segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

DIDASCALION: A ARTE DE LER




Acabei de reler; segunda vez nesse ano!
Em meio a tanta "re-significação", “desconstrução” e demais absurdos, vindos de toda parte, mantenho o apreço aos clássicos
Ressalte-se: como sempre foram e são... passaram pela prova do tempo!

.'.

"O que aqui se oferece ao leitor é uma obra rica e profunda, que por muito tempo constituiu um dos pilares da educação cristã. Neste Didascalicon sobre a arte de ler, o mestre Hugo de São Vítor apresenta as artes liberais e orienta seus alunos mostrando o que devem ler, em que ordem e, especialmente, de que modo devem fazê-lo. Tendo como base a tradição e as Sagradas Escrituras, sua pedagogia visava formar os estudantes para alcançarem a contemplação, o último grau da Sabedoria — com a qual “tem-se um antegosto nesta vida do que será a recompensa futura” —, uma formação integral que proporcionasse a união com Deus. Colocando o foco da educação no próprio estudante, este modelo da educação cristã não é um livro sobre como ensinar, mas sim sobre como aprender; não é um tratado de didática, mas uma verdadeira aula a todo aquele que deseje percorrer o caminho que conduz à Sabedoria. “Existem principalmente duas coisas por meio das quais alguém é conduzido ao conhecimento, a saber, a leitura e a meditação, das quais a leitura vem em primeiro lugar no aprendizado, e é sobre ela que se ocupa esse livro, oferecendo os preceitos da arte da leitura. São três os preceitos mais necessários à leitura: primeiro, saber o que se deve ler; segundo, em que ordem se deve ler, isto é, o que vem antes e o que vem depois; terceiro, de que modo se deve ler. Este livro trata destes três preceitos, separadamente. Assim sendo, ele instrui tanto sobre a leitura dos escritos profanos quanto sobre a dos divinos”.
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(HUGO DE SÃO VITOR. Didascalion. Taguatinga, Brasília/DF.,Edição: Editora Kirion, 2018. 
- Edição bilíngue Latim-Português. Tradução e notas: Roger Campanhari.

sábado, 29 de dezembro de 2018

A VITÓRIA DA RAZÃO: UMA DISCUSSÃO TEMÁTICA




Em A vitória da razão, Rodney Stark mosta “[...] uma pesquisa abrangente e multifacetada que leva os leitores do Velho Mundo ao Novo, do passado ao presente, revertendo ao longo do caminho não apenas séculos de erudição preconceituosa, mas o preconceito antirreligioso de nosso próprio tempo. A vitória da razão mostra que o que mais admiramos em nosso mundo - progresso científico, governo democrático, livre comércio - é em grande parte devido ao “cristianismo”, através do qual somos todos herdeiros dessa grande tradição.” (trecho citado, ligeiramente modicado e com grifos meus


...


“Many books have been written about the success of the West, analyzing why Europe was able to pull ahead of the rest of the world by the end of the Middle Ages. The most common explanations cite the West’s superior geography, commerce, and technology. Completely overlooked is the fact that faith in reason, rooted in Christianity’s commitment to rational theology, made all these developments possible. Simply put, the conventional wisdom that Western success depended upon overcoming religious barriers to progress is utter nonsense.

In The Victory of Reason, Rodney Stark advances a revolutionary, controversial, and long overdue idea: that Christianity and its related institutions are, in fact, directly responsible for the most significant intellectual, political, scientific, and economic breakthroughs of the past millennium. 
In Stark’s view, what has propelled the West is not the tension between secular and nonsecular society, nor the pitting of science and the humanities against religious belief. Christian theology, Stark asserts, is the very font of reason: While the world’s other great belief systems emphasized mystery, obedience, or introspection, Christianity alone embraced logic and reason as the path toward enlightenment, freedom, and progress. That is what made all the difference.

In explaining the West’s dominance, Stark convincingly debunks long-accepted “truths.” For instance, by contending that capitalism thrived centuries before there was a Protestant work ethic–or even Protestants–he counters the notion that the Protestant work ethic was responsible for kicking capitalism into overdrive. In the fifth century, Stark notes, Saint Augustine celebrated theological and material progress and the institution of “exuberant invention.” By contrast, long before Augustine, Aristotle had condemned commercial trade as “inconsistent with human virtue”–which helps further underscore that Augustine’s times were not the Dark Ages but the incubator for the West’s future glories.

