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(em andamento)
Tem sido comum e bastante
frequente, nas leituras de autores escolhidos para um determinado enfoque, encontrar
nestes, reflexões sobre a “natureza
humana”. Na obra dos Estoicos, por exemplo, o tema é fundamental. É o
que foi a Reflexão matinal de hoje.
Começo com Musonius Rufus,
que teria dito:
“Todos nós fomos feitos pela natureza, de forma que possamos viver livre
de erros e de forma nobre, não que um possa e outro não possa, todos podemos.”
Evidente que, como andam
as coisas hoje em dia, não é difícil encontrar, inúmeros opositores
ensandecidos, desequilibrados, a insistirem na negação de que se possa nascer
com inclinação para as virtudes. Preferem defender que possa haver no
homem uma natureza corrupta em si mesma do que admitir que, na
verdade, haveria a possibilidade de que uma certa “natureza humana” pudesse ter se corrompido; que se tenha tomado
direções equivocadas e desviado da meta, a qual como diz Musonius Rufus: “todos podemos” chegar. A
filosofia seria uma ferramenta para retorno à nossa verdadeira “natureza humana”. Este é o foco aqui!
O que se aprenderá com a
filosofia, no modo defendido aqui é que ela pode sim, revelar uma "essência" em nós. O erro, o equívoco, será uma constante
mesmo na vida de quem persista em agir corretamente, mas daí não se poder
ratificar que há somente uma natureza corrompida; pelo contrário, o que haveria
é que, no exercício cotidiano a ocorrência dos erros e dos desvios de rota sempre se apresentam. Cabe-nos a “escolha”!
E, é isso, que exige de nós, sempre,
uma profunda e repetida reflexão, por parecer apontar na direção de uma solução
distante e quase impossível. Os Estoicos
defendem que qualquer um pode reverter um mau comportamento, reparar os erros e
se reorientar na direção no caminho das Virtudes dedicando-se ao estudo
regular, constante e disciplinado da filosofia. Para eles a prática das
virtudes começa por aí e prossegue-se aprendendo a separar o que
é bom (virtude) do que é mau (vícios).
A
meta, portanto: aprendermos a admitir que há coisas
às quais podemos impor nosso controle e há coisas que fogem da nossa alçada e é
pífio o poder de termos controle sobre elas. O que a proposta
dos Estóicos sugere é que se exercite as ações em consonância com as
que fogem ao nosso domínio, que estariam, talvez, no domínio das leis naturais.
A Filosofia é tomada, portanto, como prática diária na correção dos erros e na
compreensão e aceitação das próprias limitações.
Ademais, tendo estudado
com frequência a obra dos estoicos, com profundo interesse no estudo sobre as
paixões, recentemente, a partir mesmo do próprio Descartes, encontrei relações
bem interessantes a serem pensadas.
E, é nesse sentido
acrescento um trecho de artigo de um professor e amigo sobre o que diz
Descartes em seu “Paixões da alma” :
Diz ele:
“Não poderíamos
concluir este pequeno trabalho sem mencionar que no final da terceira parte de
seu livro Descartes apresenta brevemente um outro aspecto das percepções da
alma, complementar ao das paixões, tais quais as entendia. Vimos que para ele
estas últimas tinham sempre uma "contraparte" orgânica.
Sugerimos,
por nossa vez, que esse aspecto talvez não seja central nas paixões, que
parecem antes ser inerentes à própria alma.
De qualquer modo, dentro
do referencial que elaborou, Descartes também notou que há percepções da alma
que radicam nela própria, ou, em suas palavras, "emoções interiores que
são excitadas na alma apenas pela própria alma" (§ 147; grifamos). Um dos exemplos que dá é a "alegria intelectual" que sentimos quando lemos um
romance ou assistimos a uma peça teatral em que as situações excitam em nós
diversas paixões, como a alegria, a tristeza, o ódio, o amor, trazendo-nos
todas uma espécie de prazer de ordem superior.
Vejamos estas belas
passagens do parágrafo 148, em que Descartes desenvolve o tema:
Ora,
visto que essas emoções interiores nos tocam mais de perto e têm, por
conseguinte, muito mais poder sobre nós do que as paixões que se encontram com
elas, e das quais diferem, é certo que, contanto que a alma tenha sempre do que
se contentar em seu íntimo, todas as perturbações que vêm de outras partes não
dispõem de poder algum para prejudicá-la. Servem, antes, para lhe aumentar a
alegria, pelo fato de, vendo que não pode ser por elas ofendido, conhecer com
isso a sua própria perfeição. E, para que a nossa alma tenha assim do que estar
contente, precisa apenas seguir estritamente a virtude. Pois quem quer que haja
vivido de tal maneira que sua consciência não possa censurá-lo de alguma vez
ter deixado de fazer todas as coisas que julgou serem as melhores (que é o que
chamo aqui seguir a virtude), recebe daí uma satisfação tão poderosa para
torná-lo feliz que os mais violentos esforços da paixão nunca têm poder
suficiente para perturbar a tranqüilidade de sua alma.
Descartes aponta, assim,
uma espécie de sublimação dos sentimentos, na direção da alegria perene e sem
mácula que resulta tão-somente da prática da virtude. Essa a alegria que
viveremos um dia, quando, pelos nossos esforços, lograrmos alcançar a excelsa
condição de Espíritos puros.”
Bastante oportuno sem
dúvidas, para as intenções de estudos por aqui, encontrar estas relações entre
grandes filósofos e aproveitar seus escritos para a “filosofia prática”
(Só os grifos e destaques são meus)
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