quinta-feira, 26 de março de 2020

JASPERS, LEIBNIZ E O MÉDICO NA ERA DA TÉCNICA: MEDICINA E FILOSOFIA


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Acostumado a ler Karl Jaspers, desde seu “Introdução ao pensamento filosófico”, e, sempre como existencialista, ou como grande autor dos 2 volumes de “Algemeine Psichopalogie” a que tive acesso, inicialmente em português, e sempre os consulto, sobre estes temas com qual sempre estou envolvido e estudando. 

E, claro, sem me esquecer, também, de uma outra obra que li recentemente: “Plato and Augustine: from the great philosophers”. À estas leituras, acabo de acrescentar, bem no estilo mais próximo buscado aqui, quando me dedico a temas da Bioética, à “questão da técnica” na obra de alguns de filósofos, a obra do médico Karl Jaspers, mais um achado avançando sobre estes temas num viés ainda mais filosóficos, no caso, a “questão da técnica” e seus desdobramentos na medicina e psicologia.

Nenhum filósofo, entre os grandes do nosso tempo, conhecia tão bem os problemas relacionado à área médica como Karl Jaspers, tanto pela experiência direta quanto pela reflexão sobre essa experiência ao longo da vida: ele era médico e importante pensador que conviveu entre filósofos e médicos. 

Seu conhecimento sobre a condição médica, reunido aqui, pela primeira vez em um único volume, assumem particular importância: com base na necessidade de purificar uma área central da ciência do seu aspecto "mágico"; têm como meta afirmar a dignidade do relacionamento entre paciente e médico e, em particular, lutar contra os traços dessa certa "mágica" nos procedimentos psicoterapêuticos. Interessante, também o ensaio de Umberto Galimberti que acompanha o livro, em que estuda "uma extinção da psicanálise que, como todas as religiões, reduziu a liberdade do homem e uma recuperação, por parte e da medicina, dessa comunicação entre médico e paciente do qual a psicanálise se apropriou quando, na era da tecnologia, porque a medicina teria negligenciado gradualmente o aspecto subjetivo da doença, a fim de aderir exclusivamente à objetividade dos dados que a instrumentação técnica é capaz de oferecer."

E, no final acabei acrescentando uma outra obra: "Zwei Philosophen der Medizin", sobre Leibniz e Jaspers, mais recentemente, inclusive com participação de um dos autores que conheci pessoalmente, em Brasília, num Congresso de "Psicopatologia":
"Neste volume, os méritos dos grandes pensadores G.W. Leibniz e K. Jaspers apresentaram-se para o desenvolvimento e progresso da medicina e demonstraram que suas realizações contribuíram significativamente para as realizações da medicina atual. Eles eram interdisciplinares: Leibniz como pioneiro e iniciador da medicina moderna, Jaspers como trabalhador de fronteira e mediador entre psiquiatria e filosofia.
As sugestões de Leibniz para melhorar a medicina no século XVII foram pioneiras em seu desenvolvimento como disciplina científica. Além disso, seus planos de reforma também se concentraram em garantir atendimento médico à população. Como psiquiatra, Jaspers deu uma contribuição significativa ao desenvolvimento científico da psicopatologia e fez uma campanha para entender a alma com a metodologia científica da fenomenologia."

Muito bom! Materiais para muita leitura e estudos futuros. Prossigo!

______.

BUSCHE, Hubertus; FUCHS, Thomas. Zwei Philosophen der Medizin: Leibniz und Jaspers Aus der Vortragsreihe der Medizinischen Gesellschaft Mainz e. V. Spinger,  Aufl. 2017.

JASPERS, Karl. Il medico nell'età della técnica. Con un saggio introduttivo di Umberto Galimberti. Milano: Raffaello Cortina Editore, 1991.

______. Der Arzt im technischen Zeitalter: Technik und Medizin. Arzt und Patient. Kritik der Psychotherapie. 2. ed. München: Piper, 1999.

______. Psicopatologia geral: psicologia compreensiva, explicativa e fenomenologia. São Paulo: Atheneu, 1979. (2 vols.)

______. Plato and Augustine. Edited by Hannah Arendt. Translated by Ralph Manheim. New York: Harvest Book, 1962.

______. Introdução ao pensamento filosófico. 16. ed. São Paulo: Cultirx, 1971.

terça-feira, 24 de março de 2020

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XXXI: "TEREFA DO 'FILÓSOFO' "

Khao Luang Caves, Tailândia.
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“Torna meu pensamento capaz de se adaptar seja ao que for que venha a acontecer” 
(EPICTETO, Diatribes, II, 2, 21)

“Eis como nós representamos a tarefa do filósofo. Falta ainda procurar realizá-la. 
(EPICTETO, Diatribes, II, 14).”


