terça-feira, 30 de novembro de 2021

REFLEXÃO MATINAL XIII: O DE SEMPRE, PROHAÍRESIS (II)

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Texto principal encerrado, mais uma pausa para reler um texto de 2019.

"Torna meu pensamento capaz de se adaptar seja ao que for que venha a acontecer” (EPICTETO, Diatribes, II, 2, 21)

Antes de começar a pensar, ressalte-se que "adaptar-me" aqui não é sinônimo de conivência com absurdos, como se há de perceber abaixo.

Li, certa vez, não me lembro onde, algo sobre a Filosofia estoica ser uma doutrina da coerência consigo mesmo. A Razão perfeita que eles buscam ou defendem é a mesma para pensar a comunidade dos humanos Seria a Razão a que rege o “mundo dos homens”, da mesma maneira, a que rege o homem considerado individualmente.

Nessa maneira de ver as coisas, em que o homem procura seu local of control, sua “inner citadel, está o cerne da razão mesma. 
Inegável que todo o homem tem um conhecimento natural de realidade essencial, sente a aspiração pelo Bem, felicidade e a paz de espírito.

É comum a todo homem o esforço na busca do Bem e em evitar o mal. 

Nesse sentido é que os estoicos propunham o conceito de epiméleia (cuidado de si) e o conceito de oikeíosis (apropriação de si). Ao que se pretenda aventurar pelo caminho da filosofia, no que se refere ao aprofundamento dessa busca, diz Epicteo nas (Diatribes, I, 22, 9-15):

Que é, então, a educação filosófica? É aprender a aplicar nossas prenoções naturais aos casos particulares de uma maneira conforme com a natureza; é em seguida, discernir, em meio aos seres, aquilo que depende de nós e aquilo que não depende. Depende de nós: a pessoa e todos os seus atos; não depende de nós: o corpo, as partes do corpo, aquilo que nós possuímos, os parentes, os irmãos, as crianças, a pátria, em uma palavra aqueles com quem nós vivemos. Em que então devemos colocar nosso bem?  A que tipo de realidade aplicaremos este nome? Àquelas que dependem de nós. - “Quê! Então não é um bem a saúde, a integridade do corpo, a vida? Não? Nem mesmo as crianças, os parentes ou a pátria? Quem poderia crer?” – Transportemos então para esses últimos objetos a denominação de bens. Então é possível ser feliz se injuriado e privado dos bens? – “Isso não é possível”. – E, ter com aqueles que vivem perto de vós as relações que devem existir? E como isso seria possível? Porque eu sou levado pela natureza a considerar meu interesse. Se for meu interesse ter um campo; é também meu interesse pegar aquele do vizinho; se for meu interesse ter uma veste, é também meu interesse roubá-lo de uma casa de banhos. Daí, as guerras, as dissensões, as tiranias, os complôs.”

O “coração” do homem, segundo o Epicteto, pode ser posto nas coisas que não dependem de nós, e é disso que resulta a visão de que o mundo é um horror, um “inferno” (segundo alguns).

Ora, sendo um estoico Epicteto orienta sobre a maneira de nos posicionarmos em relação ao mundo, à natureza. Se está chovendo, faz calor, faz frio mas eu desejava outra coisa, não a que está acontecendo, não devo me perturbar. Realmente, difícil entrar no ritmo dessa disciplina, mas é procedimento da educação filosófica estoica.

Disso reflitamos sobre se não é fundamental, ainda na perspectiva da educação filosófica estoica, colocarmos nosso “coração” nas coisas que dependem mesmo de nós. Desenvolvermos, e insistindo que não é fácil, uma adaptação, com o tempo, às circunstâncias.

"Eis como nós representamos a tarefa do filósofo. Falta ainda procurar realizá-la. Vemos que alguém se torna carpinteiro graças a um aprendizado, piloto graças a um aprendizado. Não é portanto claro que também nesse caso não basta querer ser alguém de bem, mas é necessário um aprendizado? Nós procuramos qual é esse aprendizado. Os filósofos dizem que é preciso começar por isto:  Existe um Deus, ele exerce sua Providência sobre todo o Universo (hoti esti théos kaí pronoeî  ton hólon), e não é possível esconder dele, não somente suas ações como também seus próprios pensamentos e desejos. (EPICTETO, Diatribes, II, 14, 9-12).”

 À medida que estudo as obras dos estoicos, sobre os quais anoto aqui nessa página os resultados de pesquisa, fica claro para mim: há no interior do ser humano, aquilo que levou Piere Hadot a chamar de “cidadela interior”, que acima ressaltei com “local of control” e “coração” do homem. Onde está seu "coração" aí estará o homem. Portanto, é necessário aferirmos nossas escolhas (prohaíresis - προαίρεσις).