This is a sweeping, multifaceted survey that takes readers from the Old World to the New, from the past to the present, overturning along the way not only centuries of prejudiced scholarship but the antireligious bias of our own time. The Victory of Reason proves that what we most admire about our world–scientific progress, democratic rule, free commerce–is largely due to Christianity, through which we are all inheritors of this grand tradition.”


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Link:
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DENKEN UND SELBST: VORLESUNGEN ÜBER SUBJEKTIVITÄT. PENSAR E SER SI MESMO: PRELEÇÕES SOBRE A SUBJETIVIDADE



Essa obra de Dieter Henrich, em que há meses estou dedicando grande parte de tempo à leitura; apesar das dificuldades com o idioma, é dividida em cinco partes que, num conjunto de preleções sobre perguntas fundamentais da Filosofia com especial urgência, segundo ele, para consciência moderna. Cada uma das cinco partes da obra é uma contribuição para a compreensão sobre a subjetividade ampliada e condensada ao longo de cada uma das preleções que Henrich desenvolve. São independentes entre si, mas cada uma se desenvolve a partir dos resultados obtidos na preleção anterior e segue aprofundando nos temas.

1.
“Os seres humanos não vivem apenas, eles precisam conduzir sua vida a partir do saber de si mesmo. Por isso, sua autoconsciência em relação a tudo que os define como seres humanos é elementar e imediata. Não é, porém, indiferenciada. Sua constituição complexa se articula de modo espontâneo e em pensamentos de natureza especial. Por meio de outros pensamentos tampouco arquitetados, o ser humano se põe numa relação com o todo de um mundo e é envolvido na reflexão sobre seu ser si mesmo. A tarefa da filosofia é investigar esses pensamentos. Ela precisa, primeiramente, esclarecê-los e desdobrá-los, para então reuni-los desenvolvê-los em um entendimento sobre a vida humana. Os títulos das cinco partes desta obra remetem a essa tarefa.

2.
Não é possível desenvolver de forma nova temas do pensamento que têm longa história sem enfrentar, ao mesmo tempo, também a crítica secular às suas precondições e ao seu poder desbravador. Se temas que dominaram a filosofia mais recente desde os seus inícios são expostos sob uma nova luz - como pretendo fazer aqui – então essa luz deve expor e incluir também as razões que levaram à revolta destruidoras contra todas essas formações conceituais. Nem o gesto destruidor nem a defesa voltada contra ele nos levará ao fundamento de uma intelecção que não pretende tanto evocar um futuro, mas resistir àquilo que virá."
(Somente os Grifos e Destaques são meus)

Desafio posto, prossigamos.
Agora, aproveitando que saiu a tradução, estudando o idioma e cotejando! 

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HENRICH, Dieter. Denken und Selbst: Vorlesungen über Subjektivität. Suhrkamp, 2016.

______. Pensar e ser si mesmo: preleções sobre a subjetividade. (Trad. Markus A. Hediger; Lucas Machado. Petrópolis, RJ: Vozes, 2018.





quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

HISTÓRIA, CIÊNCIA E RELIGIÃO: APONTAMENTOS


  For the Glory of God: How Monotheism Led to Reformations, Science, Witch-Hunts, and the End of Slavery (English Edition) por [Stark, Rodney]  

Traço aqui, breves anotações para posterior aprofundamento sobre esses temas discutidos ao logo destas obras: um projeto de estudos em andamento. 

Uma pesquisa a partir deste autor que apresenta uma nova abordagem que, doravante, vou dedicar parte das reflexões e anotar aqui os ‘resultados” com fins de compreensão, ajustes e ampliação das referências sobre o tema. 

Pretendo sintetizar algumas reflexões básicas extraídas de grandes textos sobre esse tema; desde obras clássicas até os mais recentes trabalhos que têm sido publicados e os seus posteriores desdobramentos. Aqui, já adicionei alguns dos que acabo de ter contato e pretendo sistematizar a leitura.

A temática discutida nestas obras por Rodney Stark, a meu ver, é voltada para discussão de elementos da História e Filosofia da ciência, de onde pretendo estudar, mantendo o perfil das leituras que tenho feito e anotado aqui. Neste sentido, esses textos me darão um conjunto novo de “ferramentas” para pensar a “relação entre ciência e religião” numa abordagem de caráter pluridisciplinar.

_______.
BIBLIOGRAFIA 

STARK, Rodney. Bearing false witness: debuking centuries of anti-catholic history. Templeton Press, 2016.