O “coração” do homem, segundo o Epicteto, pode ser posto nas coisas que não dependem de nós, e é disso que resulta a visão de que o mundo é um horror, um “inferno” (segundo alguns que andam a fazer sucesso pelo mundo, de quem rejeitamos a má influência). Ora, sendo um estoico Epicteto orienta sobre a maneira de nos posicionarmos em relação ao mundo, à natureza. Se está chovendo, faz calor, faz frio mas eu desejava outra coisa, não a que está acontecendo, não devo me perturbar; fazendo disso oportunidade de exercitarmo-nos na busca pela  “imperturbável paz de espírito” (ataraxia -  Ἀταραξία).

Quanto a isso, tenho estudado e anotado aqui, quando desvio um pouquinho da pesquisa acadêmica principal, sem, no entanto, abandonar as reflexões existenciais pessoais. E, certa vez li, não me lembro onde, algo sobre a Filosofia estoica ser uma doutrina da coerência consigo mesmo. A Razão perfeita individual que eles buscam ou defendem, é a mesma para pensar a comunidade dos humanos. 

Seria a Razão, a que rege o “mundo dos homens”, da mesma maneira, a que rege o homem considerado individualmente.

E, em outros livros, autores e correntes filosóficas e na psicologia, acabei encontrando várias belíssimas referências adotadas ao longo da Vida. Termino sempre revendo uma maneira de ver as coisas, no sentido de entender o homem como alguém que está teimosamente procurando local of control, sua “inner citadel, onde está o cerne da razão mesma, e onde se dará, se houver empenho e condições favoráveis, o encontro consigo mesmo, a autocompreensão.

Necessário foi se tornando, na caminhada, compreender e aceitar que todo o homem tem um conhecimento natural de realidade essencial, sente a aspiração pelo Bem, felicidade e a paz de espírito; que muitos ensinam a "negar" peremptoriamente (e tem reunido muitos adeptos em torno de seus "discursos" inflamados e vazios); e dos quais, se porventura, erroneamente me aproximei, já vi, há muito, que me afastei por medida de profilaxia.

Então, numa das pausas que faço, antes dos rápidos descansos, reli esse trecho de Epicteto sobre o conceito de epiméleia (cuidado de si) e o conceito de oikeíosis (apropriação de si). Uma imersão interior, proposta por Epicteto, nas (Diatribes, I, 22, 9-15):

“Que é, então, a educação filosófica? É aprender a aplicar nossas prenoções naturais aos casos particulares de uma maneira conforme com a natureza; é em seguida, discernir, em meio aos seres, aquilo que depende de nós e aquilo que não depende. Depende de nós: a pessoa e todos os seus atos; não depende de nós: o corpo, as partes do corpo, aquilo que nós possuímos, os parentes, os irmãos, as crianças, a pátria, em uma palavra aqueles com quem nós vivemos. Em que então devemos colocar nosso bem?  A que tipo de realidade aplicaremos este nome? Àquelas que dependem de nós. - “Quê! Então não é um bem a saúde, a integridade do corpo, a vida? Não? Nem mesmo as crianças, os parentes ou a pátria? Quem poderia crer?” – Transportemos então para esses últimos objetos a denominação de bens. Então é possível ser feliz se injuriado e privado dos bens? – “Isso não é possível”. – E, ter com aqueles que vivem perto de vós as relações que devem existir? E como isso seria possível? Porque eu sou levado pela natureza a considerar meu interesse. Se for meu interesse ter um campo; é também meu interesse pegar aquele do vizinho; se for meu interesse ter uma veste, é também meu interesse roubá-lo de uma casa de banhos. Daí, as guerras, as dissensões, as tiranias, os complôs.”

Nisso reflito sobre se não é fundamental, ainda na perspectiva da educação filosófica estoica, colocarmos nosso “coração” nas coisas que dependem mesmo de nós. Desenvolvermos, e insistirmos que, apesar de não ser fácil, é possível uma adaptação, com o tempo, às circunstâncias. Mudamos o que nós podemos.