E, é sempre bom lembrar:

[1.1] Τῶν ὄντων τὰ μέν ἐστιν ἐφ' ἡμῖν, τὰ δὲ οὐκ ἐφ'  ἡμῖν. ἐφ' ἡμῖν μὲν ὑπόληψις, ὁρμή, ὄρεξις, ἔκκλισις καὶ ἑνὶ λόγῳ ὅσα ἡμέτερα ἔργα· οὐκ ἐφ' ἡμῖν δὲ τὸ σῶμα, ἡ κτῆσις, δόξαι, ἀρχαὶ καὶ ἑνὶ λόγῳ ὅσα οὐχ ἡμέτερα ἔργα. [1.2] καὶ  τὰ μὲν ἐφ' ἡμῖν ἐστι φύσει ἐλεύθερα, ἀκώλυτα, παραπόδιστα,  τὰ δὲ οὐκ ἐφ' ἡμῖν ἀσθενῆ, δοῦλα, κωλυτά, ἀλλότρια. [1.3] μέμνησο οὖν, ὅτι, ἐὰν τὰ φύσει δοῦλα ἐλεύθερα οἰηθῇς καὶ τὰ ἀλλότρια ἴδια, ἐμποδισθήσῃ, πενθήσεις, ταραχθήσῃ, μέμψῃ καὶ θεοὺς καὶ ἀνθρώπους, ἐὰν δὲ τὸ σὸν μόνον οἰηθῇς σὸν εἶναι, τὸ δὲ ἀλλότριον, ὥσπερ ἐστίν, ἀλλότριον,  οὐδείς σε ἀναγκάσει οὐδέποτε, οὐδείς σε κωλύσει, οὐ μέμψῃ  οὐδένα, οὐκ ἐγκαλέσεις τινί, ἄκων πράξεις οὐδὲ ἕν, οὐδείς σε βλάψει, ἐχθρὸν οὐχ ἕξεις, οὐδὲ γὰρ βλαβερόν τι πείσῃ. [1.4] τηλικούτων οὖν ἐφιέμενος μέμνησο, ὅτι οὐ δεῖ μετρίως   κεκινημένον ἅπτεσθαι αὐτῶν, ἀλλὰ τὰ μὲν ἀφιέναι παντελῶς, τὰ δ' ὑπερτίθεσθαι πρὸς τὸ παρόν. ἐὰν δὲ καὶ ταῦτ' ἐθέλῃς καὶ ἄρχειν καὶ πλουτεῖν, τυχὸν μὲν οὐδ' αὐτῶν τούτων τεύξῃ διὰ τὸ καὶ τῶν προτέρων ἐφίεσθαι, πάντως γε μὴν  ἐκείνων ἀποτεύξη, δι' ὧν μόνων ἐλευθερία καὶ εὐδαιμονία περιγίνεται. [1.5] εὐθὺς οὖν πάσῃ φαντασίᾳ τραχείᾳ μελέτα ἐπιλέγειν ὅτι ‘φαντασία εἶ καὶ οὐ πάντως τὸ φαινόμενον’.  ἔπειτα ἐξέταζε αὐτὴν καὶ δοκίμαζε τοῖς κανόσι τούτοις οἷς  ἔχεις, πρώτῳ δὲ τούτῳ καὶ μάλιστα, πότερον περὶ τὰ ἐφ' ἡμῖν  ἐστιν ἢ περὶ τὰ οὐκ ἐφ' ἡμῖν· κἂν περί τι τῶν οὐκ ἐφ' ἡμῖν  ᾖ, πρόχειρον ἔστω τὸ διότι ‘οὐδὲν πρὸς ἐμέ’.”

[1.1] Das coisas existentes, algumas são encargos nossos; outras não. São encargos nossos o juízo, o impulso, o desejo, a repulsa – em suma: tudo quanto seja ação nossa. Não são encargos nossos o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos – em suma: tudo quanto não seja ação nossa.  [1.2] Por natureza, as coisas que são encargos nossos são livres, desobstruídas, sem entraves. As que não são encargos nossos são débeis, escravas, obstruídas, de outrem. [1.3] Lembra então que, se pensares livres as coisas escravas por natureza e tuas as de outrem, tu te farás entraves, tu te afligirás, tu te inquietarás, censurarás tanto os deuses como os homens. Mas se pensares teu unicamente o que é teu, e o que é de outrem, como o é, de outrem, ninguém jamais te constrangerá, ninguém te fará obstáculos, não censurarás ninguém, nem acusarás quem quer que seja, de modo algum agirás constrangido, ninguém te causará dano, não terás inimigos, pois não serás persuadido em relação a nada nocivo. [1.4] Então, almejando coisas de tamanha importância, lembra que é preciso que não te empenhes de modo comedido, mas que abandones completamente algumas coisas e, por ora, deixes outras para depois. Mas se quiseres aquelas coisas e também ter cargos e ser rico, talvez não obtenhas estas duas últimas, por também buscar as primeiras, e absolutamente não atingirás aquelas coisas por meio das quais unicamente resultam a liberdade e a felicidade. [1.5] Então pratica dizer prontamente a toda representação bruta: “És representação e de modo algum <és> o que se afigura”. Em seguida, examina-a e testaa com essas mesmas regras que possuis, em primeiro lugar e principalmente se é sobre coisas que são encargos nossos ou não. E caso esteja entre as coisas que não sejam encargos nossos, tem à mão que: “Nada é para mim”. (EPICTETO. O Encheirídion, 2012)

Em épocas como a atual, de tantas afirmativas alucinadas, incrementadas de "ideologias" que impedem o exercício do Bom senso, é bom exercício escolher adaptar-se ao quenos torna melhores, que no ajude a corrigir nossas falhas!

______.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012.

CÍCERO. On Duties. Trad. W. Miller. Harvard: Loeb Classical Library, 1913.

______. On the Nature of the Gods. Academics.Trad. H. Rackham. Harvard: Loeb Classical Library, 1933.

______. De Finibus. Bonorum Et Malorum. Trad. H. Rackham. Harvard: Loeb Classical Library, 1914.

______. Letters to Friends. Volume I: Letters 1-113. Trad. B. Shackleton. Harvard: Loeb, 2001

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DIÓGENES LAÉRCIO. Lives of Eminent Philosophers. vol. I, II.Trad. R. D. Hicks. Harvard: Loeb Classical Library, 1925.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.

______. Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga. Trad. Flavio Fontenelle Loque e Loraine Oliveira. Prefácio de Davidson, Arnold. São Paulo: É Realizações, 2014. 

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive Psychotherapy. Londres  : Karnac Books, 2010.

______. Pense como um imperador. Trad. Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020.

______. How to think Like a roman emperor: the stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019.

SELLARS, J. The Art of Living: the stoics on the nature and function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.

SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

sábado, 27 de novembro de 2021

SCHLEIERMACHER: ENTRE ILUMINISMO E ROMANTISMO



“Como todo discurso tem uma dupla relação, com a totalidade da linguagem e com o pensar geral de seu autor: assim também toda compreensão consiste em dois momentos, compreender o discurso enquanto extraído da linguagem e compreendê-lo enquanto fato naquele que pensa.” (SCHLEIERMACHER, 2005, p. 95)

Mais uma obra acrescentada à extensa Bibliografia. De bastante relevância, para o que se pretende e se trabalha por aqui nessa página, traz vários elementos da filosofia kantiana, desdobra-se para temas “religiosos”, vai a Schelling e os demais idealistas alemães, aproximando-se de Friedrich Daniel Schleiermacher, todos temas sobre os quais tenho me dedicado e pretendo refletir e escrever em momento oportuno.

Tinha começado com a leitura de “The God within: Kant, Schelling, and historicity”, hoje acrescento esta que, como se pode ler na sinopse, traz questões bem interessantes a serem incluídas no projeto de leitura aqui, pela relevância e proximidade dos temas.

O livro que estou lendo e acrescentando aqui: “Schleiermacher: between enlightenment and romanticism”, de “Richard Crouter, examina a postura de Schleiermacher em relação ao status da doutrina, Igreja e autoridade política, e o lugar da teologia entre as disciplinas acadêmicas. Dedicado à Igreja Protestante na linha de Calvino, Schleiermacher foi igualmente um homem da universidade que trouxe os mais altos padrões de racionalidade, sensibilidade lingüística e um senso de história para influenciar a religião.”:

“Para os pensadores do século XIX, o problema central da consciência religiosa no Ocidente moderno era a tensão entre os conceitos predominantes de autonomia individual e a tradicional reivindicação judaico-cristã de revelação divina. ‘O Deus Interior’ reúne dez dos ensaios do professor Emil Fackenheim sobre os idealistas alemães que tenta resolver essa tensão.

Essa preocupação filosófica encontrou sua expressão mais perspicaz e abrangente, quando a noção tradicional de ‘Deus como transcendente’ foi reconceitualizada como ‘O Deus interior’. A internalização da ‘alteridade’ de Deus atingiu seu clímax com Hegel, o tema da obra anterior de Fackenheim, ‘A Dimensão Religiosa no Pensamento de Hegel’. Esse, há muito aguardado volume examina os estágios iniciais do processo, começando com seu iniciador, Immanuel Kant, considerando então Schelling em suas fases anteriores e posteriores e, finalmente, olhando mais uma vez para Hegel. A investigação desse movimento, juntamente com os temas relacionados à história e às artes literárias, leva à reflexão sobre o significado de levar a historicidade a sério. Está incluído o clássico e muito citado artigo ‘Metafísica e Historicidade’, que liga a filosofia dos idealistas alemães às questões de historicidade e pensamento existencial do século XX em particular. O ensaio inédito 'Schelling em 1800-1801: arte como revelação', fornece uma visão geral da história filosófica de Kant através de Fichte e Schleiermacher, e na sequência Schelling.

Todos os ensaios aqui reunidos estão relacionados com a singularidade radical da história e da existência, por um lado, e as exigências da verdade filosófica, por outro. Eles são informados pelo envolvimento do professor Fackenheim com os profundos desafios filosóficos de nossos dias - particularmente seus esforços, como teólogo judeu, para enfrentar os horrores do Holocausto.  Vemos, por meio da exposição de Fackenheim, como esses pensadores procuraram lidar com a presença do mal radical, um problema cuja relevância moderna é explorada no epílogo deste volume, o ensaio de 1988 ‘Holocausto e Weltanschauung: reflexões filosóficas sobre por que o fizeram.”

...

“O trabalho pioneiro de Friedrich Schleiermacher em teologia e filosofia foi forjado no fermento cultural de Berlim, na convergência do Iluminismo e do Romantismo. As três seções deste livro incluem esboços iluminadores da relação de Schleiermacher com os contemporâneos (Mendelssohn, Hegel e Kierkegaard), seu trabalho como teólogo público (diálogo sobre a emancipação judaica, fundação da Universidade de Berlim), bem como a formação e impacto de seus dois mais livros famosos, On Religion: speeches to its cultured Despisers e The christian faith. Richard Crouter examina a postura de Schleiermacher em relação ao status da doutrina, Igreja e autoridade política, e o lugar da teologia entre as disciplinas acadêmicas. Dedicado à Igreja Protestante na linha de Calvino, Schleiermacher foi igualmente um homem da universidade que trouxe os mais altos padrões de racionalidade, sensibilidade lingüística e um senso de história para influenciar a religião.”

