sábado, 30 de maio de 2020

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XXXV: ACERCA DAS COISAS INTERIORES OU ACERCA DAS EXTERIORES

Violin & Books
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"Meu único medo é fazer algo contrário à natureza humana ;  a coisa errada, do jeito errado, ou no momento errado." (Meditações. VII.20)

Para a típica forma de pensar e filosofar dos estoicos, aplicado a quem se pretenda adotar um tipo de filosofia, que  pretenda filosofar, ressalte-se, haveria, em nós, algo que se preserva em certa medida na execução do pensamento lógico universal, e dessa forma estaria garantida uma coerência e um equilíbrio que auxiliariam na tarefa de cada ser humano no exercício prático e constante de tornar-se a cada dia uma pessoa melhor; uma boa pessoa que segundo o que diz Epictetus, e, exatamente, por haver uma essência, esta deve ser preservada em nós como uma centelha interior que não pode se extinguir.

As nossas ações, no entanto, devem ser pensadas e direcionadas de certa forma ao bem comum sob pena de ela, para nós, perder força e nos enfraquecer nos juízos que nos sejam pedidos acerca de decisões e sobre uma ou outra necessidade de tomar como certo ou verdadeiros atos do nosso cotidiano. Não havendo tal possibilidade de se estabelecer limites, haveria sim se os que, ultrapassando essas barreiras avançassem na ação que prejudicasse a outrem ou a si mesmos. 

Enfim, Epictetus, recomenda que não percamos essa nossa essência; que façamos o que é certo: o nosso dever. Portanto:

"Homem! Examina primeiro de que qualidade é a coisa, depois observa a tua própria natureza para saber se a podes suportar. [...] É preciso que sejas um homem, bom ou mal. É preciso que cultives a tua própria faculdade diretriz ou as coisas exteriores. É preciso que assumas ou a arte acerca das coisas interiores ou acerca das exteriores. Isto é: que assumas ou o posto de filósofo ou de homem comum."

Prossigamos! Tudo por fazer!

______.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014. (XXIX:39-41.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

MARCO AURÉLIO. Meditações. VII : 20. (tradução de Virgínia de Castro e Almeida)

SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.



IMMANUEL KANT EN NUESTRO TIEMPO: LAS REALIDADES EN QUE HABITAMOS

Como tem sido o foco das leituras atuais, a que tenho me dedicado, aqui acrescento uma obra a que me dedico hoje! 

Como segue abaixo, com os temas sugeridos; é sabido que "Kant era um epistemólogo, um filósofo da mente, um metafísico da experiência, um especialista em ética e um filósofo da religião. Mas tudo isso foi sustentado por sua fé religiosa", alguns dos tópicos que sempre me interessam na obra kantiana são contemplados no livro e compõem minhas leituras básicas.  Portanto, é nessa linha que seguirei. 

"Como resultado do II Congresso da Sociedade de Estudos Kantianos no idioma espanhol, este livro reúne as pesquisas mais recentes realizadas nos diferentes campos do pensamento kantiano na comunidade de língua espanhola, à qual se juntam pesquisadores de centros internacionais de estudos kantianos. . As contribuições estão agrupadas sob os seguintes títulos: "Conhecimento e realidade", "Liberdade e moral", "História e cosmopolitismo", "Comunidade e direito", "Religião e Deus", "Beleza e arte" e "Kant em espanhol" . Os autores que colaboram no livro representam o melhor da produção filosófica sobre o pensamento de Kant na comunidade de língua espanhola e pesquisadores de reconhecido prestígio de outros campos lingüísticos, traduzidos para o espanhol. ”

______.

JIMÉNEZ, Rafael V. Orden; CORDÓN, Juan Manuel Navarro; Rogelio Rovira (eds.). Kant en nuestro tiempo: las realidades en que habitamos /  Madrid: Biblioteca Nueva, 2016.


quinta-feira, 28 de maio de 2020

REFLEXÃO MATINAL XXXIX: SOBRE SILÊNCIO E INTROSPECÇÃO

Allchin, William T.Howell                         Old book with glasses photo

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"[XLVI.2] ... caso, [...] uma discussão sobre algum princípio filosófico sobrevenha, silencia ao máximo, pois o perigo de vomitar imediatamente o que não digeriste é grande. E quando alguém te falar que nada sabes e não te morderes, sabe então que começaste a ação."[1]


Na citação, Epictetus, recomenda o que se deve fazer em meio a falatórios: pois, se a discussão for “sobre algum princípio filosófico”,   a melhor atitude é “silenciar”. A recomendação serve para que se reflita, antes de qualquer intervenção. Ademais, tal reflexão dever voltar-se à busca de exercícios visando a prática e menos discursos. Bem comum notar que estes estóicos eram bem precavidos em se aventurar em definições intempestivas irrefletidas. E, abaixo, do grande Sêneca; que postei há cinco anos atrás; desde que comecei a aprofundar as leituras sobre Estoicismo, em que há  uma reflexão sobre diálogo e introspecção ... 

No texto destaco, do autor, e reforço: (aos "...companheiros de sanatório ..."):

Assim, exercitando silêncio, sigo meditando e aplicando a mim o conselho de Sêneca:

"Quem és tu para me dar conselhos? Acaso já te aconselhaste a ti próprio, já corrigiste o teu carácter, para te poderes armar em director da consciência alheia? Objecção justa, a tua; eu, contudo, não sou tão descarado que, doente eu próprio, me aplique a dar remédio aos outros! É como companheiro de sanatório que eu falo contigo da nossa comum enfermidade e te dou parte dos medicamentos que uso. Escuta, portanto, as minhas palavras como se estivesses me ouvindo falar comigo mesmo; é como se eu te permitisse o acesso aos meus segredos e discutisse comigo mesmo na tua presença.[2]"

“Bem-aventurado silêncio. Feliz o homem que nada sabe e nada quer.” (Angelus Silesius 1624-1677)




[1] ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012).

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

______. A filosofia como maneira de viver: entrevistas de Jeannie Carlier e Arnold I. Davidson. (Trad. Lara Christina de Malimpensa). São Paulo: É Realizações, 2016.