"Mantenha-se forte; mantenha-se Bem" (Sêneca)

(Grifos e destaques meus) 
______.
ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012.

CÍCERO. On Duties. Trad. W. Miller. Harvard: Loeb Classical Library, 1913.

______. On the Nature of the Gods. Academics.Trad. H. Rackham. Harvard: Loeb Classical Library, 1933.

______. De Finibus. Bonorum Et Malorum. Trad. H. Rackham. Harvard: Loeb Classical Library, 1914.

______. Letters to Friends. Volume I: Letters 1-113. Trad. B. Shackleton. Harvard: Loeb, 2001

DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

DIÓGENES LAÉRCIO. Lives of Eminent Philosophers. vol. I, II.Trad. R. D. Hicks. Harvard: Loeb Classical Library, 1925.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; Fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.

______. Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga. Trad. Flavio Fontenelle Loque e Loraine Oliveira. Prefácio de Davidson, Arnold. São Paulo: É Realizações, 2014. 

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.


SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

domingo, 22 de março de 2020

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XXX: O DIFÍCIL CONTROLE DAS PAIXÕES

CircuitBrasil - Edinho Vieira  circuitbrasil@hotmail.com  São José do Rio Preto - São Paulo  Brasil
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É fundamental a manutenção do “princípio diretor”!

"Apaga a imaginação; acalma o impulso; extingue o desejo: domina a tua alma." 
(MARCO AURÉLIO. Meditações. IX : 7)

Apesar da crítica de vários filósofos, como a de Pascal, por exemplo, que considerava bastante difícil estabelecer um perfeito controle das paixões, visto que isso não levaria em conta fatores sobre a ação e sobre o próprio pensamento. Por isso, teria afirmado que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”

Ora,  como aqui, nessa página, este é um dos temas a que me dedico; estudando-o como resultante natural do persistente problema filosófico da "relação mente e corpo”, reli, em Descartes, numa carta que ele encaminhou à Elisabeth, rainha da Suécia:

“Parece-me que a diferença existente entre as grandes almas e aquelas que são baixas e vulgares consiste, principalmente, no fato de que as amas vulgares deixam-se levar por suas paixões e são felizes ou infelizes se as coisas que lhes acontecem são agradáveis ou desagradáveis. Em vez disso, as outras almas [as grandes] têm pensamentos tão fortes e tão potentes que, embora também tenham paixões, e mesmo frequentemente mais violentas do que as paixões do homem comum, sua razão permanece sempre sua mestra e faz que as aflições até lhes sirvam e contribuam para a perfeita felicidade de que eles, as grandes almas, tiram proveito

....
"Mantenha-se forte; mantenha-se Bem!"

______.
DESCARTES, René.  As paixões da alma. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

______. Œuvres complètes. Publièes par Charles Adam; Paul Tannery. Paris: Librarie Philosophiae. J. Vrin, 1982.

______. O mundo (ou Tratado da luz) e O Homem. Apêndices, tradução e notas: César Augusto Battisti, Marisa Carneiro de Oliveira Franco Donatelli. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009.

DICTIONNAIRE Philosophique - édition Garnier Frères (1878). Disponível em: https://fr.wikisource.org/wiki/Wikisource:Index_des_auteurs.

GUEROULT, M. Descartes selon l’ordre des raisons. Paris: Aubier-Montaigne, 1955. 2v.

VUILLEMIN, J. Mathématiques et métaphisyque chez Descartes. Paris: PUF, 1960.

quinta-feira, 19 de março de 2020

REFLEXÃO MATINAL LXXXIV: HERMANN HESSE: "THE DIFFICULT ART OF TAKING RESPONSIBILITY, AND THE WISDOM OF THE INNER VOICE”


Decidir com coragem
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"Alguém que não se encaixe nesse mundo; está bem próximo de encontrar-se consigo mesmo (Hermann Hesse)"

NÃO adianta o amparo em teorias que só são subterfúgios. Só para fugir de si mesmo e culpar o mundo. Estratagema paupérrimo. Pois, como já dizia, entre outros gigantes do pensamento, Herman Hesse:

"[...] a única realidade é aquela que contém dentro de nós, e se os homens vivem tão irrealmente é porque aceitam como realidade as imagens exteriores e sufocam em si a voz do mundo interior."

