segunda-feira, 30 de maio de 2022

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA L: QUAL A RELAÇÃO ENTRE UM "CHÁ DE GENGIBRE", O TEXTO "OMELETE DE AMORAS" E A MEMÓRIA?

(IMAGEM: "Casa e Jardim - Globo")
 

Fugindo (por alguns minutos) das preocupações com textos e pesquisa; lendo alguns artigos aqui, somente para agregar um pouquinho mais de informações sobre um tema ao qual dedico muito tempo, desde antes da “graduação; pós-graduação; informações acadêmicas em geral, mas com muito maior relevância. Tanta que tem me dado base para uma existência plena de sentidos, apesar de tantos percalços, necessidades e solavancos contra a saúde física.

Assim, como estudar os temas relacionados à Memória me agradam e tem me trazido grandes satisfações, difícil negar que às vezes que ela nos pega desprevenidos e nos leva ao seu “divã” e, nos apresenta fatos rememoráveis distantes que esquecemos, ficaram longe num passado bem recente ou mais distante mesmo.

Digo isso enquanto na preparação de um rememorável chá de gengibre com canela, que por sinal além de saboroso mexeu, agora, com a Memória.

E, isso me remeteu ainda uma outra Memória:

Há muitos anos, ainda à época de graduação, tive primeiro contato com este texto. Independente do contexto e do motivo para o qual o texto constava na bibliografia do curso, o certo é que o texto marcou-me bastante, pelo fato de desde essa época ter interesse e discutir um tema que ainda interessa-me demais: a Memória

...

Leia-se o Texto, escrito por Walter Benjamin, portanto:

"OMELETE DE AMORAS

Esta velha história, conto-a àqueles que agora gostariam de experimentar figos ou Falerno, o borscht ou uma comida camponesa de Capri
Era uma vez um rei que chamava de seu todo poder e todos os tesouros da Terra, mas, apesar disso, não se sentia feliz e se tornava mais melancólico de ano a ano. Então, um dia, mandou chamar seu cozinheiro particular e lhe disse: 

- Por muito tempo tens trabalhado para mim com fidelidade e me tens servido à mesa os pratos mais esplêndidos, e tenho por ti afeição. Porém, desejo agora uma última prova de teu talento. 

Deves me fazer uma omelete de amoras tal qual saboreei há cinquenta anos, em minha mais tenra infância. Naquela época meu pai travava guerra contra seu perverso vizinho a oriente. Este acabou vencendo e tivemos de fugir. E fugimos, pois, noite e dia, meu pai e eu, até chegarmos a uma floresta escura. Nela vagamos e estávamos quase a morrer de fome e fadiga, quando, por fim, topamos com uma choupana. Aí morava uma vovozinha, que amigavelmente nos convidou a descansar, tendo ela própria, porém, ido se ocupar do fogão, e não muito tempo depois estava à nossa frente a omelete de amoras. Mal tinha levado à boca o primeiro bocado, senti-me maravilhosamente consolado, e uma nova esperança entrou em meu coração. Naqueles dias eu era muito criança e por muito tempo não tornei a pensar no benefício daquela comida deliciosa.

Quando mais tarde mandei procurá-la por todo o reino, não se achou nem a velha nem qualquer outra pessoa que soubesse preparar a omelete de amoras. Se cumprires agora este meu último desejo, farei de ti meu genro e herdeiro de meu reino. Mas, se não me contentares, então deverás morrer. – Então o cozinheiro disse: - Majestade, podeis chamar logo o carrasco. Pois, na verdade, conheço o segredo da omelete de amoras e todos os ingredientes, desde o trivial agrião até o nobre tomilho. Sem dúvida, conheço o verso que se deve recitar ao bater dos ovos e sei que o batedor feito de madeira de buxo deve ser sempre girado para a direita de modo que não nos tire, por fim, a recompensa de todo o esforço. Contudo, ó rei, terei de morrer. Pois, apesar disso, minha omelete não vos agradará ao paladar. Pois como haveria eu de temperá-la com tudo aquilo que, naquela época, nela desfrutastes: o perigo da batalha e a vigilância do perseguido, o calor do fogo e a doçura do descanso, o presente exótico e o futuro obscuro. – Assim falou o cozinheiro. O rei, porém, calou um momento e não muito tempo depois deve tê-lo destituído de seu serviço, rico e carregado de presentes."