______. Exercícios espirituais e filosofia antiga. Trad. Flavio Fontenelle Loque e Loraine Oliveira. Prefácio de Davidson, Arnold. São Paulo: É Realizações, 2014.

HANH, Thich Nhat. Meditação andando: guia para a paz interior. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

______. Silêncio: o poder da quietude em um mundo barulhento. Rio de Janeiro, RJ: Harper Collins, 2018.


[2] SÉNECA. L. A. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2014. (Carta XXVII. 1-2)


quarta-feira, 27 de maio de 2020

FILOSOFIA DA TECNOLOGIA

Link do evento e calendário para os próximo eventos:

REFLEXÃO MATINAL XXXVIII: DA "TRANQUILIDADE DA ALMA" (II)

The library look

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"Vtique animus ab omnibus externis in se reuocandus est: sibi confidat, se gaudeat, sua suspiciat, recedat quantum potest ab alienis et se sibi adplicet, damna non sentiat, etiam aduersa benigne interpretetur".

Reli, agora pela manhã, antes de dar início às atividades normais e, claro, durante o café: o texto de Sêneca: “Sobre a tranquilidade da alma”.

Escrito como um meio de orientação aos que aspiram dedicar-se ao aperfeiçoamento moral pessoal; dirigido ao seu amigo Aneu Sereno, a quem antes já tinha escrito o texto que é conhecido como “Sobre a constância do sábio”. Foi um grande amigo de Sêneca, pertencente à ordem equestre, formada pelos cidadãos mais abastados.

Sêneca escreve o texto com o objetivo de apresentar a doutrina estóica, sabendo que Sereno era adepto do epicurismo. Faz uma apresentação detalhada do que se pode obter do estudo de tal doutrina para a vida prática.

O que resulta dessa apresentação de Sêneca, para mim, que a publico aqui, é ter constatado elementos que tem a força de nos auxiliar nos empreendimentos de superação dos “tormentos” e dificuldades que possam nos atingir: os temores; os desejos humanos e, acima de tudo, como nos exercitarmos na direção da tranquilidade da alma, esse estado ideal de serenidade proposto e buscado pelos estoicos; que precisa vivenciá-lo de forma integral.

Um dos passos indicados na obra:

"Seja como for, a alma deve recolher‐se em si mesma, deixando todas as coisas externas: que ela confie em si, se alegre consigo, estime o que é seu, se aparte o quanto pode do que é alheio, e se dedique a si mesma; que ela não sinta as perdas e interprete com benevolência até mesmo as coisas adversas".

E, também, diante das dificuldades, nas ocasiões em que a tranquilidade da alma esteja ameaçada, ou:

"Sempre que queiras saber qual a atitude a evitar ou a assumir, regula-te pelo bem supremo, pelo objetivo de toda a tua vida. Todas as nossas ações devem conformar-se com o bem supremo: somente é capaz de determinar as ações individuais o homem que possui a noção do objetivo supremo da vida". (SÉNECA, Livro VIII - "Carta 71";(2))

E, no texto sobre o qual refleti, pela manhã, Sereno, diz a Sêneca alguns dos problemas com os quais tem dificuldade em lidar:

  • hesitação diante do desejo de bens e de prazeres corporais.
  • alternância entre desejo de atuação social e de recolhimento aos estudos.
  • dilema ético e estético relativo a busca pela fama.

Daí, em seguida pede que lhe seja dado um diagnóstico e um “remédio”:

“Rogo, então, se tem algum remédio que possa deter esta minha vacilação e me faça digno de lhe dever a paz de espírito”.

Ao que Sêneca, ao longo do texto, compreende que ele esteja buscando, na verdade, o que se pode tomar como uma das mais importantes conquistas do homem, para a Vida, um estado de tranquilidade (De Tranquillitate Animi); que entre os gregos era chamada de de euthymía (ευθυμία) (II,3). Como vemos no texto, segue o que dá início aos conselhos de Sêneca, definindo antes, a tranquilidade da alma:

“O que buscamos, então, é como a alma pode sempre seguir um rumo firme, sem percalços, pode estar satisfeita consigo mesma e olhar com prazer para o que a rodeia, e não experimentar nenhuma interrupção dessa alegria, mas permanecer em uma condição pacífica, sem nunca estar eufórica ou deprimida: isso será ‘tranquilidade’.” (II,4)

Disso parte para as recomendações:

A de que a maioria dos homens sofrem de inconstância, mudam insistentemente de objetivos e vivem a reclamar do que desistiram. Isso gera, de certa forma: “ansiedade”. Noutros casos, não se trata de inconstância, mas de um certo “comodismo” em permanecer em situação que lhes causa infelicidade, mas “continuam a viver não da maneira que desejam, mas da maneira que começaram a viver.“ (II,6). E, mais: há caso, também dos que creem que a maneira de vencer a modorrenta vida de marasmo é “viajar”, o que mais tarde se constata que se viajou levando os problemas e se retorna com eles: “Assim, cada um sempre foge de si mesmo” (II,14).

Conclusão de Sêneca: os nossos problemas não estão no lugar em que vivemos, na condição em que vivemos; eles estão em nós.

E, desafia: “Por quanto tempo vamos continuar fazendo a mesma coisa? (II,15).

Então, a partir do cap. III, começa uma lista de conselhos para busca da tranquilidade da alma.

De Atenodoro, teria vindo o primeiro, que diz: “O melhor é ocupar-se dos negócios, da gestão dos assuntos do Estado e dos deveres de um cidadão”. Ou seja, bom é exercitar-se em algum tipo atividade e fazer sempre o Bem. Recomenda ainda a filosofia, isso trará ao interessado uma certa dose satisfação e, resultará em tranquilidade da alma. E, no mínimo fará com que iniciemos uma vida diferente da maioria. Um bom começo!