“Friedrich Schleiermacher's groundbreaking work in theology and philosophy was forged in the cultural ferment of Berlin at the convergence of the Enlightenment and Romanticism. The three sections of this book include illuminating sketches of Schleiermacher's relationship to contemporaries (Mendelssohn, Hegel and Kierkegaard), his work as public theologian (dialogue on Jewish emancipation, founding the University of Berlin) as well as the formation and impact of his two most famous books, On Religion: Speeches to its Cultured Despisers and The Christian Faith. Richard Crouter examines Schleiermacher's stance regarding the status of doctrine, Church and political authority, and the place of theology among the academic disciplines. Dedicated to the Protestant Church in the line of Calvin, Schleiermacher was equally a man of the university who brought the highest standards of rationality, linguistic sensitivity and a sense of history to bear upon religion.”

(Grifos e destaques meus)

______.

BECKENKAMP, Joãosinho. Entre Kant e Hegel. Porto Alegre: Edipucrs, 2004, 288 p.

______. O Jovem Hegel: formação de um sistema pós-kantiano. SãoPaulo: Loyola, 2009.

CROUTER, Richard.  Schleiermacher: between enlightenment and romanticism.  (Cambridge Studies in Religion & Critical Thought), ‎ Cambridge University Press, 2oo5.

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

FACKENHEIM, Emil.  The God within: Kant, Schelling, and historicity. University of Toronto Press, 1996.

KANT, Immanuel. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

SCHLEIERMACHER, F. D. E. Hermenêutica e crítica: com um anexo de textos de Schleiermacher sobre filosofia da linguagem – I (A. Ruedell, trad.; P. R. Schneider, rev.). Ijuí (RS): Unijuí, 2005.

______. Introdução aos Diálogos de Platão. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2018.

______. Sobre religião. São Paulo: Fonte Editorial, 2020.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

REFLEXÃO MATINAL CII: APARANDO ARESTAS, AINDA. A FILOSOFIA COMO MODO DE VIDA

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Relia, há pouco: "Nas sombras do amanhã", de Johan Huizinga; pensando na "enfermidade espiritual de nosso tempo".

A isso somei (trecho abaixo) uma lembrança, de um post que um amigo prof. Humberto Schubert Coelho , publicou aqui em 07.03.2018, que à época chamei, por minha conta e risco, de "diagnóstico do tempo presente". Quase nada mudou, na verdade!

"Este é um momento histórico em que nada de bom parece prosperar. Se não houver baixaria, agressividade ou sarcasmo envolvido é quase certo que o discurso não será ouvido. Instintivamente, queremos ceder e reagir em um padrão semelhante ao que recebemos, mas nisso é que está todo o mérito da coisa: perseverar em ambiente hostil, contra todas as chances. Se o plantio não der em nada, ainda assim é um bom exercício."

Assim, reforçando a partir de trecho do texto acima, resta-nos, no entanto, que a mudança seja em nós; cada um de nós, e, continuarmos a: “[...] perseverar em ambiente hostil, contra todas as chances. Se o plantio não der em nada, ainda assim é um bom exercício."

Ou seja: valerá ainda a esperança, sempre, pela semente que foi lançada em solo fértil! 

Ademais, os temas são sempre recorrentes aqui, até que nos aplicando, alcancemos, em definitivo, de forma ampla o objetivo prático. Repito sempre as reflexões pessoais aqui, neste Blog, até que a grande tarefa se realize.

Ainda, no sentido da citação acima, acrescento para seguir refletindo "estoicamente", um trecho de texto extraído de um livro de J. Huizinga sobre Ensinamento ou ... mero “encenamento”?

"(...) Conhecimentos de todos os tipos, de uma quantidade e complexidade inéditas, são levados até as massas, mas não digeridos de modo a aplicarem-se à vida. O conhecimento não processado paralisa o discernimento e é um estorvo para a verdadeira sabedoria. E em lugar de ensinamento temos mero “encenamento”. O trocadilho é infame, mas infelizmente faz muito sentido." (HUIZINGA, )

E, ainda, acrescentando das minhas leituras sobre estoicismo, um notório princípio para prática de sua filosofia é um conjunto de três “exercícios práticos”. Os objetivos estóicos estão, sempre ajustados de forma a dar mais valor à ação do que às palavras. A maneira de agir de cada indivíduo que pretenda ser um estóico é priorizada devido ao fato de que verdadeiramente a ação mostra como uma pessoa realmente é. Daí a incessante busca, realizando exercícios práticos no cotidiano para alcançar a eustatheia (tranquilidade) e euthymia (crença em si). Aqui, só vou mostrar o primeiro exercício que é proposto pelos estóicos como ponto de partida para compreensão e prática de sua filosofia. Mas, são três exercícios fáceis e possíveis de serem realizados em qualquer tempo.

Bastante interessante, para mim, e um dos temas divulgados pelos estóicos: a reflexão matinal. O estóico Marco Aurélio, por exemplo, em suas Meditações como estóico, apresenta estes exercícios práticos que consistem sempre, como foi dito, em práticas simples. Ao acordar, agradeça por que você acordou e terá um novo dia com novas oportunidades pela frente. Segundo essa prática, o exercício se daria dessa forma:

No momento em que despertamos de uma noite sono, agradeçamos por ter acordado e por termos mais uma oportunidade num novo dia. Em seguida, tranquilamente sentemo-nos e pensemos no dia a se iniciar e como pretendemos vivê-lo, sem ter aqui a pretensão de estabelecer longas metas, planos.