______. Why God? : explaining religious phenomena. Templeton Press, 2017.

______. For the glory of God: how monotheism led to refomations, science, witch-hunts and the end of slavery. New Jersey: Princeton University Press, 2003.

REFLEXÃO MATINAL XVIII: VERDADEIRA LIBERDADE


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Como sói acontecer nos últimos quatro ou cinco anos, seguem-se os trabalhos, desde lá estabelecidos para reflexão dessa temática, que antes era só reflexão “cínica” e avançou para uma busca mais voltada aos textos estoicos

Algo de muito importante logo pela manhã...

Desde o surgimento da Filosofia, o que se tornou, em grande medida, a tradição filosófica do ocidente na Grécia Antiga, um grupo de pensadores, os “pré-socráticos”, são fundamentais.  A esses, uma certa divisão: por exemplo, os primeiros cosmólogos jônios como Pitágoras, Xenófanes, Heráclito, os eleatas (Parmênides, Melisso, Zenão), Empédocles e Anaxágoras. Outros ainda como os atomistas e os sofistas. Aqui, faço alguns apontamentos, já há algum tempo, sobre uma tradição que remonta a Zenão de Cítio: o estoicismo, destacando autores como o próprio Zenão, Musônius Rufus, Epictetus, Sêneca e Marcus Aurelius. Todos fundamentais na formulação das reflexões estoicas.

Neste sentido é que a reflexão de hoje tem como ponto de partida uma afirmação de Epictetus, sobre o pensador Diógenes Laércio

"Se quiseres que eu te mostre um homem que seja verdadeiramente livre, apresentar-te-ei Diógenes Laércio. Como ele chegou a ser livre? Destruindo em si mesmo tudo quanto o pudesse prender à escravidão; dessa forma, desligado de tudo e, completamente isolado, nada possuindo. Doava tudo o que lhe pedissem, mas estava fortemente unido aos 'deuses' e a ninguém era inferior em obediência, respeito e submissão para com a tal soberania. Eis, nesse aspecto, a sua liberdade".

De minha parte, a partir da referência a Diógenes, quero reforçar aqui, com vistas a levar adiante o aprofundamento da via em direção a uma aplicação diária de elementos estoicos; sempre associando essas reflexões às leituras constantes e mais próximas, lidas e sempre retomadas. Já está bastante claro a mim, a exigência de que destas reflexões sempre resulte em esforço de aplicação na vida diária, como sempre orientavam os estoicos.

Ao tratar de temas mais hodiernos, a partir da leitura destes textos, posso inferir que não se deve desejar, nas lides da vida, ser unicamente detentor de diplomas, de títulos, insígnias ou patentes que nos elevem nesse mundo, dado que são “valores” que desaparecerão ao serem tratados numa perspectiva mais ampla. Dispensável a luta na qual, para superar-se, exija a humilhação dos seus iguais em espécie.

Enfim, são textos de pensadores que recomendam sempre o emprego dos esforços na transformação em homens que verdadeiramente justifiquem essa qualificação: de ser humano! Que se lute por unificar pensamento e ação no caminho da Verdade, da infinita Sabedoria e Bondade. Tudo isso para que possamos dar realidade a uma verdadeira reviravolta nas atitudes e vivências pessoais, abandonando posturas meramente abstratas e impregnadas de desejos vãos, de baixeza moral, que sempre resultam em atitudes hipócritas e descabidas. Nisso consistiria a verdadeira liberdade. Sempre embasadas na Serenidade que devemos buscar constantemente.

Pois, como afirma A. A. Long:


“Freedom has nothing to do with liberty in a social or political sense. The freedom that interests Epictetus is entirely psychological and attitudinal. It is freedom from being constrained or impeded by any external circumstance or emotional reaction." (2007)

"A liberdade não tem nada a ver com a liberdade em um sentido social ou político, a liberdade que interessa a Epictetus é inteiramente psicológica e atitudinal, é a liberdade de ser restringido ou impedido por qualquer circunstância externa ou reação emocional".

Vejamos ainda o que Sêneca escreveu no seu "De tranquillitate animi" (14.2), já postado aqui num dia como esse:

"Vtique animus ab omnibus externis in se reuocandus est: sibi confidat, se gaudeat, sua suspiciat, recedat quantum potest ab alienis et se sibi adplicet, damna non sentiat, etiam aduersa benigne interpretetur".