Encerrando, por hoje, no capítulo IX, Sêneca faz uma crítica bem interessante, mas, que só retomarei num outro momento como este, desta manhã; ele critica os homens que compram livros e não os estudam. Assim, acrescento, meditar, exercitar-se e não adotar isso como processo de transformação das nossas vidas, de nada vale. Fundamental que utilizemos isso tudo em nos tornarmos melhores, apesar dos pesares!

______.

SÉNECA, Lúcio Aneu. Cartas a Lucílio. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2014.

______. Da tranquilidade da alma. (precedido de "Da vida retirada", seguido de "Da felicidade". Porto Alegre, RS: L&PM, 2009.

______. Sobre a tranqüilidade da alma (a). Sobre o ócio. (b). São Paulo: Nova Alexandria, 1994.

______. A tranqüilidade da alma (a). A vida retirada (b). São Paulo: Escala, 2000.

domingo, 24 de maio de 2020

EXPLORANDO A "FILOSOFIA PRÁTICA" E "DEONTOLOGIA" NA OBRA DE IMMANUEL KANT

Constructions of Reason: Explorations of Kant's Practical Philosophy (English Edition) por [Onora O'Neill]

Continuando a aproximação com a Filosofia e Deontologia a partir de Immanuel Kant. Onora O'Neil tem escrito sobre a questão da Deontologia e Bioética

Mesmo após cerca de dois séculos das publicações de Kant, sua obra ainda continua repercutindo em várias áreas do pensamento humano. 

Aqui, destaco uma obra que acabei de ler, de uma autora que conheci recentemente:

Obras em que “[...],Onora O'Neill traça as alegadas incoerências para tentar assimilar os escritos éticos de Kant às concepções modernas de racionalidade, ação e direitos. Quando a tentação de assimilar é resistida, surge uma explicação notavelmente diferente e mais coesa da razão e da moralidade. Kant oferece uma defesa "construtivista" da razão e uma visão moral na qual as obrigações são anteriores aos direitos e nas quais a justiça e a virtude estão ligadas. O'Neill começa reconsiderando as concepções de Kant sobre método filosófico, razão, liberdade, automonia e ação. Ela então segue para o terreno mais familiar da interpretação do Imperativo Categórico, enquanto na última seção enfatiza as diferenças entre a ética de Kant e a ética 'kantiana' recente, incluindo o trabalho de John Rawls e outros filósofos políticos liberais contemporâneos. Essa reavaliação aumentará significativamente o entendimento da filosofia prática kantiana.

Inclusive, Onora O'neill, tem textos, como o que adicionei na bibliografia, em que discute problemas relacionados à Bioética e "Deontologia". Isso o que me levou aos seus textos. 

...

“Two centuries after they were published, Kant's ethical writings are as much admired and imitated as they have ever been, yet serious and long-standing accusations of internal incoherence remain unresolved. Onora O'Neill traces the alleged incoherences to attempt to assimilate Kant's ethical writings to modern conceptions of rationality, action and rights. When the temptation to assimilate is resisted, a strikingly different and more cohesive account of reason and morality emerges. Kant offers a `constructivist' vindication of reason and a moral vision in which obligations are prior to rights and in which justice and virtue are linked. O'Neill begins by reconsidering Kant's conceptions of philosophical method, reason, freedom, automony and action. She then moves on to the more familiar terrain of interpretation of the Categorical Imperative, while in the last section she emphasises differences between Kant's ethics and recent 'Kantian' ethics, including the work of John Rawls and other contemporary liberal political philosophers. This reassessment will add significantly to the understanding of Kantian practical philosophy.”

...

CUNHA, Bruno. A gênese da ética em Kant. São Paulo: Editora LiberArs, 2017.

KANT, Immanuel. Lições de ética. Trad. Bruno Cunha e Charles Fedhaus. São Paulo: Editora Unesp, 2018.

______. Lições sobre a doutrina filosófica da religião. Trad. Bruno Cunha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.

______. Anthropology from a pragmatic point of view. Carbondale, III: Southern Illinois University Press. 1996. eBook., Base de dados: eBook Collection (EBSCOhost).

______. Antropologia de um ponto de vista pragmático. Trad. Clélia Aparecida Martins. São Paulo: Iluminuras, 2006.

______. Crítica da razão prática. Tradução de Valério Rohden. São Paulo, Martins Fontes, 2002.

______. A metafísica dos costumes. Trad., apresentação e notas de José Lamego. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2011.

O’NEILL, Onora. Constructions of Reason: explorations of Kant's practical philosophy. Cambridge University Press, 1990.

______. Autonomy and trust in bioethics. The Gifford Lectures University of Edinburgh, Newnham College. Cambridge University Press, 2002.

______. From principles to practice: normativity and judgement in ethics and politics. Cambridge University Press, 2018.

CURSO DE INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DA FILOSOFIA: DESCARTES, LOCKE, HUME E KANT

A imagem pode conter: Mario Ariel González Porta, texto

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XXXIV: E SABEDORIA PRÁTICA E PROGRESSO

Bottega Pagani

(IMAGEM: "Pinterest")

Como já anotei aqui, não faz muito tempo que tenho estudado mais detidamente a filosofia estoica, com objetivos exclusivamente pessoais (um pouco até por aproximação a Kant, sugerido pelo professor Valério Rohden, num de seus artigos). Nesse sentido, tenho lido atentamente o Encheirídion, traduzido pelo prof. Aldo Dinucci, de quem recebi um exemplar que está sempre à mão, por aqui, além do volume I, das Diatribes, que ele mesmo traduziu, recentemente. O Encheirídion, uma espécie de “Manual de bolso” que teria sido elaborado pelo aluno de Epictetus, Flávio Arriano, a partir das Diatribes, aulas que teria assistido, portanto, e que resultaram no Encheirídion. A Filosofia estoica, como tenho anotado aqui, nesse blog, tem notória relação com as ideias de Sócrates, também.

Aqui, mais uma vez, destaco ainda que é perceptível também, na obra de Epictetus, em 51.1 e 52.2, uma divisão da Filosofia em três partes:

a) a primeira parte: amplamente relacionada à aplicação dos princípios estoicos;

b) na segunda a recomendação de que tais princípios sejam demonstrados;

c) e, por último, trata detidamente das demonstrações.

