quarta-feira, 28 de agosto de 2019

O JULGAMENTO DE SÓCRATES


A imagem pode conter: atividades ao ar livre
(IMAGEM: "Sócrates e Platão". Academia de Atenas. Escultor: Picarelli).

O ator “Tonico Pereira acumula 70 anos de vida e 50 de carreira. Para não deixar a data passar em branco, aceitou bancar um desafio inédito.

Após cumprir temporada no Rio, ele estreia neste sábado (21), em São Paulo, seu primeiro monólogo: “O Julgamento de Sócrates”, com texto e direção de Ivan Fernandes.

Inspirado pelo texto de Platão que narra o julgamento responsável por condenar o filósofo à morte, o espetáculo debate o pensamento no mundo contemporâneo com Tonico na pele de Sócrates.

“Acho que Sócrates visualizou e pensou sobre isso tudo que vivemos hoje no Brasil já naquela época, porque estamos num momento de hipocrisia deslavada. Sócrates era um crítico dessa hipocrisia”, disse o ator ao Metro Jornal na estreia carioca da montagem.

Para ele, seguir em atividade como artista é uma transgressão. “Temos que correr atrás até morrer, é uma maratona infinita. A gente tem uma profissão de resistência”, declarou.


O Julgamento de Sócrates com Tonico Pereira:

Ttrecho 01: https://www.youtube.com/watch?v=z3KnTwUy_-s


______.
Link do artigo de 20 de julho de 2018:
https://www.metrojornal.com.br/entretenimento/2018/07/20/tonico-pereira-estreia-monologo-de-filosofo-que-se-contrapoe-hipocrisia-da-sociedade.html?fbclid=IwAR0I3ueA_mJUtb6HWZwFib9OJ_5nsg8sJvUt2cC8NgZYTsHtsH9KnJcwh9I

A VIDA PRECISA DE SENTIDO: LEBEN BRAUCHT SINN


Resultado de imagem para em busca de sentido

Comecei a reler a obra desse autor, no difícil ano de 2014, hoje iniciei mais uma releitura da obra; lida em fins dos 90, à qual cheguei à medida que estudava outro assunto sobre a história judaica. 

Não contava, desde então, com a excelente oportunidade de me aprofundar na  edificante releitura. De profunda reflexão existencial, destaco aqui o trecho seguinte:

“A liberdade do ser humano, a qual não se lhe pode tirar, permite-lhe, até o último suspiro, configurar a sua vida de modo que tenha sentido [...] Se é que a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá”

E, hoje, vi esse vídeo "Leben braucht sinn":

Por isso, fui novamente, reler o livro: "Em busca de sentido"; mantidas ainda, as leituras costumeiras que tenho feito de suas obras e sobre o seu trabalho!

______.
FRANKL, Viktor. Em busca de sentido. 25. ed. - São Leopoldo, RS: Sinodal; Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. O Sofrimento Humano: Fundamentos antropológicos da psicoterapia. Trad. Bocarro, Karleno e Bittencourt, Renato. Prefácio, Marino, Heloísa Reis. São Paulo: É Realizações, 2019.

______. The doctor and the soul: from psycotherapy to logotherapy. New york: Bantam Books, 1955.

______. Psycotherapy and existencialism: selected papers on logotherapy. New York: Simon and Schuster, 1970.

______. Angst und Zwang. Acta  Psychotherapeutica, I, 1953, pp. 111-120.

______. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Aparecida, SP: Ideias e letras, 2005.

______. Viktor. Teoria e terapia das neuroses: introdução à logoterapia e à análise existencial. São Paulo: É Realizações, 2016.




domingo, 25 de agosto de 2019

HISTÓRIA DA MENTE HUMANA PELO FIO CONDUTOR DO SONHO



Fazendo uma pausa nos estudos; nas leituras obrigatórias.