Na verdade, o que importa aqui é pensar a maneira como nós enfrentaremos nossos vícios e como exercitaremos nossas virtudes. Algum conceito filosófico será exercitado e aplicado; alguma habilidade intelectual, um idioma, um tema de uma determinada área será posto em prática? Como faremos isso de forma efetiva? Como compor o nosso dia, que estamos iniciando, de forma a incluirmos esses exercícios?

Durante o dia, com certeza, inúmeras dificuldades aparecerão e, serão necessárias profundas reflexões sobre a forma como reagiremos a cada um.

Enfim, tomando o texto de Epictetus utilizado aqui para essa reflexão inicial, é fundamental, já praticando o exercício estóico, reconhecermos que não podemos controlar nada além dos nossos próprios pensamentos, nossas escolhas, vícios ou virtudes; nem tudo distante disso estará sob nosso controle. O que nos acontece à nossa volta serão eventos por nós percebidos que, no entanto, podemos optar por mantermos a calma e a tranquilidade diante deles, serenamente e sem nos distanciarmos da proposta inicial que pretendemos levar a cabo. Assim, portanto, reflitamos:

 “Em primeiro lugar, ao menos desde Sócrates, a opção por um modo de vida não se situa no fim do processo da atividade filosófica, como uma espécie de apêndice acessório, mas, bem ao contrário, na origem, em uma complexa interação entre a reação crítica e outras atitudes existenciais, a visão global de certa maneira de viver e de ver o mundo, e a própria decisão voluntária; e essa opção determina até certo ponto a doutrina e o modo de ensino dessa doutrina. O discurso filosófico tem sua origem, portanto, em uma escolha de vida e em uma opção existencial, e não o contrário. (...). Essa opção existencial implica, por seu turno, certa visão de mundo, e será tarefa do discurso filosófico revelar e justificar racionalmente tanto essa opção existencial como essa representação do mundo. (HADOT, 2014: 17 e 18)

A recomendação é excelente! Assim, pela vontade, podemos dedicar bom tempo exercitando o domínio das nossas opiniões, na “cura das paixões”; como li, recentemente, sobre a piedade Epicteteana. Uma tonalidade de alta confiança é percebida também nesse texto do imperador-filósofo:

"Toma conta de mim e atira-me para onde quiseres — porque, seja onde for, conservarei a minha consciência tranquila, isto é, satisfeita, contanto que eu proceda em conformidade com a minha natureza de homem. Valeria a pena que, por tão pouco, a minha alma se considerasse infeliz, se tornasse inferior a si mesma, se rebaixasse, se apaixonasse, se deixasse abater, se inquietasse? E que encontrarás na vida a que mereça tanto?"

"[...] Portanto, se coisa alguma sucede a cada ser senão o que é ordinário e natural, por que motivo hás de indignar-te? Pois a natureza nada te deu que fosse insuportável."

Aprendendo e aprofundando nos exercíci0os e tentavas. Aparando arestas, ainda.

Ora, enquanto faço mais uma pausa; preparo um cafezinho indispensável, reflito um pouco também sobre esta passagem do grande Plotino; da leitura do Enéadas. Sempre retomo esse trecho e tomo como minha esta reflexão. Diz muito sobre questões com que me envolvo! Estando por alguns dias sem acesso a redes sociais, sobrou-me um tempinho para colocar algumas atividades em ordem encerrando uma série de atividades hoje, para, em seguida retornar ao constante trabalho. 

A beleza, entendida aqui como fonte da harmonia dos seres na obra de Plotino, que a entendia como algo para além de produção meramente material; estaria em nós como atividade espiritual que impulsiona a sensibilidade, o pensamento e o desejo, sempre na direção do Bem Supremo. A realização plena da própria escultura pede um “fuga mundi”. E, nesse exercício o que se propõe não é um desprezo das coisas do mundo, não!     

 "É necessário ver a alma daqueles que realizam obras belas. Como se pode ver a beleza da alma boa? Volta-te a ti mesmo e olha se tu não vês, todavia, a beleza em ti, faze como o escultor de uma estátua, que deve ser bela; toma uma parte, esculpe-a e vai ensaiando até que tires linhas belas do mármore. Como aquele [escultor], tira o supérfluo, endireita o que é oblíquo, limpa o que está obscuro para torná-lo brilhante e não cesses de esculpir tua própria estátua, até que o resplendor divino da virtude se manifeste, até que vejas a temperança sentada sobre um trono sagrado. Tu és já isto? É isto que tu vês aí?

É isto que tu viste, um comércio puro, um trato puro, sem nenhum obstáculo à tua unificação, sem que nada estranho esteja mesclado interiormente a ti mesmo? És tu todo inteiro uma luz verdadeira, não uma luz de dimensão e de formas mensuráveis que pode diminuir ou aumentar indefinidamente em magnitude, senão uma luz que carece em absoluto de medida, porque é superior a toda medida e quantidade? Tu te vês neste estado?"

E, o dia só começou! 

Pois, que seja mais um dia de muito trabalho, de correções de percurso, mesmo com dificuldades ... "Premeditatio Malorum".  Em Paz!

______.

SUGESTÃO DE LEITURAS

XENOFONTE. Apologia de Sócrates. 5. ed. Trad. Líbero Rangel de Andrade. São Paulo: Nova Cultural, 1991. (p. 164-165). (Col. Os Pensadores)

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001. 

______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flávio Fontenelle Loque, Loraine Oliveira. São Paulo: É Realizações, Coleção Filosofia Atual, 2014.