Para Epictetus, a primeira divisão é a mais fundamental, porém, alerta para o fato de que geralmente damos mais valor à última divisão.

A Sabedoria prática buscada com a leitura dos estoicos sugere que agir agora mesmo é absolutamente necessário, pois, se ficarmos apenas nos projetos de vida, não progrediremos.

E, com isso, e só assim os sinais de progresso são como os que vão anotados abaixo, extraídos do Encheirídion, de Epictetus; tema que, aliás desenvolvi em uma palestra que fiz, há algum tempo, e estou desenvolvendo para um possível artigo ou capítulo de livro, conforme às possibilidades e organização do tempo.

Sinais de progresso

“[48.b1] Sinais de quem progride: não recrimina ninguém, não elogia ninguém, não acusa ninguém, não reclama de ninguém. Nada diz sobre si mesmo – como quem é ou o que sabe. Quando, em relação a algo, é entravado ou impedido, recrimina a si mesmo. Se alguém o elogia, se ri de quem o elogia. Se alguém o recrimina, não se defende. Vive como os convalescentes, precavendo-se de mover algum membro que esteja se restabelecendo, antes que se recupere.

[48.b2] Retira de si todo o desejo e transfere a repulsa unicamente para as coisas que, entre as que são encargos nossos, são contrárias à natureza. Para tudo, faz uso do impulso amenizado. Se parecer insensato ou ignorante, não se importa. Em suma: guarda-se atentamente como um inimigo traiçoeiro”.

Ou seja, o que fica evidente e precisamos cuidar deste detalhe é que progredir, nesse caso, é atentarmos para as nossas falhas, os nossos defeitos pessoais e corrigirmos. Nisso consiste até onde consigo compreender o Estoicismo!

...

"Mantenha forte, mantenha-se bem" (Sêneca)

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ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012.

DINUCCI, A.; JULIEN, A. O Encheiridion de Epicteto. Coimbra: Imprensa de Coimbra, 2014.

EPICTETO. Entretiens. Livre I, II, III, IV. Trad. Joseph Souilhé. Paris: Les Belles Lettres, 1956.

______. Epictetus Discourses. Book I. Trad. Dobbin. Oxford: Clarendon, 2008.

______. O Encheirídion de Epicteto. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2012. (Edição Bilíngue)

______. Testemunhos e Fragmentos. Trad. Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão: EdiUFS, 2008.

EPICTETUS. The Discourses of Epictetus as reported by Arrian; fragments; Encheiridion. Trad. Oldfather. Harvard: Loeb, 1928.  https://www.loebclassics.com/

HADOT, Pierre. The inner citadel: the meditations of Marcus Aurelius. London: Harvard University Press, 2001.

KING, C. Musonius Rufus: Lectures and Sayings. CreateSpace Independent Publishing Platform, 2011.

LONG, Georg. Discourses of Epictetus, with Encheiridion and fragments. Londres: Georg Bell and sons, 1890.

LONG, A. A. How to be free. Princeton, New Jersey:  Princeton University Press, 2018.

______. Epictetus: a stoic and socratic guide to life. New York: Oxford University Press. 2007.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

IMMANUEL KANT E A TEORIA DA BIOLOGIA

1.  2. 

Estudando esse autor, sua gigantesca obra filosófica sempre me aproximou dos grandes temas. Aqui, o que encontrei nestes livros que li recentemente, foi uma discussão sobre a Teoria da biologia de Kant, desde o primeiro momento em que tive contatos iniciais com os textos, a que cheguei por interesse nos conceitos de “organismo”, “teleologia” e talvez, principalmente o conceito de “epigênese” (conforme, já à época de graduação, tinha lido em Aristóteles).

O tema, aqui tratado por estudiosos e se desenvolveu em um campo que está crescendo rapidamente em importância nos estudos sobre Immanuel Kant. Organizado em 15 ensaios escritos por especialistas que se dedicam ao assunto, aborda importantes tópicos de teorias biológicas dos séculos XVII e XVIII, o desenvolvimento da filosofia da biologia nos escritos de Kant, a teoria dos organismos na Crítica da faculdade do juízo (KUK), de Kant e perspectivas atuais sobre a teleologia da natureza – de certa forma, ligado ao que tenho estudado mais especificamente, atualmente.

"During the last twenty years, Kant's theory of biology has increasingly attracted the attention of scholars and developed into a field which is growing rapidly in importance within Kant studies. The volumepresents fifteen interpretative essays written by experts working in the field, covering topics from seventeenth- and eighteenth-century biological theories, the development of the philosophy of biology in Kant's writings, the theory of organisms in Kant's Critique of the Power of Judgment, and current perspectives on the teleology of nature.”

...

O segundo, um conjunto de textos e estudos, organizado pelo prof. Ubirajara, sobre o tema:

"Reunindo textos de estudiosos ao redor do mundo, o livro 'Kant e a Biologia' busca retomar a centralidade da figura de Kant para os paradigmas das ciências da vida. Com textos que visam tematizar as noções de biologia e de organismo, além de levantar questões acerca da atualidade de Kant para a biologia contemporânea, o livro procura refazer um trajeto que envolve a relação das ciências biológicas com a reflexão filosófica. Até Kant as ciências da natureza se confundiam com a história natural e a teologia; somente a partir dos fundamentos filosóficos é que se pode pensar a vida enquanto fenômeno natural desvinculado de teorias finalistas e divinatórias. O livro deve mapear os fundamentos e desdobramentos do pensamento biológico de Kant."

______.

GOY, Ina; WATKINS, Eric. Kant's theory of Biology. Berlin/Boston: De Gruyter/Reprint, 2016.

GRAPOTTE, Sophie (Org.); LEQUAN, Mai; RUFFING, Margit. Kant et les sciences: un dialogue philosophique avec la pluralité des savoirs. Paris: Vrin, 2011.

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1994.

______. Crítica da razão prática. Edição bilíngüe.Tradução Valerio Rohden. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

____. Crítica da faculdade do juízo. Trad.Valerio Rohden e António Marques. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993.