Atento, desde os tempos de graduação a esse tema, procuro ver nesse livro a discussão apresentada por Sidarta Ribeiro[1] sobre um tema instigante. Ainda, perceptível, no interior da obra, que o autor abre uma série de questões peculiares a esse tipo de pesquisa, para a "relação mente-corpo", um dos temas a que dedico grande parte das minhas leituras em filosofia e sobre as mais recentes pesquisas. 

“A partir de informações históricas, antropológicas, psicanalíticas e literárias, além das referências mais atualizadas da biologia molecular, da neurofisiologia e da medicina, o neurocientista compõe uma narrativa instigante sobre a ciência e a história do sonho.

O que é, afinal, o sonho? Para que ele serve? Como extrair sentido de seus tantos símbolos, repletos de detalhes e significados? 

Neste livro, o renomado neurocientista Sidarta Ribeiro responde a essas e muitas outras questões sobre um dos grandes enigmas da humanidade ao recuperar narrativas literárias e históricas do mundo todo. Ele mostra como os sonhos eram importantes às civilizações antigas, como no Egito e na Grécia, situando-os no cerne da ciência e da política, ou como as culturas ameríndias preservam alguns dos exemplos mais bem documentados de profecias oníricas capazes de guiar povos inteiros. Ao mobilizar os principais debates da psicanálise, da medicina, da biologia molecular e da neurofisiologia, O oráculo da noite apresenta uma história da mente humana pelo fio condutor do sonho.”
(grifos meus)

Dado que, segundo o próprio autor defende, estamos longe da solução do problema; e, é isso mesmo que justifica meu interesse em retornar e me manter interessado sobre o assunto, conforme bibliografia geral, que tenho acompanhado sobre o tema e indicado aqui, nesse blog. 

Lendo, pois, a abordagem de Sidarta sobre esse instigante e, às vezes, controverso tema...

Link da editora para apreciação de parte da obra:

______.
RIBEIRO, Sidarta. O oráculo da noite: a história e ciência do sonho. São Paulo: Companhia das letras, 2019.





[1] SIDARTA RIBEIRO é mestre em biofísica pela UFRJ, doutor em comportamento animal pela Universidade Rockefeller, pós-doutor em neurofisiologia pela Universidade Duke, professor titular de neurociência, fundador e vice-diretor do Instituto do Cérebro da UFRN. Publicou mais de cem artigos científicos em periódicos internacionais. O oráculo da noite é seu primeiro livro pela Companhia das Letras.


MEDITAÇÃO MATINAL XLVII: A QUESTÃO PRIMEIRA


“Nosso filosofar afastou-se cada vez mais do elementar, perdendo a conexão com as questões primeiras que o homem tem a fazer sobre a vida e o mundo. Cada vez mais se tornou cativo de questões secundárias.” (Albert Schweitzer)

Nesse sentido, sempre desviando o foco; por manutenção da Serenidade [εὐροίας], e a Paz [Ἀταραξία] (EPICTETO. D. II.XVIII.28-29)”, postei já, mais de uma vez, este que hoje estou relendo entre outros, um "fragmento" traduzido pelo professor Aldo Dinucci:

"E, caso escolheres ater-te sobretudo ao que é útil, não sintas aborrecimento diante das dificuldades, ponderando quantas coisas na vida já te ocorreram não como desejavas, mas como era útil." (Fragmento 27 - "ESTOBEU" 3.7.22 - Capítulo 7: "Sobre a Coragem").

E, foi assim, a meditação da manhã, continuo estudando e escrevendo um capítulo de livro e revisando dois outros textos para submissão; enquanto aproveitei uma pausa com a pesquisa principal, e anotei esses trechos de obras em que se nota um convite a estarmos atentos a um mod simples de reflexão, um modo que realmente esteja ao nosso alcance e que não estamos exercitando, perdendo tempo com inutilidades. Necessário que façamos opções e prossigamos. Convite sempre reiterado, nessa linha de interpretação em que estamos desenvolvendo esse texto. Tudo o que temos lido tem mostrado e exigido isso. Então, bem observado que a prática visada concernente à filosofia moral, numa perspectiva estoica, por exemplo, tem sempre como motivação a busca individual pela Virtude.

