (Band 2). Hildesheim: Olms (Erstausgabe 1720). Wolff, C. (2006). Einleitende Abhandlung über Philosophie im allgemeinen [Introductory essay on philosophy in general] (G. Gawlick und L. Kreimendahl, Übers. und Hgg.). Stuttgart/Bad Cannstatt: FrommannHolzboog (Erstausgabe 1728), 1983.


sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

REFLEXÃO MATINAL CLXVI: A VIDA FELIZ (II) E UMA ESPIRITUALIDADE LAICA

 

 

Pensando bem!

Mais uma reflexão sobre a Vida Feliz (De Vita Beata)

DOIS CAMINHOS... UM A SEGUIR...

Enquanto evito a “multidão”, cito Sêneca, para abrir a "reflexão matinal" sobre um livro de Luc Ferry que estou lendo:

"Quando se trata da felicidade, não é adequado que me respondas de acordo com o costume da separação dos votos : 'A maioria está deste lado, então, do outro está a parte pior'. Em se tratando de assuntos humanos, não é bom que as coisas melhores agradem à maioria. A multidão é argumento negativo. Busquemos o melhor, não o mais comum, aquilo que conceda uma felicidade eterna, não o que aprova o vulgo, péssimo intérprete da verdade. Chamo vulgo tanto àqueles que vestem a clâmide quanto aos que carregam coroas. Não olho a cor das roupas que adornam os corpos, não confio nos olhos para conhecer o homem. Tenho um instrumento melhor e mais confiável para discernir o verdadeiro do falso; o bem do espírito, só o espírito o há de encontrar”. (Sêneca. In: "Vida Feliz")

Reli, há poucos dias, um livrinho: A Carta sobre a felicidade, de Epicuro a Meneceu; em seguida retomei as Cartas de Sêneca a Lucílio, A vida feliz, de Sêneca e hoje encerrando a leitura de um recente livro de Luc Ferry sobre o tema. Aos anteriores, portanto, acrescentei esse do Luc Ferry: A vida feliz: sabedorias antigas e espiritualidade laica. E, como sempre faço, adiciono aqui e em breve farei uma retomada, inserida nos “exercícios espirituais” conforme anoto abaixo.

Sobre Sêneca: em seu livro A vida feliz se opõe a Epicuro que defende o prazer como a fonte da felicidade.

Você se dedica aos prazeres, eu os controlo; você se entrega ao prazer, eu o uso; você pensa que é o bem maior, eu nem penso que seja bom: por prazer não faço nada, você faz tudo.”  (X, 3 ).

Cabendo ressaltar que ‘Feliz’ na discussão entre estoicos e epicuristas, é o equivalente da palavra grega eudaimonia (εὐδαιμονία), que pode ser traduzida como “vida digna de ser vivida”, “vida boa”, “plenitude do ser”.

Os estoicos defendem que a única vida que vale a pena ser vivida é aquela de retidão moral, o tipo de existência à qual olhamos no final e podemos dizer honestamente que não nos envergonhamos; uma vida virtuosa.

Diz Sêneca que não devemos ter a felicidade como objetivo: “não é fácil alcançar a felicidade já que quanto mais avidamente um homem se esforça para alcançá-la mais ele se afasta”.(I,1) a conclusão é que a solução é ter como objetivo a virtude, a felicidade será consequência.

Ademais:

Quem, por outro lado, forma uma aliança, entre a virtude e o prazer, obstrui qualquer força que uma possa possuir pela fraqueza da outra, e envia liberdade sob o jugo, pois a liberdade só pode permanece inconquistável enquanto não sabe nada mais valioso do que ela mesma: pois começa a precisar da ajuda da Fortuna, o que é a mais completa escravidão: sua vida torna-se ansiosa, cheia de suspeitas, tímida, temerosa de acidentes, esperando em agonia por momentos críticos. Você não oferece à virtude uma base sólida e imóvel se você a colocar sobre o que é instável: e o que pode ser tão instável quanto a dependência do mero acaso e as vicissitudes do corpo e daquelas coisas que agem sobre o corpo?”. (XV, 3 )

Fica claro, portanto, uma recomendação: a de que não devemos associar a virtude ao prazer, pois se assim o fizermos acabaremos adentrando territórios não virtuosos, seduzidos pelo prazer "desregrado". 

