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“[XXVII]
Ὥσπερ σκοπὸς πρὸς τὸ ἀποτυχεῖν οὐ τίθεται, οὕτως οὐδὲ κακοῦ φύσις ἐν κόσμῳ γίνεται.
[27.1]
Do mesmo modo que um alvo não é fixado para não ser atingido, assim também a
natureza do mal não existe no cosmos.” EPICTETO, 2012)
Revisitando velho e recorrente tema...
Geralmente, em filosofia, Aristóteles
e Platão podem ser vistos como os primeiros pensadores a tratarem detidamente o
tema da "paixões", e seu papel na constituição do ser humano. Para eles, as paixões se
apresentam como obstáculos na obtenção do verdadeiro conhecimento, Platão chega
a equiparar paixões e doenças, por exemplo. Na Modernidade, autores da área da Psicologia,
tentam explicar os mecanismos para o funcionamento e consequências destas
para conduta do ser humano. Na Filosofia, portanto, vários outros filósofos se
dedicaram ao tema. Por exemplo: Cícero, Henri Bergson, René. Descartes, J.-J. Rousseau,
Thomas Hobbes, Baruch Spinoza, Immanuel Kant, David Hume, Michel de Montaigne,
Nicolau Maquiavel. Voltaire e outros.
No final do texto, acrescento uma
nota de rodapé, referente ao que tenho refletido sobre o tema, há alguns anos;
saindo do campo específico do texto, que é um esforço de continuidade nas
reflexões sobre o tema na filosofia e na psicologia, conforme autores listados
no parágrafo acima.
Na Ética a Nicômaco, capítulo 3 do
livro 1, Aristóteles aponta elementos sobre como deve ser estudado o assunto
das paixões. Ele mesmo, parece reconhecer os limites e a dificuldade em se
traçar um estudo definitivo.
A quem pretenda estudar o assunto,
Aristóteles sugere uma conduta que reconheça a dificuldade em se apresentar
argumentos definitivos; conclusões apressadas. A razão não pode tudo, nesse
assunto. As paixões, segundo Aristóteles, deixam, mesmo assim, abertas as
possibilidades para nosso autogoverno. Como lemos em Lebrun (1987):
“O virtuoso, [ao invés de refrear as
paixões], age corretamente, mas em harmonia com suas paixões, porque ele as
dominou de uma vez por todas. Não só aprendeu a agir de modo conveniente, mas a
sentir o páthos adequado” (LEBRUN, 1987, p. 20).
Raciocínio bem próximo, tenho estudado nas obras de pensadores estoicos como as de Epicteto, Musônio Rufo, Sêneca e Marco
Aurélio.
Ou seja: na obra de Aristóteles, a
discussão sobre as paixões é fundamental na formação de indivíduo virtuoso.
Para ele, o homem é responsável pela autoeducação das tendências naturais; o
mau uso ou usá-las para o bem e virtude, é responsabilidade de cada um. Alcançar a virtude, portanto, seria o
resultado do exercício constante da razão pelo homem. Ainda nos diz, Lebrun:
“Devemos aprender a viver em conformidade
com o lógos, mas sem esquecer que as paixões continuam sendo a matéria de nossa
conduta – e que só a propósito de seres passionais se pode falar em conduta
razoável. Paixão e razão são inseparáveis, assim como a matéria é inseparável
da obra e o mármore da estátua (LEBRUN, 1987, p. 22).”
Resta-nos assim, em relação à paixões, enfrentarmos a
questão da autoeducação e dominá-las. E, acima de tudo, bem conduzí-las!
______.
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[1] Ainda, só para reflexão pessoal: li,
na obra do século XIX, do autor francês Allan Kardec (2013), o seguinte:
“907. Será
intrinsecamente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na
Natureza?
“Não; a paixão está no
excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem
foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização
de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal.”
908. Como se poderá
determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más?
“As paixões são como um
corcel, que só tem utilidade quando governado, e que se torna perigoso quando
passa a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que
deixais de poder governá-la, e que dá em resultado um prejuízo qualquer para
vós mesmos ou para outrem.”