Ressalto isso, para mim, principalmente, anotando essa referência à um grande pensador da simplicidade. Falta-nos longa caminhada ainda.

"Todos devemos estar preparados para o fato de a vida querer nos arrebatar a fé no Bem e na Verdade, e o entusiasmo por elas. Entretanto, nada nos força a sacrificar esses Valores."[1]

Prossigamos...

______.

SCHWEITZER, Albert. Filosofia da civilização: queda e reconstrução da civilização - civilização e ética. São Paulo: Ed. Unesp, 2013.



[1]  SCHWEITZER, Albert. In: Minha infância e mocidade: histórias africanas. Edições Melhoramentos.

sábado, 24 de agosto de 2019

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XV: QUE PRINCÍPIOS, PROKOPTON?


A verdadeira paz neste mundo germina no silêncio de cada um...  No simples fechar dos olhos sem que ninguém esteja vendo, abre-se uma alegria indizível...  É o despertar da alma!:
(IMAGEM: "Pinterest") 

"Devemos viver como médicos, tratando a nós mesmos com a razão, contra os males de não usá-la". (Musónio Rufo[1])



Ainda tomando notas das leitura a que me disponho sobre estoicismo.

E, o que foi a reflexão de hoje, escrevo aqui meramente para possível releituras futuras, sempre no firme propósito de um "προκόπτον – prokopton”. De quem aspira a tão distante de mim, Sabedoria.

Das frequentes leituras sobre estoicismo, aprendo um dos mais notórios princípios para prática dessa filosofia: o conjunto de “exercícios práticos”

Dado, portanto, que objetivos estoicos estão sempre ajustados de forma a dar mais valor à ação do que às palavras; difícil empreendimento, ainda.

Agir, para o indivíduo que pretenda ser um prokopton, ou disso se aproximar, é prioridade, devido ao fato de que, verdadeiramente, é a ação que mostra como uma pessoa realmente é. Daí a incessante busca, o difícil empreendimento, dito acima, por realizar tais exercícios práticos no cotidiano para alcançar a eustatheia (tranquilidade) e euthymia (crença em si) como já anotei aqui nessa página, tempos atrás. 

Enfim, só vou dando continuidade às repetidas tentativas de que, escrevendo, evite falar, cada vez mais:

“Eis aqui uma reflexão que te desprenderá ainda mais da gloríola: é que não podes refazer agora a tua vida, nem conseguir que desde a mocidade ela se apresente como a de um filósofo: pelo contrário, para muita gente e para ti mesmo, tornou-se bem patente quando estavas longe da filosofia. E assim ficaste perplexo ao considerar que já não te é fácil adquirir a reputação de filósofo: o próprio fundamento desta pretensão a combate. Porém, se viste claramente o ponto em que as coisas estão, não te importes com a reputação que possas ter e contenta-te vivendo o resto da tua vida conforme a natureza quer. Atende bem ao que ela quer, e que mais nada te distraia: porque bem reconheceste — depois de quantos erros! — que não encontraste a felicidade em parte alguma: sofismas, riqueza, glória, deleites, nada disso ta proporcionou. Onde está ela, pois? — Na prática do que a natureza do homem reclama. — Como o praticarás? — Tendo princípios de onde derivem as tuas tendências e as tuas ações. — Que princípios? — Os que se relacionam com o bem e o mal: o conhecimento de que o bem, para o homem, reside naquilo que o torne justo, sensato, corajoso, livre; e o mal, no que produza os vícios contrários a estas virtudes[2].”

Talvez, interessante seja até uma reflexão sobre o que os estoicos chamavam de "indiferentes preferíveis"...




[1] (CAIO MUSÓNIO RUFO - Filósofo estóico do primeiro século da “era cristã”. Nascido em Volsínios, na Etrúria. Viveu entre 25 d.C. - 95 d.C.).