Assim, seguindo essa reflexão, acrescento como disse acima o Livro do Ferry que acabei de ler e citei acima; motivo dessas anotações de hoje.

Vejamos, de início, o que me chamou atenção nesse texto: principalmente a defesa de uma “espiritualidade laica” fundamentada num “racionalismo crítico” que ele mesmo aponta como ter sido influenciada por Immanuel Kant, Karl R. Popper, Alexis de Tocqueville e o “programa de trabalho de Victor Hugo”

Enfim, terminando de ler esse livro hoje e destaco que,

“Neste livro, o filósofo francês Luc Ferry nos brinda com uma investigação profunda e instigante sobre a busca pela felicidade e por significado na vida. Ele nos conduz através das correntes de pensamento filosófico e da espiritualidade laica, explorando o legado da mitologia e sua relevância para os desafios contemporâneos.

Um texto que nos leva a refletir sobre os princípios fundamentais da vida feliz, desafiando nossas perspectivas e encorajando-nos a desvendar nossas próprias escolhas e propósitos.”

La vie heureuse - Luc Ferry

Présentation:

Des scientifiques, de plus en plus nombreux, nous promettent que la « révolution de la longévité » est pour demain, que nos petits-enfants pourront vivre cent cinquante ans, voire davantage, encore jeunes et en bonne santé physique et psychique. Ce livre fait le point sur ces recherches, sépare science et fantasmes et pose la question de fond : à quoi bon vivre aussi longtemps ?

Face à cette interrogation, deux conceptions de la vie heureuse s’opposent. La première nous vient de ces sagesses anciennes que la psychologie positive remet au goût du jour. Elles nous invitent à dire « oui au réel », à nous résigner à l’ordre naturel des choses afin d’accepter dans la sérénité la vieillesse et la mort. Les modernes philosophies de l’histoire et de la liberté plaident pour une tout autre spiritualité : si une éducation tout au long de la vie, voire une perfectibilité potentiellement infinie, sont le propre de l’Homme, allonger la vie en bonne santé pourrait offrir à l’humanité l’occasion de devenir enfin moins bornée, moins violente, et, pourquoi pas, plus sage qu’elle ne le fut au xxe siècle.

Ce sont les termes de ce débat désormais crucial que présente ce livre. L.F.”

Prossigo!

(Grifos e destaques são meus)

______.

FERRY, Luc. La vie heureuse: sagesses anciennes et spiritualité laïque. Paris: Editions L’Observatoire, 2022

______. A vida feliz: sabedorias antigas e espiritualidade laica. Petrópolis, RJ: Vozes Nobilis, 2023.

Para saber mais sobre o tema:

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.

EPICURO. Carta sobre a felicidade: a Meneceu. São Paulo: Ed. Unesp, 1999.

ESPINOSA, Maria José Hernández. Epicuro e Séneca: leyendo Carta a Meneceo y La vida feliz. Publicacions de la Universitat de València, 2009.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. São Paulo: Ed. Círculo do livro, 1992.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 625; 907-912; 919-921 ).

LEBRUN, Gérard. O conceito de paixãoIn: NOVAES, Adauto (org.). Os sentidos da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

______. Da tranquilidade da alma. (precedido de "Da vida retirada", seguido de "Da felicidade". Porto Alegre, RS: L&PM, 2009.

______. Vida Feliz. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.


terça-feira, 26 de dezembro de 2023

REFLEXÃO MATINAL CLXV: "O ASCETISMO DOS ESTÓICOS: UM MODO DE VIDA AUSTERO?" (II)

Relendo antigas anotações e acrescentando outra obra de John Sellars, sobre a qual sugiro uma resenha de Donald Robertson, especialista em BCT/TCC:

Link da resenha: https://donaldrobertson.substack.com/p/book-review-lessons-in-stoicism-by-john-sellars-3b83f60158c4

E, também de John Sellars: The Routledge handbook of the stoic tradition[1]Routledge, 2017.

