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“Então retira a repulsa de todas as
coisas que não sejam encargos nossos e transfere-a para as coisas que, sendo
encargos nossos, são contrárias à natureza. Por ora, suspende por completo o
desejo, pois se desejares alguma das coisas que não sejam encargos nossos,
necessariamente não serás afortunado. Das coisas que são encargos nossos, todas
quantas seria belo desejar, nenhuma está ao teu alcance ainda. Assim, faz uso
somente do impulso e do refreamento, sem excesso, com reserva e sem
constrangimento.” (EPICTETO. Encheirídion. II : 2)
Foi essa, a meditação da manhã, estudando e escrevendo um capítulo de livro e revisando dois outros textos para submissão; aproveitando uma pausa com a pesquisa principal, anotei o trecho que segue abaixo, em que se nota um convite a estar atento ao que realmente está ao nosso alcance e o que não é de nossa alçada, separando pacientemente uma coisa da outra e prossigamos.
O convite é sempre
reiterado, nessa linha de interpretação em que estamos desenvolvendo esse
texto. Podemos observar que a prática visada concernente à filosofia
moral, numa perspectiva estoica, por exemplo, tem sempre como
motivação a busca individual pelo “progresso”, pela conquista de Virtude.
A citação abaixo, é uma tradução (com as notas) do prof. Aldo Dinucci.
Diatribe 1.4 – Sobre o Progresso:
“(1) O que
progride[1]
é o que aprendeu dos filósofos que o desejo é pelas coisas boas e que a repulsa
é em relação às más; é o que aprendeu também que o curso sereno de vida[2]
e a ausência de sofrimento na alma[3]
não advêm de outro modo ao homem senão não falhando no desejo e não se
deparando com o <objeto d>a repulsa , <o que progride>; é o que removeu de si mesmo por completo o desejo e o
deferiu[4]
, <e que> faz uso da repulsa somente em relação às coisas passíveis de escolha[5]
. (2) Já que sabe que, se repudiar alguma das que não são passíveis de escolha[6]
, um dia se deparará com o <objeto> de sua repulsa e será desafortunado. (3) Mas se a
própria excelência[7]
é a promessa de produzir felicidade, ausência de sofrimento na alma, curso
sereno de vida[8]
, também o progresso em relação à excelência é indubitavelmente o progresso em
relação a cada uma dessas coisas. (4) Pois para onde quer que a realização
completa de algo conduza, para aí tende o progresso.”[9]
...
"Mantenha-se forte. Mantenha-se bem." (Sêneca)
[1] To
prokopon: o
estoicismo epictetiano, ao contrário do antigo e do médio, é caracterizado pela
ênfase no indivíduo que progride, que
caminha para a sabedoria. Anteriormente, o discurso estoico centrava-se na
figura do sábio ideal.
[2] To
euroun.
[3] Apathes: Schweighäuser (1799 (3), p. 247) define o termo como “passionum, pertabationum animi vacuitas”
(“ausência de paixões e perturbações da alma”).
[4] EPICTETO. Encheirídion. II : 2.
[5] Ta prohairetika. De prohairesis
[6] Ta aproairetika. De prohairesis.
[7] Areta.
[8] Euroia.
[9] DINUCCI, Aldo. Epicteto: cinco diatribes sobre progresso e
arte de viver. Apresentação e tradução. In:
PERI. v . 08, n . 02, 2016, p . 177 - 191.
______.
EPICTETO. O
Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo
Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012.
______. 3. ed. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São
Cristóvão: EdiUFS, 2017.
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