______. Elogio da Filosofia Antiga. Trad. Flávio Fontenelle Loque e Loraine Oliveira, São Paulo: Loyola, 2012.

______. O que é a filosofia antiga?. 6. ed. São Paulo: Loyola, 1998.

______. The Inner Citadel: The Meditations of Marcus Aurelius. Trad. Michael Case, Massachusetts: Harvard University Press, 1998. IRVINE, William B. A guide to the good life: the ancient art of Stoic joy. New York: Oxford University Press, 2009.

HUIZINGA, Johan. Nas sombras do amanhã: um diagnóstico da enfermidade espiritual de nosso tempo . - Trad. Sérgio Marinho, Goiânia-GO: Editora Caminhos, 2017.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. ("As virtudes e os vícios": Q. 893-906).

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

LONG, Georg. Discourses of Epictetus, with Encheiridion and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.

LUTZ, C. Musonius Rufus, the Roman Socrates. Yale Classical Studies 10 3-147, 1947.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Livro VIII: 45, 46)

SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

NOVO REALISMO ONTOLÓGICO E FILOSOFIA DO ESPÍRITO PARA O SÉCULO XXI

 
"[...] Contra a ideia de que o mundo seria uma construção forjada por nós [...]"

Na esteira de uma proposta de "novo realismo ontológico"; terminei de ler, anteontem 20 de novembro, enquanto pausava a digitação da pesquisa; um livro que adquiri em tempos que ainda iam bem as coisas por aqui, de 2016: "O sentido da existência". Cheguei à obra, com interesse porque passa pelo Idealismo alemão. À filosofia clássica alemã... entre outros, dos quais tenho lido para a pesquisa:

"O novo livro de um dos nomes mais importantes do novo realismo Em O sentido da existência, Markus Gabriel argumenta contra a ideia de que o mundo seria uma construção forjada por nós, uma espécie de alucinação coletiva mediada pela história do desenvolvimento cultural da humanidade. Inserindo-se em um debate inaugurado por Maurizio Ferraris, o autor alemão discorre a favor de um novo realismo ontológico, espécie de retorno à verdade, em que os fatos existem, sem que com isso se determine desde o princípio no que consistem. Unindo duas tradições distintas, a filosofia analítica e a filosofia continental, passando por autores como Gottlob Frege e Friedrich Schelling, Markus Gabriel discute com filósofos contemporâneos, como Jürgen Habermas e Quentin Meillassoux, e revigora o idealismo alemão numa escrita clara e acessível."

Antes, em 2016, portanto, a leitura era só por curiosidade e ainda não tinha ouvido falar nada sobre a obra do autor. Com esta leitura, no entanto, como muita coisa que ele escreve tem forte relação com temas do idealismo alemão, do realismo, propondo uma discussão e críticas interessantes a vários aspectos com os quais concordo, inclusive tocando em aspecto da neurociência, da filosofia da consciência e vários outros correlatos que inclusive escrevo aqui.

Além deste livro: "O sentido da existência: para um novo realismo ontológico" e os outros do autor que estou destacando aqui, há um outro traduzido, recentemente: “O sentido do pensar: a filosofia desafia a inteligência artificial” que pretendo ler em breve, também e aqui um trecho da obra:

 “Por causa da enchente de informações a que estamos inevitavelmente expostos em nossa infoesfera – em nossos arredores digitais –, colocam-se novos desafios para o pensamento filosófico. O presente livro é uma tentativa de refletir sobre o que seria propriamente o pensamento, a fim de, possivelmente, recuperar um pouco de controle sobre o âmbito que hoje é reivindicado pelos questionáveis magos do vale do silicone e pelos seus adeptos tecnófilos na afirmação de criar verdadeira inteligência artificial. Precisamos desenfeitiçar os nossos gadgets eletrônicos e descartar a crença em sua onipotência, se não quisermos virar vítimas da digitalização, viciados em informação sem salvação e zumbis tecnológicos."

A estes acrescento ainda: "Eu não sou meu cérebro: filosofia do espírito para o século XXI".

“Este livro visa, de maneira universalmente compreensível, abrir novas perspectivas para a filosofia do espírito. O autoconhecimento já se encontra, há muito tempo no centro da filosofia, e a sua história prévia ajuda a compreender melhor de onde vem tanto os verdadeiros quanto os aparentes problemas com os quais nos ocupamos hoje. Em que medida deveríamos adequar nossa imagem do ser humano ao progresso tecnológico? Para que seja possível lidar de algum modo com questões como essa, de maneira sensata, devemos examinar, de modo mais preciso do que estamos habituados a fazer no nosso dia a dia, conceitos de nosso autorretrato, tais como consciência, espírito, Eu, pensamento ou liberdade.”

 Disto resulta que pretendo ler estas outras de suas obras em breve. Entre as quais, cito as "sinopses" e "trecho das obras" abaixo, juntamente com algumas outras que de certa forma tratam do tema: 

Mas, agora, retornando aos trabalhos!

______.

GABRIEL, Markus. Eu não sou meu cérebro: filosofia do espíriot para o século XXI. Trad. Lucas Machado. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2018.

______. O sentido do pensar: a filosofia desafia a inteligência artificial. Trad. Lucas Machado. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2021. 

______. Ich ist nischt Gehirn: Philosophie des Geister für das 21 Jahrundert. Ullstein Taschenbuch, 2017.

______. I am not a brain:   philosophy of mind for the twenty-first century. Translated by Christopher Turner. Polity Press, 2017.