______.

AGOSTINHO de HIPONA (354 - 430). Confissões. Livro X, XII e XVIII

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

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______. O eu e o inconsciente. Petrópolis/RJ: Editora Vozes, 2011. (Obras completas, Vol. 7/2.)

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PROUST, Marcel. Em busca do tempo perdido. 4.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, RJ, 2017. 3 vols.


quinta-feira, 26 de maio de 2022

BREVÍSSIMA REFLEXÃO MATINAL

(IMAGEM: "Pinterest")

Trechos de uma bela passagem das Meditações - de Marco Aurélio.

A serenidade recomendada ao "prokopton" que deve prevenir-se do jugo das paixões; que não se deixe dominar nem abater-se por sentimentos desagradáveis ou pessimistas:

"[...] o presente não me fere nem o futuro me assusta."

. ' .

"[...] sempre que um acontecimento provoque a tua tristeza, recorre a esta verdade: não é uma desgraça, mas suportá-lo corajosamente é uma felicidade." (MARCO AURÉLIO. Meditações. Livro IV :49)

. ' .

A isso acrescento hoje, 28 de maio:

Table of Contents.

How can Stoicism help you? Being a “Stoic” doesn’t mean discarding emotions.

1. Focus on what you can control.

2. Take action.

3. Be virtuous.

4. Lead by example.

5. Diminish your ego.

6. You’re not entitled to anything.

7. Exercise your will.

8. Practice resilience when faced with obstacles, failure, or tragedy.

9. Choose your response.

10. Be grateful.

______.

Fonte:

10 Essential Principles and Practices of Stoicism. Disponível em: https://becomingbetter.org/10-essential-principles-and-practices-of-stoicism/ Acesso em: 29 de maio de maio de 2022.

 

quarta-feira, 25 de maio de 2022

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XLIX: AS "PAIXÕES" E AS "DOENÇAS DA ALMA"


(IMAGEM: "Pinterest")

Mais uma vez, revisitando velho e recorrente tema: “As paixões”. Tenho escrito aqui varios pequenos textos sobre autores que, em grande medida, tomam uma postura dos que acreditam que as paixões, são bem próximas do que se denomina doença e propõem a “cura das paixões”, outros propondo uma “moderação das paixões”, como os estoicos e outros citados abaixo. Mas, aqui não se trata mais de suprimi-las, nem mesmo de contê-las, moderando-as. “Para Hume, a contraparte da dessacralização do mundo é, justamente, aquele “culto das paixões” que ensina a conviver em sociedade e a usufruir do prazer a que a natureza humana está predisposta.”  

Geralmente, em filosofia, Aristóteles Platão podem ser vistos como os primeiros pensadores a tratarem detidamente o tema da "paixões", e seu papel na constituição do ser humano. Para eles, as paixões se apresentam como obstáculos na obtenção do verdadeiro conhecimento, Platão chega a equiparar paixões e doenças, por exemplo.  Na Modernidade, autores da área da Psicologia, tentam explicar os mecanismos para o funcionamento e consequências destas para conduta do ser humano. Na Filosofia, portanto, vários outros filósofos se dedicaram ao tema. Por exemplo: Cícero, Henri Bergson, René. Descartes, J.-J. Rousseau, Thomas Hobbes, Baruch Spinoza, Immanuel Kant, David Hume, Michel de Montaigne, Nicolau Maquiavel. Voltaire, Hume e outros.

No final do texto, acrescento uma nota de rodapé, referente ao que tenho refletido sobre o tema, há alguns anos; saindo do campo específico do texto, que é um esforço de continuidade nas reflexões sobre o tema na filosofia e na psicologia, conforme autores listados no parágrafo acima.