"Tornar-se um estudante de filosofia na antiguidade não significava meramente aprender uma série de argumentos complexos ou o engajamento no debate intelectual. Antes, envolvia o engajamento em um processo de transformar o caráter (ethos) e a alma (psique), uma transformação que por sua vez transformaria o modo de vida (bios) do indivíduo." (SELLARS, 2003, p. 23)

Ainda segundo Sellars, Epictetus, por exemplo, descreve a filosofia da seguinte maneira: 

A filosofia não promete obter qualquer coisa exterior para o homem, pois se o fizesse ela estaria admitindo algo que se encontra fora de seu material apropriado (hules). Pois assim como a madeira é o material (hule) do carpinteiro, e o bronze o do estatuário, também a própria vida de cada indivíduo (ho bios autou hekastou) é o material da arte de viver (tes peri bion technes). (EPICTETUS, Discursos 1.15.2, apud SELLARS, 2003, p. 56)

Então, em meio a tanta confusão, momentos de profunda tristeza, donde sempre nos recuperamos e nos colocamos a pensar no hábito a que tantos se deixam seduzir (eu mesmo me deixei levar noutro tempo): do pessimismo, por um lado e do extremo esforço em "mudar o mundo" por outro lado.

Ora, na empreitada a que me dedico há algum tempo, é fundamental esquecer pessimismos e o desejo de mudar o que nos é externo, que está fora do nosso alcance. Como tenho postado aqui, e pratico: "medito andando" e decidi, há alguns anos, aprofundar sistematicamente uma intensa busca por "eustatheia" (tranquilidade) e "euthymia" (crença em si). É projeto em andamento “há séculos” que às vezes por descuido, foi interrompido. Mas, retomando sigo o conselho sugerido pelos estoicos; mais especificamente Sêneca, Epictetus e Marco Aurélio; entre os que vou acrescentando à medida que sigo nos estudos sobre o tema!

Sobre a mudança de hábitos antigos por novos hábitos (mais saudáveis), trabalho incessante e necessário. É bastante caraterística a reflexão proposta por Epictetus em relação ao hábito e o habituar-se a determinadas ações, segundo ele, estreitamente ligadas aos aspectos mentais de cada indivíduo. A preocupação sempre notada na leitura que se faz de sua obra, como acima, é a distinção entre o que é interno (encargos nossos) e o que é externo (não são encargos nossos), conforme (EPICTETUS, em Encheiridion, I.

Ou seja, não é necessário o reconhecimento nas opiniões alheias, mas nas próprias opiniões. Importante aqui, os hábitos novos entre os quais se refere: o autodomínio (enkrateia), a perseverança (karteria) e à paciência (anexikakia) também extraído do Encheirídion:

“Quanto a cada uma das coisas que sucedem contigo, lembra, voltando a atenção para ti mesmo, de buscar alguma capacidade que sirva para cada uma delas. Caso vires um belo homem ou uma bela mulher, descobrirás para isso a capacidade do autodomínio. Caso uma tarefa extenuante se apresente, descobrirás a perseverança. Caso a injúria, a paciência. Habituando-te desse modo, as representações não te arrebatarão.”

Ao voltar-se para si, é imperativo que se adote novos hábitos, mas contrários ao mero vício. O que se obtém de tais conselhos é que, estando ciente de que deseja a mudança, de que o vício incomoda, deve-se mudar de direção. Epictetus chega a propor que quem não se opõe a antigos hábitos, quem não os supera nem se torna filósofo.

É só uma reflexão pessoal. Mas, muito a fazer!

______,

ARRIANO FLÁVIO. As Diatribes de Epicteto. Livro I. Tradução, introdução e comentário Aldo Dinucci. Universidade Federal de Sergipe. Série Autores Gregos e Latinos Coimbra, Imprensa da universidade de Coimbra, 2020.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

DINUCCI, A. Fragmentos menores de Caio Musônio Rufo; Gaius Musonius Rufus Fragmenta MinoraIn: Trans/Form/Ação. vol.35 n.3 Marília, 2012.

______. Introdução ao Manual de Epicteto. 3. ed. São Cristóvão: EdiUFS, 2012.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.

