Claro é que em seguida
avancei para a chegada do pensamento proposto por essa “escola filosófica”, às
terras romanas; lendo os estoicos romanos, conforme sempre anoto aqui no blog,
criado para essas reflexões. Importa, no entanto, que essas pausas na pesquisa principal, são nesse
sentido, de refletir sobre a “formação do homem”.
Na verdade, cheguei à
essa obra a partir da leitura, desde à época de graduação que sempre retomo.
Aqui, no caso, trata-se de “A República”, escrito por Platão, um dos
principais discípulos de Sócrates. Varias ideias expostas por ele, nessa obra,
eu retomo em salas de aulas, há quase 20 anos.
Ele idealiza uma cidade
onde predomina o uso da razão. Expõe, na obra o “mundo das Ideias”, um
mundo transcendente, por trás do mundo sensível; as Ideias são formas puras,
modelos perfeitos eternos e imutáveis. O que pertence ao mundo dos sentidos se
corrompe, se transforma com o tempo; o que percebemos é mera cópia imperfeita dos modelos do “mundo das Ideias”. A esse mundo das “Ideias”, só atingiremos
à medida que a mente vai se afastando do mundo “sensível” em direção ao
mundo das “essências” das “Ideias”. O instrumento proposto por Platão é
“dialética”, o diálogo no aperfeiçoamento constante da mente, e no uso da razão
em busca da Verdade. Nisto, como sempre o fez, partindo dos ensinamentos de
Sócrates. A dialética é um instrumento de busca da verdade.
Ademais, Platão
acreditava na existência de uma “alma imortal”, que já existia no mundo das
Ideias, bem antes de vir para cá e habitar um corpo. Ao habitar esse corpo
“esquece” as Ideias perfeitas que trouxe e o mundo se apresenta a partir de uma
vaga lembrança e a alma passa a querer voltar para o mundo das Ideias, de onde
veio.
Nas aulas, quando vou
apresentar a “maiêutica” de Sócrates, sempre ilustro essa questão, tentando
ampliar com o Diálogo “Ménon” (teoria das reminiscências), acrescento
o “mito de Er” em “A República”, no livro X, de 614b a 621b. E, ressalto o
rio Lete (Λήθη - Lếthê), o “Rio do Esquecimento”. Sempre
discutindo de uma forma a deixar claro que é a compreensão platônica.
O restante do livro X trata de conselhos à prática do Bem, da Justiça e demais Virtudes. Sócrates cita o mito de Er, que fala da recompensa no "pós-morte" e
deixa claro que “é um grande combate, meu caro Glauco, é grande, e mais do que parece, o que consiste em nos tornarmos bons ou maus. De modo que não devemos
deixar-nos arrebatar por honrarias, riquezas, nem poder algum, nem mesmo pela
poesia, descurando a justiça e as outras virtudes” (República, 608b, 2001). Sócrates trata
da “imortalidade da alma” e tenta resolver a questão do “destino” e da
“responsabilidade”.
“Não é um gênio que vos
escolherá, mas vós que escolhereis o gênio. O primeiro a quem a sorte couber,
seja o primeiro a escolher uma vida a que ficará ligado pela necessidade. A
virtude não tem senhor; cada um a terá em maior ou menor grau, conforme a
honrar ou a desonrar. A responsabilidade é de quem a escolhe. O deus é isento
de culpa” (República, 617 e, 2001).
Então, estou relendo, de Werner Jaeger (1995), a obra “Paideia”, em que apresenta a
ideia de Paideia como “processo de educação em sua forma verdadeira, a
forma natural e genuinamente humana”, como entendida na Grécia antiga, que
pode ser entendida também como a maneira que a própria cultura se
desenvolve a partir da educação (formação), e era o ideal que os gregos
cultivavam de mundo.
A “Paideia”, portanto, é
o legado deixado pelos gregos a humanidade. E, é o que uma geração deixará para
outra, através dos tempos, em toda as sociedades humanas.
Muito mais que formar o
mero cidadão, obediente, que simplesmente segue as regras da Pólis, a educação,
é apresentada por Jaeger como a visão grega da formação integral do homem.
Platão, por exemplo,
define Paideia como: “[...] a essência de toda a verdadeira
educação ou paideia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se
tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça
como fundamento” (Jaeger, 1995).
Para Jaeger, os
gregos entenderiam paideia como "todas as formas e criações
espirituais e ao tesouro completo da sua tradição, tal como nós o designamos
por Bildung ou pela palavra latina, cultura". Portanto, para ele,
“o emprego de expressões modernas como civilização, tradição, literatura, ou
educação; nenhuma delas coincidindo, porém, com o que os gregos entendiam por
paideia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele
conceito global. Para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de
empregá-los todos de uma só vez.” (Jaeger, 1995).
O conceito de paideia não
seria somente, nessa chave, unicamente um conjunto de técnicas para preparar as
crianças para a vida adulta, e sim, todo o processo educativo ao longo de toda
a vida, mesmo para além da simples presença nas escolas.
A partir, então, da leitura de “A
República” (Politéia), reli a obra “Paideia”, na perspectiva de como alguns filósofos lidaram com questões sobre a formação do homem, desde a Grécia Antiga. De resto, das
aulas, o que me levou a essa releitura, mesmo interrompendo a pesquisa principal, foi o debate sobre a “busca da verdade”,
entre Sócrates e os Sofistas e a formação do homem, como também tenho feito essa busca nos textos dos "estoicos".
Só uma reflexão!
______.
Textos
Link da obra "Ménon" de Platão (Edição bilíngue):
Link da obra "Alegoria da caverna" de Platão:
Link da obra "Fédon" de Platão (Imortalidade da alma):
______.
JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem
grego. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos
pré-socráticos a Wittgenstein. 3. ed. Rio Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2007.
______. Iniciação à história da filosofia: dos
pré-socráticos a Wittgenstein. 12. ed. Rio Janeiro: Jorge Zahar Editor,
2008.
PLATÃO. Ménon. 8.
ed. São Paulo: Loyola, 2001.
______. República. 15. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2001. (Livro VII e |Livro X)
______. República. 3. ed. Belém, PA: EDUFPA. Trad. Carlos Alberto Nunes, 2000. (Livro VII e |Livro X)
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