Na Ética a Nicômaco, capítulo 3 do livro 1, Aristóteles aponta elementos sobre como deve ser estudado o assunto das paixões. Ele mesmo, parece reconhecer os limites e a dificuldade em se traçar um estudo definitivo.

A quem pretenda estudar o assunto, Aristóteles sugere uma conduta que reconheça a dificuldade em se apresentar argumentos definitivos; conclusões apressadas. A razão (tem limites) não pode tudo, nesse assunto. As paixões, segundo Aristóteles, deixam, mesmo assim, abertas as possibilidades para nosso autogoverno. Como lemos em Lebrun (1987):

“O virtuoso, [ao invés de refrear as paixões], age corretamente, mas em harmonia com suas paixões, porque ele as dominou de uma vez por todas. Não só aprendeu a agir de modo conveniente, mas a sentir o páthos adequado” (LEBRUN, 1987, p. 20).

Raciocínio bem próximo, tenho estudado nas obras de pensadores estoicos como as de Epicteto, Musônio Rufo, Sêneca e Marco Aurélio.

Ou seja: na obra de Aristóteles, a discussão sobre as paixões é fundamental na formação de indivíduo virtuoso. Para ele, o homem é responsável pela autoeducação das tendências naturais; o mau uso ou usá-las para o bem e virtude, é responsabilidade de cada um. Alcançar a virtude, portanto, seria o resultado do exercício constante da razão pelo homem. Ainda nos diz, Lebrun:

“Devemos aprender a viver em conformidade com o lógos, mas sem esquecer que as paixões continuam sendo a matéria de nossa conduta – e que só a propósito de seres passionais se pode falar em conduta razoável. Paixão e razão são inseparáveis, assim como a matéria é inseparável da obra e o mármore da estátua (LEBRUN, 1987, p. 22).”

Resta-nos assim, em relação à paixões, enfrentarmos a questão da autoeducação e dominá-las. E, acima de tudo, bem conduzí-las![1]

"[5a] As coisas não inquietam os homens, mas as opiniões sobre as coisas." (EPICTETO, 2012)

Hoje, 25 de maio, acabei der ler um outro livro de David Hume sobre as paixões.

E, segundo o tradutor: “O Sr. Hume possui um sentimento delicado, um pensamento de feitio original, uma linguagem perspícua, não raro elegante, qualidades que não poderiam deixar de recomendar seus escritos a todo leitor de bom gosto. É pena que um gênio como esse empregue as suas habilidades como frequentemente o faz em seus ataques à religião de seu país. Ele não age como um inimigo franco e leal, mas tenta enfraquecer a autoridade dela por meio de sugestões oblíquas e insinuações ardilosas. Desse ponto de vista, sua obra não merece muita estima, se é que merece alguma; e poucos leitores dotados de discernimento o louvarão com epítetos de acuidade ou elegância, se considerarem que ele emprega essas qualidades para preencher a mente com as incômodas flutuações do ceticismo e com uma infidelidade sombria. William Rose, 1757 As paixões nunca foram bem vistas pelos filósofos. De Platão e Aristóteles a Descartes e Hobbes, elas são o contraponto da razão. Imiscuindo-se na imaginação, atrapalham as deliberações razoáveis e perturbam a conduta. Incontornáveis, porque enraizadas no corpo, devem ser contidas. Em manuais dedicados à conduta do entendimento, Locke e Espinosa tentam proteger as ideias retas e sãs contra a ação insidiosa desse inimigo formidável. Nessa história de desconfiança, Hume é a exceção. Adepto de uma filosofia experimental pautada por um rigoroso método de análise da experiência moral, ele se distancia dos filósofos e aproxima-se dos moralistas. É um admirador dos preceitos clássicos do Grande Século francês, época em que a boa sociedade se dedicava ao que Auerbach chamou de “culto das paixões”. Leitor de Racine, Hume descobre nas próprias paixões o antídoto para os males que elas causam. Doravante, não se trata mais de suprimi-las, nem mesmo de contê-las. Apropriando-se da sua força magnífica, a arte, e em especial a arte de escrever, elabora uma pedagogia da sensibilidade. A partir desse preceito, Hume tece considerações críticas sobre a oratória, a tragédia, a poesia e a história, ocupando-se delas em seus ensaios morais e literários (publicados pela Iluminuras no volume A arte de escrever ensaio). Já neste outro volume, o leitor encontrará, além da Dissertação sobre as paixões, que retoma o livro II do Tratado da natureza humana, o opúsculo História natural da religião. Esse texto veemente encontra as paixões na origem primeira da religião. Mas que não se espere desse cético convicto uma defesa da “religião natural”, baseada na ciência e na razão. A implacável descrição da gênese do fenômeno religioso termina com um elogio da descrença. Mas não do niilismo. Para Hume, a contraparte da dessacralização do mundo é, justamente, aquele “culto das paixões” que ensina a conviver em sociedade e a usufruir do prazer a que a natureza humana está predisposta.” (Pedro Paulo Pimenta)