[2] MARCO AURÉLIO. Meditações. VIII. 1. Texto de referência, na tradução de Virgínia de Castro e Almeida. (By Donato Ferrara).


______.
Para saber mais sobre o tema:

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.


SIMPÓSIO: A MISÉRIA DA CIÊNCIA SEM FILOSOFIA




"Nos próximos dias 26 e 27 de setembro, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro (RJ), sediará o simpósio ‘A miséria da ciência sem filosofia’, onde 12 pesquisadores refletirão sobre as contribuições mútuas entre ciência e filosofia, a partir de questões fundamentais como a origem e a evolução do universo tratadas pela cosmologia.

O simpósio abordará temas como o cenário de interpretações sobre o real e o virtual associado à ciência quântica; as inúmeras indagações sobre a evolução da vida; questões que exigem permanente recriação do pensamento inerente à natureza da investigação filosófica.

Ciência e filosofia podem caminhar juntas? “Devem!”, afirmou Albert Einstein (1879-1955). O mesmo disseram outros luminares da física, como o inglês Isaac Newton (1642-1727), o austríaco Erwin Schrödinger (1887-1961), o também britânico Fred Hoyle (1915-2001) e o norte-americano David Bohm (1917-1992). Essa assertiva será o fio condutor do evento."

(grifos meus)

_____.
Link da página do evento:

http://portal.cbpf.br/pt-br/ultimas-noticias/duo-ciencia-e-filosofia-e-tema-de-simposio-nos-dias-26-e-27-9-no-cbpf?fbclid=IwAR0d_yQCSgdq7yDmkWtuY5L35t11R-MRr9OkDpmjVDw9TPiEIW8Kyxitnok


quinta-feira, 22 de agosto de 2019

FÓRUM MUNDIAL: INVESTIGANDO ESPÍRITO, CÉREBRO E MENTE - 2019

cartaz

Muito interessante, como "historiadores e filósofos da ciência; médicos, psicólogos" entre outros pesquisadores, tem se dedicado a temas nessa área! 

Nós, que nos dedicamos a tais estudos e leituras, só temos a ganhar! Um futuro promissor sobre o assunto se desenha e estarei atento, como sempre!

Sapere Aude!

O Fórum Mundial: "Investigando espírito, cérebro e mente" - 2019, debate acerca desses do tema e atuais contribuições e pesquisas na atualidade e em diversas áreas do conhecimento; a conferir a lista de palestrantes. 






terça-feira, 20 de agosto de 2019

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XIV: AINDA A "CIDADELA INTERIOR"

Thompson Park in Upper Arlington, Ohio.  I have photographed this scene the past three years.  This is the 2013 version.































Passeia sozinho, conversa contigo mesmo”
(EPICTETUS, Diatribes, III, 14, 1)


Há momentos que, na vida, passamos em revista todo o nosso esforço em fazer a coisa certa, a escolha certa; a melhor tomada de decisão. Tudo em função do presente caótico que se nos afigura catastroficamente. Mas, nada de desânimo, portanto, se por outro lado, é o momento de recomeços, já em andamento.

As más notícias, as más surpresas nos dão força e nos colocam na direção da tão almejada “tranquilidade” (apatheia), e a mais "imperturbável paz de espírito” (ataraxia)

Antes, portanto, é mais um momento de refletirmos estoicamente... ou, no mínimo, sermos coerentes na caminhada, digna e solitária caminhada. 