Foi neste sentido que, hoje, pela manhã, como sempre, na "reflexão matinal" sustentando os exercícios na busca por "imperturbabilidade do espírito", por "serenidade", na superação das más surpresas que vem de onde menos esperamos. Os esforços são tentativas para sustentar meu desvio de foco, e centrar no objetivo principal que, não é a mesquinharia desse mundo medíocre, onde há tantos se pavoneando, chafurdados na lama.
No final, acrescentei mais um texto sobre Hermann Hesse¹. Tinha lido esse autor na adolescência e a releitura, atualmente, tem me revelado muito do que não percebi àquela época. 

Aqui, abaixo, o destaque no texto dele recai "sobre a esperança, e a difícil arte de assumir responsabilidade e a sabedoria da voz interior."

A certa altura do texto lê-se:

"Se você agora está se perguntando onde procurar consolo, onde procurar um Deus novo e melhor ... ele não vem a nós de livros, vive dentro de nós ... Esse Deus também está em você. Ele é mais particularmente em você, o desanimado e desesperado.”

E, repetindo Sêneca:

"Mantenha forte; Mantenha-se Bem"
...
______.
1. Link do texto: 

sábado, 14 de março de 2020

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XXIX: "RIO DO ESQUECIMENTO"


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(Em andamento)

Reli, há pouco, mais uma vez, para me contextualizar historicamente sobre as origens do pensamento “estoico” e filosófico em geral, enquanto “formação do homem”, a Paideia, escrita por Werner Jaeger. 

Claro é que em seguida avancei para a chegada do pensamento proposto por essa “escola filosófica”, às terras romanas; lendo os estoicos romanos, conforme sempre anoto aqui no blog, criado para essas reflexões. Importa, no entanto, que essas pausas na pesquisa principal, são nesse sentido, de refletir sobre a “formação do homem”.

Na verdade, cheguei à essa obra a partir da leitura, desde à época de graduação que sempre retomo. Aqui, no caso, trata-se de “A República”, escrito por Platão, um dos principais discípulos de Sócrates. Varias ideias expostas por ele, nessa obra, eu retomo em salas de aulas, há quase 20 anos.

Ele idealiza uma cidade onde predomina o uso da razão. Expõe, na obra o “mundo das Ideias”, um mundo transcendente, por trás do mundo sensível; as Ideias são formas puras, modelos perfeitos eternos e imutáveis. O que pertence ao mundo dos sentidos se corrompe, se transforma com o tempo; o que percebemos é mera cópia imperfeita dos modelos do “mundo das Ideias”. A esse mundo das “Ideias”, só atingiremos à medida que a mente vai se afastando do mundo “sensível” em direção ao mundo das “essências” das “Ideias”. O instrumento proposto por Platão é “dialética”, o diálogo no aperfeiçoamento constante da mente, e no uso da razão em busca da Verdade. Nisto, como sempre o fez, partindo dos ensinamentos de Sócrates. A dialética é um instrumento de busca da verdade.

Ademais, Platão acreditava na existência de uma “alma imortal”, que já existia no mundo das Ideias, bem antes de vir para cá e habitar um corpo. Ao habitar esse corpo “esquece” as Ideias perfeitas que trouxe e o mundo se apresenta a partir de uma vaga lembrança e a alma passa a querer voltar para o mundo das Ideias, de onde veio.

Nas aulas, quando vou apresentar a “maiêutica” de Sócrates, sempre ilustro essa questão, tentando ampliar com o Diálogo “Ménon” (teoria das reminiscências), acrescento o “mito de Er” em “A República”, no livro X, de 614b a 621b. E, ressalto o rio Lete (Λήθη - Lếthê), o “Rio do Esquecimento”. Sempre discutindo de uma forma a deixar claro que é a compreensão platônica.

O restante do livro X trata de conselhos à prática do Bem, da Justiça e demais Virtudes. Sócrates cita o mito de Er, que fala da recompensa no "pós-morte" e deixa claro que “é um grande combate, meu caro Glauco, é grande, e mais do que parece, o que consiste em nos tornarmos bons ou maus. De modo que não devemos deixar-nos arrebatar por honrarias, riquezas, nem poder algum, nem mesmo pela poesia, descurando a justiça e as outras virtudes” (República, 608b, 2001). Sócrates trata da “imortalidade da alma” e tenta resolver a questão do “destino” e da “responsabilidade”.

