domingo, 17 de novembro de 2019

REFLEXÃO MATINAL LXII: "DICOTOMIA DO CONTROLE"



"[...] o espetáculo exterior [das coisas] é um maravilhoso perverter da razão, e quando temos certeza de que as coisas com as quais estamos lidando valem a pena, é quando ela mais nos engana. (Meditações. VI, 13)"

Prosseguindo, da última reflexão matinal, retorno a um princípio estoico (princípios filosóficos", em (51.1) e "principios" e (52.1), no Encheirídion): concentrar-se no q
ue se pode controlar, aceitar o que não se pode!

"[1.1] Τῶν ὄντων τὰ μέν ἐστιν ἐφ' ἡμῖν, τὰ δὲ οὐκ ἐφ'  ἡμῖν. ἐφ' ἡμῖν μὲν ὑπόληψις, ὁρμή, ὄρεξις, ἔκκλισις καὶ ἑνὶ λόγῳ ὅσα ἡμέτερα ἔργα· οὐκ ἐφ' ἡμῖν δὲ τὸ σῶμα, ἡ κτῆσις, δόξαι, ἀρχαὶ καὶ ἑνὶ λόγῳ ὅσα οὐχ ἡμέτερα ἔργα. [1.2] καὶ  τὰ μὲν ἐφ' ἡμῖν ἐστι φύσει ἐλεύθερα, ἀκώλυτα, παραπόδιστα,  τὰ δὲ οὐκ ἐφ' ἡμῖν ἀσθενῆ, δοῦλα, κωλυτά, ἀλλότρια."

"[1.1] Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa – em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos – em suma: tudo quanto não seja ação nossa.  [1.2] Por natureza, as coisas que são encargos nossos são livres, desobstruídas, sem entraves. As que não são encargos nossos são débeis, escravas, obstruídas, de outrem. (EPICTETO. Encheirídion. I, 1-2, 2012)"

Dessa citação do Encheirídion de Epicteto, o fundamental para reflexão matinal de hoje a partir da filosofia estoica é pensar a  "dicotomia estoica do controle". Tal princípio orienta-nos na direção da distinção clara entre o que é "nosso encargo", que esteja em nosso controle e o que escapa-nos totalmente do domínio.

Nossas escolhas, já refleti aqui nessa página sobre isso, é encargo nosso. As escolhas que fazemos, ações e juízos estão sob nosso controle; o que não está incluso aqui, não está sob nosso controle.

Exemplo simples? O próprio corpo não depende das nossas escolhas voluntárias. Podemos até cuidar deste, mas até um determinado limite fixado pela natureza. 

Ainda sobre o corpo, notemos o quanto em nós acontece que não está sob nosso controle: nossa genética e tudo que daí decorra; por exemplo: as doenças, as lesões.

Por se tratar de uma dicotomia incortornavel, o que devemos fazer, segundo os estoicos, é continuarmos fazendo o nosso melhor e aceitar o resultado, se fizemos esse nosso melhor.

Mesmo os obstáculos servem de exercício para aquisição de Virtudes, aplicarmos a razão nas escolhas, exercitamos a coragem na ação, desenvolvermos um senso de justiça e viver praticando a moderação.

Também, como diria Epicteto:

“Faça uma prática dizer a todas as impressões fortes: ‘Uma impressão é tudo o que você é’. Em seguida, teste e avalie com seus critérios, mas um principalmente: pergunte: ‘Isso é algo que está ou não está sob meu controle?’ E se não é uma das coisas que você controla, diga: ‘Então não é minha preocupação’. (EPICTETO. D. II, 18)

Portanto, cabe-nos concentrar a atenção no que está sob nosso controle, a Natureza cuida do que está longe do nosso poder.
_____.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012.

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