MARQUES, Ubirajara Rancan de Azevedo (Org.) Kant e a biologia. São Paulo: Editora Barcarola, 2012.

WATKINS, Eric. Kant and the sciences. Oxford University Press, 2001.

1 

segunda-feira, 18 de maio de 2020

FILOSOFIA DA RELIGIÃO: O JOVEM G. W. F. HEGEL

VidaDeJesusCapa.JPG

Há dois anos atrás, li uma edição em francês, que encontrei na biblioteca da Unifesp, agora, li essa e outras duas obras do jovem G.W.F. Hegel (1770-1831): "A Positividade da Religião Cristã" (1797) e "O Espírito do Cristianismo e seu destino" (1799),
 

 em português! 

E, G. W. F. Hegel, nessa obra: "A Vida de Jesus" (1795), compreende a questão religiosa a partir dos opostos Religião Moral e Religião Positiva, o primeiro conceito, sob influência de Kant ("sob inspiração do imperativo categórico kantiano"), leva-o ao cerne do ensinamento de Jesus, enquanto homem livre; mestre de virtude (não como "messias") ...

______.

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich (1770-1831). Vida de Jesus. Tradução e apresentação de Oliver Tolle. São Paulo: Editora Clandestina, 2019, 185 p.

domingo, 17 de maio de 2020

IMMANUEL KANT E AS CIÊNCIAS: UM DIÁLOGO FILOSÓFICO


Acrescentando aqui, nas leituras dos próximos dias, publicação de 2011, pela "Editions Vrin", organizado por Sophie Grapotte e outros estudiosos. Seguindo com as leituras; sempre em conjunção com as ciências em geral. E, com o cuidado de, mesmo variando os temas, não sair das delimitações.

Após conferir o "sumário" percebi o quanto é um livro com alguns tópicos bem interessantes, que vou ler, exatamente, porque analisa não somente "a definição kantiana de ciência, conhecimento e cientificidade em geral mas [...] os vários tipos de conhecimento com os quais Kant conseguiu lidar. Através de uma série de estudos dedicados a várias ciências em um contexto kantiano, este volume estuda como Kant atribui a cada ciência uma unidade ideal, uma região ôntica (um domínio de objetos), um método, até uma epistemologia, bem como uma modo histórico de constituição e progressão adequada, com a preocupação constante (resultante de críticas) de distinguir as ciências, para nunca confundir seus limites. Este volume revela, assim, um Kant, não apenas teórico da ciência, mas um teórico, praticante mesmo das ciências em sua pluralidade. Kant aparece como sendo ele próprio um Naturforscher, físico, cientista, cientista das ciências naturais no sentido mais amplo. Este volume destaca a contribuição de Kant para um grande número de ciências de seu tempo (matemática, física, química, biologia, geografia física, cosmologia, astronomia, mas também ciências qualificadas hoje como ciências do espírito ou homem, como antropologia ou psicologia), como evidenciado pelos numerosos folhetos científicos a que Kant se dedicou, de 1754 a 1794, a vários assuntos da ciência física ou história natural (terremotos, vulcões, marés, climas, ventos, influência da Lua na Terra, modificação da velocidade de rotação da Terra, meteoros, cometas, etc.).”

(só os grifos destaques meus)

...

Sinopse da editora: “Le présent volume analyse, non plus en amont la définition kantienne de la science, du savoir, de la scientificité en général, mais cette fois en aval la place des divers savoirs dont Kant a pu traiter. Par une série d’études consacrées à diverses sciences en contexte kantien, le présent volume étudie comment Kant assigne à chaque science une unité idéale, une région ontique (un domaine d’objets), une méthode, voire une épistémologie, ainsi qu’un mode historique de constitution et de progression propres, avec le constant souci (issu du criticisme) de distinguer les sciences, de ne jamais confondre leurs limites. Ce volume révèle ainsi un Kant, non pas seulement théoricien de la science, mais théoricien, voire praticien des sciences en leur pluralité. Kant y apparaît comme étant lui-même un Naturforscher, physicien, scientifique, savant dans les sciences de la nature au sens le plus large. Ce volume souligne l’apport de Kant à un grand nombre de sciences de son temps (mathématique, physique, chimie, biologienaissante, géographie physique, cosmologie, astronomie, mais aussi sciences qualifiées aujourd’hui de sciences de l’esprit ou de l’homme, comme anthropologie ou psychologie), comme en attestent les nombreux opuscules scientifiques que Kant consacre, de 1754 à 1794, à divers sujets de science physique ou d’histoire naturelle (séismes, volcans, marées, climats, vents, influence de la Lune sur la Terre, modification de la vitesse de rotation axiale de la Terre, météores, comètes, etc.).”

______.

GRAPOTTE, Sophie (Org.); LEQUAN, Mai; RUFFING, Margit. Kant et les sciences: un dialogue philosophique avec la pluralité des savoirs. Paris: Vrin, 2011.

Para saber mais sobre a obra, antes li:

No Link da editora:

http://www.vrin.fr/book.php?code=9782711624010

E, a Resenha, no "scielo":

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662013000400010&lng=pt&nrm=iso

 




sexta-feira, 15 de maio de 2020

MEDITAÇÃO RETROSPECTIVA NOTURNA XXXIII: VIGIEMOS A NÓS MESMOS

stairways in medieval castles -

(IMAGEM: "Pinterest")

Em andamento

Apareceu nas "lembranças" aqui; de uma reflexão que fiz em 2015 e decidi acrescentar alguns elementos para novas reflexões. Uma visão pessoal, somente.

“Por mais que se justifique que o escritor possa partilhar com o leitor seu senso de futilidade, é um cinismo irresponsável proclamar o absurdo da existência. Se o escritor não for capaz de imunizar o leitor contra o desespero, deveria ao menos abster-se de inoculá-lo.” (FRANKL, 2005, p. 94)

Especialistas em críticas (de preferência as que só denigrem, sem nem saber o que se passa); mestres em apontar defeitos alheios... tremem quando o assunto é cuidarem de si mesmos.