“Não é um gênio que vos escolherá, mas vós que escolhereis o gênio. O primeiro a quem a sorte couber, seja o primeiro a escolher uma vida a que ficará ligado pela necessidade. A virtude não tem senhor; cada um a terá em maior ou menor grau, conforme a honrar ou a desonrar. A responsabilidade é de quem a escolhe. O deus é isento de culpa” (República, 617 e, 2001).

Então, estou relendo, de Werner Jaeger (1995), a obra “Paideia”, em que apresenta a ideia de Paideia como “processo de educação em sua forma verdadeira, a forma natural e genuinamente humana”, como entendida na Grécia antiga, que pode ser entendida também como a maneira que a própria cultura se desenvolve a partir da educação (formação), e era o ideal que os gregos cultivavam de mundo.

A “Paideia”, portanto, é o legado deixado pelos gregos a humanidade. E, é o que uma geração deixará para outra, através dos tempos, em toda as sociedades humanas.

Muito mais que formar o mero cidadão, obediente, que simplesmente segue as regras da Pólis, a educação, é apresentada por Jaeger como a visão grega da formação integral do homem.

Platão, por exemplo, define Paideia como: “[...] a essência de toda a verdadeira educação ou paideia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento” (Jaeger, 1995).

Para Jaeger, os gregos entenderiam paideia como "todas as formas e criações espirituais e ao tesouro completo da sua tradição, tal como nós o designamos por Bildung ou pela palavra latina, cultura". Portanto, para ele, “o emprego de expressões modernas como civilização, tradição, literatura, ou educação; nenhuma delas coincidindo, porém, com o que os gregos entendiam por paideia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só vez.” (Jaeger, 1995).

O conceito de paideia não seria somente, nessa chave, unicamente um conjunto de técnicas para preparar as crianças para a vida adulta, e sim, todo o processo educativo ao longo de toda a vida, mesmo para além da simples presença nas escolas.

A partir, então, da leitura de “A República” (Politéia), reli a obra “Paideia”, na perspectiva de como alguns filósofos lidaram com questões sobre a formação do homem, desde a Grécia Antiga. De resto, das aulas, o que me levou a essa releitura, mesmo interrompendo a pesquisa principal, foi o debate sobre a “busca da verdade”, entre Sócrates e os Sofistas e a formação do homem, como também tenho feito essa busca nos textos dos "estoicos". 

Só uma reflexão!
______.


Textos

Link da obra "Ménon" de Platão (Edição bilíngue):


Link da obra "Alegoria da caverna" de Platão: 

Link da obra "Fédon" de Platão (Imortalidade da alma): 


______.

JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 3. ed. Rio Janeiro: Jorge Zahar Editor,  2007.

______. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 12. ed. Rio Janeiro: Jorge Zahar Editor,  2008.

PLATÃO. Ménon. 8. ed. São Paulo: Loyola, 2001.

______. República. 15. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2001. (Livro VII e |Livro X)

______. República. 3. ed. Belém, PA: EDUFPA. Trad. Carlos Alberto Nunes, 2000. (Livro VII e |Livro X)

sexta-feira, 13 de março de 2020

REFLEXÃO MATINAL LXXXIII DESPRENDIMENTO E IMPERTURBABILIDADE


Blog para amantes do Campo, Casas de Campo, Interiores Rústicos, Alimentação Saudável, Animais, Moda do Campo, Piscinas Naturais e muito mais.
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“Conta-se que Zenão de Cítio perdeu todos os seus bens num naufrágio. 
Ao se dar conta disso teria dito:

"A sorte deseja que eu seja um filósofo com menos coisas a carregar."


Foi essa "reflexão matinal" de hoje, anotada aqui, somente agora.

Absolutamente fundamental que os esforços prossigam, afastando-se o mais possível dos discursos "vazios" (alguns até perniciosos), substituindo-os pela leitura das poucas obras e autores escolhidos para orientar-me os passos numa caminhada de Paz, que há algum tempo, é a tônica e se repete aqui, neste texto.

Nas obras a que me dedico, entre elas a de estoicos como Epictetus, Sêneca, Musonius Rufus, descobri conceitos de profunda relevância prática. Entre eles: o de imperturbável paz de espírito (ataraxia -  Ἀταραξία)

É objetivo por aqui, a serenidade e o autodomínio!

Tarefa obrigatória do (Prokopton – προκόπτον), com o firme propósito de compreender que importa mesmo é internalizar a convicção de que a real felicidade depende de uma escolha nossa, jamais de coisas externas.