_____.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1987 (col. Os Pensadores).

ARISTÓTELES. Ethica Nicomachea - III 9 - IV 15: As virtudes morais. Trad. Marco Zingano. São Paulo: Odysseus Editora, 2019.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

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______.

[1] Ainda, só para reflexão pessoal: li, na obra do século XIX, do autor francês Allan Kardec (2013), o seguinte:

“907. Será intrinsecamente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na Natureza?

“Não; a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal.”

908. Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más?

“As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado, e que se torna perigoso quando passa a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la, e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos ou para outrem.”

As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos desígnios da Providência. Mas se, em vez de as dirigir, deixa que elas o dirijam, cai o homem nos excessos e a própria força que, manejada pelas suas mãos, poderia produzir o bem, contra ele se volta e o esmaga.


Todas as paixões têm seu princípio num sentimento ou necessidade natural. O princípio das paixões não é, assim, um mal, pois que assenta numa das condições providenciais da nossa existência. A paixão propriamente dita é a exageração de uma necessidade ou de um sentimento. Está no excesso e não na causa, e este excesso se torna um mal quando tem como consequência um mal qualquer.

Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal afasta-o da natureza espiritual.

Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal denota predominância do espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição.

domingo, 22 de maio de 2022

REFLEXÃO MATINAL CXXVII: DAS PAIXÕES DA ALMA À APATHEIA E ATARAXIA

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Tomando o enunciado como uma das tarefas fundamentais e, com certeza, para alcançar 'Aταραξία - ataraxia. Como sempre digo quando são desse tipo, estão bem em consonância com os enunciados básicos que, como princípios, já adotamos aqui, pois:

"[...] se a razão prevalecer, as paixões nem sequer começarão; mas se elas se encaminharem contra a vontade da razão, elas se manterão contra a vontade da razão. Pois é mais fácil detê-las no começo do que controlá-las quando ganham força." (DESCARTES. Paixões da alma.)

Como tenho feito e deve ser feito, prossigo aqui com as reflexões, estabelecidas, para mim, por mim, já há algum tempo, em nível de aprendizagem constante, como projeto: a reforma de conduta pessoal, “curar as paixões”; domar o corcel desgovernado, exercitar-se sem rudeza, em abandonar um hábito.

Ou seja, todos os esforços para melhor compreensão do que seja desenvolver e aplicar a virtude, em aprimorar as emoções, exatamente por pressupor que tais podem ser revertidas. Ao contrário de concepções mirabolantes que dominam o "mercado", é possível e viável tal reversão, em força interior para resistir aos assaques e provocações externas, na constituição da imperturbável tranquilidade da alma (ataraxía - ἀταραξία).