"Seja como for, a alma deve recolher‐se em si mesma, deixando todas as coisas externas: que ela confie em si, se alegre consigo, estime o que é seu, se aparte o quanto pode do que é alheio, e se dedique a si mesma; que ela não sinta as perdas e interprete com benevolência até mesmo as coisas adversas".

Daí a imperativa necessidade de voltar-se para si e ser livre...

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(Fonte da imagem: 1ZOOM.Me)



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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

(ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by ArrianFragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.

LONG, Georg. Discourses of Epictetus with Encheiridion and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.

LONG, A. A. How to be free. Princeton. New Jersey:  Princeton University Press, 2018.

______. Epictetus: a stoic and socratic guide to life. New York: Oxford University Press. 2007.

______. (Org.) Primórdios da filosofia grega. São Paulo: Ideias e Letras, 2008..

PLATO. (III). Lysis / Symposium / Górgias. Loeb Classical Library, 1925.

________. Górgias, Protágoras. 3. ed. Trad. Carlos Alberto Nunes. Edição bilíngue; Belém, PA, 2021.

________. Mênon, Eutidemo. 3. ed. Trad. Carlos Alberto Nunes. Edição bilíngue; Belém, PA, 2021.


SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

A BOA VONTADE

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(Imagem: Pinterest  Wallpaper)
 “De todas as coisas que podemos conceber neste mundo ou mesmo, de uma maneira geral, fora dele, não há nenhuma que possa ser considerada como boa sem restrição, salvo uma boa vontade. O entendimento, o espírito, o juízo e os outros talentos do espírito, seja qual for o nome que lhes dermos, a coragem, a decisão, a perseverança nos propósitos, como qualidades do temperamento, são, indubitavelmente, sob muitos aspectos, coisas boas e desejáveis; contudo, também podem chegar a ser extrordinriamente más e daninhas se a vontade que há-de usar destes bens naturais, e cuja constituição se chama por isso carácter, não é uma boa vontade. O mesmo se pode dizer dos dons da fortuna. O poder, a riqueza, a consideração, a própria saúde e tudo o que constitui o bem-estar e contentamento com a própria sorte, numa palavra, tudo o que se denomina felicidade, geram uma confiança que muitas vezes se torna arrogância, se não existir uma boa vontade que modere a influência que a felicidade pode exercer sobre a sensibilidade e que corrija o princípio da nossa atividade, tornando-o útil ao bem geral; acrescentemos que num espectador imparcial e dotado de razão, testemunha da felicidade ininterrupta de uma pessoa que não ostente o menor traço de uma vontade pura e boa, nunca encontrará nesse espetáculo uma satisfação verdadeira, de tal modo a boa vontade parece ser a condição indispensável sem a qual não somos dignos de ser felizes. 


(...) A boa vontade não é boa pelo que produz e realiza, nem por facilitar o alcance de um fim que nos proponhamos, mas apenas pelo querer mesmo; isto quer dizer que ela é boa em si e que, considerada em si mesma, deve ser tida em preço infinitamente mais elevado que tudo quanto possa realizar-se por seu intermédio em proveito de alguma inclinação, ou mesmo, se se quiser, do conjunto de todas as inclinações”.

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KANT, Immanuel. InFundamentação da Metafísica dos Costumes.  

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

PAZ E LIBERDADE INTERIORES: REFLEXÃO MATINAL XVII



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(Imagem: Pinterest)

“Passeia sozinho, conversa contigo mesmo”

(EPICTETUS, Diatribes, III, 14, 1) 

Diferente de uma visão que se defende comumente, a imagem do filósofo ou mesmo do "intelectual" como a de uma pessoa amarga e destituída de esperanças; chega o momento de se reformar as reflexões e otimizar o pensamento. Sempre atento, ressalte-se, a não cair em raciocínios vazios ou “piegas”, como dizem alguns sobre os que não são ou deixaram de ser amargos. Entre estes, os que defendem ainda que estudar, ler, refletir conduzem a uma postura existencial, de onde não veem solução para o mundo ou possibilidade de uma vida de tranquilidade e profundas reflexões. Consideram tal postura como mais comum a quem "pensa". Trata-se aqui, para mim, abandonar a ideia de que "pensar dói". A bem da verdade, não é mesmo tarefa fácil, mas não justifica nem deve fundamentar um pessimismo perante a vida.

Destaco aqui, a importância que a Filosofia, como defendida por Epictetus, embora os estoicos se dedicassem à prática não a defendiam como único caminho a ser seguido pelo filósofo. Já havia sim, à época uma crítica à maneira de se filosofar. 