Pois:

“[1.1] Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa – em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos – em suma: tudo quanto não seja ação nossa. [1.2] Por natureza, as coisas que são encargos nossos são livres, desobstruídas, sem entraves. As que não são encargos nossos são débeis, escravas, obstruídas, de outrem. [1.3] Lembra então que, se pensares livres as coisas escravas por natureza e tuas as de outrem, tu te farás entraves, tu te afligirás, tu te inquietarás, censurarás tanto os deuses como os homens. Mas se pensares teu unicamente o que é teu, e o que é de outrem, como o é, de outrem, ninguém jamais te constrangerá, ninguém te fará obstáculos, não censurarás ninguém, nem acusarás quem quer que seja, de modo algum agirás constrangido, ninguém te causará dano, não terás inimigos, pois não serás persuadido em relação a nada nocivo. [1.4] Então, almejando coisas de tamanha importância, lembra que é preciso que não te empenhes de modo comedido, mas que abandones completamente algumas coisas e, por ora, deixes outras para depois. Mas se quiseres aquelas coisas e também ter cargos e ser rico, talvez não obtenhas estas duas últimas, por também buscar as primeiras, e absolutamente não atingirás aquelas coisas por meio das quais unicamente resultam a liberdade e a felicidade. [1.5] Então pratica dizer prontamente a toda representação bruta: ‘És representação e de modo algum <és> o que se afigura’. Em seguida, examina-a e testa-a com essas mesmas regras que possuis, em primeiro lugar e principalmente se é sobre coisas que são encargos nossos ou não. E caso esteja entre as coisas que não sejam encargos nossos, tem à mão que: ‘Nada é para mim’ ”. 

É nesse sentido que já diziam os estoicos que não devemos deixar que a nossa felicidade dependa de coisas externas. 

Acontecimentos externos não estão sob nosso controle. 

A maneira como reagimos à adversidade é uma escolha nossa, e depende do nosso julgamento em relação aos eventos. Exercício e esforço nesta direção dão-nos uma poderosa base para o nosso comportamento, para qualificarmos nossos hábitos (ethos).

“Pois quando uma vez você concebe um desejo por dinheiro, se a razão for aplicada para trazer a você para a concepção de um mal, tanto as paixões se acalmam quanto o princípio governante [razão] é restaurado à sua autoridade original.” (EPICTETO. Diatribes. Livro II. XVIII.8)

Só se é prejudicado, na verdade, por acontecimentos externos se se acredita que estes possam nos atingir. 

Devemos nos lembrar sempre do que é realmente um bem ou um mal para nós; sermos o próprio personagem das nossas ações.

“Muito bem, então, se o julgamento do homem determina todas as coisas [no campo da ação], e se um homem tem maus julgamentos, qualquer que seja a causa será também a consequência.” (EPICTETO. Diatribes. Livro II. XVIII.8)

O que Epicteto e os estóicos propõem, então, é que sejamos gratos por qualquer pequena coisa que tenhamos e lembrarmos que há situações em que poderíamos estar piores do que a que estamos hoje. 

Devemos nos ocupar, no entanto, em transformar nossos dias em oportunidade de trabalho pessoal na busca por virtudes. O único dano real que podemos enfrentar será consequência de escolhermos mal, optarmos por algo que não esteja sob nosso controle. 

Portanto, em definitivo, a estratégia é compreendermos as coisas pelo que elas realmente são, construirmos nosso caráter nessa direção; único caminho verdadeiro, todo o resto são apenas apetrechos e decorações; grandes ilusões que não podem, definitivamente, enganar o mais importante juiz: nós mesmos.



______.
ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/.






CONCEITOS DE NORMATIVIDADE: KANT OU HEGEL?

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CONCEPTS OF NORMATIVITY: KANT OR HEGEL?



“The influence of Kant's understanding of morality is too strong to be ignored. Hegel, however, fundamentally criticized Kant for offering merely a 'formal' model of normativity that cannot sufficiently comprehend human action as free. Instead, Hegel argues in his doctrine of ethical life (Sittlichkeit) that the embeddedness of the acting subject must be taken into account when identifying normativity. Yet the issue of normativity in Kant and Hegel remains contested even today, not least due to the misunderstandings of their conceptions of the topic. The present volume explores developments within recent scholarship which enable a better understanding of the concept of normativity in the thought of Kant and Hegel.”
______.
KRIJNEN, Christian (Editor). Concepts of Normativity: Kant or Hegel?. Leida: Brill, 2019.


