domingo, 30 de abril de 2023

REFLEXÃO MATINAL CLIV: SOBRE "LESSONS IN STOICISM" DE JOHN SELLARS

 


Enquanto faço mais uma das necessárias pausas nas leituras principais, estou  terminando esse excelente livro de John Sellaers

E, mais uma vez, meditava, há pouco, sobre se o Estoicismo NÃO é mera "autoajuda"- daquelas que muitos pagam horrores por ouvir o que se quer ouvir; do autor que foi pago exatamente para isso: para salvar as “egoidades”.

Desde que me percebi, interessado na temática, embora já tenha adotado, bem antes, um outro referencial principal, há muito tempo; passei a pensar nas referências todas, tidas como “autoajuda” (que, aliás, só ajudam quem recebe fortunas para dizê-las). Portanto, elas tem sempre um mesmo “padrão”.

Há entre essas obras as que ensinam que a todos, tudo é possível de realizar-se; basta que se “empreenda”. E, numa outra direção (que bem compreendida, aceito): as que recomendam resignação perante os insucessos e desditas. 

Notório que, por vivermos numa sociedade imediatista que defende, valoriza e divulga os que “fazem sucesso”, hajam até administradores para contas de redes sociais para mediar o alcance dessa influência ou tornar um determinado sujeito ou instituição aceito e popular: os "influencer".

Voltei a pensar nessa questão; já escrevi isto aqui. Não me ocupo, é evidente, em “mudar o mundo”, o que seria uma “contradição”, tendo em vista o estilo adotado para esta página, este blog.  Sempre, como “pano de fundo” está a necessidade de uma guinada, no ponto de vista pessoal, na compreensão de que a vida deve ser operada, numa outra chave de interpretação. Foi na esteira dessa reflexão que iniciei, há alguns anos, a leitura dos estoicos e, no que tenho estudado e escrito por aqui: os ensinamentos são aplicáveis “de mim para mim”. Compartilho-os, se houver alguém mais a ler comigo, sempre há um ou outro! Mas, o objetivo fundamental é o da própria “cura das paixões”.

Dessas leituras todas, tenho extraído, entre outras a seguinte recomendação: primeiro, um exercício de distanciamento, para longe de propostas “mercadológicas” de sucesso rápido, é o passo inicial. Segundo, a dedicação e atenção (prosoché - προσοχῆς) ao tempo e disposição para uma reviravolta e “olharmos para dentro”, para um autoconhecimento.

É aqui, juntando às reflexões de uma “filosofia de vida” adotada ainda na adolescência, que passei a estudar a obra dos estoicos, apresentada a mim, como mera autoajuda, equívoco que com o tempo vou corrigindo. Ora, se for “mera “autoajuda”, temos uma autoajuda de uma qualidade imprescindível, exatamente por apresentar uma proposta de “olhar para dentro, de autoconhecimento” e que necessariamente, não pagamos para alcançá-la.

No que acrescento aqui, um livro que acabei de reler: “The art of living: the stoics on the nature and function of philosophy hoje como “reflexão matinal”, à maneira dos estoicos, tomo como ponto de partida, alguns trechos de outro texto de John Sellars (2020). A estes, acrescento, "Lessons in Stoicism: what ancient philosophers teach us about how to live" e, no final dos comentários breves, uma série de sugestões de leituras das que tenho feito e indicado aqui.

Assim, prossigo com algumas questões propostas por Sellars.

“E se alguém lhe dissesse que grande parte do sofrimento em sua vida se deve simplesmente à maneira como você pensa sobre as coisas? Não me refiro ao sofrimento físico como dor ou fome, mas a todas as outras coisas que podem colorir negativamente a vida de uma pessoa: ansiedade, frustração, medo, decepção, raiva, descontentamento geral. E se alguém afirmasse que poderia mostrar a você como evitar tudo isso? E se eles dissessem que essas coisas eram na verdade o produto de olhar o mundo de maneira equivocada? E se a capacidade de evitar todas essas coisas estivesse totalmente sob seu controle?

Todas essas são afirmações que encontramos nas obras dos três grandes estóicos romanos – Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio – que viveram nos séculos I e II dC. Sêneca é lembrado por seu papel como tutor do imperador Nero, Epicteto era um escravo que conquistou sua liberdade e passou a fundar uma escola filosófica, enquanto Marco Aurélio era imperador de Roma. Suas vidas não poderiam ter sido mais diferentes e, no entanto, todos adotaram o estoicismo como um guia de como viver bem.

[...]

As obras desses três estóicos romanos inspiraram os leitores desde então, falando sobre algumas das questões do dia-a-dia que enfrentam qualquer pessoa que tente navegar em seu caminho pela vida. Suas obras, fundamentalmente, são sobre como viver – como entender o seu lugar no mundo, como lidar quando as coisas não vão bem, como administrar as próprias emoções, como se comportar em relação aos outros, como viver uma vida digna de um ser humano racional. Nos capítulos seguintes, exploraremos mais alguns desses temas. Começaremos considerando o que os estóicos pensavam que sua filosofia poderia oferecer, ou seja, uma terapia para a mente. Exploraremos o que podemos e não podemos controlar e como a maneira como pensamos sobre as coisas pode gerar emoções às vezes prejudiciais. Pensaremos então sobre nossa relação com o mundo exterior e nosso lugar dentro dele. E concluiremos focando em nossos relacionamentos com outras pessoas, que tanto contribuem para as alegrias quanto para o estresse da vida diária. Como veremos, a imagem popular do estóico isolado e insensível dificilmente faz justiça à rica veia de pensamento que encontramos em nossos três estóicos romanos. Suas obras têm sido clássicos perenes e por boas razões. Sua popularidade permanece inalterada hoje, com as novas gerações encontrando lições úteis nas obras desses estóicos.”