A mim, o destaque tornou-se fundamental para compreender, em certa medida, que a crítica ainda é valida para hoje, como se vê na exposição no vídeo em anexo. O que me leva a pensar nessa questão é a constatação de que há ainda hoje tipos como os criticados pelos estoicos; os que lêem algumas coisas e se veem como "filósofos". Daí começar por esse texto abaixo, onde Epictetus aponta que: 

“[52.1] O primeiro e mais necessário tópico da filosofia é o da aplicação dos princípios, por exemplo: “Não sustentar falsidades”. O segundo é o das demonstrações, por exemplo: “Por que é preciso não sustentar falsidades?” O terceiro é o que é próprio para confirmar e articular os anteriores, por exemplo: “Por que isso é uma demonstração? O que é uma demonstração? O que é uma consequência? O que é uma contradição? O que é o verdadeiro? O que é o falso?” 

Ora, à época de Epictetus, um dos filósofos estoicos que tenho estudado nas pausas da pesquisa, não se entendia, principalmente na “escola filosófica” a que era filiado, como tarefa do ato de filosofar somente a criação de novos sistemas; pelo contrário, entendia-se o filósofo como alguém que, ligado a uma “escola filosófica”, faz uma “opção existencial”, faz uma escolha, opta um "modo de vida", toma um caminho espiritual de transformação que consiste, principalmente, na prática de "Theoremata (pensados aqui, a partir das considerações do prof. Aldo Dinucci, como “princípios”). O filósofo, portanto, nessa perspectiva, é um praticante de Sabedoria cujo objetivo principal é uma conversão a um "modo de ser e viver" que resulte em liberdade interiorserenidade e em paz que se distancie do modo em que vivia antes. Assim:

...O ato filosófico não se situa somente na ordem do conhecimento, mas na ordem de “si” e do “ser”: é um progresso que nos faz ser mais, que nos torna melhores. É uma conversão que revoluciona a vida toda, que muda o ser daquele que a realiza. Ela faz passar de um estado de vida inautêntico, obscurecido pela inconsciência, atormentada pela inquietação, para um estado de vida autêntico, no qual o homem atinge a consciência de si, a visão exata do mundo, a paz e a liberdade interiores... (BREHIÈR, 1950)

Ou seja: fundamental aqui foi refletir sobre o ato filosófico e de que maneira pode ser, verdadeiramente, uma conversão que revolucione e favoreça uma melhor compreensão do mundo e da vida. É, portanto, neste sentido que se pode compreender como "princípios" (Theoremata) que se baseiam na antiga Sabedoria do Pórtico, e como textos de autores como Epictetus podem ainda ser usados como ferramentas a darem fundamento a um novo “modo de vida” que se escolheu a partir de prática estoica na aplicação destes "Theoremata".

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

BRÉHIER, Émile. Prefácio a A. VIRIEUX-REYMOND, La logique et l’ épistemologie des stoïciens, Chambery Editions, 1950).

BREHIER, E. Crysippe et l` ancient stoicisme. Paris: Archives Contemporaines Editions, 2006) - Collection: Editions des Ar, 2006)

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.


EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.


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Vídeo sobre a questão dos "Theoremata" na obra Epictetus:

https://www.youtube.com/watch?v=QrT3vYlU7Rg



segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

TRANQUILIDADE DA ALMA: REFLEXÃO MATINAL XVI

A imagem pode conter: céu, montanha, árvore, atividades ao ar livre e natureza

Ao ser criticado, por quem sempre respeitei e a quem nunca ofendi ou fiz algo que justificasse os motivos para tal, além da surpresa, notando a maldade presente e a injustiça humana a se mostrarem sem pudores, lembro de Sócrates no "Górgias", quando afirma que seria melhor sofrer uma injustiça que o contrário:

"[469b-c] Sócrates: …Porque o maior dos males consiste em praticar uma injustiça.
Polo: Esse é o maior? Não é o maior sofrer uma injustiça?
Sócrates: Absolutamente não.
Polo: Preferias então sofrer uma injustiça a praticá-la?
Sócrates: Não preferiria uma coisa nem outra; mas se fosse inevitável sofrer ou praticar uma injustiça, preferiria sofrê-la."

