quarta-feira, 20 de novembro de 2019

REFLEXÃO MATINAL LXIII: EUROIA E O FLUXO DA VIDA


Caminhos👣
(IMAGEM: "Pinterest")

Pausa na oficina, depois de ter estudado "Do ideal de sumo bem como um fundamento determinante do fim último da razão pura, 'segunda seção da Crítica da Razão pura'", aproveito para a reflexão matinal. 

E, foi assim:

Uma reflexão sobre a “filosofia ética” de Epicteto evidencia, desde o início uma preocupação: a filosofia entendida prática interna para o “bem viver”. Lembrando que o tripé fundamental do estoicismo são, a física, a ética e a lógica; tenho feito aqui uma leitura do tema sob o viés de uma ética de si. Assim compreendida a Filosofia deve ocupar-se, em grande medida, com o esforço no desenvolvimento de Virtudes, por uma vida virtuosa.

Como sempre tenho anotado aqui, um dos pontos básicos nessa prática filosófica é, como refleti antes e várias vezes aqui, ocuparmo-nos com o que está em nosso poder, que depende de nós (eph'hêmin e úk eph'hêmin). EPICTETO, Encheiródion, I, 1-2)

A isso acrescento aqui: “o que nos é permitido desejar” e o que  “não nos é permitido desejar”, também de Epicteto e anotados por Arriano.

"Aquele que progride é quem aprendeu dos filósofos que o desejo é pelas coisas boas e que a repulsa é pelas coisas más; é o que aprendeu também que a serenidade e a privação de sofrimento (tó euroyn kaí apathés) não advêm de outro modo ao homem senão assegurando o desejo e evitando o repulsa [...] Como, portanto, concordamos ser a virtude algo tal e buscamos e exibimos progresso em outras coisas? Qual a obra da virtude? A serenidade (euróia)." (Epicteto. D. I, IV.)

A meta: com essas máximas tomadas como maneira de caminha em busca das virtudes, o propósito é alcançar a eudaimonia, chegar à euroia [εὐροίας]serenidadecom a recomendação de Epicteto: 

  • apátheia (ἀπάθεια): ausência de paixões e 
  • ataraxía (ἀταραξία):imperturbabilidade da alma.

Um modo de levar em frente o projeto tem sido, em meio a tudo isso, acrescentar a leitura que Hadot fez dessa filosofia. Ora, o que ele denominou “exercício espirituais” tem possibilitado a reflexão e uma “metodologia” para uma verdadeira transformação de si mesmo que muitos estoicos e o próprio Epicteto viam como “conversão” por ser uma ética profundamente vinculada a proairesis (προαίρεσις): escolhas.

É nesse sentido, que prossigo esse estudo em meio ao restante: aperfeiçoar a proairesis é aperfeiçoar a nossa capacidade de escolha e como devemos bem viver.
Para Bem vivermos faz-se urgente, portanto, uma disciplina centrada na atenção de si e o cultivo da razão.
______.
CÍCERO. De Finibus Bonorum et Malorum. Trad. H. Rackham, Cambridge: Harvard University Press, 1914.

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DINUCCI, Aldo. Introdução ao Manual de Epicteto. 3ª ed, São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, 2012.

__________. Koinonia cósmica e antropológica em Epicteto, p. 57-70. IN: Cosmópolis

DIOGENES LAERTIUS. Diogenes Laertius: Live of Eminent Philosophers, Trad. R. D. Hicks, Vol. II, Cambridge: Harvard University Press, 1925.

DUHOT, Jean-Joël. Epicteto e a sabedoria estoica. Trad. Marcelo Perine. São Paulo: Edições Loyola, 2006.

FERRY, Luc. Aprender a Viver: filosofia para os novos tempos. Trad. Véra Lucia dos Reis, Rio de Janeiro: Objetiva, 2010

HADOT, Pierre. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flávio Fontenelle Loque, Loraine Oliveira. São Paulo: É Realizações, Coleção Filosofia Atual, 2014.

__________. What is ancient philosophy? Trad. Michael Chase, London: Cambridge, 2002.

__________. La filosofía como forma de vida: conversaciones com Jeannie Carlier y Arnold I. Davidson. Trad. María Cucurella Miquel, Barcelona: Alpha Decay, 2009.

__________. Elogio da Filosofia Antiga. Trad. Flávio Fontenelle Loque e Loraine Oliveira, São Paulo: Loyola, 2012.

__________. The Inner Citadel: The Meditations of Marcus Aurelius. Trad. Michael Case, Massachusetts: Harvard University Press, 1998. 

IRVINE, William B. A Guide to the Good Life: the ancient art of Stoic joy. New York: Oxford University Press, 2009.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1994.

LONG, A.A. A stoic and Socratic guide to life. New York: Oxford University Press, 2007.

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