Para isso, adotamos, manter livre o princípio diretor:

"Apaga a imaginação; acalma o impulso; extingue o desejo: domina a tua alma." (MARCO AURÉLIO. Meditações. IX,7)

E, leio e releio sempre também em René Descartes, na obra sobre “As paixões da alma”, ponto de partida da reflexão desta manhã:

"Ora, visto que essas emoções interiores nos tocam mais de perto e têm, por conseguinte, muito mais poder sobre nós do que as paixões que se encontram com elas, e das quais diferem, é certo que, contanto que a alma tenha sempre do que se contentar em seu íntimo, todas as perturbações que vêm de outras partes não dispõem de poder algum para prejudicá-la. Servem, antes, para lhe aumentar a alegria, pelo fato de, vendo que não pode ser por elas ofendido, conhecer com isso a sua própria perfeição. E, para que a nossa alma tenha assim do que estar contente, precisa apenas seguir estritamente a virtude. Pois quem quer que haja vivido de tal maneira que sua consciência não possa censurá-lo de alguma vez ter deixado de fazer todas as coisas que julgou serem as melhores (que é o que chamo aqui seguir a virtude), recebe daí uma satisfação tão poderosa para torná-lo feliz que os mais violentos esforços da paixão nunca têm poder suficiente para perturbar a tranqüilidade de sua alma".

Portanto, na busca pela vida tranquila e feliz, a proposta da filosofia estoica era de que os fatores externos que comprometessem a perfeição moral e intelectual devem ser ignorados, superados, tratados com apátheia (ἀπάθεια).

Mesmo nas dificuldades, a reação indicada ao ser humano, era sempre agir com muita calma e tranquilidade, sem que fatores externos perturbem nossa capacidade de julgar ou reagir.

Seguimos assim, então, numa tradição que Pierre Hadot chamou de “exercícios espirituais

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ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

CÍCERO, M.T. 1988. De finibus bonorum et malorum / Über die Ziele des menschlichen Handelns. Edição e tradução: Olof Gigon. München/Zürich: Ártemis.

DESCARTES, René.  Discursos do Método; Meditações; Objeções e Respostas; As Paixões da Alma; Cartas. (Introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gerard Lebrun; Trad. de J. Guinsberg), Bento Prado Jr. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Pensadores).

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

KANT, Immanuel. Crítica da razão prática. Edição bilíngüe.Tradução Valerio Rohden. São Paulo: Martins Fontes. 2003.

_______.Crítica da razão pura. Tradução Valerio Rohden e Udo Moosburguer. Coleção OsPensadores. São Paulo,Abril Cultural, 1983.

______. A religião nos limites da simples razão. Edições 70, Lisboa, 1992.

_______. 1902 ss. Reflexionen zur MoralphilosophieIn: KANT, Immanuel. Kants Werke, Ed. Königlich Preussischen Akademie der Wissenschaften, Berlin, Georg Reimer, Akademie Text-Ausgabe, Berlin,Walter de Gruyter & Co.>, vol. XIX.

_______. Dissertação de 1770. Trad. Leonel R. Santos. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985.

_______. Crítica da faculdade do juízo. Trad.Valerio Rohden e António Marques, 1993.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985).(O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 907-912: "paixões"; 893-906: “virtudes e vícios”e 920-933: "felicidade")

LEBRUN, Gérard. O conceito de paixãoIn: NOVAES, Adauto (org.). Os sentidos da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Livro II. 1).

SÊNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 14. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gubekian, 2014 (Carta LXXX)

TEIXEIRA, L. Ensaio sobre a Moral de Descartes. 222p. Tese (Cátedra) – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras. São Paulo, 1955.

sábado, 21 de maio de 2022

BREVÍSSIMA REFLEXÃO MATINAL CXXVI: O ESPETÁCULO EXTERIOR

 

(IMAGEM: "Pinterest")

O espetáculo exterior, num mundo sobre o qual dizia o Cohélet 1:1-2: "Tudo é fútil! Futilidade das futilidades! Sim, tudo é fútil!"