segunda-feira, 19 de agosto de 2019

O QUE HÁ DE ERRADO COM O MUNDO: RELENDO


“A mente moderna vê-se forçada na direção do futuro pela sensação da fadiga - não isenta de terror - com que contempla o passado. Ela é propelida para o futuro. Para usar uma expressão popular, é arremessada para meados da semana que vem. E a espora que a impulsiona avidamente não é uma afeição genuína pela futuridade, pois a futuridade não existe, pois que ainda é futura. É antes um medo do passado: um medo não só do mal que há no passado, senão também do bem que há nele. O cérebro entra em colapso ante a insuportável virtude da humanidade. Houve tantas fés flamejantes que não podemos suportar; houve heroísmos tão severos que não somos capazes de imitar; empregaram-se esforços tão grandes na construção de edifícios monumentais ou na busca da glória militar que nos parecem a um tempo sublimes e patéticos. O futuro é um refúgio onde nos escondemos da competição feroz de nossos antepassados. São as gerações passadas, não as futuras, que vêm bater à nossa porta.”
______.
CHESTERTON, G. K. O que Há de Errado com o Mundo. Campinas, SP: Ecclesiae, 2013.


FILOSOFIA E FISIOLOGIA, GESTAÇÃO DA BIOLOGIA ALEMÃ: DE STAHL A SCHELLING

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John H. Zammito, “The Gestation of German Biology, Philosophy and Physiology from Stahl to Schelling”, University of Chicago Press, 2017.

Recensione di Caroline Angleraux (Università degli Studi di Padova - Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne).

Texto completo (PDF): https://bit.ly/2L5aJdh

domingo, 18 de agosto de 2019

UMA PESSOA BOA


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ROLLO MAY E O DILEMA HUMANO: UMA OBRA PARA REFLEXÃO FILOSÓFICA




Releitura encerrada. 
Li em 2000. Valeu a nova releitura (para mim), tanto tempo depois...

Nessa obra, Rollo May “Debruça-se sobre o que seja o dilema humano, suas polaridades e paradoxos em meio às exigências do mundo contemporâneo. Trata das fontes história da ansiedadeda psicoterapia questionada pela abordagem existencial; da ampliação da liberdade responsável na terapia como essencial no confronto com os dilemas humanos. Destina-se a filósofos e psicólogos e a todos os que querem compreender o porquê do ser humano.

E, como se pode ler no artigo em que me apoio aqui (PONTE; SOUSA, 2011):

“Enquanto trabalhava no seu Doutorado (cujo resultado foi o seu 3º livro, O Significado da Ansiedade, publicado em 1950), que May contraiu tuberculose, passando 1 ano e meio internado em um hospital, posto que naquela época o desenvolvimento de antibióticos no combate à tuberculose ainda estavam em seus estágios iniciais e a cura (ou não) do paciente dependia somente de constantes cuidados médicos.
Ele nos conta que, enquanto se deparava com a possibilidade de morrer, tendo "um vasto tempo para ponderar sobre o significado da ansiedade - além de inúmeros dados em primeira mão colhidos de mim mesmo e de meus ansiosos companheiros pacientes" (May, 1988, p. 15), ocupava seu tempo com a leitura de dois livros: O Problema da Ansiedade de Freud (este livro, na verdade, é uma tradução norte-americana do texto Inibição, Sintoma e Angústia e O Conceito de Angústia de Kierkegaard. Embora percebesse as claras divergências entre as concepções de Freud e de Kierkegaard, (o primeiro, a partir de uma descrição mais técnica dos mecanismos psíquicos os quais manifestam a angústia; o segundoo significado, o sentido existencial e ontológico da angústia como um conflito entre ser e não-ser, entre o finito e o eterno, sem jamais encontrar uma síntese ou paz), May não desprezou nem um nem outro. De todo modo, pode-se imaginar os sentimentos de pavor que acometiam May ao ver outros pacientes ocasionalmente morrerem ao seu lado com relativa frequência. Isso deve tê-lo deixado mais sensível a esta "disposição fundamental" que é a angústia (May, 1980).
Os inícios da Psicologia Existencial de Rollo May, relacionam-se não só com a angústia enquanto problema conceitual, psicológico, mas como vivência e ciência irmanadas. Incluam-se aí leituras cada vez mais originais e ousadas da psicanálise freudiana. Como ele mesmo atesta,