______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flávio Fontenelle Loque, Loraine Oliveira. São Paulo: É Realizações, Coleção Filosofia Atual, 2014.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

______. Silêncio: o poder da quietude em um mundo barulhento. Rio de Janeiro, RJ: Harper Collins, 2018.

HUIZINGA, Johan. Nas sombras do amanhã: um diagnóstico da enfermidade espiritual de nosso tempo . - Trad. Sérgio Marinho, Goiânia-GO: Editora Caminhos, 2017.

INWOOD, Brad. Reading Seneca: stoic philosophy at Rome. Oxford, Reino Unido: Clarendon Press, 2005.

IRVINE, William B. A Guide to the Good Life: the ancient art of Stoic joy. New York: Oxford University Press, 2009.

KONSTAM, David (ed.); GARANI, Mytro (ed.); REYDAMS-SCHILS, Gretchen (ed.)manual Oxford de filosofia romana. Universidade de Oxford, 2023. Link para a obra: Disponível em: https://academic.oup.com/edited-volume/45762. Acesso em: 22 de março de 2023.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). ______. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 893-912 "vícios e virtudes)

LEBRUN, Gérard. O conceito de paixão. In: NOVAES, Adauto (org.). Os sentidos da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive Psychotherapy. Londres  :Karnac Books, 2010.

______. Pense como um imperador. Trad. Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020.

______. How to think Like a roman emperor: the stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019.

SÊNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

____. Sobre a clemência. Introdução, tradução e notas de Ingeborg Braren. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

____. Sobre a ira. Sobre a tranquilidade da alma. Tradução, introdução e notas de José Eduardo S. Lohner. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2014.

____. Moral Essays. Tradução de John W. Basore. Cambridge, EUA: Harvard University Press, 1985.  https://www.loebclassics.com/.

______. Sobre a brevidade da vida. Porto Alegre, RS: L&PM, 2007.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

SELLARS, J. The Art of Living: The Stoics on the Nature and Function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.

______. Lessons in Stoicism: what ancient philosophers teach us about how to live. Penguim, 2019.

 



[1] "The ancient philosophy of stoicism has been a crucial and formative influence on the development of Western thought since its inception through to the present day. It is not only an important area of study in philosophy and classics, but also in theology and literature.

The Routledge Handbook of the Stoic Tradition is the first volume of its kind, and an outstanding guide and reference source to the nature and continuing significance of stoicism. Comprising twenty-six chapters by a team of international contributors and organised chronologically, the Handbook is divided into four parts:

  • Antiquity and the Middle Ages, including stoicism in Rome; stoicism in early Christianity; the Platonic response to stoicism; and stoic influences in the late Middle Ages.
  • Renaissance and Reformation, addressing the impact of stoicism on the Italian Renaissance, Reformation thought, and early modern English literature including Shakespeare
  • Early Modern Europe, including stoicism and early modern French thought; the stoic influence on Spinoza and Leibniz; stoicism and the French and Scottish Enlightenment; and Kant and stoic ethics
  • The Modern World, including stoicism in nineteenth century German philosophy; stoicism in Victorian culture; stoicism in America; stoic themes in contemporary Anglo-American ethics; and the stoic influence on modern psychotherapy.

An invaluable resource for anyone interested in the philosophical history and impact of stoic thought, The Routledge Handbook of the Stoic Tradition is essential reading for all students and researchers working on the subject." (Fonte: Amazon)

 

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

REFLEXÃO MATINAL CLXIV. SOBRE AUTOCONHECIMENTO E AUTOFORMAÇÃO: A NATUREZA DA EXPERIÊNCIA INTERIOR (II)

(IMAGEM: "Pinterest")

Mais um dia se inicia...Menos um?

