terça-feira, 17 de dezembro de 2024

REFLEXÃO MATINAL CC: AINDA SOBRE ESSÊSSÊNCIA E EXISTÊNCIA (III)

 

Reabri, bem cedinho, a obra A consolação da filosofia, com o título original: "De phisolophiae consolatione"; releitura há muito planejada. Decisão bem acertada e o resultado da leitura foi um ganho enorme! Muito aprendizado!

“Escrita na prisão por um condenado à morte, essa obra latina do século VI não deve nada, ou deve muito pouco, às circunstâncias “trágicas” de sua composição. Trata-se de uma obra-prima da literatura e do pensamento europeu; ela se basta, e teria o mesmo valor se ignorássemos tudo a respeito daquele que a concebeu entre duas sessões de tortura, à espera de uma execução. Mas, dado que essa obra-prima não é anônima, nada perde por ter um autor e ser situada em suas circunstâncias, torna-se também, assim, o testemunho da grandeza à qual um homem pode elevar-se pelo pensamento em face da tirania e da morte.”

Ademais:

“O que Boécio nos ensina, com tanta autoridade hoje como no século VI, é que a única cultura fértil, oral ou escrita, é a que trazemos intimamente em nós, são os textos clássicos inesgotáveis inseminados na memória e cujas palavras tornam-se fontes vivas, à prova da tristeza, do sofrimento, da morte. O resto, de fato, é 'literatura'” (p. 17.)

Basicamente, na obra, Boécio trata da questão da verdadeira felicidade. Uma profunda reflexão em tonalidades platônicas.

Portanto, Boécio em seu livro “A consolação da filosofia” (por exemplo, no Livro IV), reflete sobre a infelicidade do homem. Defende que a injustiça que atinge o homem é ilusória e se entende  dessa forma, devido à sua limitada capacidade para um olhar mais ampliado sobre a existência. A entrega aos prazeres efêmeros faz com que o homem opte pelo vício e fuja da virtude que, ao contrário do que crê, lança-o num processo destrutivo que o aprisiona a uma perspectiva limitada da existência. A única rota possível para ampliar a concepção existencial capaz de desviá-lo de equívocos é o caminho de busca das Virtudes, única via na direção da verdadeira liberdade. As virtudes elevam o homem acima do nível rasteiro do comum da humanidade, afasta-o da animalidade. Reconhecer a própria natureza que torna o homem, efetivamente humano, em “essência”.

Acrescentei, algumas reflexões a partir de obras que tenho estudado e anotado aqui no Blog, com elementos de psicologia. Isto na medida em que os temas de certa forma se entrelacem ou sirvam para análise de conceitos e aprofundamentos.

...

Em meio a isso, separei para ler nas férias: "Viaje al otro lado de la realidad"de um autor que conheço bem mas uma obra que só descobri recentemente.

Inspirado aqui por uma postagem de uma professora leitora de Guerra e Paz no Instagram me fez planejar para as férias a releitura. E, havendo um tempinho releio também Anna Karenina de 1878.

______.

"En 1857, Tolstói asiste por casualidad en París a una ejecución pública. Aquel hecho, trivial en la época, supuso para el escritor la caída de un velo. Ese mismo día escribe a un amigo, le relata el terrible espectáculo y concluye: «La verdad es que el Estado es una conspiración diseñada no sólo para explotar, sino sobre todo para corromper a sus ciudadanos. De ahora en adelante, nunca serviré a ningún gobierno en ninguna parte». Había nacido un nuevo Tolstói. Pero el camino será largo. Cuatro años después, visita al gran pensador anarquista Pierre-Joseph Proudhon, exiliado en Bélgica. Ambos pasan noches enteras hablando. Bajo su influencia, Tolstói regresa a Rusia y decide asentarse en el campo, donde acaba de abolirse la servidumbre, en busca de una vida más honesta y con un mayor compromiso social. Sin embargo, un día regresa a Moscú. Y lo que encuentra allí supera to do lo imaginable. Es un viaje al otro lado de la realidad. Es el viaje que se cuenta en este libro y que convirtió al gran literato que había sido hasta entonces en el intelectual revolucionario que fue hasta su muerte. Un libro-bisagra. Un libro-dinamita. Como un fantasma incrédulo, Tolstói nos cuenta su recorrido por los barrios más pobres de la ciudad, las viviendas obreras, los hospicios, los asilos y los arrabales. Su conciencia social toma por primera vez forma: el dolor, el sufrimiento y la injusticia innombrables que contempla hacen masa con su propia carne. Al principio, nos relata, el despertar de esa nueva conciencia le llevó a torturar a sus amigos para obtener de ellos dinero para los más desfavorecidos. Pero poco a poco fue interiorizando un análisis mucho más radical: su aportación no podía centrarse en obtener limosnas, sino en ofrecer una teoría perfectamente sólida y capaz de avalar una transformación completa de la sociedad que hiciera auténtica justicia para todos los seres humanos. Así la dejó escrita en este libro y hoy sigue siendo tan válida o más que entonces.

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AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Penguin/Companhia das Letras, 2017.

BOÉCIO. (Anicius Manlius Torquatus Severinus Boetius)A consolação da filosofia. prefácio de Marc Fumaroli ; tradução do latim por Willian Li. – 2. ed. – São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012. – (Clássicos WMF).

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012. 96 p.

CAMUS, Albert. O estrangeiro. 54. ed. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1979.

______. O homem revoltado. Rio de Janeiro, RJ: Best Bolso, 2017.

______. O mito de Sísifo. 26. ed. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2018.

______. A peste. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2017.

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 3. ed. – Porto Alegre, RS: Artmed, 2019.

HUGO, Victor. O último dia de um condenado. São Paulo: Estação Liberdade, 2002.

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