E, “Quando vires alguém aflito, chorando pela ausência do filho ou pela perda de suas coisas, toma cuidado para que a representação de que ele esteja envolto em males externos não te arrebate, mas tem prontamente à mão que não é o acontecimento que o oprime (pois este não oprime outro), mas sim a opinião sobre <o acontecimento>. No entanto, não hesites em solidarizar-te com ele com tuas palavras e, caso caiba, em lamentar-te junto. Mas toma cuidado para também não gemeres por dentro. (EPICTETO. Encheirídion, XVI, 2012)”

Ora, se buscamos (ataraxiaἈταραξία), não nos esqueçamos, de que entre os acontecimentos externos, nada está sob nosso controle, portanto, nas adversidades, sempre a disciplina a assegurar nossa prosoché, para que não nos afastemos da Lei natural.

Acrescentando ainda, para que estabeleçamos o nosso roteiro:

Lembra que és um ator de uma peça teatral, tal como o quer o autor <da peça>. Se ele a quiser breve, breve será. Se ele a quiser longa, longa será. Se ele quiser que interpretes o papel de mendigo, é para que interpretes esse papel com talento. <E, da mesma forma,> se <ele quiser que interpretes o papel> de coxo, de magistrado, de homem comum. Pois isto é teu: interpretar belamente o papel que te é dado – mas escolhê-lo, cabe a outro. (EPICTETO. Encheirídion, XVI, 2012)”


______.
DESCARTES, René.  Discursos do Método; Meditações; Objeções e Respostas; As Paixões da Alma; Cartas. (Introdução de Gilles-Gaston Granger; prefácio e notas de Gerard Lebrun; Trad. de J. Guinsberg), Bento Prado Jr. 3. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983 (Os Pensadores).

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: 
Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). ______. O livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 893-919: "As virtudes e os vícios”; “Paixões"; “Caracteres do homem de bem”; “Conhecimento de si mesmo” e 920-933: "Felicidade"; Q. 614-648: "Caracteres da Lei natural"; "Origem e conhecimento da Lei natural"; "O bem e o mal"; "Divisão da Lei natural". Q. 780 "Marcha do progresso" intelectual e moral).

KIERKEGAARD, S. A. As obras do amor. Trad. Alvaro Valls. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.




quinta-feira, 12 de março de 2020

MINICURSO: KIERKEGAARD E A CLÍNICA PSICOLÓGICA

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1. 

"Aula Ribeirão Preto: 28 de março de 2020

Disciplina: Kierkegaard e a clínica psicológica

Professores: Ana Maria Feijoo e Myriam Protasio

Objetivo: Apresentar a filosofia e o método em Kierkegaard de modo a esclarecer como tais elementos contribuem nas reflexões acerca da clínica psicológica.

Ementa: Kierkegaard e a ciência existencial: comunicação indireta, angústia, desespero, relação de ajuda. Movimento existencial: estético, ético e salto. As determinações de uma época e suas repercussão na compreensão do comportamento do homem na atualidade.

Programa:
  • Um modo de pensar uma psicologia inspirada em Kierkegaard.
  • As críticas de Kierkegaard às psicologias de sua época.
  • A psicologia experimental de Kierkegaard pela perspectiva de Hroar Klempe.
  • A “ciência existencial” com as noções de liberdade (angústia e desespero) e possibilidade de transformação (salto).
  • A comunicação indireta e repercussões para o fazer clínico. 
  • Kierkegaard em relação às determinações de uma época.
  • Análise de situações clínicas apresentadas pelos alunos."
______
2. Palestra: "Seria o amor o elemento fundamental de uma relação psicoterapêutica? Kierkegaard realiza, em As Obras do amor¹, uma análise não somente sobre o amor, mas sobre o dever de amar como condição fundante da existência, que é sempre comunitária. A vida em comunidade se constitui na diferença, mas, ele diz, tendemos a entender o diferente como inimigo e a nos enganarmos acerca de nossas próprias obras e a de nossos semelhantes. A investigação de Kierkegaard sobre as obras do amor expõe que o amor não é regra ou norma, mas tarefa levada a termo em todo modo de agir e existir. A temática do amor foi pensada por Binswanger como fundamento da relação terapêutica, tendo sido criticado pelo filósofo Martin Heidegger por isso. Teria Binswanger se inspirado mais nas análises de Kierkegaard que no pensamento de Heidegger? (Myriam Moreira Potasio).