Cada vez que isso acontece fico mais convencido de que mudar o mundo é sempre o projeto mais fácil e de que o mais importante não é isso. Pelo contrário: conhecimento de si, paz interior e elevação moral é sim o essencial! De nada serve projetar-se no mundo, perder-se em meio a busca de acessórios, vãos, e desprezar o essencial. Praticar abnegação, enfrentar minhas batalhas interiores definem mesmo o meu projeto de vida e não há corrupção externa que me incomode a ponto de desviar-me do foco (Marquinhos, outono de 2016)

Percebe-se, infelizmente, que “[...] perdeu-se o significado profundo de autenticidade. Assim, muita gente acha quase impossível, em nosso tempo, compreender que Sócrates, no preceito ‘conhece-te a ti mesmo’, insistia no mais difícil de todos os desafios. E julga também quase impossível compreender a que Kierkegaard se referia ao proclamar: ‘Aventurar-se, no sentido mais elevado, é precisamente tomar consciência de si mesmo...’ ” (MAY, 1990. p. 47)

Pensando ainda,

"Não é verdade que o homem, propriamente e originalmente, aspira a ser feliz? Não foi o próprio Kant quem reconheceu tal fato, apenas acrescentando que o homem deve desejar ser digno da felicidade? Diria eu que o homem realmente quer, em derradeira instância, não é a felicidade em si mesma, mas, antes, um motivo para ser feliz (Frankl).

...

Na verdade, o homem [...] só é completamente ele mesmo quando fica absorvido pela dedicação a uma tarefa, quando se esquece de si mesmo no serviço a uma causa, ou no amor a uma outra pessoa. É como o olho, que só pode cumprir sua função de ver o mundo enquanto não vê a si próprio (Frankl)

Agostinho, nesse sentido propõe um "balancete"...

"O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Mas, direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis, se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não a podereis ter por legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na aplicação de Sua justiça. Procurai também saber o que dela pensam os vossos semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses nenhum interesse têm em mascarar a verdade, e Deus muitas vezes os coloca ao vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza do que o faria um amigo. Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas. Faça o balanço de seu dia moral, como o comerciante faz o de suas perdas e seus lucros; e eu vos asseguro que a primeira operação será mais proveitosa do que a segunda. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida". (Santo Agostinho).

Porquanto,

Comecei a manhã, com os “exercícios” de sempre, pensando e refletindo sobre a ideia de “Bem supremo”.

Entendo o Bem supremo como a “Lei natural”:

A isso cheguei, após ter relido, mais uma vez estudando algumas questões no LE, entre elas, principalmente as 614-621, 919 e a 964, e outros autores e obras de certa forma trataram semelhante ou diversament as questões conforme: https://marcosfilosofiamoderna.blogspot.com/2023/03/reflexao-vespertina-clii-forca-da-razao.html (desenvolvendo).

Ademais:

É necessário que o Espírito se adapte à Lei; que siga a Lei, que obedeça a Lei. E, o que quer que aconteça, é necessário que se pense que era mesmo para acontecer; e que jamais se revolte, “e que se siga a Divindade, da qual todas as coisas provêm.”

“[...] segui o exemplo de Cícero:

'Conduz-me, ó Pai Excelso e Senhor do Mundo, Para onde quer que queiras, nenhum obstáculo me impedirá de seguir-te. Diligente, estarei junto a ti. E caso eu não queira fazer o que é possível ao intrépido, ainda assim seguir-te-ei gemendo e infeliz. O Destino conduz quem lhe obedece e arrasta a quem lhe opõe resistência.'

Que vivamos assim, que falemos assim; que o destino nos encontre prontos e diligentes. Eis o espírito elevado que confiou a si mesmo ao destino. E, em oposição a ele, o fraco e degenerado, que luta contra e julga mal a ordem do mundo, e prefere corrigir os Deuses do que a si mesmo.”

Sapere Aude!

(Carta CVII, de Sêneca a Lucílio. Tradução do original em latim: Professor Aldo Dinucci. In: PROMETEUS - VIVAVOX – Filosofia em revista. Ano 4 - no.3 fevereiro/2008).

______.

BERGSON, Henri, 1859-1941. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. Trad. Paulo Neves. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. (Coleção tópicos)

______. Evolução criadora. São Paulo: Editora Unesp, 2010.

______. Ensaio sobre os dados imediatos da consciência. São Paulo: Edipro, 2020.

______. A energia espiritual. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2021.

BLÖSER, Claudia; STAHL, Titus (eds.). The Moral Psychology of Hope. Rowman and Littlefield, 2020. 302pp.

COELHO, Humberto Schubert. Genealogia do Espírito. Brasília, DF: 2012.