E, dado que cabe aqui manter o foco na aprendizagem do que nos mantenha a tranquilidade da alma; imperturbavelmente, podemos e devemos reconhecer como nosso o erro na aplicação dos juízos, sem procurar culpados fora de nós, fazendo disso uma lição, um “exercício” para uma busca mais consistente. Anoto, a seguir, uma breve passagem da obra de Sêneca, para a prática diária, na formação de juízos firmes e determinados que aqui também me ajudam a desviar o foco e não perder tempo, tornando tudo uma oportunidade de crescimento:

"Por formar juízos de valor sobre as grandes questões há que ter uma grande alma, pois de outro modo atribuiremos às coisas um defeito que é apenas nosso, tal como objetos perfeitamente direitos nos parecem tortos e partidos quando os vemos metidos dentro de água. O que interessa não é o que vemos, mas o modo como vemos; e no geral o espírito humano mostra-se cego para a verdade!"(SÊNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014. "Carta 71-24")

Enfim, estabelecido como projeto reformarmos a conduta pessoal para homens de virtude, cabe investirmos em aprimorarmos as emoções nesse sentido, de força interior para resistirmos aos assaques ou provocações externas. E, para uma imperturbável tranquilidade da alma, vale considerar também o que diz Descartes, em sua obra sobre “As paixões da alma”:

"Ora, visto que essas emoções interiores nos tocam mais de perto e têm, por conseguinte, muito mais poder sobre nós do que as paixões que se encontram com elas, e das quais diferem, é certo que, contanto que a alma tenha sempre do que se contentar em seu íntimo, todas as perturbações que vêm de outras partes não dispõem de poder algum para prejudicá-la. Servem, antes, para lhe aumentar a alegria, pelo fato de, vendo que não pode ser por elas ofendido, conhecer com isso a sua própria perfeição. E, para que a nossa alma tenha assim do que estar contente, precisa apenas seguir estritamente a virtude. Pois quem quer que haja vivido de tal maneira que sua consciência não possa censurá-lo de alguma vez ter deixado de fazer todas as coisas que julgou serem as melhores (que é o que chamo aqui seguir a virtude), recebe daí uma satisfação tão poderosa para torná-lo feliz que os mais violentos esforços da paixão nunca têm poder suficiente para perturbar a tranqüilidade de sua alma".

Portanto, vejamos ainda o que Sêneca escreveu no seu "De tranquillitate animi" (14.2):

"Vtique animus ab omnibus externis in se reuocandus est: sibi confidat, se gaudeat, sua suspiciat, recedat quantum potest ab alienis et se sibi adplicet, damna non sentiat, etiam aduersa benigne interpretetur".

"Seja como for, a alma deve recolher‐se em si mesma, deixando todas as coisas externas: que ela confie em si, se alegre consigo, estime o que é seu, se aparte o quanto pode do que é alheio, e se dedique a si mesma; que ela não sinta as perdas e interprete com benevolência até mesmo as coisas adversas".

E, diante das dificuldades, nas ocasiões em que a tranquilidade da alma esteja ameaçada, ou:

"Sempre que queiras saber qual a atitude a evitar ou a assumir, regula-te pelo bem supremo, pelo objetivo de toda a tua vida. Todas as nossas ações devem conformar-se com o bem supremo: somente é capaz de determinar as ações individuais o homem que possui a noção do objetivo supremo da vida". (SÉNECA, Lúcio Aneu. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014 - Livro VIII - "Carta 71"; (2)

É certo que disso tudo guardemos que a serenidade é uma conquista interna; uma vez alcançada, estaremos livres de quaisquer perturbações externas. Valerá o esforço pessoal.

(grifos meus)

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA


(ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001. 

LONG, Georg. Discourses of Epictetus with Encheiridion and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.

PLATO. (III). Lysis / Symposium / Górgias. Loeb Classical Library, 1925.