______. O sentido da existência: para um novo realismo ontológico. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.

______. El nuevo realismo: la filosofía del siglo XXI/ coordinado por Mario Teodoro Ramírez ; textos de Maurizio Ferraris [y otros siete]. - México, Cd. Mx: Siglo XXI Editores: Universidad Michoacana de San Nicolas de Hidalgo, 2016.

______. New Realism: problems and perspectives. Edited by Alexander Kane St. Kliment Ohridski University Press. Sofia 2019.

_______

SUGESTÕES DE LEITURAS RELACIONADAS AO TEMA

 

ARAUJO, S. F.. Searle's New Mistery, Or, How Not to Solve the Problem of Consciousness. Rivista Internazionale di Filosofia e Psicologia, 4:1-12, 2013. http://www.rifp.it/ojs/index.php/rifp...

______. Psicologia e neurociência: uma avaliação da perspectiva materialista no estudo dos fenômenos mentais. 2. ed. revista e ampliada. Juiz de Fora: EDUJF, 2011.

______. O eterno retorno do materialismo: padrões recorrentes de explicações materialistas dos fenômenos mentais. Revista de Psiquiatria Clínica, 40: 114-9, 2013. http://www.scielo.br/scielo.php?scrip...

DESCARTES, René. O mundo (ou Tratado da luz) e O HomemApêndices, tradução e notas: César Augusto Battisti, Marisa Carneiro de Oliveira Franco Donatelli. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009.

______. Oeuvres. Org. C. Adam e P. Tannery. Paris: Vrin, 1996. 11v. [indicadas no texto como Ad & Tan]

 _______. Descartes: oeuvres et lettres. Org. André Bidoux. Paris: 
Gallimard, 1953. (Pléiade).

______. Discursos do Método; Meditações; Objeções e Respostas; As Paixões da Alma; Cartas. (Introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gerard Lebrun; Trad. de J. Guinsberg), Bento Prado J. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Pensadores).

DUPRÉ, John. Process of life: essays in the philosophy of biology, Oxford University Press(UK); Reprint. 2014.

______. Everything Flows: Towards a processual philosophy of biology. OUP Oxford;  Illustrated edição , 2018.

______. The Metaphysics of biology. Cambridge University Press, 2021.

HADOT, P. O véu de Ísis: ensaio sobre a história da idéia de natureza. Tradução de Mariana Sérvulo. São Paulo, Loyola, 2004, 359 pgs.

McGINN, Collin . Inborn knowledge: the mystery within. Cambridge, Massachussets: MIT Press, 2016.

MOUZE, L. 'De quoi parle le Fedre?' In. Platon. Phédre. Paris, Librairie Genérale Française, Edition Les Classiques de Philosophie, Livre de Poche, 2007, 315 pgs.

PLATÃO. As Leis e Epinomis. Trad. Edson Bini. Bauru, SP: Edipro, 2010..

________. Banquete, Fédon, Sofista e Político. Trad. José Cavalcante de Souza, Jorge Paleikat e João Cruz Costa. São Paulo: Abril Cultural, 1972.

________. Fedro, Cartas e Primeiro Alcibíades. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: ed. da Universidade Federal do Pará, 1975.

________. Fedro, Eutífron, Apologia de Sócrates, Críton, Fédon. Trad. Edson Bini. Bauru, SP: Edipro, 2008.

________. Górgias, Eutidemo, Hípias Maior e Hípias Menor. Trad. Edson Bini. Bauru, SP: EDIPRO, 2007.

________. Mênon. Trad. Maura Iglésias. Rio de Janeiro: Ed. PUC-RIO; São Paulo: Ed. Loyola, 2001.

________. Górgias, Protágoras. 3. ed. Trad. Carlos Alberto Nunes. Edição bilíngue; Belém, PA, 2021.

________. Mênon, Eutidemo. 3. ed. Trad. Carlos Alberto Nunes. Edição bilíngue; Belém, PA, 2021.

________. República de Platão. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2012.

________. Teeteto. Trad. Adriana Manuela Nogueira e Marcelo Boeri. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

________. Sofista. Político. Timeu. Crátilo.  Trad. Maria Gabriela de Bragança. 2. ed. Mem Martins - Portugal: Publicações Europa-América, 1999.

PRICE, A. W. Conflito mental. Campinas, SP: Ed. Papirus, 1998.

_____. Mental conflict. London: Ed. Routledge, 1995.

SWINBURNE, Richard. Are We Bodies or Souls? Oxford University Press, 2019.


domingo, 21 de novembro de 2021

REFLEXÃO MATINAL CI: DA ANTROPLOGIA KANTIANA E OUTRAS POSSÍVEIS RELAÇÕES BUSCADAS

 

 

Foi assim, após a “meditação da manhã”, estudando e escrevendo um capítulo de livro e revisando outros textos para submissão, após ter apresentado um pequeno trabalho num evento sobre Estoicismo que, aproveitando a pausa com a pesquisa principal reli o trecho que segue abaixo. De todas as leituras recentes sempre, em certa medida, tenho notado um renovado convite a estar atento ao que realmente está ao nosso alcance e o que não é de nossa alçada, separando pacientemente uma coisa da outra para continuar o caminho nas correções. Convite sempre reiterado, principalmente, na linha de interpretação do que escrevemos aqui, neste texto e outros. Ora, cabendo sempre observar que a prática visada concernente à filosofia moral aqui, numa perspectiva "estoica" ou "kantiana", amparadas em outras referências clássicas na filosofia, preservar a motivação na busca individual pela Virtude e "cura das paixões". 