______. Filosofia perene: o modo espiritualista de pensar. São Paulo: Ed. Didier, 2014.

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DESCARTES, R. Oeuvres. Org. C. Adam e P. Tannery. Paris: Vrin, 1996. 11v. [indicadas no texto como Ad & Tan]

_______. Descartes: oeuvres et lettres. Org. André Bidoux. Paris: Gallimard, 1953. (Pléiade).

______. Discursos do Método; Meditações; Objeções e Respostas; As Paixões da Alma; Cartas. (Introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gerard Lebrun; Trad. de J. Guinsberg), Bento Prado J. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Pensadores).

______. O mundo (ou Tratado da luz) e O Homem. Apêndices, tradução e notas: César Augusto Battisti, Marisa Carneiro de Oliveira Franco Donatelli. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009.

EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

FOOT, Philippa. Natural goodness. Clarendon Press, 2003.

______. Moral dilemmas: and other topics in moral philosophy. Oxford University Press, 2003)

______. Virtues and Vices: and other essays in moral philosophy. OUP Oxford; Reprint, 2003). Informações sobre a a autora: https://pt.wikipedia.org/wiki/Philippa_Foot

FRANKL, Viktor. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Aparecida, SP: Ideias e letras, 2005.

______. Yes to Life: In spite of everything. Beacon Press, 2020.

______. Em busca de sentido. 25. ed. - São Leopoldo, RS: Sinodal; Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

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______. Teoria e terapia das neuroses: introdução à logoterapia e à análise existencial. São Paulo: É Realizações, 2016.

FREUD, Sigmund. Inibição, sintoma e angústia. São Paulo: Companhia das letras, 2014.

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______. Die Träumdeutung. Hamburg: Nikol, 2011.

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______. O mal-estar na civilização. São Paulo: Penguin/Companhia das Letras, 2011. 

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JUNG, Carl Gustav. Civilização em transição. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas, Vol. 10/3). 

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______. O eu e o inconsciente. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas, Vol. 7/2.)

______. Estudos experimentais. 6. ed. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas, Vol. 2)

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KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Trad. Guillon Ribeiro, Brasília, DF: Feb, 2013. (“As virtudes e os vícios” - Q. 893-912; 907-912: "paixões"; 893-906; e 920-933: "felicidade")

LEBRUN, Gérard. O conceito de paixão. In: NOVAES, Adauto (org.). Os sentidos da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

MASSI, C. D. As leis naturais e a verdadeira felicidade. Curitiba: Kardec Books, 2020.

MASSI, C. D. Espírito e matéria: diálogos filosóficos sobre as causas primeiras. Curitiba: Kardec Books, 2020.

 


 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

AINDA O PERÍODO "PRÉ-CRÍTICO". VÍNCULOS TEMÁTICOS SOBRE A METAFÍSICA

 

Seguindo com a pesquisa, passando por textos que, mesmo tratando de diversos temas mais distantes do principal e mais urgente, percebo aproximações e, por estarem, em certa medida, "na esteira" das discussões, de há alguns anos para cá, retorno e me fixo sempre nos clássicos. 

Aqui, sem sairmos das leituras tradicionais, retornei pela manhã, à discussão entre Leibniz e Locke, relendo Os Novos ensaios sobre o entendimento humano, que apresentam a teoria do conhecimento de Leibniz e sua crítica ao empirismo clássico de John Locke.

Leio esse debate que se estabelece na obra de Leibniz sobre a obra de Locke sempre focado em elementos com os quais Immanuel Kant, se posiciona e discute desde o período pré-crítico até suas formulações do período Crítico.

Além das discussões sobre o conhecimento, uma outra questão a da origem do mal (bem resolvida, em mim) como não sendo de origem no “Criador”, mas no próprio homem, acabou me conduzindo para alguns outros autores como Wolff, Baumgartem; os moralistas ingleses, Hume; Berkeley, Hobbes e, agora mais atentamente, retomei a releitura dessa obra de Leibniz: The Oxford Handbook of Leibniz; um denso volume que parece me ajudar como um ponto de contato ao caráter interdisciplinar da ampla produção de leibniziana, nos vários domínios para os quais Leibniz contribuiu. Maria Rosa Antognazza reúne especialistas para a elaboração da obra e oferece uma imagem bem convincente sobre os empreendimentos de Leibniz. 