________. Górgias, Protágoras. 3. ed. Trad. Carlos Alberto Nunes. Edição bilíngue; Belém, PA, 2021.

________. Mênon, Eutidemo. 3. ed. Trad. Carlos Alberto Nunes. Edição bilíngue; Belém, PA, 2021.


SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

domingo, 16 de dezembro de 2018

CIÊNCIA E RELIGIÃO: NOVAS PERSPECTIVAS HISTÓRICAS



Um tema “ciência e religião” desde há muito tempo tem sido apresentado em termos de conflito entre as duas áreas. Como, de alguns anos para cá, tenho acompanhado as discussões em torno do tema e já é bastante perceptível uma renovada ampliação do debate, com amplos avançosesclarecimentos, sigo com as leituras e faço aqui as anotações após as leituras. 
Autores como Ronald Numbers, que já postei aqui e desde que li pela primeira vez sempre releio um ou outro de seus capítulos para reflexões; e faço esse registro por tratar-se, principalmente este que reli hoje pela manhã, de uma obra em que reuniu um grupo de pesquisadores sobre o tema que resultou no seu "Galileo goes to jail and other myths about science and religion" (2009). 
Mas ontem, acrescentando a este registro para continuidade nos estudos, também reli o livro de John Hedley Brooke: "Science and religion: some historical perspectives (publicado em 1991, reimpresso em 2014)"; sobre o tema e em seguida também reli: “Science and religion: new historical perspectives (2011) este que destaco aqui (na imagem):

“A ideia de um conflito inevitável entre ciência e religião foi desafiada decisivamente por John Hedley Brooke em sua clássica "Ciência e Religião: algumas perspectivas históricas" (Cambridge, 1991). Após quase duas décadas "Ciência e a Religião: as novas perspectivas históricas" revisitam esse argumento e questionam como os historiadores agora podem impor ordem sobre as histórias complexas e contingentes dos compromissos religiosos com a ciência. Reunindo os principais estudiosos, este volume explora a história e os significados variáveis ​​das categorias 'ciência' e 'religião'; O papel da publicação e da educação na criação e divulgação de ideias; a conexão entre conhecimento, poder e imperialismo intelectual; e os motivos do confronto entre a evolução e o criacionismo entre os cristãos americanos e no mundo islâmico. Um grande contributo para a historiografia da ciência e da religião, este livro faz com que a bolsa de estudos mais recente sobre esse debate muito mal interpretado seja amplamente acessível." 

Tenho acompanhado as publicações com contribuições de grandes historiadores e filósofos líderes mundiais em pesquisa sobre o assunto.
(grifos meus) 

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(Fonte: Amazon):“Science and religion: new historical perspectives (2011)" - (Thomas Dixon (Autor, Editor),‎ Geoffrey Cantor (Editor),‎ Stephen Pumfrey (Editor).
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Entevista com John Hedley Brooke; publicada em 16 de set de 2018 in: TV NUPES/UFJF:



terça-feira, 11 de dezembro de 2018

REFLEXÃO MATINAL XV

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"Stoa de Átalo - Atenas"

Dos "exercícios" aos sinais de progresso segundo Epictetus.

Cabe destacar antes que a noção de "exercícios espirituais" que aparecem em vários autores contemporâneos não coincide com a maneira de entender a prática da filosofia dos estoicos. Para aprender mais sobre esse tema recorri e recomendo uma palestra do prof. Aldo Dinucci, durante o III Colóquio sobre Epicteto, conforme o link anexado no final do texto. Aqui, já no início do texto da tradução apresentada e discutida no evento para essa compreensão do tema, lemos que:

[52.1] O primeiro e mais necessário tópico da filosofia é o da aplicação dos princípios, por exemplo: “Não sustentar falsidades”. O segundo é o das demonstrações, por exemplo: “Por que é preciso não sustentar falsidades?” O terceiro é o que é próprio para confirmar e articular os anteriores, por exemplo: “Por que isso é uma demonstração? O que é uma demonstração? O que é uma consequência? O que é uma contradição? O que é o verdadeiro? O que é o falso?” [52.2] Portanto, o terceiro tópico é necessário em razão do segundo; e o segundo, em razão do primeiro – mas o primeiro é o mais necessário e onde é preciso se demorar. Porém, fazemos o contrário: pois no terceiro despendemos nosso tempo, e todo o nosso esforço é em relação a ele, mas do primeiro descuidamos por completo. Eis aí porque, por um lado, sustentamos falsidades e, por outro, temos à mão como se demonstra que não é apropriado sustentar falsidades.  

Não faz muito tempo tenho estudado mais detidamente a filosofia estoica, com objetivos exclusivamente pessoais. E, tenho lido atentamente o Encheirídion, traduzido pelo prof. Aldo Dinucci, uma espécie de “Manual de bolso” que teria sido elaborado pelo aluno de Epictetus, Flávio Arriano, a partir das Diatribes, aulas que teria assistido, portanto, e que resultaram no Encheirídion. A Filosofia estoica, como tenho anotado aqui, nesse blog, tem notória relação com as ideias de Sócrates.
Destaco ainda que é perceptível também, na obra de Epictetus, como visto acima em 51.1 e 52.2, uma divisão da Filosofia em três partes:

a) a primeira parte: amplamente relacionada à aplicação dos princípios estoicos;
b) na segunda a recomendação de que tais princípios sejam demonstrados;
c) e, por último, trata detidamente das demonstrações.