"[...] o espetáculo exterior [das coisas] é um maravilhoso perverter da razão, e quando temos certeza de que as coisas com as quais estamos lidando valem a pena, é quando ela mais nos engana. (Meditações. VI, 13)"

Ademais, é fundamental que tais reflexões jamais tenham "[...] a pretensão de lidar com assuntos que estão acima de minha compreensão" (Tehilim: 131: 1-2)

E, "[...] Não se submeter às coisas exteriores significa ter uma nova atitude diante delas: não vê-las como coisas boas ou más em si mesmas, não se queixar ou lamentar-se diante delas (Diss. 1.18.23), mas enfrentá-las com serenidade e coragem.". (DINUCCI, Aldo. In: PERI, v . 08, n. 02, 2016 . p . 177 - 191)

______.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1987 (col. Os Pensadores).

______. Ethica Nicomachea - III 9 - IV 15: As virtudes morais. Trad. Marco Zingano. São Paulo: Odysseus Editora, 2019.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

COELHO, Humberto Schubert. Genealogia do Espírito. Brasília, DF: 2012.

______. Filosofia perene: o modo espiritualista de pensar. São Paulo: Ed. Didier, 2014.

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

EPICTÉTE. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue).

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

______. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments: Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

FOOT, Philippa. Natural goodness. Clarendon Press, 2003.

______. Moral dilemmas: and other topics in moral philosophy. Oxford University Press, 2003)

______. Virtues and Vices: and other essays in moral philosophy. OUP Oxford; Reprint, 2003). Informações sobre a a autora: https://pt.wikipedia.org/wiki/Philippa_Foot

GALENO. Aforismos. São Paulo: E. Unifesp, 2010.

______. On the passions and errors of the soul. Translated by Paul W . Harkins with an introduction and interpretation by Walter Riese. Ohio State University Press, 1963.

GAZOLLA, Rachel.  O ofício do filósofo estóico: o duplo registro do discurso da Stoa, Loyola, São Paulo, 1999.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.


segunda-feira, 16 de maio de 2022

LOCKE E LEIBNIZ: SOBRE A DISCUSSÃO FÉ X RAZÃO

 1. Resultado de imagem para novos ensaios sobre o entendimento humano 2. Resultado de imagem para novos ensaios sobre o entendimento humano

Ainda Estudando o tema, desde 2019, quando reli com atenção o texto de S. S. Chibeni sobre "Locke e o materialismo". O tema, como sempre, atualíssimo para mim. Ampliando, recentemente, para as reflexões a partir de Immanuel Kant, com novas traduções que tenho citado aqui no Blog.

BOA FILOSOFIA

Uma reflexão a partir de John Locke, sobre "fé e razão"

Com a leitura matinal, do livro II do Ensaio, Locke, tratando da lei divina, sustenta que o homem pode ter acesso a ela por meio de duas fontes: luz natural e revelação.

luz natural é a razão de que o homem é dotado para conhecer a lei moral que deve governar a sua vida. A revelação é uma comunicação divina que traria ao homem algumas verdades “já prontas”.

Já, em seu primeiro livro, o Ensaio, várias vezes, Locke faz referência ao binômio razão-revelação. Uma definição desses termos, mais sistemática só é apresentada no livro IV. 

No capítulo XVIII desse livro IV, por exemplo, Locke dedica-se a uma análise da razão. E, no capítulo XIX, encontramos o estudo da relação entre  (religiosa) e razão, e apresenta uma definição para os dois termos:

"Por razão eu entendo, em contraposição à fé, descobrir certeza ou probabilidade numa proposição ou verdade à qual a mente chega por deduções a partir de ideias de sensação ou de reflexão, suas faculdades naturais.(Ensaio. IV.XVIII.2)"

E, a "fé, por outro lado, é assentir a uma proposição, que não apresentada por deduções da razão, mas com base no crédito daquele que as propõe como vindas de Deus por comunicação extraordinária. Essa via de manifestar verdades ao homem nós chamamos revelação.(Ensaio. IV.XVIII.2)"

O filósofo alemão Leibniz se interessou muito pelo Ensaio de Locke; e escreveu uma obra crítica intitulada Novos ensaios sobre o entendimento humano, que se corresponde com o Ensaio parágrafo por parágrafo. 