Enfim, prosseguindo!

I. Acrescento hoje esta obra de  LEIBNIZ

Em 1714, o Príncipe Eugénio de Sabóia pede a Leibniz um resumo do seu "pensamento". Como resposta recebe os Principes de la Nature et de la Grace fondés en raison. Poucos meses depois, Leibniz inicia a redação da "Monadologia". Os dois textos são, assim, contemporâneos e, por isso, normalmente editados em conjunto, o que se justifica: correspondem à mesma fase do pensamento de Leibniz e, ainda que foquem os mesmos problemas sob ângulos nem sempre idênticos, possuem uma forma literária muito semelhante. Nenhum dos textos foi publicado em vida de Leibniz".

______.

II. Sistema novo da natureza e da comunicaçao da substância eoutros textos.

“Pretende-se investigar os elementos centrais do conceito de substância no pensamento de Gottfried Wilhelm Leibniz, tomando a complexidade de tal conceito e suas diversas formulações como prerrogativa para analisar os diversos textos do autor, observando os caminhos argumentativos trilhados nessas obras e o desenvolvimento de outros de seus temas centrais e conceitos chaves - notavelmente, a harmonia preestabelecida e o papel de Deus em sua cosmologia. Parte-se, também, da premissa de que a heterogeneidade e a polissemia conceitual do autor podem ser tomadas como qualidades de um sistema de particular riqueza filosófica, que não se apresenta em um único texto dito “canônico” do autor”.

______.

ANTOGNAZZA, Maria Rosa. The Oxford Handbook of Leibniz. Oxford University Press, 2018.

BUTLER, J; CLARKE, S; HUTCHESON, F; MANDEVILLE, B; SHAFTESBURY, L; WOLLASTON, W. Filosofia moral britânica: textos do Século XVIII. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2014.

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant: o desenvolvimento moral pré-crítico em sua relação com a teodiceia. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

LEIBNIZ. G. W. Novos ensaios sobre o entendimento humano. Lisboa: Edições Colibri, 1993.

______. Ensaios de teodicéia. São Paulo: Estação Liberdade, 2013.

______. Sistema novo da natureza e da comunicaçao da substância eoutros textos. Belo Horizonte, MG: Editora UFMG, 2002.

______; WOLFF, C; EULER, L.P; BUFFON, G.-L; LAMBERT, J. H; KANT, I. Espaço e pensamento: textos escolhidos. Organização de Márcio Suzuki (Org.). Tradução de Márcio Suzuki e Outros. São Paulo: Editora Clandestina, 2019. 286.

LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2012. 

PHILONENKO, Alexis. L'Oeuvre de Kant: la philosophie critique. Tome I. J. Vrin, 1996. (col. Bibliothèque d'histoire de la philosophie)

RATEAU, Paul. Leibniz on the Problem of Evil. Oxford University Press, 2019.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

V CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE E ESPIRITUALIDADE

 


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"Explorando as Perspectivas da relação Mente-Cérebro Sob a ótica da Saúde, das Ciências e da Filosofia

É com grande entusiasmo que comunicamos que a próxima edição do Congresso Internacional de Saúde e Espiritualidade tem como foco os estudos mais recentes na área das relações mente-cérebro, especialmente envolvendo as experiências espirituais.

Uma abordagem ímpar do tema a partir de aspectos históricos, filosóficos e científicos, que perpassam pela prática clínica dos profissionais de saúde e pelos mais diversos pesquisadores, líderes no segmento.

Trata-se da quinta edição do congresso que busca iluminar as fronteiras emergentes da ciência e da espiritualidade/religiosidade, trazendo à tona descobertas que estão transformando nosso entendimento sobre a complexidade do ser humano.

Na última edição do Conupes, em 2023, reunimos mais 500 congressistas de 15 estados e 95 cidades. E houve uma marcante novidade, a criação e integração no congresso do Conupes Humanas, que reuniu acadêmicos e profissionais das áreas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Assim, todas as áreas de investigação acadêmica da espiritualidade estão englobadas no Conupes 2024!"

O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...