Por isso, já há algum tempo, cuido do verbo! Primeiro, reaprendendo a escrever; depois, se a isso me atrevo, opto sempre por ser aprendiz de uma postura de buscador da serenidade. De nada valeria acrescentar inúmeros volumes em estudos se não fosse para destes extrair novas formas de pensar, de viver; e, no fundo, alçar a novas formas de agir.

É nesse sentido, da autorreflexão, o ocupar-me com os exercícios (aplicação dos princípios) na prática do que aprendo.

Recentemente, por exemplo:

Reli, um texto de Epicteto, sobre o fato de colocarmos em prática o que aprendemos sobre nossos juízos de bem e mal. Diz ele, no cap. XVI, do seu "Entretiens". Livre II, (2002): “Que nous ne nous exerçons a faire l'appication de nos jugements concernant les biens et les maux. (p. 62-68)

Destaquei do capítulo, os elementos abaixo:

- "Procurar as nossas falhas"

- "Buscar em nós os remédios para as nossas inquietudes"

- "Retificar nossos juízos"

A isso tudo tenho juntado reflexões, sobre como superar velhas concepções sobre o amor, a felicidade e verdade.

Tenho aprendido, que o amor existe, a felicidade é possível e, como dizia o Platão, no Górgias (473b): "a Verdade jamais é refutada".

Depois, ainda aprendendo, acrescento aqui, nessa reflexão, o fato de que a "Vida tem um Sentido (Frankl, 2005)."

E, não me restam dúvidas de que se empreendendo esforços nessas buscas, serei melhor sucedido do que ocupar-me com “defeitos alheios”. Ataco os meus!

.'.

Ademais, na base de certas concepções que adotamos apressadamente está uma visão unilateral da vida, materialista, calcada em “presentismos” sem uma transcendência elementar, apesar de alguns dos autores (escolhidos, exatamente, por não defenderem uma “auto-ajuda” simplória) - são indicados aqui, mesmo não defendendo algo de “transcendente”. E, todos reconhecem a dificuldade da realização do que propõem como “cuidar de si”. Vale, no entanto, acima de tudo, o que há de boa filosofia!

E, "é realmente curioso ver o materialismo falar incessantemente da necessidade de elevar a dignidade do homem, quando se esforça para reduzi-lo a um pedaço de carne que apodrece e desaparece sem deixar qualquer vestígio; de reivindicar para si a liberdade como um direito natural, quando o transforma num mecanismo, marchando como um boneco, sem responsabilidade por seus atos. (REVUE. março de 1869)”

Portanto:

Que eu esteja atento à necessidade de que a antiga recomendação socrática ainda tem importância fundamental; a este acrescentados os demais autores aqui indicados. Só uma tentativa de trilhar o bom-senso e vigiarmos a nós mesmos!

Mas, enfim: "Incorre em culpa o homem por estudar os defeitos alheios?"

“Incorrerá em grande culpa, se o fizer para os criticar e divulgar, porque será faltar com a caridade. Se o fizer para sua instrução pessoal e para evitá-los em si próprio, tal estudo poderá algumas vezes ser-lhe útil. Importa, porém, não esquecer que a indulgência para com os defeitos de outrem é uma das virtudes contidas na caridade. Antes de censurardes as imperfeições dos outros, vede se de vós não poderão dizer o mesmo. Tratai, pois, de possuir as qualidades opostas aos defeitos que criticais no vosso semelhante. Esse o meio de vos tornardes superiores a ele. Se lhe censurais o ser avaro, sede generosos; se o ser orgulhoso, sede humildes e modestos; se o ser áspero, sede brandos; se o proceder com pequenez, sede grandes em todas as vossas ações."

A se buscar ...

...

EPICTÈTE. Entretiens.   Trad. Joseph Souilhé. Livre II. Paris: Les Belles Lettres, 2002. - (cap. XVI. "Que nous ne nous exerçons a faire l'appication de nos jugements concernant les biens et les maux." (p. 62-68)).

EPICTETO. As Diatribes de Epicteto. Livro I. Tradução, introdução e comentário Aldo Dinucci. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2020.

FRANKL, Viktor. O Sofrimento Humano: Fundamentos antropológicos da psicoterapia. Trad. Bocarro, Karleno e Bittencourt, Renato. Prefácio, Marino, Heloísa Reis. São Paulo: É Realizações, 2019.

______. Em busca de sentido. 25. ed. - São Leopoldo, RS: Sinodal; Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Yes to Life: In spite of everything. Beacon Press, 2020.

______. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Aparecida, SP: Ideias e letras, 2005.

______. The doctor and the soul: from psycotherapy to logotherapy. New york: Bantam Books, 1955.

______. Psycotherapy and existencialism: selected papers on logotherapy. New York: Simon and Schuster, 1970

______. Angst und Zwang. Acta  Psychotherapeutica, I, 1953, pp. 111-120.
______. Der Psichotherapie in der Praxis. Vienna: Deuticke, 1947.

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres, s.d. (dépôt légal 1985). (O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro, ______. O livro dos Espíritos. 93. ed. - 1. reimpressão (edição histórica). Brasília, DF: Feb, 2013. (Q. 903-912)

PLATÃO. Banquete, Fédon, Sofista e Político. Trad. José Cavalcante de Souza, Jorge Paleikat e João Cruz Costa. São Paulo: Abril Cultural, 1972.