Logo no prefácio, Leibniz diz o seguinte:

“Sendo que o Ensaio sobre o entendimento, obra publicada por um ilustre inglês, constitui um dos mais belos e mais estimados livros do tempo atual, tomei a resolução de fazer-lhe observações (…)”. 

As observações, bem diferentes de Locke sobre vários temas do Ensaio, mas quando fala do capítulo XVIII do livro IV, Leibniz concorda, quase que integralmente, com o pensamento de Locke. 

Leibniz comenta a relação entre a razão e a fé; é isso que decidi voltar a estudar na manhã de hoje e, com certeza, prosseguirei, já que os autores e a temática fundamental não foge do meus interesses básicos pessoais nem dos que tenho estudado para a pesquisa em si mesmo.

______.

ANTOGNAZZA, Maria Rosa. The Oxford Handbook of Leibniz. Oxford University Press, 2018.

AYERS, M. Locke: ideias e coisas. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: Editora Unesp, 2000.

BUTLER, J; CLARKE, S; HUTCHESON, F; MANDEVILLE, B; SHAFTESBURY, L; WOLLASTON, W. Filosofia moral britânica: Textos do Século XVIII. Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2014.

CHIBENI, Silvio Senno. Locke e o materialismo. Disponível em: https://www.unicamp.br/~chibeni/public/lockeeomaterialismo  Acesso em 15 abril de 2022.

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

HUME, Davis. História natural da religião. Trad. apres. e notas Jaimir Conte. São Paulo: Ed. Unesp, 2005.

KANT, Immanuel. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

______. Lições de metafísica. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2021.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Guido A. de. São Paulo: Discurso editoria: Barcarola, 2009.

______. Textos pré-críticos. São Paulo: Editora Unesp, 2005.

______. Textos seletos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Investigação sobre a clareza dos princípios da teologia e da moral. Lisboa: Imprensa Casa da Moeda, 2007.

LEIBNIZ. G. W. Novos ensaios sobre o entendimento humano. Lisboa: Edições Colibri, 1993.

______. Ensaios de teodicéia. São Paulo: Estação Liberdade, 2013.

______; WOLFF, C; EULER, L.P; BUFFON, G.-L; LAMBERT, J. H; KANT, I. Espaço e pensamento: textos escolhidos. Organização de Márcio Suzuki (Org.). Tradução de Márcio Suzuki e Outros. São Paulo: Editora Clandestina, 2019. 286.

LIMA VAZ, H. C. Experiência mística e filosofia na tradição ocidental. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
http://socserv.socsci.mcmaster.ca/~econ/ugcm/3ll3/locke/index.html.

LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. Trad. Pedro Paulo Pimenta. São Paulo: Martins Fontes, 2012. (pp. 757-777)

______. An essay concerning human understanding. Edited with an Introduction, Critical Apparatusand Glossary by PeterH.Nidditch. Oxford, Clarendon Press, 1975.

 ______. La ley de la naturaleza. Traducción Carlos Mellizo. Madrid: Editorial Tecnos, 2007.

______. Draft A do ensaio sobre o entendimento humano. Trad. Pedro Paulo Pimenta. São Paulo: Editora Unesp, 2013.

______. The philosophical works and selected correspondence of John Locke. Edição eletrônica da série Past Masters. Acessado em 4 de dezembro de 2019. https://searchworks.stanford.edu/view/9390257

PHILONENKO, Alexis. L'Oeuvre de Kant: la philosophie critique. Tome I. J. Vrin, 1996. (col. Bibliothèque d'histoire de la philosophie)

RATEAU, Paul. Leibniz on the Problem of Evil. Oxford University Press, 2019.

O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...