______.
1. KIERKEGAARD, S. A. As obras do amor. Trad. Alvaro Valls. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

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______.
Obs: Publicado aqui, com autorização de Francis Gomes.


quarta-feira, 11 de março de 2020

REFLEXÃO MATINAL LXXXII: BREVÍSSIMA NOTA SEM REVOLTAS

Ruas da Cidade.
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"A prudência determina o que é necessário escolher e o que é necessário evitar." (André Comte-Sponville)

Já há algum tempo tenho lido sobre o estoicismo. E, com essas leituras, prosseguindo com os referenciais existenciais básicos, procuro compreender onde aplicar os "princípios" (Encheirídion, 2012. L, LI e LII) daí advindos, acrescidos aos anteriores. Percebi, desde o início a profundidade dessa reflexão.

A meta dessa escola é 'possibilitar a existência de humanos com o que é possível alcançar em autonomia. Contribuir na formação de indivíduos capazes de pesar os valores sociais dos grupos em que estão inseridos, daí sugerindo uma correção do que for possível'.

Mas, o principal objetivo, segundo o prof. Aldo Dinucci, estudioso do estoicismo, num artigo de 2019: “não é gerar indivíduos revoltados e dispostos a tudo para criar uma sociedade ideal, para trazer à luz uma utopia. O objetivo do estoico é fazer refletir em si a ordem cósmica e cumprir seu papel para tornar o mundo mais humano e, consequentemente, mais harmônico em relação à natureza. Assim, buscará, em primeiro lugar, exercer bem sua função, seja ela qual for, médico, policial, professor, politico.”

Primeiro, em si mesmo, o que se espera ver realizado no mundo!
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"Mantenha-se forte, mantenha -se Bem." (SÊNECA)
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ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012.
DINUCCI, Aldo; TAQUÍNIO, Antonio. Introdução ao manual de Epicteto. 2012.
HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.
MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.



sexta-feira, 6 de março de 2020

"EARLY MODERN GERMAN PHILOSOPHY": PROJETO DE LEITURA



À medida que adentro o universo do "período pré-crítico", cada ve mais, vou somando o que me chega de referências que me auxiliarão. Aqui, a obra publicada pelo prof. Corey Dick. Para leitura, em breve!

“Early Modern German Philosophy (1690-1750) makes some of the key texts of early German thought available in English, in most cases for the first time. The translations range from texts by the most important figures of the period, including Christian Thomasius, Christian Wolff, Christian August Crusius, and Georg Friedrich Meier, as well as texts by consequential but less familiar thinkers such as Dorothea Christiane Erxleben, Theodor Ludwig Lau, Friedrich Wilhelm Stosch, and Joachim Lange. The topics covered range across a number of areas of theoretical philosophy, including metaphysics (the immortality of the soul, materialism and its refutation, the pre-established harmony), epistemology (the principle of sufficient reason, the limits of reason with respect to matters of faith), and logic (the role of prejudices in cognition and the doctrine of truth).
These texts are intended to showcase German philosophy in the early Modern period as a far richer tradition than it is typically given credit for, and indeed as much more than either a footnote to Leibniz or merely a step on the way to Kant. This collection is a valuable resource for students and scholars interested in the early modern German tradition and the often neglected works that enlightened it.”

.’.

Early Modern German Philosophy (1690-1750) disponibiliza alguns dos principais textos do pensamento alemão em inglês, na maioria dos casos pela primeira vez. Traduções dos textos das figuras mais importantes do período, incluindo Christian Thomasius, Christian Wolff, Christian August Crusius e Georg Friedrich Meier, bem como textos de pensadores menos familiares, como Dorothea Christiane Erxleben, Theodor Ludwig Lau, Friedrich Wilhelm Stosch e Joachim Lange. Os tópicos abordados abrangem várias áreas da filosofia teórica, incluindo a metafísica (a imortalidade da alma, o materialismo e sua refutação, a harmonia pré-estabelecida), a epistemologia (o princípio da razão suficiente, os limites da razão no que diz respeito à questões de fé) e lógica (o papel dos preconceitos na cognição e na doutrina da verdade).