________. Fedro, Eutífron, Apologia de Sócrates, Críton, Fédon. Trad. Edson Bini. Bauru, SP: Edipro, 2008.

________. Górgias, Eutidemo, Hípias Maior e Hípias Menor. Trad. Edson Bini. Bauru, SP: EDIPRO, 2007.

________. Mênon. Trad. Maura Iglésias. Rio de Janeiro: Ed. PUC-RIO; São Paulo: Ed. Loyola, 2001.

________. Górgias, Protágoras. 3. ed. Trad. Carlos Alberto Nunes. Edição bilíngue; Belém, PA, 2021.

________. Mênon, Eutidemo. 3. ed. Trad. Carlos Alberto Nunes. Edição bilíngue; Belém, PA, 2021.

________. República de Platão. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2012.

________. Teeteto. Trad. Adriana Manuela Nogueira e Marcelo Boeri. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.

________. Timeu. Trad. Maria José Figueredo. Lisboa: Instituto Piaget, 2003.

SCHLEIERMACHER, F. D. E. Introdução aos Diálogos de Platão. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2018.


quarta-feira, 13 de maio de 2020

KANT ON INTUITION WESTERN AND ASIAN PERSPECTIVES ON TRANSCENDENTAL IDEALISM

Kant on Intuition: Western and Asian Perspectives on ...

Como tem acontecido de tempos para cá; aliás desde que iniciei os estudos da obra de Immanuel Kant, tenho reunido um conjunto de leituras sobre os principais temas que mais me interessam e que anoto aqui, nessa página, para mais fácil localização e retomada dos textos que mais prenderam. Sempre mantendo o referencial básico para tais leituras, como é o caso aqui.

Hoje, durante os estudos, tive acesso ao livro que destaco. Stephen R. Palmquist, um dos autores sobre Immanuel Kant que pouco tenho lido, produziu essa obra focada numa abordagem da “intuição” numa tradição ocidental e asiática. Isso me fez ter interesse em acompanhar mais de perto essa produção. 

Aos estudos, portanto! Que seja proveitosa para a pesquisa mais esse contato. Ou pelo menos, para produção de um texto.

Diz Kant, na Lógica transcendental:

“Nosso conhecimento surge de duas fontes principais do ânimo, cuja primeira é a de receber as representações (a receptividade das impressões) e a segunda a faculdade de conhecer um objeto por essas representações (espontaneidade dos conceitos); pela primeira, um objeto nos é dado, pela segunda é pensado em relação com essa representação (como simples determinação do ânimo). Intuição e conceitos constituem, pois, os elementos de todo o nosso conhecimento, de tal modo que nem conceitos sem uma intuição de certa maneira correspondente a eles nem intuição sem conceitos podem fornecer um conhecimento. (...) A nossa natureza é constituída de um tal modo que a intuição não pode ser senão sensível, ou seja, contém somente o modo como somos afetados por objetos. Frente a isso, o entendimento é a faculdade de pensar o objeto da intuição sensível. Nenhuma dessas propriedades deve ser preferida à outra. Sem sensibilidade, nenhum objeto nos seria dado, e, sem entendimento, nenhum objeto seria pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios, intuições sem conceitos são cegas. (KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. A 50-1/B 74-5).”

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Kant sobre a intuição: as perspectivas ocidentais e asiáticas sobre o idealismo transcendental consistem em 20 capítulos, muitos dos quais apresentam compromissos entre Kant e vários filósofos asiáticos. Os principais temas incluem a natureza da intuição humana (não apenas como teórica - pura, sensível e possivelmente intelectual - mas também como relevante para a filosofia prática de Kant, estética, sublime e até misticismo), o status do idealismo / realismo de Kant e A noção de Kant de um objeto. Aproximadamente metade dos capítulos se posiciona sobre o recente debate sobre conceitualismo / não conceitualismo. Os capítulos estão organizados em quatro partes, cada uma com cinco capítulos.

A Parte I explora temas relacionados principalmente às seções iniciais da primeira crítica de Kant: três capítulos se concentram principalmente na teoria de Kant das "formas de intuição" e / ou "intuição formal", especialmente conforme ilustrado pela geometria, enquanto dois examinam o papel mais amplo da intuição no idealismo transcendental.

A Parte II continua a examinar temas do Estético, mas muda o foco principal para o Analítico Transcendental, onde a principal questão que desafia os intérpretes é determinar se a intuição (via sensibilidade) é capaz de operar independentemente da concepção (via compreensão); cada colaborador oferece uma defesa das leituras conceitual ou não conceitual do texto de Kant.

A Parte III inclui três capítulos que exploram a relevância da intuição para a teoria do sublime de Kant, seguidos por dois que examinam os desafios que os filósofos asiáticos levantaram contra a teoria da intuição de Kant, particularmente no que se refere à nossa experiência do supersensível.

Por fim, a Parte IV conclui o livro com cinco capítulos que exploram uma série de ressonâncias entre Kant e vários filósofos asiáticos e idéias filosóficas.”

...

Kant on Intuition: western and asian Perspectives on transcendental idealism consists of 20 chapters, many of which feature engagements between Kant and various Asian philosophers. Key themes include the nature of human intuition (not only as theoretical—pure, sensible, and possibly intellectual—but also as relevant to Kant’s practical philosophy, aesthetics, the sublime, and even mysticism), the status of Kant’s idealism/realism, and Kant’s notion of an object. Roughly half of the chapters take a stance on the recent conceptualism/non-conceptualism debate. The chapters are organized into four parts, each with five chapters. Part I explores themes relating primarily to the early sections of Kant’s first Critique: three chapters focus mainly on Kant’s theory of the "forms of intuition" and/or "formal intuition", especially as illustrated by geometry, while two examine the broader role of intuition in transcendental idealism. Part II continues to examine themes from the Aesthetic but shifts the main focus to the Transcendental Analytic, where the key question challenging interpreters is to determine whether intuition (via sensibility) is ever capable of operating independently from conception (via understanding); each contributor offers a defense of either the conceptualist or the non-conceptualist readings of Kant’s text. Part III includes three chapters that explore the relevance of intuition to Kant’s theory of the sublime, followed by two that examine challenges that Asian philosophers have raised against Kant’s theory of intuition, particularly as it relates to our experience of the supersensible. Finally, Part IV concludes the book with five chapters that explore a range of resonances between Kant and various Asian philosophers and philosophical ideas.”

______.                

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1994.

PALMQUIST, Stephen R. Kant on Intuition: western and asian perspectives on transcendental idealism. Londres: (Routledge) Taylor and Francis, 2018.


terça-feira, 12 de maio de 2020

REFLEXÃO MATINAL XXXVII: O QUE SE PODE ESPERAR DA FILOSOFIA?