...

“What if someone told you that much of the suffering in your life was simply due to the way you think about things? I don’t mean physical suffering like pain or hunger, but all the other things that can negatively colour one’s life: anxiety, frustration, fear, disappointment, anger, general discontent. What if someone claimed that they could show you how to avoid all of this? And what if they said that these things were in fact the product of looking at the world in a mistaken way? What if it turned out that the ability to avoid all of these things was completely within your control?

These are all claims that we find in the works of the three great Roman Stoics – Seneca, Epictetus and Marcus Aurelius – who lived in the first and second centuries AD. Seneca is remembered for his role as tutor to the Emperor Nero, Epictetus was a slave who gained his freedom and went on to set up a philosophical school, while Marcus Aurelius was Emperor of Rome. Their lives could not have been more different, and yet they all embraced Stoicism as a guide to how to live well.

[...]

The works of these three Roman Stoics have inspired readers ever since, speaking as they do to some of the day-to-day issues that face anyone trying to navigate their way through life. Their works, fundamentally, are about how to live – how to understand one’s place in the world, how to cope when things don’t go well, how to manage one’s emotions, how to behave towards others, how to live a good life worthy of a rational human being. In the chapters that follow we’ll explore some of these themes further. We’ll begin by considering what the Stoics thought their philosophy could offer, namely a therapy for the mind. We’ll explore what we can and cannot control, and how the way we think about things can generate sometimes harmful emotions. We’ll then think about our relationship with the outside world and our place within it. And we’ll conclude by focusing on our relationships with other people, which contribute so much to both the joys and the stresses of daily life. As we shall see, the popular image of the isolated and unfeeling stoic hardly does justice to the rich vein of thought that we find in our three Roman Stoics. Their works have been perennial classics, and for good reason. Their popularity remains undiminished today, with new generations finding helpful lessons in the works of these Stoics.

Et une traduction rapide en français :

Et si quelqu'un vous disait qu'une grande partie de la souffrance dans votre vie était simplement due à votre façon de penser les choses? Je ne parle pas de souffrance physique comme la douleur ou la faim, mais de toutes les autres choses qui peuvent colorer négativement la vie: anxiété, frustration, peur, déception, colère, mécontentement général. Et si quelqu'un affirmait qu'il pouvait vous montrer comment éviter tout cela? Et s'ils disaient que ces choses étaient en fait le produit de regarder le monde d'une manière incorrecte? Et s'il s'avérait que la capacité d'éviter toutes ces choses était entièrement sous votre contrôle? 

Ce sont toutes des affirmations que l'on retrouve dans les œuvres des trois grands stoïciens romains - Sénèque, Épictète et Marc Aurèle - qui ont vécu aux premier et deuxième siècles de notre ère. On se souvient de Sénèque pour son rôle de précepteur de l'empereur Néron, Épictète était un esclave qui a obtenu sa liberté et a ensuite créé une école philosophique, tandis que Marc Aurèle était empereur de Rome. Leurs vies n'auraient pas pu être plus différentes, et pourtant ils ont tous adopté le stoïcisme comme guide pour une vie bonne.

[...]

Depuis lors, les œuvres de ces trois stoïciens romains ont inspiré les lecteurs, faisant encore écho à certains des problèmes quotidiens auxquels sont confrontés tous ceux qui tentent de se frayer un chemin dans la vie. Leurs œuvres, fondamentalement, portent sur la manière de vivre - comment comprendre sa place dans le monde, comment faire face quand les choses ne vont pas bien, comment gérer ses émotions, comment se comporter envers les autres, comment vivre une vie bonne digne d'un être humain rationnel. Dans les chapitres qui suivent, nous approfondirons certains de ces thèmes. Nous commencerons par considérer ce que les stoïciens pensaient que leur philosophie pouvait offrir, à savoir une thérapie pour l'esprit. Nous explorerons ce que nous pouvons et ne pouvons pas contrôler, et comment notre façon de penser les choses peut générer des émotions parfois nuisibles. Nous réfléchirons ensuite à notre relation avec le monde extérieur et à notre place en son sein. Et nous conclurons en nous concentrant sur nos relations avec les autres, qui contribuent tant aux joies qu'aux stress de la vie quotidienne. Comme nous le verrons, l'image populaire du stoïcien isolé et insensible ne rend guère justice à la riche veine de pensée que nous trouvons dans nos trois stoïciens romains. Leurs œuvres sont des classiques éternels, et pour cause. Leur popularité reste intacte aujourd'hui, de nouvelles générations trouvant des leçons utiles dans les œuvres de ces stoïciens.”

Volto agora mesmo aos estudos!

Fique forte, fique bem

______.

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