Esses textos pretendem mostrar a filosofia alemã no início do período moderno como uma tradição muito mais rica do que normalmente é creditada, e de fato muito mais do que uma nota de rodapé para Leibniz ou apenas um passo a caminho de Kant. Esta coletânea é um recurso valioso para estudantes e acadêmicos interessados ​​na tradição alemã moderna e nos trabalhos muitas vezes negligenciados que iluminavam-se”

Sobre o Autor:

“Corey W. Dyck is Professor of philosophy at Western University in Canada where he specializes in Kant and the history of German philosophy. He is the author of Kant and Rational Psychology (Oxford 2014), the co-editor (with Falk Wunderlich) of Kant and his German Contemporaries (Cambridge 2017), and co-translator (with Dan Dahlstrom) of Morning Hours by Moses Mendelssohn.”

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DICK, Corey, Early Modern German Philosophy (1690-1750). OUP. Oxford University Press, 2010.

Fonte: Amazon

quinta-feira, 5 de março de 2020

REFLEXÃO MATINAL LXXXI: DIGRESSÕES

*underground stairway
(IMAGEM: "Pinterest")
O “[...] ser humano pode exercer domínio sobre si mesmo se ele quiser?”
[...] Ora, o domínio sobre si mesmo depende da força do sentimento moral. Podemos muito bem nos autogovernar se enfraquecermos as forças opostas." (KANT, 2018[1])

Tenho estudado, nas pausas, a obra dos estóicos. E, para eles, é verdadeiramente importante e fundamental comprendermos que estudar a filosofia não é só esmerar-se no burilamento dos discursos inflamados no verbo, mas vazios de conteúdos. Importa mesmo que nossos esforços sejam sempre no sentido de apararmos as arestas na prática e aquisição de Virtudes; aperfeiçoarmos a nós mesmos. E, em meio aos estudos tenho observado um “princípio” a ser estudado com atenção, como segue abaixo:

Trata-se de Askesis[2]: "Do grego. Significa exercício. É o esforço para renunciar aos prazeres sensíveis tendo em vista o aperfeiçoamento moral ou espiritual, ou ainda a realização de uma obra que exija o domínio da vontade. Os estóicos submetiam-se a essa disciplina para escapar ao domínio dos sentidos e da afetividade; os ascetas cristãos aplicavam-na a fim de se desapegarem do mundo e aproximarem-se de ‘Deus’. P. Ext., chamamos de ascese o método perseverante, gerador de sacrifícios, que o pesquisador, erudito ou filósofo, se inflige (por exemplo, Descartes, quando duvida)."

Neste sentido, e sobre como aplica-lo à própria vida, em primeiro lugar, aproveito trechos da obra de Marco Aurélio, em suas Meditações, Livro X:

  • "Não fale mais sobre como o homem bom deve ser, mas seja um bom homem”(X,16).
  • “Habitue-se o mais possível a si mesmo, por ocasião de qualquer coisa que seja feita por qualquer pessoa a perguntar-se a si mesmo, para que fim está este homem fazendo isto? Mas começa por si mesmo, e se examine primeiro.” (X,38)

Assim, entre as frequentes leituras sobre estoicismo, aprendo alguns dos mais notórios princípios para prática dessa filosofia: um conjunto de “exercícios práticos” a que estes, lidos hoje, são somados. Os objetivos estoicos estão sempre ajustados de forma valorizar a ação, mais do que às palavras; difícil empreendimento, ainda.

Portanto, agir, para o indivíduo que se pretenda um verdadeiro prokopton, ou disso se aproximar, constitui-se cada vez mais em prioridade na autoeducação.

É a ação que mostra como uma pessoa realmente é. Daí a incessante busca, o difícil empreendimento, dito acima, por realizar tais exercícios práticos no cotidiano para alcançar a eustatheia (tranquilidade) e euthymia (crença em si), como já anotei aqui nessa página, tempos atrás.

Também a isso se acresce, a busca sempre renovada por imperturbável paz de espírito (ataraxia -  Ἀταραξία).

Enfim, só vou dando continuidade às repetidas tentativas de que, escrevendo, evite "falar", cada vez mais.

"Mantenha-se forte, mantenha -se Bem." (SÊNECA)


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ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012.

DINUCCI, Aldo; TAQUÍNIO, Antonio. Introdução ao manual de Epicteto. 2012.

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

MARCO AURÉLIO. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1973.




[1] KANT, Immanuel. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.
[2] DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Trad. Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.


O SUPOSTO "CONFLITO CIÊNCIA X RELIGIÃO" (II)

Recentemente, acrescentei, uma obra de  Alvin Plantinga  que até recentemente não conhecia: “ Ciência, religião e naturalismo:  onde está o ...