(...) o enfoque existencial não tem o objetivo de rejeitar as descobertas técnicas de Freud ou daqueles de qualquer outro ramo da psicologia. Procura, no entanto, situar estas descobertas sobre novas bases, dando uma nova compreensão, redescobrindo a natureza e a imagem do ser humano (May, 1988, p. 17).

Mesmo com as ... diferenças entre estes autores (Freud e Kiekegaard), May, como se disse, não fez escolha entre eles. E diferente de outros psicólogos humanistas que tendiam a desprezar os achados psicanalíticos, May agrega os dois pontos de vista como necessários."

Interessante que a vivência torna Rollo May cada vez mais dedicado a uma concepção de psicologia existencial, e, ao longo da carreira aprofunda-se nesta perspectiva filosófica. Desse seu intereesse resultou um livro que publicou com Ernst Angel e Henri Ellenberger, em 1958: Existence: a new dimension in psychatry and psychology¹, obra em que desenvolveu suas ideias e pesquisas na direção da psicologia e psicopatologia de características existenciais e fenomenológicas.” 
Nesse sentido, dedicou-se a temáticas como:
  • o humano como constituidor de valores e como essa característica afeta a existência.
  • as relações amorosas e a questão da vontade.
  • a dinâmica da criatividade e da arte.
  • a discussão entre destino e liberdade.
  • sobre a arte e a beleza. 
Rollo May, também lecionou. Tendo trabalhado em Universidades como as de New York, de Harvard, de Yale e de Princeton.

Enfim, o que me trouxe de volta a essa obra é que tive contato com a obra de Rollo May, ainda muito jovem e à época não pude compreender o alcance da sua Psicologia Existencial. Hoje, tendo retomado as leituras de seus textos, cotejando com outras referências, percebo que à medida que mantenho esses estudos, compreendo a grandeza da sua proposta entre as psicologias de cunho “existenciais-humanistas”. Bastante interessante em seu caráter filosófico, de aspecto paradoxo até, será um dos materiais a que dedicarei um pouco de tempo nas releituras  para maior compreensão, doravante.

(no artigo (PONTE; SOUZA, 2011), grifos meus)


______.
1. Sobre esta obra, aqui sigo a indicação no artigo  (PONTE; SOUZA, 2011) que li para esse texto, a partir de uma edição em espanhol de (1977)
______.

KIEKEGAARD, S. A. O desespero humano: doença até a morte. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

______. O desespero humano: São Paulo: Ed. UNESP, 2010.

______. Do desespero silencioso ao elogio do amor desinteressado.(Org. Alvaro Valls). Escritos, 2004.

______. O conceito de angústia. 3. ed. Trad. Alvaro Valls. Petrópolis, RJ, Vozes, 2015.

MAY. Rollo. May, R., Angel, E., & Ellenberger, H. (Orgs.). Existencia: nueva dimension em psiquiatría y psicología. Madrid, Editorial Gredos, 1977.

May, R. (Org.). Psicologia existencial. Rio de Janeiro: Globo, 1980.

______. A descoberta do ser. São Paulo: Rocco, 1988.

______. O homem à procura de si mesmo. São Paulo: Ed. Círculo do livro, 1992.

______. Psicologia do dilema humano. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

PONTE, Carlos Roger Sales da; SOUSA, Hudsson Lima de. Reflexões críticas acerca da psicologia existencial de Rollo May. Rev. abordagem gestalt.,  Goiânia ,  v. 17, n. 1, p. 47-58, jun.  2011 .   Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672011000100008&lng=pt&nrm=iso>.acessos em  17  ago.  2019.


O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...