Castle Rising, Norfolk    Castle Rising Castle is situated in the village of Norfolk, UK. It was built in about 1138 by William d Albini, 1st Earl of Arundel. The castle is in remarkably good condition despite being over 850 years old.

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Na reflexão de hoje, iniciada a manhã, optei por ler as Diatribes, de Epicteto. Nela recordando uma advertência fundamental: a de que estudar a filosofia não é só mergulhar no domínio dos discursos inflamados no verbo; vazios de conteúdos. Pelo contrário, o que se faz urgente é que cada um apare as arestas da teoria, na prática e aquisição das Virtudes. O que se esperar da filosofia? O auto-aperfeiçoamento.

Ora, Epicteto, geralmente seguindo, em certa medida, a filosofia de Sócrates mostra que a filosofia deve ser entendida como a busca da sabedoria pela razão. Pois, a sabedoria é a que nos capacita bem viver ou viver de modo pleno e feliz e de acordo com o que, porventura, teorizamos.

[XLVI.1] Jamais te declares filósofo. Nem, entre os homens comuns, fales frequentemente sobre princípios filosóficos, mas age de acordo com os princípios filosóficos. Por exemplo: em um banquete, não discorras sobre como se deve comer, mas come como se deve. Lembra que Sócrates, em toda parte, punha de lado as demonstrações, de tal modo que os outros o procuravam quando desejavam ser apresentados aos filósofos por ele. E ele os levava! [XLVI.2] E dessa maneira, sendo desdenhado, ele ia.  Com efeito, caso, em meio a homens comuns, uma discussão sobre algum princípio filosófico sobrevenha, silencia ao máximo, pois o perigo de vomitar imediatamente o que não digeriste é grande. E quando alguém te falar que nada sabes e não te morderes, sabe então que começaste a ação. Do mesmo modo que as ovelhas não mostram o quanto comeram, trazendo a forragem ao pastor, mas, tendo digerido internamente o pasto, produzem lã e leite, também tu não mostres os princípios filosóficos aos homens comuns, mas, após tê-los digerido, <mostra> as ações.” (EPICTETO, 2012).

Bastante conhecida e muito citada, a expressão de Sócrates, de que uma vida não examinada não merece ser vivida, deixa evidente que a filosofia, nestes termos, se configura como um caminho na construção moral do homem que se dispõe a pensar, a pensar bem; e, isto deve estar em consonância com a prática.  Como Sócrates, Epicteto mostra essa mesma concepção de filosofia no seu Encheirídion, obra bastante citada aqui nessa página, devido aos interesses e estudos dos fundamentos do estoicismo. E, aqui, na "reflexão matinal" de hoje, destaco, a tradução do prof. Aldo Dinucci, da Diatribe 1.15, sobre o que a filosofia promete:

. . .

Diatribe 1.15 – O que a filosofia promete?

(1) Quando alguém se aconselhava sobre como persuadir o irmão a não mais se irritar com ele, Epicteto disse:

(2) – A filosofia não promete preservar nenhuma das coisas externas ao ser humano. Caso contrário, admitirá algo exterior à sua própria matéria. Do mesmo modo que a matéria da carpintaria é a madeira; a da estatuária, o bronze; assim também a matéria da arte da vida é a vida de cada um[1].

(3) – E quanto à vida de meu irmão? – Isso, por sua vez, é da arte da vida dele, que é exterior à tua própria, como as terras, a saúde, a fama. Nenhuma dessas coisas promete a filosofia.

(4) Manterei em toda dificuldade a parte diretriz segundo a natureza.

– A parte diretriz de quem?

– A parte diretriz daquele no qual existo.

(5) – Então como meu irmão não ficará irado comigo?

– Leva-me a ele e lhe falarei, mas nada posso dizer-te sobre a ira dele.

(6) Quando o que se aconselhava com ele disse que “Quero saber como, não me reconciliando com meu irmão, poderia eu me manter segundo a natureza”, Epicteto disse:

(7) – Nada se torna grande de súbito, nem um cacho de uvas, nem um figo. Se tu me dissesses agora “Quero um figo”, responder-te-ia “É preciso tempo”. Deixa primeiro que a figueira floresça; depois, que lance o fruto[2]; depois, que o fruto amadureça. Então se o fruto da figueira não se perfaz de súbito ou em meia hora, desejas adquirir o fruto do pensamento humano em pouco tempo e facilmente? Eu não te diria isso. Espera![3].”



[1] Houtos tes peri bion technes hyle ho bios autou hekastou.

[2] GEORGE LONG e DOBBIN traduzem a frase por algo como: “Não esperes por isso, mesmo que eu dissesse”. Entretanto, a frase em grego é: Med’an ego soi lego, prosdoka.

[3] Carter, a primeira a verter as Diatribes para inglês, observa que “o filósofo esqueceu-se que figueiras não florescem”. Porém, esse não é exatamente o caso. O figo é, em realidade, uma infrutescência que se forma a partir de um receptáculo carnoso (sícone) que contém flores masculinas e femininas, das quais nascem os aquênios, os pequenos frutos do figo que conhecemos como suas sementes.

______.

EPICTETO. As Diatribes de Epicteto, Livro I. Tradução, introdução e comentário Aldo Dinucci. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2020.

ARRIANO FLÁVIO. O Encheirídion de Epicteto. Edição Bilíngue. Tradução do texto grego e notas Aldo Dinucci; Alfredo Julien. Textos e notas de Aldo Dinucci; Alfredo Julien. São Cristóvão. Universidade Federal de Sergipe, 2012.

DINUCCI, Aldo; TAQUÍNIO, Antonio. Introdução ao manual de Epicteto. 2012.

SELLARS, J. The art of living: the stoics on the nature and function of philosophy. Burlington: Ashgate, 2003.

REFLEXÃO VESPERTINA CLVIII: ESTOICISMO

Foi essa a Reflexão Vespertina de hoje, terminada há pouco, ler ainda é possível! " O objetivo da filosofia consiste em dar forma e est...