Segundo Epictetus, a primeira divisão é a mais fundamental, porém, alerta para o fato de que geralmente damos mais valor à última divisão.
Temos de agir agora, pois, se ficarmos apenas nos projetos de vida, não progrediremos.
E, serão sinais de progresso os que vão anotados abaixo, extraídos do Encheirídion, de Epictetus; tema que, aliás desenvolvi em uma palestra que fiz recentemente e estou desenvolvendo para um capítulo de livro:

“[48.b1] Sinais de quem progride: não recrimina ninguém, não elogia ninguém, não acusa ninguém, não reclama de ninguém. Nada diz sobre si mesmo – como quem é ou o que sabe. Quando, em relação a algo, é entravado ou impedido, recrimina a si mesmo. Se alguém o elogia, se ri de quem o elogia. Se alguém o recrimina, não se defende. Vive como os convalescentes, precavendo-se de mover algum membro que esteja se restabelecendo, antes que se recupere.

[48.b2] Retira de si todo o desejo e transfere a repulsa unicamente para as coisas que, entre as que são encargos nossos, são contrárias à natureza. Para tudo, faz uso do impulso amenizado. Se parecer insensato ou ignorante, não se importa. Em suma: guarda-se atentamente como um inimigo traiçoeiro”.

Essa reflexão, como já indicado no início do texto, tem como objetivo fundamental apreender os conceitos e avançar na aplicação sem cair, erroneamente, numa espécie de "auto-ajuda" como fazem alguns leitores contemporâneos.

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Link:
https://www.academia.edu/36272847/Confer%C3%AAncia_de_Aldo_Dinucci_no_III_Col%C3%B3quio_Brasileiro_sobre_Epicteto_no_dia_9_de_mar%C3%A7o_de_2018_na_Unisinos_S%C3%A3o_Leopoldo_-RS_

IBLIOGRAFIA SEMPRE CONSULTADA

(ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).
DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.
EPICTETO. Entretiens. Livre I. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.
______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.
______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)
______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.
EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.
HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001. 
LONG, Georg. Discourses of Epictetus, with Encheiridion and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.
SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

domingo, 9 de dezembro de 2018

REFLEXÃO MATINAL XIV




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VISÃO DE MUNDO

À medida que prossigo com a leitura dos textos produzidos pelos estoicos percebo uma abordagem mais focada na reflexão com fins práticos, para aplicação na vida cotidiana dos resultados a que se chegou refletindo. Inegável a profundidade dos estoicos em temas mais voltados à ação do que à teoria do conhecimento e outros assuntos
Mais evidente ainda é que a atividade teórica dos estoicos está sempre situada numa abordagem que diverge profundamente da maneira com que se tem defendido o que seja a Filosofia atualmente, por exemplo.
Ora, desde Sócrates, portanto, levar a cabo uma atividade filosófica exige do seu praticante uma opção por um determinado “modo de viver” que está situado desde o início da atividade filosófica, sem foco inicial num objetivo a ser alcançado, pelo contrário, uma visão de mundo já está na base da escolha de determinado “modo de viver” em oposição a outras formas de agir e é esta que determina e dá os contornos daquilo que pretende ensinar e como vai ensinar.
Tomada a decisão, escolhido o caminho, tendo como ponto de partida uma tal "visão de mundo" a orientar cada passo;  com "eustatheia" (tranquilidade) e "euthymia" (crença em si) prossigamos como sugerem os estoicos, neste caso: Epictetus.

"Pergunte-se o seguinte no início da manhã:

O que está faltando para que eu me liberte da paixão?
E para alcançar a tranquilidade?
O que sou eu? 
Um corpo, um dono de propriedades ou uma reputação?
Nenhuma dessas coisas. 
O que, então? 
Um ser racional. 
O que, então, é exigido de mim? 
Meditar sobre as minhas ações.
Como eu me afastei da serenidade? 
O que eu fiz de hostil, indiferente e não-social?
O que eu falhei em fazer em todos esses momentos?" - (Epictetus).

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PS:

* "908. Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más?


“As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado, e que se torna perigoso quando passa a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la, e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos ou para outrem.”




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* (KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. 93. ed. 1. reimpressão. (edição histórica). Brasília: FEB, 2013)

O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...