Aliás, este tema "paixões" que tem sido frequente aqui nesta página, também aparece na obra citada abaixo "Antropologia de um ponto de vista pragmático" e vou escrever algo mais sobre isso, em breve. Inclusive, tentando relacionar as fontes consultadas com frequencia.

Eis, portanto, um trecho da leitura e estudos da manhã: 

“Como por fim, para a sua própria promoção, mesmo no conhecimento teórico, o uso total da faculdade de conhecer necessita da razão, que dá a regra somente conforme a qual se pode promovê-la, pode-se resumir o que a razão exige dela em três perguntas, que são colocadas segundo suas três faculdades:

  • o que eu quero? (pergunta o entendimento);
  • de que se trata? (pergunta o juízo);
  • o que resulta disso? (pergunta a razão).

As mentes são muito diferentes em sua capacidade de responder a essas três perguntas. - A primeira requer apenas uma mente clara para entender a si mesma, e esse dom natural é, com alguma cultura, bastante comum, principalmente se se chama a atenção para isso. - Responder acertadamente a segunda é muito mais raro, pois se oferecem muitas formas de determinação do presente conceito e de resolução aparente do problema: qual é a única exatamente adequada a ele (por exemplo, nos processos ou nos inícios de certos planos de ação para o mesmo fim)? Para isso há um talento em escolher o precisamente justo num certo caso (iudicium discretivum), talento bastante desejável mas também muito raro.

[...]

Pela grande diferença no modo como as mentes consideram exatamente os mesmos objetos e se consideram mutuamente, pelo contato e pela união delas, tanto quanto por sua separação, a natureza produz um espetáculo digno de ser visto no palco de observadores e pensadores infinitamente distintos em sua espécie. Para a categoria dos pensadores as máximas seguintes (já mencionadas acima como conduzindo à sabedoria) podem se tornar mandamentos imutáveis:

  1. Pensar por si.
  2. Pôr-se (na comunicação com seres humanos) no lugar do outro.
  3. Pensar sempre de acordo consigo mesmo.

O primeiro princípio é negativo (nullius addictus iurare in verba Magistri*), é o princípio do modo de pensar livre de coação; o segundo é positivo, é o princípio do modo liberal de pensar, que se acomoda aos conceitos dos outros; o terceiro, o principio do modo conseqüente (coerente) de pensar; a antropologia pode dar exemplos de cada um deles, e mais ainda de seus contrários. A mais importante revolução no interior do ser humano é "a saída deste do estado de menoridade em que se encontra por sua própria culpa". Enquanto até aqui outros pensaram por ele, e ele simplesmente imitou ou precisou de andadeiras, agora, vacilante ainda, ele ousa avançar com os próprios pés no chão da experiência.”

* Não sou obrigado a jurar lealdade a nenhum mestre" (Horácio)

______.

ARISTÓTELES. MetafísicaÉtica a Nicômaco; Poética. (Tradução Vincenzo Coceo, Leonel Vallandro e Gerd Bornheim e Eudoro de Souza. São Paulo: Nova Cultural, 1984.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012)

BECK, Judith S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre, RS, 2997.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

______. Introdução ao Manual de Epicteto. 3. ed. São Cristóvão: EdiUFS, 2012.

GALENO. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.

______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flávio Fontenelle Loque, Loraine Oliveira. São Paulo: É Realizações, Coleção Filosofia Atual, 2014.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

_____. Silêncio: o poder da quietude em um mundo barulhento. Rio de Janeiro, RJ: Harper Collins, 2018.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. "Do ideal de Sumo Bem como um fundamento determinante do fim último da razão puraSegunda seção". (A805, 806 - B833, 834). Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1994.

______. Sobre a Pedagogia. Tradução de Francisco Cock Fontenella. Piracicaba, SP: Editora Unimep, 1996.

______. Antropologia de um ponto de vista pragmático. Tradução Clélia Aparecida Martins. São Paulo: Iluminuras, 2006.

______. Sobre a Pedagogia. Petrópolis, RJ, Editora Vozes, 2021.

______. Resposta à pergunta: o que é “esclarecimento”?. In: Immanuel Kant textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. (“As virtudes e os vícios” - Q. 893-912)

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

PLATÃO. Mênon. Trad. Maura Iglésias. Rio de Janeiro: Ed. PUC-RIO; São Paulo: Ed. Loyola, 2001.

________. República de Platão. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2012.

________. Teeteto. Trad. Adriana Manuela Nogueira e Marcelo Boeri. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

________. Timeu. Trad. Maria José Figueredo. Lisboa: Instituto Piaget, 2003.

ROBERTSON, Donald. The Philosophy of Cognitive Behavioural Therapy (CBT): stoic philosophy as rational and Cognitive Psychotherapy. Londres  :Karnac Books, 2010.

______. Pense como um imperador. Trad. Maya Guimarães. Porto Alegre: Citadel Editora, 2020.

______. How to think Like a roman emperor: the stoic philosophy of Marcus Aurelius. New York: St. Martin's Press, 2019.

SELLARS, J. The Art of Living: the stoics on the nature and function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.KANT, Immanuel. Antropologia de um ponto de vista pragmático. Tradução Clélia Aparecida Martins. São Paulo: Iluminuras, 2006.

 

O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...